JESUS CRISTO E A CRUCIFICAÇÃO: UMA PERSPECTIVA IMUNOLÓGICA SOBRE OS LIMITES DO CORPO HUMANO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202512090851


Rodrigo Solimões Brandão
Orientador: Gabriel Rezende


RESUMO 

Este trabalho apresenta uma análise dos limites fisiológicos e imunológicos do corpo  humano diante dos eventos que envolveram a crucificação de Jesus Cristo. A partir  de uma abordagem qualitativa, foram examinados relatos históricos, teológicos e  biomédicos, com ênfase nos mecanismos inflamatórios, infecciosos e  endocrinológicos desencadeados por traumas extremos. O estudo discute fenômenos  como hematidrose, respostas inflamatórias agudas, liberação de citocinas e  hormônios de estresse, além dos efeitos sistêmicos provocados pela flagelação,  hipoperfusão tecidual, choque hipovolêmico e infecções secundárias. Os dados  analisados permitem compreender como múltiplos mecanismos imunológicos atuam  simultaneamente diante de sofrimento físico e psicológico intenso, contribuindo para  falência orgânica progressiva. A integração entre conhecimento histórico e  fisiopatologia moderna possibilita ampliar a compreensão dos processos que  culminaram na morte de Jesus Cristo, oferecendo uma perspectiva biomédica  detalhada sobre os limites do corpo humano em condições de extremo estresse. 

Palavras-chave: Crucificação; Inflamação; Imunologia; Trauma Físico; Resposta ao  Estresse; Hematidrose. 

ABSTRACT 

This study presents an analysis of the physiological and immunological limits of the  human body during the events surrounding the crucifixion of Jesus Christ. Using a  qualitative approach, historical, theological, and biomedical records were examined  with emphasis on inflammatory, infectious, and endocrine mechanisms triggered by  extreme trauma. The study discusses phenomena such as hematidrosis, acute  inflammatory responses, cytokine release, stress-related hormonal activation, and the  systemic effects caused by flagellation, impaired tissue perfusion, hypovolemic shock,  and secondary infections. The analyzed data demonstrate how multiple immune  mechanisms act simultaneously under intense physical and psychological suffering,  contributing to progressive organ failure. Integrating historical accounts with current  pathophysiological knowledge expands the understanding of the processes that led to  the physical death of Jesus Christ, offering a detailed biomedical perspective on the  limits of the human body under extreme stress.

Keywords: Crucifixion; Inflammation; Immunology; Physical Trauma; Stress  Response; Hematidrosis

OBJETIVOS 

OBJETIVO GERAL 

  • Estudar a crucificação de Jesus sob uma perspectiva imunológica  envolvendo os limites fisiológicos e imunológicos do corpo humano, assim  buscando compreender as respostas inflamatórias, infecciosas e de  estresse durante o processo. 

OBJETIVO ESPECÍFICO  

1. Analisar as respostas inflamatórias que o corpo de Jesus sofreu antes e  durante a sua crucificação. 

2. Trazer possíveis explicações para respostas do corpo durante grandes  lesões físicas e danos psicológicos. 

3. Buscar quais possíveis infecções poderiam ter ocorrido por conta das  feridas abertas e o ambiente precários da época. 

4. Explorar respostas a dor extrema, liberação de citocinas, histaminas e  cortisol além de colapso fisiológico. 

5. Demonstrar possíveis fatores imunológicos, como choque séptico e  falência múltipla de órgãos neste contexto.

INTRODUÇÃO 

Jesus Cristo foi um líder religioso judeu que viveu na Palestina e foi condenado  à morte por crucificação, um dos métodos mais cruéis de execução da época. A  crucificação foi amplamente utilizada pelo Império Romano a partir de 217 a.C., sendo  aplicada apenas a não-cidadãos romanos, e perdurou até o século IV, quando foi  proibida pelo imperador Constantino (Retief & Cilliers, 2003). 

Pesquisas indicam (Bordes et al., 2019; Sanders, E.P., 2021) que essa forma  de punição surgiu entre os povos assírios e babilônicos, sendo aperfeiçoada pelos  persas. O método visava não apenas à morte, mas também à humilhação pública,  sendo dividido em duas etapas principais: a flagelação e a crucificação (Bordes et al.,  2019). 

A flagelação era um procedimento cruel que antecedia várias formas de  execução. No contexto da crucificação, ela era realizada durante o trajeto até o local  da pena. Consistia em golpes com um chicote curto, composto por tiras de couro e  fragmentos de ossos de carneiro, sempre evitando pontos vitais (Barbet, 2018; Mauro,  2018; Jacoby, s.d.). Esse processo resultava em intensas lesões cutâneas,  lacerações, hemorragias e comprometimento sistêmico. 

A crucificação era reservada apenas aos piores criminosos e consistia em  exposição pública, nudez forçada e extremo sofrimento físico e psicológico (Sanders,  2021). O condenado era forçado a carregar sua própria cruz até um local elevado,  onde era pregado pelas mãos e pelos pés à mesma. 

Diante desse cenário os limites que o corpo humano é capaz de suportar foram  explorados levando ao extremo entre aflição física e psicológica ocasionando diversos  colapsos imunológicos (Barbet, 2018; Bordes et al., 2019) que causaram a morte de  Jesus Cristo antes mesmo da lança perfurar seu corpo. 

Do ponto de vista biomédico, os impactos da crucificação sobre o corpo  humano são complexos e envolvem múltiplos sistemas fisiológicos. Lesões teciduais  extensas desencadeiam uma cascata inflamatória, ativação do sistema imunológico  inato, liberação de citocinas pró-inflamatórias e alterações na perfusão tecidual. A  resposta imune sistêmica gerada por esse trauma contribui para o agravamento do  quadro clínico, podendo levar à falência de órgãos, choque hipovolêmico e, por fim, à  morte.

Diante desse cenário, este trabalho tem como objetivo analisar os eventos  fisiopatológicos e as possíveis reações imunológicas decorrentes do processo de  crucificação, com base em relatos teológicos e históricos, além de evidências médicas  e biomédicas. Serão exploradas condições como a hematidrose de Jesus no  Getsêmani, as respostas inflamatórias às lesões provocadas pela flagelação, os  traumas nos órgãos internos e as consequências sistêmicas do sofrimento extremo. 

A análise científica permitirá um entendimento aprofundado do impacto da  crucificação sobre o corpo e o organismo de Jesus de Nazaré, trazendo assim uma  nova perspectiva sobre esse assunto. 

METODOLOGIA 

Esta pesquisa adota uma abordagem qualitativa, com análise bibliográfica da  narrativa. Será desenvolvida com base na análise de artigos, livros de anatomia,  fisiologia, imunologia e teologia, além de registros históricos médicos que abordem  aspectos relacionados à crucificação e ao sofrimento de Jesus Cristo. 

A coleta de dados será realizada por meio de pesquisas em bases acadêmicas,  além de literaturas revisadas com respaldo científico, visando à obtenção de  informações confiáveis. O estudo será baseado em documentos científicos sobre os  assuntos citados anteriormente, com ênfase em estudos imunológicos relacionados à  resposta a traumas físicos semelhantes aos descritos nos relatos. 

A pesquisa será dividida em tópicos específicos, seguindo a ordem cronológica  dos fatos, para melhor compreensão. Serão eles: Hematidrose, Flagelação e traumas  físicos, Respostas inflamatórias, Estresse, Choque hipovolêmico e, por fim, as  possíveis causas da morte e seus registros. Todo o estudo buscará integrar dados  históricos e científicos para gerar uma compreensão mais profunda sobre os efeitos  mencionados. 

RESULTADOS ESPERADOS 

Como resultado desta pesquisa, espera-se ampliar a compreensão sobre os  acontecimentos que envolveram a morte de Jesus Cristo e suas causas, de forma  mais aprofundada do que alguns estudos anteriores, especialmente no que se refere  às respostas imunológicas, à hematidrose, ao choque hipovolêmico, à falência de  órgãos e a outras reações que possam ter ocorrido em seu corpo durante todo o  processo.

O estudo também visa evidenciar de maneira clara o nível de sofrimento de  Jesus Cristo, abordando os principais acontecimentos sob uma perspectiva histórica,  clínica, religiosa e espiritual. 

1. Trauma Físico severo e resposta imunológica sistêmica 

Os traumas físicos relacionados a sua intensidade e severidade desencadeiam  uma resposta inflamatória sistema (SIRS), que é essencial para a sobrevivência e  como resposta a SIRS para o controle homeostático há uma resposta anti-inflamatória compensatória (CARS) que naturalmente se estabilizam para que haja uma reparação  dos tecidos lesados e dos traumas sofridos, porém em condições tratamento ou com  exposições prolongadas a esse estado o corpo começa ficar desregulado (Salvo et al.  2024) e por conta dessa condição que o sistema se encontra DAMPs e PAMPs  começam a ter uma maior liberação resultando em uma ativação excessiva do sistema  complemento e diversas células imunes como macrófagos, linfócito T, células NK e  dendríticas além de alguns leucócitos como eosinófilos, basófilos e neutrófilos (Li et  al. 2023). Essa ativação excessiva resulta em uma grande quantidade de citocina e  quimiocinas sendo liberadas que contribuem para a falência de múltiplos órgãos. 

Citocinas pró-inflamatórias liberadas em grandes quantidades por conta da  resposta inflamatória causam graves danos a tecidos e órgãos (Li et al. 2023). TNF α, IL-1β e IL-6, são as citocinas principais para defesa e reparo de tecidos durantes  esses episódios traumáticos, por conta das suas capacidades de além de sinalizar as  mesmas conseguem suprimir ou amplificar respostas imunes diretamente. 

O quadro que o corpo se encontra após a exposição prolongada a esse estado  pode deixar o mesmo mais suscetível a infecções e complicações adicionais que  podem acometer o corpo (Salvo et al. 2024). O estado de imunossupressão ao qual é  submetido é o que acarreta essa cascata de eventos que causa a desregulação e  fragilização do sistema imune resultando de traumas físicos. 

2. Estresse psicológico agudo e seus efeitos imunológicos extremos

O estresse psicológico agudo desencadeia uma série de respostas fisiológicas  imediatas, envolvendo principalmente a ativação do sistema nervoso simpático e do  eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), o que resulta na liberação de hormônios como catecolaminas e cortisol que modulam a função imunológica, podendo tanto  fortalecer temporariamente a defesa do organismo quanto, quando desregulado ou  prolongado, causar disfunções imunológicas significativas (Smith et al., 2022), uma  vez que esses hormônios alteram a distribuição e a atividade de diferentes células  imunes, como linfócitos T e B, células NK e macrófagos, provocando mudanças na  mobilização dessas células entre órgãos linfóides e tecidos periféricos, o que pode  impactar a capacidade do corpo de responder a infecções e favorecer a ativação  descontrolada de processos inflamatórios (Johnson et al., 2021). 

Além disso, o estresse agudo influencia diretamente a produção e liberação de  citocinas, com aumento das citocinas pró-inflamatórias como IL-1β, IL-6, TNF-α e IL 2 e diminuição das citocinas anti-inflamatórias como IL-10, criando um desequilíbrio  que pode levar a inflamação sistêmica, comprometimento da resposta imune e maior  susceptibilidade a doenças autoimunes e infecções secundárias (Wang et al., 2023),  evidenciando que a intensidade e a duração do estresse psicológico podem amplificar  efeitos prejudiciais sobre o sistema imunológico de maneira cumulativa. 

Estudos recentes em modelos animais e humanos mostraram que o estresse  agudo provoca alterações na distribuição das células imunes, incluindo migração de  células B e T dos linfonodos para a medula óssea, além de modificar a ativação de  macrófagos e células dendríticas, o que sugere que mesmo exposições curtas e  intensas ao estresse psicológico podem alterar significativamente a vigilância  imunológica e a capacidade de resposta do organismo, aumentando o risco de falhas  na defesa contra patógenos e desregulação imunológica (Lee et al., 2024). 

3. Capacidade do corpo humano para resistir a estresses extremos

O corpo humano apresenta uma capacidade notável de adaptação a diferentes  tipos de estresse extremo, sejam eles físicos, térmicos ou psicológicos, e essa  adaptação é mediada principalmente por mecanismos neuroendócrinos, como o eixo  hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que regula a liberação de hormônios como cortisol  e catecolaminas essenciais para a resposta ao estresse, mas estudos recentes  mostram que exposições prolongadas ou intensas a esses estados podem levar a  disfunções imunológicas, resultando em imunossupressão e maior vulnerabilidade a  infecções e complicações secundárias (Alotiby, 2024). 

A exposição a estresses térmicos extremos evidencia ainda mais os limites  fisiológicos do corpo humano, já que a tolerância ao calor depende de fatores como idade, aclimatação e condições ambientais, sendo que valores críticos de temperatura  úmida de bulbo seco (Twb) acima de 35°C podem levar à falha fisiológica e risco  iminente de morte, mostrando que mesmo organismos saudáveis têm limites para  resistir a condições ambientais extremas (Vanos, 2023). 

Além disso, a resiliência humana diante de situações adversas demonstra que  a capacidade de recuperação está relacionada a fatores genéticos, epigenéticos e  ambientais, sendo observada em respostas fisiológicas adaptativas, como  recuperação mais rápida dos níveis de cortisol e menor ativação do sistema nervoso  simpático, indicando que indivíduos com maior resiliência conseguem suportar  estresses intensos de forma mais eficiente e evitar danos sistêmicos graves (Ryan,  2022). 

4. Hematidrose, sudorese sanguínea sob estresse extremo 

Hematidrose, ou suor de sangue, é uma condição rara em que o sangue se  mistura ao suor, geralmente associada a situações de estresse extremo, seja físico  ou emocional. Esse fenômeno ocorre porque, durante momentos de grande aflição, o  sistema nervoso autônomo é ativado de forma intensa, liberando hormônios como a  adrenalina, que provocam dilatação e fragilidade dos pequenos vasos sanguíneos  próximos às glândulas sudoríparas. Quando esses vasos se rompem, o sangue se  mistura ao suor e aparece na superfície da pele. Esse tipo de reação extrema é  descrito nos relatos do Evangelho de Lucas (22:44), quando Jesus Cristo, diante do  peso da sua condenação, suou sangue no Getsêmani, mostrando como o estresse  psicológico e espiritual intenso pode gerar respostas físicas extremas (Barbet, 2018;  Bordes et al., 2019). 

Embora seja raro, a hematidrose evidencia que o corpo humano tem limites  claros para suportar estresses intensos. Estudos mostram que o fenômeno ocorre em  pessoas submetidas a medo, ansiedade ou trauma emocional intenso, confirmando  que a resposta imunológica e vascular pode ser afetada quando o organismo é levado  ao extremo. No caso de Jesus, a aflição profunda antes da crucificação provocou não  apenas sofrimento psicológico, mas também alterações físicas que se manifestaram  na forma da sudorese sanguínea, demonstrando como o corpo reage quando o  estresse ultrapassa os limites normais (Lucas 22:44; Mauro, 2018). 

O diagnóstico da hematidrose é difícil, pois é preciso descartar outras causas  de sangramento, como problemas de coagulação ou doenças de pele, e confirmar a presença de sangue no suor associada a episódios de estresse intenso. A análise  desses casos mostra que situações de estresse psicológico extremo, como as  enfrentadas por Jesus no Getsêmani, podem desencadear respostas físicas extremas  que envolvem vasos sanguíneos, glândulas sudoríparas e sistemas imunológicos,  reforçando que há uma conexão direta entre estados emocionais extremos e  respostas fisiológicas raras (Barbet, 2018). 

5. Lesões físicas da crucificação 

As lesões físicas causadas pela crucificação eram extensas e afetavam  praticamente todos os sistemas do corpo humano, iniciando-se com a flagelação que  gerava lacerações profundas na pele, hematomas difusos e hemorragias abundantes,  prejudicando a perfusão tecidual e ativando uma intensa resposta inflamatória  sistêmica, que, como vimos nos tópicos anteriores, poderia ser potencializada por  estados de estresse extremo e pelas respostas imunológicas desencadeadas pelo  trauma (Salvo et al., 2024; Li et al., 2023). Durante o transporte da cruz, os músculos,  articulações e ossos sofriam sobrecarga extrema, resultando em fraturas e lesões nos  membros inferiores e coluna vertebral, o que aumentava a liberação de DAMPs e  ativava ainda mais o sistema imunológico, criando um ciclo de dor, inflamação e  comprometimento fisiológico contínuo. 

A pregação na cruz causava ainda mais danos físicos: os pregos perfuravam  mãos e pés, lesionando nervos e vasos sanguíneos, enquanto o peso do corpo sobre  os membros superiores provocava luxações nos ombros e tensão nos músculos  torácicos e dorsais, reforçando o colapso hemodinâmico e o risco de choque  hipovolêmico. Essas lesões intensas, combinadas com o estresse psicológico extremo  descrito no Getsêmani e com fenômenos como a hematidrose, demonstram que o  corpo humano, mesmo saudável, tem limites claros que são ultrapassados em  situações de sofrimento extremo (Barbet, 2018; Bordes et al., 2019). 

Além disso, a hipóxia causada pela posição forçada do corpo e pelo  comprometimento respiratório, com dificuldades de expandir os pulmões e ventilação  insuficiente, contribui para o acúmulo de metabólitos inflamatórios e citocinas pró inflamatórias, mostrando que todas as respostas fisiológicas e imunológicas  previamente discutidas convergem para agravar o estado físico do condenado,  acelerando o risco de falência de órgãos e morte antes de qualquer intervenção  externa (Li et al., 2023).

6. Infecções subsequentes a flagelação 

As feridas abertas causadas pela flagelação eram altamente suscetíveis à  colonização por microrganismos presentes no ambiente, como bactérias do solo e da  própria pele, expondo o corpo a infecções secundárias que podiam evoluir  rapidamente em um cenário de imunossupressão provocada pelo trauma físico e pelo  estresse extremo (Alotiby, 2024). A penetração de PAMPs nas lesões ativava ainda  mais o sistema imunológico, mas em um corpo já sobrecarregado pela inflamação  sistêmica e pelo choque hipovolêmico, essa resposta era insuficiente para impedir a  disseminação local ou sistêmica da infecção, reforçando como os eventos discutidos  nos tópicos anteriores se interligam. 

Além disso, a exposição do tecido lesado ao ambiente externo, sem qualquer  tipo de higiene ou cuidado, acelerava o risco de septicemia, principalmente em lesões  profundas na região lombar, costas e ombros. Essas infecções podiam se manifestar  por febre, aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias e agravamento do  estado hemodinâmico, demonstrando que a integração entre trauma físico, estresse  psicológico e respostas imunológicas extremas cria condições ideais para  complicações graves que podem levar à morte mesmo antes da crucificação  propriamente dita (Ryan, 2022). 

7. Resposta imunes específicas no contexto da crucificação 

No contexto da crucificação, além da ativação do sistema imunológico inato,  ocorria também a ativação de respostas imunes específicas, principalmente mediadas  por linfócitos T e B, que buscavam identificar e neutralizar possíveis patógenos nas  feridas abertas. Entretanto, devido à combinação de trauma físico intenso, choque  hipovolêmico e estresse psicológico extremo, essas respostas adaptativas eram  frequentemente insuficientes ou desreguladas, contribuindo para inflamação crônica  local e falência gradual de tecidos (Johnson et al., 2021). 

A produção de anticorpos e a ativação de células T citotóxicas poderiam, em  condições normais, conter infecções, mas no cenário da crucificação, onde DAMPs e  citocinas pró-inflamatórias já estavam elevadas, essas respostas específicas se  tornavam um componente adicional de estresse imunológico, podendo agravar o dano  tecidual em vez de protegê-lo. Esse quadro evidencia como os eventos discutidos nos  tópicos anteriores — trauma severo, estresse extremo e hematidrose — convergem para gerar um colapso imunológico sistêmico que ultrapassa os limites naturais do  corpo humano (Chu, 2024). 

Por fim, a integração entre respostas imunológicas inatas e adaptativas no  contexto da crucificação demonstra que mesmo mecanismos sofisticados de defesa  do corpo humano podem falhar quando submetidos a múltiplos estressores  simultâneos, evidenciando a fragilidade do organismo diante de traumas físicos e  emocionais extremos e reforçando a importância de analisar cada um dos fatores em  conjunto para compreender o impacto total da crucificação sobre o corpo humano  (Salvo et al., 2024; Li et al., 2023). 

CONCLUSÃO 

A crucificação de Jesus Cristo, analisada sob a perspectiva imunológica, demonstra  que o corpo humano, quando submetido a condições de extremo sofrimento físico e  psicológico, ultrapassa rapidamente seus limites fisiológicos. Os traumas intensos, a  hematidrose, a flagelação severa, o estresse psicológico profundo e a exposição a  condições insalubres contribuíram para desencadear respostas inflamatórias  exacerbadas, choque hipovolêmico, desequilíbrios imunológicos e disfunções  sistêmicas progressivas. A integração desses fatores levou à falência múltipla de  órgãos, configurando um quadro clínico incompatível com a sobrevivência. 

Os mecanismos imunológicos ativados, incluindo a liberação de citocinas pró inflamatórias, a resposta sistêmica ao trauma (SIRS) e a imunossupressão  subsequente (CARS), evidenciam que a reação biológica ao sofrimento extremo é  complexa e envolve múltiplos sistemas trabalhando no limite de sua capacidade. As  infecções secundárias associadas às extensas feridas também contribuíram  significativamente para o agravamento do estado fisiológico. Assim, a crucificação não  apenas simboliza um evento histórico e religioso, mas também um exemplo extremo  de interação entre trauma, inflamação e resposta imune em condições de estresse  absoluto. 

A partir dessa análise, conclui-se que a morte de Jesus Cristo pode ser compreendida  não apenas sob o viés espiritual e histórico, mas também sob uma ótica biomédica  fundamentada na fisiologia e imunologia modernas. Esse estudo amplia a  compreensão científica sobre os limites do corpo humano e reforça como eventos  traumáticos extremos são capazes de desencadear cascatas fisiopatológicas fatais.

Discussão Final 

A compreensão do processo de crucificação sob um olhar imunológico permite  integrar os conhecimentos fisiológicos, históricos e teológicos apresentados ao longo  deste trabalho. Os episódios descritos — incluindo hematidrose, flagelação, estresse  psicológico intenso e traumas físicos profundos — ressaltam a complexa interação  entre o sistema imunológico e as agressões sofridas pelo corpo. Cada etapa contribuiu  de maneira cumulativa para desencadear respostas inflamatórias, alterações  hemodinâmicas e desequilíbrio imunológico que levaram ao colapso sistêmico. 

A liberação exacerbada de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α, IL-1β e IL-6, em  resposta aos danos teciduais intensos, associada ao estado prolongado de estresse  físico e emocional, favoreceu a ativação contínua do sistema imunológico inato. Esse  processo evoluiu para uma resposta inflamatória sistêmica (SIRS), seguida de um  estado de imunossupressão, que aumentou a vulnerabilidade a infecções e impediu a  recuperação fisiológica. Além disso, a hipóxia causada pela posição da crucificação  limitou a ventilação pulmonar, contribuindo para o acúmulo de metabólitos tóxicos e  agravando o quadro de falência orgânica. 

Assim, ao reunir elementos históricos, biomédicos e imunológicos, este estudo  demonstra que o desfecho fatal da crucificação pode ser compreendido como o  resultado inevitável de múltiplos fatores fisiopatológicos atuando simultaneamente.  Essa visão integrada reforça a relevância da imunologia na interpretação de eventos  traumáticos extremos e permite uma análise científica abrangente dos limites  funcionais do corpo humano.

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