LÚPUS E GRAVIDEZ: RISCOS, CUIDADOS E ORIENTAÇÕES PARA UMA GESTAÇÃO SEGURA

LUPUS AND PREGNANCY: RISKS, CARE, AND GUIDELINES FOR A SAFE PREGNANCY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202504181223


Ana Maria Esteves Cascabulho1; Djalma Gomes Neto2; Edyala Oliveira Brandão Veiga3; Rainer Gaburo Garcia4; Henri Gazal Costa Junior5; Iasmym Rodrigues da Silva Mota6; Gabriel Amaral Vallim Costa7;


Resumo

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença autoimune crônica e multissistêmica que afeta principalmente mulheres em idade reprodutiva. Sua incidência é maior em mulheres afrodescendentes, hispânicas e asiáticas, e a relação de prevalência entre mulheres e homens é de 9:1, sugerindo uma forte influência dos hormônios sexuais na patogênese da doença. A gravidez em mulheres com LES representa um desafio clínico, pois a doença pode impactar negativamente á gestação, ao mesmo tempo que a gestação pode agravar a atividade lúpica. O risco de complicações obstétricas, como abortamento, parto prematuro, restrição do crescimento fetal e pré-eclâmpsia, é significativamente maior nessas pacientes. Além disso, a presença de autoanticorpos, como os antifosfolípides, aumenta a chance de trombose e perdas gestacionais. Os sintomas do LES na gravidez são variáveis e frequentemente se confundem com mudanças fisiológicas normais da gestação. Entre as manifestações mais comuns estão fadiga, artralgias, mialgias, febre, lesões cutâneas e alterações hematológicas, como anemia e trombocitopenia. A nefropatia lúpica é uma das complicações mais graves, podendo levar à insuficiência renal e afetar diretamente o bem-estar materno e fetal. O diagnóstico diferencial entre atividade lúpica e pré-eclâmpsia é essencial para um manejo adequado, sendo exames laboratoriais, como dosagem de complemento (C3 e C4) e pesquisa de anticorpos anti-DNA, fundamentais para essa distinção. O prognóstico da gestação em mulheres com LES está diretamente ligado ao estado da doença antes da concepção. Estudos indicam que a remissão por pelo menos seis meses antes da gestação reduz significativamente os riscos materno-fetais. O tratamento adequado deve incluir medicamentos compatíveis com a gravidez, como a hidroxicloroquina, e anticoagulantes para pacientes com síndrome do anticorpo antifosfolípide. O acompanhamento multiprofissional é essencial para minimizar os riscos, garantindo uma gestação mais segura. O planejamento pré-concepcional e o monitoramento contínuo da atividade da doença são estratégias fundamentais para melhorar os desfechos obstétricos e reduzir a morbidade materno-fetal.

Palavras-chave: Lúpus Eritematoso Sistêmico; Gravidez de alto risco; Complicações materno-fetais.

Abstract

Systemic Lupus Erythematosus (SLE) is a chronic, multisystem autoimmune disease that primarily affects women of reproductive age. Its incidence is higher among Afro-descendant, Hispanic, and Asian women, and the female-to-male prevalence ratio is 9:1, suggesting a strong influence of sex hormones on the pathogenesis of the disease. Pregnancy in women with SLE poses a clinical challenge, as the disease can negatively impact gestation, while pregnancy can also exacerbate lupus activity. The risk of obstetric complications, such as miscarriage, preterm birth, fetal growth restriction, and preeclampsia, is significantly higher in these patients. Moreover, the presence of autoantibodies, such as antiphospholipids, increases the likelihood of thrombosis and pregnancy loss. Symptoms of SLE during pregnancy are variable and often overlap with normal physiological changes of pregnancy. Among the most common manifestations are fatigue, arthralgia, myalgia, fever, skin lesions, and hematological changes such as anemia and thrombocytopenia. Lupus nephropathy is one of the most severe complications, potentially leading to renal failure and directly affecting maternal and fetal well-being. Differential diagnosis between lupus activity and preeclampsia is essential for proper management, with laboratory tests such as complement levels (C3 and C4) and anti-DNA antibody testing being crucial for this distinction. The prognosis of pregnancy in women with SLE is directly related to the disease state before conception. Studies indicate that remission for at least six months prior to pregnancy significantly reduces maternal-fetal risks. Appropriate treatment should include pregnancy-compatible medications such as hydroxychloroquine and anticoagulants for patients with antiphospholipid syndrome. Multidisciplinary follow-up is essential to minimize risks and ensure a safer pregnancy. Preconception planning and continuous monitoring of disease activity are key strategies to improve obstetric outcomes and reduce maternal-fetal morbidity.

Keywords: Systemic Lupus Erythematosus; High-risk pregnancy; Maternal-fetal complications.

1 INTRODUÇÃO

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença autoimune crônica e multissistêmica que afeta predominantemente mulheres em idade reprodutiva. A incidência do LES varia de acordo com a população estudada, sendo mais comum em mulheres afrodescendentes, hispânicas e asiáticas. Estima-se que a prevalência da doença em mulheres seja nove vezes maior do que em homens, reforçando a influência dos hormônios sexuais na patogênese do LES (SILVA, L. V.; RIBEIRO, L. H. 2015).

A associação entre o LES e a gravidez representa um desafio clínico significativo, uma vez que tanto a doença pode impactar negativamente a gestação quanto a gravidez pode desencadear ou agravar a atividade lúpica. O risco de complicações obstétricas, como abortamento, parto prematuro, restrição do crescimento intrauterino e pré-eclâmpsia, é elevado em gestantes com LES. Além disso, a presença de autoanticorpos, como os antifosfolípides, está associada a um maior risco de trombose e perdas gestacionais (FERREZ, B. A. et al. 2024).

Os sintomas clínicos apresentados por gestantes com LES podem ser variáveis e, muitas vezes, se confundem com alterações fisiológicas da gravidez. Entre as manifestações mais frequentes estão fadiga, artralgias, mialgias, lesões cutâneas, febre e manifestações hematológicas, como anemia e trombocitopenia. A nefropatia lúpica, uma das complicações mais graves, pode ser exacerbada durante a gravidez, aumentando o risco de complicações maternas e fetais (BERMAS, B. L.; SMITH, N. A. 2025).

O diagnóstico diferencial entre atividade lúpica e complicações obstétricas, como pré-eclâmpsia, é essencial para um manejo adequado. A pré-eclâmpsia compartilha sintomas com o LES, como hipertensão arterial e proteinúria, dificultando a diferenciação clínica. Exames laboratoriais, incluindo dosagem de complemento (C3 e C4), pesquisa de anticorpos anti-DNA e monitoramento renal, auxiliam no controle da doença e na distinção entre complicações obstétricas e exacerbação lúpica (SILVA, L. V.; RIBEIRO, L. H. 2015).

O prognóstico da gravidez em mulheres com LES depende do estado da doença no momento da concepção. Estudos indicam que a remissão por pelo menos seis meses antes da gestação está associada a melhores desfechos materno-fetais. O uso de medicamentos compatíveis com a gestação, como a hidroxicloroquina, é recomendado para reduzir o risco de exacerbação da doença e melhorar os desfechos obstétricos (FERREZ, B. A. et al. 2024).

Dessa forma, a condução da gravidez em mulheres com LES requer um acompanhamento multiprofissional, incluindo reumatologistas, obstetras especializados em alto risco e nefrologistas. A monitorização rigorosa da doença e o manejo adequado das complicações são essenciais para garantir a segurança materno-fetal e minimizar os riscos inerentes ao LES (BERMAS, B. L.; SMITH, N. A. 2025).

2 METODOLOGIA

Realizou-se uma revisão da literatura, uma pesquisa bibliográfica desenvolvida com base em informações já publicadas em artigos científicos, livros e trabalhos acadêmicos, com o objetivo de sintetizar os achados e conhecimentos existentes sobre o tema.

A coleta de dados foi realizada nas bases de dados SciELO e PubMed, durante março de 2025. As buscas foram feitas utilizando as seguintes palavras-chave: “Lúpus Eritematoso Sistêmico”; “gravidez”; “riscos”; “complicações”; e “tratamento”.

Os critérios de inclusão foram: artigos publicados nos últimos doze anos (2014-2025); textos completos disponíveis na íntegra; artigos que abordassem os riscos e complicações do LES na gravidez; e artigos que discutem estratégias terapêuticas e de manejo clínico.

Os critérios de exclusão foram: artigos duplicados; artigos fora do critério temporal estabelecido; estudos que analisavam outras doenças autoimunes; e artigos que abordavam apenas o diagnóstico do LES sem relação com a gravidez.

Os dados coletados foram analisados de forma qualitativa, buscando-se compreender as variáveis envolvidas e estabelecer relações entre a doença e seus impactos na gravidez.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A gravidez em mulheres com LES é considerada de alto risco devido à possibilidade de exacerbação da doença e complicações obstétricas significativas. Estudos indicam que gestantes com LES apresentam maior incidência de complicações como pré-eclâmpsia, restrição do crescimento fetal, partos prematuros e natimortalidade (SAULESCU et al., 2022). A inflamação sistêmica causada pelo LES pode levar a danos multiorgânicos, sendo o sistema renal um dos mais afetados, especialmente em mulheres com nefrite lúpica pré-existente (LISBOA; BRITO, 2014).

A modulação hormonal na gravidez pode influenciar a atividade do LES, uma vez que o aumento do estrogênio pode desencadear surtos da doença. Esse efeito hormonal pode aumentar a produção de autoanticorpos e levar a uma resposta inflamatória exacerbada, aumentando o risco de complicações materno-fetais (GARCÍA et al, 2024). Além disso, a presença de anticorpos antifosfolípides em gestantes lúpicas está associada a eventos trombóticos, contribuindo para a alta taxa de abortamento espontâneo e complicações vasculares graves (OLIVEIRA et al, 2017).

Outro fator de risco relevante é a Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAF), que está presente em até 40% das gestantes com LES e pode levar a eventos trombóticos recorrentes e insuficiência placentária (FERREZ et al, 2024). Dessa forma, a identificação precoce desses anticorpos é fundamental para a implementação de estratégias terapêuticas, incluindo o uso de anticoagulantes como heparina e aspirina para reduzir o risco de trombose placentária e complicações obstétricas graves (SAULESCU et al, 2022).

Nesse sentido, a identificação precoce da SAF é crucial para a adoção de medidas profiláticas, como o uso de anticoagulantes, incluindo heparina de baixo peso molecular e aspirina em baixas doses. Essas terapias são fundamentais para reduzir os riscos trombóticos e melhorar os desfechos gestacionais em mulheres com LES e SAF (GARCÍA et al., 2024). Além disso, a monitorização rigorosa da função placentária e do crescimento fetal é essencial para a detecção precoce de complicações e intervenção oportuna.

A presença de anticorpos antifosfolípides na circulação materna pode levar a complicações fetais, como insuficiência placentária e lúpus neonatal. Este último ocorre devido à passagem transplacentária dos anticorpos anti-Ro e anti-La, podendo resultar em manifestações hematológicas, dermatológicas e, nos casos mais graves, bloqueio atrioventricular congênito (OLIVEIRA et al., 2017). Dessa forma, a triagem desses autoanticorpos durante o pré-natal é essencial para prever e prevenir possíveis complicações (CARBALLÉ GARCÍA et al., 2023).

O suporte multiprofissional, envolvendo obstetras especializados, reumatologistas e hematologistas, é essencial para reduzir os riscos materno-fetais associados à SAF e ao LES. O manejo clínico deve ser individualizado, considerando o histórico da paciente, o grau de atividade do LES e fatores de risco adicionais (SAULESCU et al., 2022). O planejamento pré-concepcional e o controle rigoroso da doença por pelo menos seis meses antes da concepção estão associados a melhores prognósticos gestacionais.

A adesão ao tratamento, incluindo hidroxicloroquina, anticoagulantes e imunossupressores seguros para a gravidez, deve ser incentivada para garantir estabilidade materna e fetal (FERREZ et al., 2024). Além disso, corticosteroides e imunossupressores devem ser utilizados com cautela para evitar impactos negativos no desenvolvimento fetal. A continuidade do acompanhamento multiprofissional e da monitorização da atividade da doença são fundamentais para reduzir complicações e melhorar a qualidade de vida das gestantes com LES. 

Diante desses desafios, torna-se evidente a necessidade de um planejamento pré-concepcional adequado, permitindo que a gravidez ocorra durante os períodos de remissão da doença. O suporte especializado, incluindo obstetras de alto risco, reumatologistas e nefrologistas, pode contribuir significativamente para a redução da morbimortalidade materno-fetal associada ao LES (SAULESCU et al, 2022).

O lúpus neonatal é uma preocupação relevante em gestantes com LES, principalmente naquelas com anticorpos anti-Ro e anti-La. Esses autoanticorpos podem atravessar a placenta e causar manifestações clínicas no recém-nascido, incluindo lesões cutâneas transitórias, citopenias e, em casos mais graves, bloqueio atrioventricular congênito (BUYON, 2025). A triagem desses anticorpos durante o pré-natal permite identificar fetos em risco e instituir um acompanhamento adequado, reduzindo a morbidade neonatal associada ao LES.

O bloqueio atrioventricular congênito (BAV) é uma das complicações mais graves do lúpus neonatal, podendo resultar em bradicardia fetal e necessidade de marcapasso definitivo após o nascimento. A patogênese dessa condição está relacionada ao depósito de complexos imunes no sistema de condução cardíaco fetal, levando a inflamação e fibrose irreversível (BUYON, 2025). O uso de dexametasona e hidroxicloroquina durante a gestação tem sido estudado como estratégia para reduzir a progressão do BAV em fetos expostos a altos títulos de anticorpos anti-Ro, demonstrando potencial para melhorar os desfechos neonatais (ANDREOLI et al., 2017).

Além dos riscos neonatais, recém-nascidos de mães com LES podem apresentar prematuridade e restrição do crescimento intrauterino devido à insuficiência placentária. A inflamação sistêmica e o estado pró-trombótico característicos do LES aumentam o risco de disfunção placentária, comprometendo a oxigenação e nutrição fetal (CARBALLÉ GARCÍA et al., 2023). O monitoramento ultrassonográfico seriado é essencial para avaliar o crescimento fetal e a vitalidade, permitindo a intervenção precoce caso sinais de sofrimento fetal sejam detectados.

O tratamento com hidroxicloroquina durante a gravidez tem sido amplamente recomendado, pois não apenas melhora os desfechos gestacionais em mulheres com LES, como também reduz o risco de lúpus neonatal em bebês expostos a anticorpos anti-Ro e anti-La (BUYON, 2025). Evidências demonstram que essa droga apresenta um perfil de segurança favorável e está associada a menor atividade da doença materna e menores taxas de prematuridade e complicações neonatais (FERREZ et al., 2024). Dessa forma, a continuidade do seu uso ao longo da gestação é considerada essencial no manejo dessas pacientes.

O manejo da hipertensão arterial, uma complicação comum em gestantes com LES, deve ser realizado com medicamentos seguros para a gravidez. Anti-hipertensivos como metildopa e nifedipino são recomendados, enquanto inibidores da ECA e bloqueadores dos receptores da angiotensina devem ser evitados devido ao risco de malformações fetais e insuficiência renal neonatal (BERMAS; SMITH, 2025). Além disso, a identificação precoce de proteinúria é fundamental para diferenciar entre nefrite lúpica ativa e pré-eclâmpsia, garantindo a abordagem terapêutica mais adequada para cada caso.

A adesão ao tratamento e o acompanhamento pré-natal rigoroso são fundamentais para a redução da morbimortalidade materno-fetal em gestantes com LES. O envolvimento de uma equipe multiprofissional, incluindo obstetras de alto risco, reumatologistas e neonatologistas, tem demonstrado impacto positivo na prevenção de complicações graves e na promoção de desfechos favoráveis (ANDREOLI et al., 2017). A individualização do cuidado, considerando o histórico da paciente e os fatores de risco associados, é essencial para garantir uma gestação mais segura.

No período pós-parto, mulheres com LES apresentam um risco aumentado de exacerbação da doença devido às mudanças hormonais e ao estresse fisiológico do parto. Estudos apontam que a retomada precoce do acompanhamento reumatológico e a manutenção do tratamento adequado são essenciais para evitar complicações maternas (BUYON, 2025). Pacientes que apresentaram alta atividade lúpica durante a gravidez devem ser monitoradas de perto para detectar sinais precoces de reativação da doença e ajustar a terapêutica conforme necessário.

A amamentação pode ser segura para mulheres com LES, desde que os medicamentos utilizados sejam compatíveis com a lactação. A hidroxicloroquina e a prednisona em baixas doses são consideradas seguras, enquanto imunossupressores como micofenolato e ciclofosfamida devem ser evitados devido ao potencial risco para o bebê (ANDREOLI et al., 2017). A decisão sobre a amamentação deve ser discutida com a equipe médica, garantindo que a mãe possa nutrir o bebê sem comprometer seu próprio controle da doença.

Diante dos desafios impostos pelo LES na gravidez, torna-se evidente a necessidade de um planejamento pré-concepcional adequado, permitindo que a gestação ocorra durante períodos de remissão da doença. Estudos demonstram que mulheres com LES que concebem durante fases estáveis da doença apresentam menores taxas de complicações materno-fetais (SAULESCU et al., 2022). O suporte especializado e a implementação de estratégias preventivas, como a triagem precoce de autoanticorpos e o uso de medicamentos compatíveis com a gestação, são fundamentais para garantir melhores desfechos e reduzir a morbidade associada ao LES na gestação.

A estratificação do risco em gestantes com LES é essencial para a condução adequada do pré-natal e a definição do momento ideal para o parto. De acordo com a Society for Maternal-Fetal Medicine (SMFM) (2023), pacientes com histórico de nefrite lúpica ativa, hipertensão descontrolada ou complicações prévias, como pré-eclâmpsia e restrição do crescimento fetal, devem ser monitoradas com maior frequência, podendo necessitar de internação para vigilância intensiva. A decisão sobre a via de parto deve ser individualizada, considerando a estabilidade materna e fetal, sendo a cesariana indicada apenas em casos de indicação obstétrica precisa.

Além do acompanhamento obstétrico e reumatológico, a abordagem multidisciplinar deve incluir cardiologistas e hematologistas para manejo de possíveis complicações cardiovasculares e trombóticas, frequentes em pacientes com LES. A SMFM (2023) recomenda a avaliação cuidadosa de fatores pró-trombóticos, como a presença de síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (SAF), uma condição que pode aumentar o risco de trombose placentária e morbidade materno-fetal. O uso profilático de heparina de baixo peso molecular pode ser necessário para gestantes com LES e SAF, reduzindo a incidência de perdas gestacionais recorrentes e outros desfechos adversos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) representa um desafio significativo para a gestante e a equipe médica envolvida no seu cuidado. A complexidade da doença, aliada às mudanças fisiológicas da gravidez, exige uma abordagem individualizada e multidisciplinar. O risco aumentado de complicações obstétricas, como abortamento, parto prematuro e pré-eclâmpsia, reforça a importância do acompanhamento rigoroso e da adoção de medidas preventivas. O controle adequado da atividade da doença antes da concepção e durante a gestação pode melhorar significativamente os desfechos materno-fetais, reduzindo os riscos inerentes ao LES.

A identificação precoce de autoanticorpos, como os antifosfolípides, e a implementação de terapias apropriadas, incluindo o uso de hidroxicloroquina e anticoagulantes, são fundamentais para minimizar eventos trombóticos e melhorar a saúde materna e fetal. Além disso, a monitorização constante da função renal e da atividade inflamatória permite um manejo mais eficaz das complicações. A diferença entre atividade lúpica e complicações gestacionais, como a pré-eclâmpsia, continua sendo um dos maiores desafios clínicos, tornando os exames laboratoriais essenciais para um diagnóstico preciso e intervenção oportuna.

Diante disso, o planejamento reprodutivo, o acompanhamento especializado e a adesão ao tratamento adequado são estratégias essenciais para a condução de uma gravidez segura em mulheres com LES. O suporte multiprofissional, incluindo obstetras especializados em alto risco, reumatologistas e nefrologistas, é crucial para garantir a estabilidade clínica da paciente e promover melhores desfechos obstétricos. O avanço nas estratégias terapêuticas e a conscientização sobre a importância do acompanhamento contínuo podem contribuir significativamente para a redução da morbimortalidade materno-fetal associada ao LES.

REFERÊNCIAS

ANDREOLI, Laura et al. EULAR recommendations for women’s health and the management of family planning, assisted reproduction, pregnancy and menopause in patients with systemic lupus erythematosus and/or antiphospholipid syndrome. Annals of the rheumatic diseases, v. 76, n. 3, p. 476-485, 2017

BUYON, Jill P. Neonatal lupus: epidemiology, pathogenesis, clinical manifestations, and diagnosis. UpToDate, 2025. Disponível em: https://www.uptodate.com

CARBALLÉ GARCÍA, Daisy et al. Maternal-fetal complications in pregnant women with systemic lupus erythematosus. Acta Médica del Centro, v. 17, n. 2, p. 301-309, 2023.

FERREZ, B. A. et al. Systemic Lupus Erythematosus in Pregnant Patients and Maternal-Fetal Implications. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, n. 11, p. 3706-3714, 2024.

LISBOA, Ana; BRITO, Iva. Systemic Lupus Erythematosus and pregnancy: therapeutic implications. Arquivos de Medicina, v. 28, n. 1, p. 18-24, 2014.

OLIVEIRA, Vanessa Marcon de et al. Serum markers for thrombophilia in pregnant women with systemic lupus erythematosus. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 17, p. 833-842, 2017.

SAULESCU, Ioana Cristina et al. Preparing for Pregnancy in Women with Systemic Lupus Erythematosus—A Multidisciplinary Approach. Medicina, v. 58, n. 10, p. 1371, 2022.

SILVA, L. V.; RIBEIRO, L. H. Systemic Lupus Erythematosus and pregnancy: a review of the literature. Rev Soc Bras Clin Med., v. 13, n. 4, p. 289-295, 2015.

SMITH, N. A.; BERMAS, B. L. Pregnancy in women with systemic lupus erythematosus. UpToDate, 2025.

Society for Maternal-Fetal Medicine (SMFM). Consult Series #64: Systemic lupus erythematosus in pregnancy. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 2023. DOI: 10.1016/j.ajog.2022.09.001.


1Instituição: Centro Universitário São Carlos – UNISÃOCARLOS
Avenida Governador Roberto Silveira 910, Bom Jesus do Itabapoana, RJ, CEP 28360-000
Email: anacascabulho@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0003-2493-7183

2Instituição: Centro Universitário São Carlos – UNISÃOCARLOS
Avenida Governador Roberto Silveira 910, Bom Jesus do Itabapoana, RJ, CEP 28360-000
Email: dgneto@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0003-3044-1109

3Instituição: Centro Universitário São Carlos – UNISÃOCARLOS
Avenida Governador Roberto Silveira 910, Bom Jesus do Itabapoana, RJ, CEP 28360-000
Email: edyalabrandao@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-7801-503X

4Instituição: Centro Universitário São Carlos – UNISÃOCARLOS
Avenida Governador Roberto Silveira 910, Bom Jesus do Itabapoana, RJ, CEP 28360-000
Email: rainer.9@hotmail.com
https://orcid.org/0009-0001-4781-7865

5Instituição: Centro Universitário São Carlos – UNISÃOCARLOS
Avenida Governador Roberto Silveira 910, Bom Jesus do Itabapoana, RJ, CEP 28360-000
Email: henrigazal11@hotmail.com
https://orcid.org/0009-0003-1591-493X

6Instituição: Centro Universitário São Carlos – UNISÃOCARLOS
Avenida Governador Roberto Silveira 910, Bom Jesus do Itabapoana, RJ, CEP 28360-000
Email: iasmym.rodrigues.1@gmail.com
https://orcid.org/0009-0007-4894-9396

7Instituição: Centro Universitário São Carlos – UNISÃOCARLOS
Avenida Governador Roberto Silveira 910, Bom Jesus do Itabapoana, RJ, CEP 28360-000
Email: gabrielvallim@hotmail.com
https://orcid.org/0009-0002-5042-3071