MASSA ANEXIAL EM GESTANTE: O DESAFIO DA CONDUTA CIRÚRGICA – RELATO DE CASO  

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202512190551


 Maria Vitória Cavalcante de Sousa1
Ana Paula de Jesus Tomé Pereira2
Francisco Richard Nixon de Macedo Campos3


RESUMO  

Introdução: As massas anexiais durante a gestação representam um desafio clínico  importante, especialmente quando atingem grandes proporções. Embora a maioria  seja de origem benigna e resolva-se espontaneamente, casos persistentes ou em  crescimento requerem vigilância rigorosa e, por vezes, intervenção cirúrgica. Objetivo: Relatar a evolução clínica e o manejo de uma gestante portadora de  volumoso cisto ovariano direito, enfatizando os aspectos diagnósticos, terapêuticos e  prognósticos à luz da literatura atual. Métodos: Trata-se de um relato de caso de  paciente de 32 anos, G2P1A0, acompanhada em pré-natal regular. Desde as primeiras  semanas de gestação, exames ultrassonográficos evidenciaram formação cística  anexial direita em crescimento progressivo, atingindo 14 × 14 cm na 37ª semana. O  caso foi acompanhado clinicamente, com monitorização ultrassonográfica seriada e  conduta expectante até o termo. Resultados: Na 38ª semana e 3 dias, diante da  gestação a termo associada à volumosa massa anexial, optou-se pela realização de  cesariana associada à laqueadura tubária bilateral e ooforectomia direita. O  procedimento transcorreu sem intercorrências, resultando no nascimento de  recémnascido do sexo masculino, com Apgar 9/10, e recuperação materna satisfatória.  O exame anatomopatológico confirmou tratar-se de lesão benigna. Considerações  finais: O caso evidencia a importância da avaliação ultrassonográfica precoce, do  acompanhamento multiprofissional e da conduta individualizada no manejo das  massas anexiais durante a gestação. A integração entre diagnóstico preciso e tomada  de decisão segura possibilitou um desfecho materno-fetal favorável, reforçando a  relevância acadêmica, social e científica deste tema para a prática obstétrica  contemporânea. 

Palavras-Chave: Massa Anexial; Gestação; Manejo.  

Abstract:  

Introduction: Adnexal masses during pregnancy represent an important clinical  challenge, particularly when they reach large dimensions. Although most lesions are  benign and resolve spontaneously, persistent or progressively enlarging masses  require close surveillance and, in some cases, surgical intervention.Objective: To  report the clinical course and management of a pregnant woman presenting with a large right ovarian cyst, emphasizing diagnostic, therapeutic, and prognostic aspects  in light of current medical literature.Methods: This is a case report of a 32-year-old  patient, G2P1A0, receiving regular prenatal care. From the early weeks of gestation,  ultrasonographic examinations revealed a progressively enlarging right adnexal cystic  formation, reaching 14 × 14 cm at 37 weeks of pregnancy. The patient was managed  conservatively with serial ultrasound monitoring and clinical follow-up until  term.Results: At 37 weeks and 6 days of gestation, due to the presence of a large  adnexal mass associated with a term pregnancy, cesarean section combined with  bilateral tubal ligation and right oophorectomy was performed. The surgical procedure  was uneventful and resulted in the birth of a male newborn with Apgar scores of 9 and  10 at one and five minutes, respectively. The patient’s postoperative course was  satisfactory, and histopathological examination confirmed a benign ovarian  cyst.Conclusion: This case highlights the importance of early ultrasonographic  assessment, multidisciplinary monitoring, and individualized management of adnexal  masses during pregnancy. Accurate diagnosis and appropriate decision-making  ensured a favorable maternal and neonatal outcome, underscoring the academic,  social, and scientific relevance of this topic for contemporary obstetric practice. 

Keywords: Adnexal Mass; Pregnancy; Management. 

1 INTRODUÇÃO  

As massas anexiais constituem formações tumorais originadas nos ovários,  tubas uterinas ou estruturas adjacentes, podendo acometer mulheres em diferentes  faixas etárias. Sua etiologia é variada, incluindo alterações funcionais, processos  inflamatórios, endometriose, além de neoplasias benignas e malignas. Embora muitas  vezes assintomáticas e diagnosticadas incidentalmente por exames de imagem,  demandam investigação minuciosa, sobretudo diante da possibilidade de malignidade,  o que ressalta a importância do diagnóstico precoce e da correta definição de conduta  (Silva Filho; Moretti-Marques; Carvalho, 2020; Conte et al., 2020).  

A ultrassonografia transvaginal é considerada o método propedêutico inicial  mais eficaz para avaliação dessas lesões, possibilitando estimar o risco de  malignidade a partir de características morfológicas, dados clínicos e marcadores  tumorais. O câncer de ovário, pela alta letalidade, é a principal preocupação clínica  nesse cenário, o que torna imprescindível a compreensão dos critérios diagnósticos e terapêuticos que norteiam o manejo dessas massas, especialmente em situações  clínicas incomuns, como durante a gestação (Cathcart et al., 2023; Bai et al., 2020).  A incidência de massas anexiais em gestantes é considerada rara, variando  entre 0,02% e 2% dos casos a cada 1.000 gestações. A maioria das lesões é de caráter  benigno, como cistos funcionais e cistoadenomas serosos, geralmente detectados de  forma incidental em exames de imagem. Contudo, massas de maior volume ou  sintomáticas podem exigir investigação aprofundada e, em casos selecionados,  intervenção cirúrgica. Cistos ovarianos gigantes, definidos como aqueles com  diâmetro superior a 10 cm, são ainda mais incomuns durante a gestação,  representando menos de 1% dos casos diagnosticados, mas estão associados a  complicações relevantes (Acharya et al., 2022; Ahmad et al., 2019).  Apesar da baixa prevalência, essas lesões podem gerar repercussões  maternofetais significativas, como torção e isquemia ovariana, ruptura, infecção,  obstrução do canal de parto e, em raras situações, malignidade. Assim, a tomada de  decisão deve ser criteriosa, considerando idade gestacional, características  ecográficas, sintomas e risco de complicações. Em casos em que a intervenção  cirúrgica se faz necessária, o segundo trimestre é geralmente o período mais indicado,  por reduzir riscos fetais e oferecer melhores condições anatômicas para a abordagem  cirúrgica (Tavares et al., 2023; Manete et al., 2013).  

No entanto, a definição da conduta frente a massas anexiais em gestantes  permanece um desafio, marcado por divergências entre especialistas e pela escassez  de protocolos padronizados. Situações complexas, como a presença de cistos  gigantes, ilustram as dificuldades diagnósticas e terapêuticas, exigindo uma  abordagem multidisciplinar e individualizada, que assegure tanto a saúde materna  quanto a fetal (Tavares et al., 2023; Conte et al., 2020).  

Diante desse cenário, o presente trabalho tem como objetivo descrever o caso  clínico de uma gestante portadora de cisto ovariano gigante, enfatizando os desafios  enfrentados na definição da conduta cirúrgica.  

A relevância do estudo justifica-se pelo caráter incomum do caso relatado e  pelas dificuldades encontradas na condução clínica. As massas anexiais durante a  gestação, quando de grandes proporções ou persistentes até fases avançadas, podem  evoluir com complicações graves e demandam estratégias específicas de manejo.  Assim, compartilhar essa experiência contribui para a literatura médica, auxilia na tomada de decisão em situações semelhantes e promove uma assistência obstétrica  mais segura e eficaz, além de enriquecer a formação acadêmica dos futuros  profissionais (Cathcart et al., 2023; Ahmad et al., 2019).  

2 MÉTODOS  

2.1 Delineamento do Estudo e Aspectos Éticos  

O presente estudo trata-se de uma pesquisa de campo, de natureza qualitativa,  com delineamento observacional, transversal e descritivo, do tipo relato de caso.  Consiste na descrição detalhada e sistemática da história clínica, dos exames  complementares, do diagnóstico, do tratamento e da evolução de uma paciente  portadora de massa anexial volumosa durante a gestação. O estudo foi aprovado pelo  Comitê de Ética em Pesquisa, sob o CAAE nº 94398625.0.0000.5176, garantindo o  respeito aos princípios éticos. Todas as etapas da pesquisa seguiram as diretrizes da  Resolução CNS nº 466/2012, assegurando a confidencialidade, o sigilo e a utilização  responsável das informações coletadas.  

 2.2 Cenário da Pesquisa, População e Amostra  

A coleta de dados foi realizada de forma presencial, por meio da análise  documental do prontuário no Hospital e Maternidade Flávio Ribeiro Coutinho,  localizado no município de Santa Rita, Paraíba. Além da coleta direta, a pesquisa  bibliográfica foi complementada por consultas em bases de dados eletrônicas, como  BVS, SciELO e PubMed, abrangendo o período de março a dezembro de 2025, o que  possibilitou fundamentar a discussão do caso clínico à luz da literatura científica atual.  

A amostra foi composta por uma única paciente do sexo feminino, com 32 anos  de idade, gestante a termo (38 semanas e 2 dias), diagnosticada com uma massa  anexial de grandes dimensões. A escolha da paciente como unidade de análise devese  ao fato de que se trata de um caso raro e relevante no contexto obstétrico, representando uma oportunidade de contribuição científica por meio do detalhamento  clínico e terapêutico.  

Foram estabelecidos critérios de inclusão específicos, de modo que apenas a  gestante no terceiro trimestre, portadora de massa anexial volumosa com evolução  para intervenção cirúrgica associada ao parto, foi considerada para este estudo. A  coleta de dados contemplou registros médicos, exames de imagem, exames  laboratoriais e relatórios cirúrgicos, garantindo uma análise ampla e criteriosa da  evolução clínica da paciente e das condutas adotadas.  

 2.3 Variáveis do Estudo  

As variáveis estudadas incluíram dados maternos, como idade, histórico  obstétrico, comorbidades e sinais clínicos apresentados no momento do diagnóstico.  Foram coletadas informações sobre a massa anexial, incluindo tamanho, localização,  características morfológicas, presença de complicações (torção, ruptura ou  hemorragia) e resultados dos exames de imagem e laboratoriais, bem como o  diagnóstico anatomopatológico após a intervenção cirúrgica.  

Além disso, foram analisados aspectos relacionados à gestação, como idade  gestacional ao diagnóstico e ao parto, tipo de parto, evolução obstétrica, desfechos  maternos e neonatais, e complicações perioperatórias. Essas variáveis permitiram  compreender a interação entre a massa anexial, a saúde materna e o curso da  gestação, fornecendo subsídios para decisões clínicas individualizadas.  

 2.4 Coleta de Dados  

O procedimento de coleta de dados foi realizado por meio da análise e  investigação das informações presentes no prontuário da paciente, após a aprovação  do Comitê de Ética em Pesquisa. As pesquisadoras tiveram acesso aos dados clínicos  referentes a todas as etapas do atendimento, contemplando histórico clínico, registros  médicos, prescrições, exames complementares, evolução clínica, pareceres e  intervenções cirúrgicas, o que possibilitou uma visão ampla e detalhada do caso.  

Os dados coletados foram analisados de forma descritiva, sendo organizados  em ordem cronológica de acordo com os episódios clínicos e cirúrgicos registrados. A interpretação foi conduzida por meio da comparação com a literatura científica atual  acerca do manejo de massas anexiais na gestação, com ênfase nos desafios  diagnósticos enfrentados e nas condutas terapêuticas adotadas.  

3 Relato do caso  

Paciente de 32 anos, G2P1A0, natural e procedente de Santa Rita (PB),  acompanhada em pré-natal regular, apresentou evolução gestacional inicialmente sem  intercorrências clínicas. Entretanto, desde o início da gestação, exames  ultrassonográficos evidenciaram a presença de uma formação cística anexial direita,  com progressivo aumento de volume ao longo das semanas gestacionais.  

A primeira ultrassonografia obstétrica transvaginal, realizada em 14 de junho de  2024, com idade gestacional de 6 semanas, revelou imagem cística em anexo direito,  de bordas finas, contornos regulares e conteúdo anecoico, medindo 7,5 × 5,2 cm.  

Em exame subsequente, datado de 14 de agosto de 2024, correspondente à  11ª semana e 4 dias de gestação, observou-se formação cística anexial direita de  paredes finas e contornos regulares, medindo 8,7 × 7,2 × 5,7 cm, com volume  estimado em 190,8 cm³, mantendo características compatíveis com lesão benigna.  

Na avaliação morfológica realizada em 30 de outubro de 2024, com 22 semanas  de gestação, identificou-se volumoso cisto unilocular localizado em fossa ilíaca e  flanco direito, confirmando o crescimento progressivo da lesão.  

A ultrassonografia de 17 de dezembro de 2024, correspondente à 28ª semana  gestacional, demonstrou imagem ovalada na região anexial direita, de limites bem  definidos e conteúdo heterogêneo, composta por material anecoico com debris  internos, sem fluxo ao Doppler colorido, medindo 12 × 10 cm, com hipótese diagnóstica  de endometrioma.  

Em novo exame ultrassonográfico, realizado em 11 de fevereiro de 2025, com  37 semanas de gestação, observou-se imagem cística anecoica em região par-anexial  direita, medindo 11,4 × 8,3 × 10 cm, com volume aproximado de 520 cm³, sem  evidências de vascularização interna, permanecendo o padrão compatível com lesão  benigna. 

Na última avaliação, datada de 18 de fevereiro de 2025, com 37 semanas e 6  dias, identificou-se imagem cística de grandes dimensões, medindo cerca de 14 × 14  cm, com conteúdo predominantemente anecoico e presença de debris, reforçando o  diagnóstico de cisto ovariano volumoso.  

Durante todo o acompanhamento pré-natal, a paciente manteve-se  assintomática, hemodinamicamente estável e sem sinais de sofrimento fetal. Ao  completar 38 semanas e 2 dias de gestação, compareceu à maternidade para  resolução da gestação. Constatou-se, no exame físico: bom estado geral, pressão  arterial de 144 × 70 mmHg, dinâmica uterina presente e batimentos cardíacos fetais  regulares. O toque vaginal foi evitado devido à presença de massa anexial de grandes  proporções.  

Diante do quadro de gestação a termo associada a volumosa massa anexial  direita, optou-se pela internação para resolução da gestação e abordagem cirúrgica  concomitante. Foi realizada cesariana segmentar transversa, associada à laqueadura  tubária bilateral e ooforectomia direita, com retirada de cisto ovariano gigante, pesando  aproximadamente 1,5 kg.  

O procedimento transcorreu sem intercorrências, resultando no nascimento de  recém-nascido do sexo masculino, único, com índices de Apgar 9 e 10 no primeiro e  quinto minutos, respectivamente. A paciente permaneceu internada por dois dias no  serviço, sob observação e cuidados pós-operatórios, evoluindo de forma satisfatória,  sem complicações clínicas ou hemodinâmicas, recebendo alta hospitalar em bom  estado geral.  

4 Discussão  

O manejo das massas anexiais durante a gestação permanece um desafio  clínico relevante, especialmente em casos de grandes proporções, como o relatado.  Embora a maioria das formações anexiais detectadas em gestantes seja benigna e  apresente resolução espontânea até o segundo trimestre, a persistência e o  crescimento progressivo dessas lesões exigem acompanhamento rigoroso e, em  determinados casos, intervenção cirúrgica (Costa et al., 2021; Manete, Brum e Manete,  2013).  

A paciente deste estudo apresentou um cisto anexial direito identificado  precocemente, ainda com 6 semanas de gestação, que evoluiu de forma gradual e  contínua ao longo do período gestacional, atingindo aproximadamente 14 × 14 cm na  37ª semana. A literatura reforça que o crescimento progressivo de massas anexiais  durante a gestação é indicativo de origem neoplásica benigna, sobretudo quando as  características ultrassonográficas se mantêm estáveis e compatíveis com  cistadenomas serosos ou mucinosos (Tavares et al., 2023; Acharya et al., 2022). No  caso descrito, o acompanhamento ultrassonográfico seriado evidenciou aumento  significativo da lesão, sem sinais de vascularização ou irregularidade de contornos, o  que orientou uma conduta expectante até o termo, associada à vigilância clínica e  obstétrica.  

De acordo com Silva Filho, Moretti-Marques e Carvalho (2020), a  ultrassonografia transvaginal com Doppler colorido constitui o método mais eficaz para  avaliação inicial das massas anexiais, permitindo distinguir achados fisiológicos de  alterações patológicas. As características observadas nos exames seriados — parede  fina, conteúdo predominantemente anecoico e ausência de fluxo ao Doppler — sugeriram uma lesão epitelial benigna, sem critérios de suspeição para malignidade.  Essa correlação entre achados de imagem e evolução clínica é essencial para  determinar o momento ideal da intervenção e reduzir riscos desnecessários à gestante  e ao feto.  

A conduta cirúrgica nas massas anexiais durante a gestação deve ser  cuidadosamente ponderada. Segundo Conte et al. (2020) e Acharya et al. (2022), as  principais indicações para intervenção incluem dor persistente, torção ovariana,  suspeita de malignidade, aumento rápido do volume tumoral e compressão de  estruturas adjacentes. Quando necessária, a intervenção cirúrgica é preferencialmente  indicada no segundo trimestre, considerado o período mais seguro para abordagem  eletiva, devido ao menor risco de aborto e parto prematuro. Entretanto, em casos  diagnosticados em idade gestacional avançada, como o deste estudo, a abordagem  simultânea à cesariana é uma estratégia bem documentada na literatura, permitindo  resolução obstétrica e tratamento cirúrgico em um único tempo operatório, com  segurança materno-fetal (Manete, Brum e Manete, 2013; Tavares et al., 2023).  

O presente caso ilustra uma conduta obstétrica combinada, em que a cesariana  associada à ooforectomia direita possibilitou a retirada de um cisto ovariano gigante de aproximadamente 1,5 kg, sem intercorrências e com desfecho materno-fetal  satisfatório. A decisão pela intervenção no momento do parto fundamentou-se no risco  de complicações mecânicas, como torção, ruptura ou compressão de estruturas  pélvicas, e no aumento expressivo da massa nas últimas semanas de gestação,  corroborando as recomendações de Costa et al. (2021) e Tavares et al. (2023).  

Apesar da raridade, cistos ovarianos gigantes na gestação — definidos como  aqueles com diâmetro superior a 10 cm — podem representar risco significativo,  sobretudo quando persistem até o termo. A incidência desse tipo de lesão é inferior a  1% das gestações (Acharya et al., 2022; Ahmad et al., 2019). Embora a maioria  apresente natureza benigna, o potencial de complicações reforça a importância do  acompanhamento ultrassonográfico seriado e da abordagem multidisciplinar,  envolvendo obstetras, cirurgiões e patologistas (Conte et al., 2020).  

Do ponto de vista fisiopatológico, o crescimento de cistos ovarianos durante a  gestação pode estar relacionado à influência hormonal, especialmente pelo aumento  da gonadotrofina coriônica humana (hCG) e do estrogênio, que estimulam o  desenvolvimento de estruturas císticas funcionais. No entanto, a persistência de uma  lesão com crescimento contínuo sugere etiologia não funcional, como os  cistadenomas serosos, mucinosos ou endometriomas, como observado neste caso  (Silva Filho, Moretti-Marques e Carvalho, 2020; Acharya et al., 2022). A diferenciação  entre essas entidades é essencial, pois define a conduta terapêutica e o momento  ideal para a intervenção.  

Os principais diagnósticos diferenciais das massas anexiais na gestação  incluem cistos funcionais, endometriomas, teratomas maduros e, raramente,  neoplasias malignas (Costa et al., 2021). A avaliação deve considerar as  características ultrassonográficas, o padrão de vascularização e os marcadores  tumorais, embora estes últimos sejam pouco específicos durante a gestação devido  às alterações fisiológicas. Dessa forma, o diagnóstico por imagem permanece o pilar  fundamental para o manejo clínico e cirúrgico dessas pacientes (Tavares et al., 2023).  Outro aspecto relevante é o impacto psicológico e emocional associado ao diagnóstico  de uma massa anexial em gestante. O temor quanto à possibilidade de malignidade e  aos riscos para o feto frequentemente gera ansiedade significativa, reforçando a  importância da comunicação clara e do suporte multiprofissional (Acharya et al., 2022).  

A abordagem humanizada e o aconselhamento contínuo são fundamentais para  o fortalecimento do vínculo terapêutico e adesão ao acompanhamento pré-natal. Do  ponto de vista anestésico e cirúrgico, a realização da ooforectomia durante a cesariana  requer planejamento rigoroso, considerando o aumento da vascularização pélvica e o  risco potencial de hemorragia (Conte et al., 2020). A escolha de uma equipe  experiente, a disponibilidade de recursos hemostáticos e a monitorização intensiva no  pós-operatório imediato são fatores determinantes para o sucesso do procedimento e  a segurança materna. No caso descrito, tais cuidados foram observados, o que  contribuiu para a evolução favorável e a recuperação sem intercorrências.  

Além disso, o estudo reforça o papel da medicina baseada em evidências na  tomada de decisão clínica. A literatura atual aponta que a conduta expectante deve ser  priorizada sempre que possível, desde que a paciente permaneça assintomática e o  acompanhamento ultrassonográfico demonstre estabilidade da lesão (Tavares et al.,  2023; Costa et al., 2021). No entanto, a individualização do tratamento, considerando  as particularidades de cada caso, continua sendo o princípio fundamental da prática  obstétrica moderna.  

O caso descrito evoluiu de forma satisfatória, com parto cesáreo de  recémnascido do sexo masculino, Apgar 9/10, e recuperação materna sem  intercorrências. A paciente permaneceu internada por dois dias após o procedimento,  sob cuidados clínicos e observação, recebendo alta em bom estado geral. Esses  resultados estão em consonância com a literatura, que descreve prognóstico favorável  em pacientes submetidas a abordagem adequada e segura para massas anexiais  benignas durante a gestação (Tavares et al., 2023; Manete, Brum e Manete, 2013).  

Portanto, o presente relato reforça a importância da avaliação ultrassonográfica  precoce, da monitorização contínua e da conduta individualizada, considerando as  particularidades de cada caso. A associação entre diagnóstico preciso,  acompanhamento multiprofissional e intervenção oportuna permite minimizar riscos e  garantir resultados maternos e neonatais satisfatórios, destacando a relevância clínica  e acadêmica do tema para a prática obstétrica contemporânea.   

5 Considerações Finais  

Do ponto de vista acadêmico, o presente relato de caso contribui  significativamente para o aprofundamento do conhecimento sobre o manejo das  massas anexiais na gestação, uma condição clínica que, apesar de rara, impõe  desafios diagnósticos e terapêuticos relevantes. A descrição detalhada da evolução  ultrassonográfica, dos critérios de decisão clínica e da conduta cirúrgica permite que  o caso sirva como base de aprendizado para estudantes e profissionais em formação,  incentivando a reflexão sobre a importância do raciocínio clínico individualizado e do  uso de protocolos baseados em evidências.  

Sob o aspecto social, o trabalho reforça o papel essencial do acompanhamento  pré-natal regular como instrumento de prevenção e detecção precoce de condições  potencialmente graves. A identificação e o seguimento adequados das massas  anexiais durante a gestação possibilitam intervenções oportunas, reduzindo riscos à  saúde materna e fetal e garantindo um cuidado obstétrico mais seguro. Além disso,  evidencia a relevância da comunicação clara entre equipe de saúde e paciente,  promovendo confiança, adesão ao tratamento e melhor experiência de cuidado.  

No âmbito científico, este estudo destaca a importância da integração entre a  prática clínica e a pesquisa aplicada. Ao documentar um caso raro de cisto ovariano  gigante em gestante a termo, manejado com sucesso por meio de abordagem  combinada durante o parto cesáreo, o trabalho amplia o corpo de evidências sobre a  conduta expectante e cirúrgica em situações semelhantes. Dessa forma, contribui para  o avanço do conhecimento médico e oferece subsídios para futuras investigações  sobre a abordagem diagnóstica e terapêutica das massas anexiais em gestantes.   

REFERÊNCIAS  

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 1 Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ)
2 Professora do Curso de Medicina do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ)
3 Preceptor do Internato de Ginecologia e Obstetrícia do Curso Medicina do Centro Universitário de  João Pessoa (UNIPÊ)