REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202512090851
Rodrigo Solimões Brandão
Orientador: Gabriel Rezende
RESUMO
Este trabalho apresenta uma análise dos limites fisiológicos e imunológicos do corpo humano diante dos eventos que envolveram a crucificação de Jesus Cristo. A partir de uma abordagem qualitativa, foram examinados relatos históricos, teológicos e biomédicos, com ênfase nos mecanismos inflamatórios, infecciosos e endocrinológicos desencadeados por traumas extremos. O estudo discute fenômenos como hematidrose, respostas inflamatórias agudas, liberação de citocinas e hormônios de estresse, além dos efeitos sistêmicos provocados pela flagelação, hipoperfusão tecidual, choque hipovolêmico e infecções secundárias. Os dados analisados permitem compreender como múltiplos mecanismos imunológicos atuam simultaneamente diante de sofrimento físico e psicológico intenso, contribuindo para falência orgânica progressiva. A integração entre conhecimento histórico e fisiopatologia moderna possibilita ampliar a compreensão dos processos que culminaram na morte de Jesus Cristo, oferecendo uma perspectiva biomédica detalhada sobre os limites do corpo humano em condições de extremo estresse.
Palavras-chave: Crucificação; Inflamação; Imunologia; Trauma Físico; Resposta ao Estresse; Hematidrose.
ABSTRACT
This study presents an analysis of the physiological and immunological limits of the human body during the events surrounding the crucifixion of Jesus Christ. Using a qualitative approach, historical, theological, and biomedical records were examined with emphasis on inflammatory, infectious, and endocrine mechanisms triggered by extreme trauma. The study discusses phenomena such as hematidrosis, acute inflammatory responses, cytokine release, stress-related hormonal activation, and the systemic effects caused by flagellation, impaired tissue perfusion, hypovolemic shock, and secondary infections. The analyzed data demonstrate how multiple immune mechanisms act simultaneously under intense physical and psychological suffering, contributing to progressive organ failure. Integrating historical accounts with current pathophysiological knowledge expands the understanding of the processes that led to the physical death of Jesus Christ, offering a detailed biomedical perspective on the limits of the human body under extreme stress.
Keywords: Crucifixion; Inflammation; Immunology; Physical Trauma; Stress Response; Hematidrosis
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
- Estudar a crucificação de Jesus sob uma perspectiva imunológica envolvendo os limites fisiológicos e imunológicos do corpo humano, assim buscando compreender as respostas inflamatórias, infecciosas e de estresse durante o processo.
OBJETIVO ESPECÍFICO
1. Analisar as respostas inflamatórias que o corpo de Jesus sofreu antes e durante a sua crucificação.
2. Trazer possíveis explicações para respostas do corpo durante grandes lesões físicas e danos psicológicos.
3. Buscar quais possíveis infecções poderiam ter ocorrido por conta das feridas abertas e o ambiente precários da época.
4. Explorar respostas a dor extrema, liberação de citocinas, histaminas e cortisol além de colapso fisiológico.
5. Demonstrar possíveis fatores imunológicos, como choque séptico e falência múltipla de órgãos neste contexto.
INTRODUÇÃO
Jesus Cristo foi um líder religioso judeu que viveu na Palestina e foi condenado à morte por crucificação, um dos métodos mais cruéis de execução da época. A crucificação foi amplamente utilizada pelo Império Romano a partir de 217 a.C., sendo aplicada apenas a não-cidadãos romanos, e perdurou até o século IV, quando foi proibida pelo imperador Constantino (Retief & Cilliers, 2003).
Pesquisas indicam (Bordes et al., 2019; Sanders, E.P., 2021) que essa forma de punição surgiu entre os povos assírios e babilônicos, sendo aperfeiçoada pelos persas. O método visava não apenas à morte, mas também à humilhação pública, sendo dividido em duas etapas principais: a flagelação e a crucificação (Bordes et al., 2019).
A flagelação era um procedimento cruel que antecedia várias formas de execução. No contexto da crucificação, ela era realizada durante o trajeto até o local da pena. Consistia em golpes com um chicote curto, composto por tiras de couro e fragmentos de ossos de carneiro, sempre evitando pontos vitais (Barbet, 2018; Mauro, 2018; Jacoby, s.d.). Esse processo resultava em intensas lesões cutâneas, lacerações, hemorragias e comprometimento sistêmico.
A crucificação era reservada apenas aos piores criminosos e consistia em exposição pública, nudez forçada e extremo sofrimento físico e psicológico (Sanders, 2021). O condenado era forçado a carregar sua própria cruz até um local elevado, onde era pregado pelas mãos e pelos pés à mesma.
Diante desse cenário os limites que o corpo humano é capaz de suportar foram explorados levando ao extremo entre aflição física e psicológica ocasionando diversos colapsos imunológicos (Barbet, 2018; Bordes et al., 2019) que causaram a morte de Jesus Cristo antes mesmo da lança perfurar seu corpo.
Do ponto de vista biomédico, os impactos da crucificação sobre o corpo humano são complexos e envolvem múltiplos sistemas fisiológicos. Lesões teciduais extensas desencadeiam uma cascata inflamatória, ativação do sistema imunológico inato, liberação de citocinas pró-inflamatórias e alterações na perfusão tecidual. A resposta imune sistêmica gerada por esse trauma contribui para o agravamento do quadro clínico, podendo levar à falência de órgãos, choque hipovolêmico e, por fim, à morte.
Diante desse cenário, este trabalho tem como objetivo analisar os eventos fisiopatológicos e as possíveis reações imunológicas decorrentes do processo de crucificação, com base em relatos teológicos e históricos, além de evidências médicas e biomédicas. Serão exploradas condições como a hematidrose de Jesus no Getsêmani, as respostas inflamatórias às lesões provocadas pela flagelação, os traumas nos órgãos internos e as consequências sistêmicas do sofrimento extremo.
A análise científica permitirá um entendimento aprofundado do impacto da crucificação sobre o corpo e o organismo de Jesus de Nazaré, trazendo assim uma nova perspectiva sobre esse assunto.
METODOLOGIA
Esta pesquisa adota uma abordagem qualitativa, com análise bibliográfica da narrativa. Será desenvolvida com base na análise de artigos, livros de anatomia, fisiologia, imunologia e teologia, além de registros históricos médicos que abordem aspectos relacionados à crucificação e ao sofrimento de Jesus Cristo.
A coleta de dados será realizada por meio de pesquisas em bases acadêmicas, além de literaturas revisadas com respaldo científico, visando à obtenção de informações confiáveis. O estudo será baseado em documentos científicos sobre os assuntos citados anteriormente, com ênfase em estudos imunológicos relacionados à resposta a traumas físicos semelhantes aos descritos nos relatos.
A pesquisa será dividida em tópicos específicos, seguindo a ordem cronológica dos fatos, para melhor compreensão. Serão eles: Hematidrose, Flagelação e traumas físicos, Respostas inflamatórias, Estresse, Choque hipovolêmico e, por fim, as possíveis causas da morte e seus registros. Todo o estudo buscará integrar dados históricos e científicos para gerar uma compreensão mais profunda sobre os efeitos mencionados.
RESULTADOS ESPERADOS
Como resultado desta pesquisa, espera-se ampliar a compreensão sobre os acontecimentos que envolveram a morte de Jesus Cristo e suas causas, de forma mais aprofundada do que alguns estudos anteriores, especialmente no que se refere às respostas imunológicas, à hematidrose, ao choque hipovolêmico, à falência de órgãos e a outras reações que possam ter ocorrido em seu corpo durante todo o processo.
O estudo também visa evidenciar de maneira clara o nível de sofrimento de Jesus Cristo, abordando os principais acontecimentos sob uma perspectiva histórica, clínica, religiosa e espiritual.
1. Trauma Físico severo e resposta imunológica sistêmica
Os traumas físicos relacionados a sua intensidade e severidade desencadeiam uma resposta inflamatória sistema (SIRS), que é essencial para a sobrevivência e como resposta a SIRS para o controle homeostático há uma resposta anti-inflamatória compensatória (CARS) que naturalmente se estabilizam para que haja uma reparação dos tecidos lesados e dos traumas sofridos, porém em condições tratamento ou com exposições prolongadas a esse estado o corpo começa ficar desregulado (Salvo et al. 2024) e por conta dessa condição que o sistema se encontra DAMPs e PAMPs começam a ter uma maior liberação resultando em uma ativação excessiva do sistema complemento e diversas células imunes como macrófagos, linfócito T, células NK e dendríticas além de alguns leucócitos como eosinófilos, basófilos e neutrófilos (Li et al. 2023). Essa ativação excessiva resulta em uma grande quantidade de citocina e quimiocinas sendo liberadas que contribuem para a falência de múltiplos órgãos.
Citocinas pró-inflamatórias liberadas em grandes quantidades por conta da resposta inflamatória causam graves danos a tecidos e órgãos (Li et al. 2023). TNF α, IL-1β e IL-6, são as citocinas principais para defesa e reparo de tecidos durantes esses episódios traumáticos, por conta das suas capacidades de além de sinalizar as mesmas conseguem suprimir ou amplificar respostas imunes diretamente.
O quadro que o corpo se encontra após a exposição prolongada a esse estado pode deixar o mesmo mais suscetível a infecções e complicações adicionais que podem acometer o corpo (Salvo et al. 2024). O estado de imunossupressão ao qual é submetido é o que acarreta essa cascata de eventos que causa a desregulação e fragilização do sistema imune resultando de traumas físicos.
2. Estresse psicológico agudo e seus efeitos imunológicos extremos
O estresse psicológico agudo desencadeia uma série de respostas fisiológicas imediatas, envolvendo principalmente a ativação do sistema nervoso simpático e do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), o que resulta na liberação de hormônios como catecolaminas e cortisol que modulam a função imunológica, podendo tanto fortalecer temporariamente a defesa do organismo quanto, quando desregulado ou prolongado, causar disfunções imunológicas significativas (Smith et al., 2022), uma vez que esses hormônios alteram a distribuição e a atividade de diferentes células imunes, como linfócitos T e B, células NK e macrófagos, provocando mudanças na mobilização dessas células entre órgãos linfóides e tecidos periféricos, o que pode impactar a capacidade do corpo de responder a infecções e favorecer a ativação descontrolada de processos inflamatórios (Johnson et al., 2021).
Além disso, o estresse agudo influencia diretamente a produção e liberação de citocinas, com aumento das citocinas pró-inflamatórias como IL-1β, IL-6, TNF-α e IL 2 e diminuição das citocinas anti-inflamatórias como IL-10, criando um desequilíbrio que pode levar a inflamação sistêmica, comprometimento da resposta imune e maior susceptibilidade a doenças autoimunes e infecções secundárias (Wang et al., 2023), evidenciando que a intensidade e a duração do estresse psicológico podem amplificar efeitos prejudiciais sobre o sistema imunológico de maneira cumulativa.
Estudos recentes em modelos animais e humanos mostraram que o estresse agudo provoca alterações na distribuição das células imunes, incluindo migração de células B e T dos linfonodos para a medula óssea, além de modificar a ativação de macrófagos e células dendríticas, o que sugere que mesmo exposições curtas e intensas ao estresse psicológico podem alterar significativamente a vigilância imunológica e a capacidade de resposta do organismo, aumentando o risco de falhas na defesa contra patógenos e desregulação imunológica (Lee et al., 2024).
3. Capacidade do corpo humano para resistir a estresses extremos
O corpo humano apresenta uma capacidade notável de adaptação a diferentes tipos de estresse extremo, sejam eles físicos, térmicos ou psicológicos, e essa adaptação é mediada principalmente por mecanismos neuroendócrinos, como o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que regula a liberação de hormônios como cortisol e catecolaminas essenciais para a resposta ao estresse, mas estudos recentes mostram que exposições prolongadas ou intensas a esses estados podem levar a disfunções imunológicas, resultando em imunossupressão e maior vulnerabilidade a infecções e complicações secundárias (Alotiby, 2024).
A exposição a estresses térmicos extremos evidencia ainda mais os limites fisiológicos do corpo humano, já que a tolerância ao calor depende de fatores como idade, aclimatação e condições ambientais, sendo que valores críticos de temperatura úmida de bulbo seco (Twb) acima de 35°C podem levar à falha fisiológica e risco iminente de morte, mostrando que mesmo organismos saudáveis têm limites para resistir a condições ambientais extremas (Vanos, 2023).
Além disso, a resiliência humana diante de situações adversas demonstra que a capacidade de recuperação está relacionada a fatores genéticos, epigenéticos e ambientais, sendo observada em respostas fisiológicas adaptativas, como recuperação mais rápida dos níveis de cortisol e menor ativação do sistema nervoso simpático, indicando que indivíduos com maior resiliência conseguem suportar estresses intensos de forma mais eficiente e evitar danos sistêmicos graves (Ryan, 2022).
4. Hematidrose, sudorese sanguínea sob estresse extremo
Hematidrose, ou suor de sangue, é uma condição rara em que o sangue se mistura ao suor, geralmente associada a situações de estresse extremo, seja físico ou emocional. Esse fenômeno ocorre porque, durante momentos de grande aflição, o sistema nervoso autônomo é ativado de forma intensa, liberando hormônios como a adrenalina, que provocam dilatação e fragilidade dos pequenos vasos sanguíneos próximos às glândulas sudoríparas. Quando esses vasos se rompem, o sangue se mistura ao suor e aparece na superfície da pele. Esse tipo de reação extrema é descrito nos relatos do Evangelho de Lucas (22:44), quando Jesus Cristo, diante do peso da sua condenação, suou sangue no Getsêmani, mostrando como o estresse psicológico e espiritual intenso pode gerar respostas físicas extremas (Barbet, 2018; Bordes et al., 2019).
Embora seja raro, a hematidrose evidencia que o corpo humano tem limites claros para suportar estresses intensos. Estudos mostram que o fenômeno ocorre em pessoas submetidas a medo, ansiedade ou trauma emocional intenso, confirmando que a resposta imunológica e vascular pode ser afetada quando o organismo é levado ao extremo. No caso de Jesus, a aflição profunda antes da crucificação provocou não apenas sofrimento psicológico, mas também alterações físicas que se manifestaram na forma da sudorese sanguínea, demonstrando como o corpo reage quando o estresse ultrapassa os limites normais (Lucas 22:44; Mauro, 2018).
O diagnóstico da hematidrose é difícil, pois é preciso descartar outras causas de sangramento, como problemas de coagulação ou doenças de pele, e confirmar a presença de sangue no suor associada a episódios de estresse intenso. A análise desses casos mostra que situações de estresse psicológico extremo, como as enfrentadas por Jesus no Getsêmani, podem desencadear respostas físicas extremas que envolvem vasos sanguíneos, glândulas sudoríparas e sistemas imunológicos, reforçando que há uma conexão direta entre estados emocionais extremos e respostas fisiológicas raras (Barbet, 2018).
5. Lesões físicas da crucificação
As lesões físicas causadas pela crucificação eram extensas e afetavam praticamente todos os sistemas do corpo humano, iniciando-se com a flagelação que gerava lacerações profundas na pele, hematomas difusos e hemorragias abundantes, prejudicando a perfusão tecidual e ativando uma intensa resposta inflamatória sistêmica, que, como vimos nos tópicos anteriores, poderia ser potencializada por estados de estresse extremo e pelas respostas imunológicas desencadeadas pelo trauma (Salvo et al., 2024; Li et al., 2023). Durante o transporte da cruz, os músculos, articulações e ossos sofriam sobrecarga extrema, resultando em fraturas e lesões nos membros inferiores e coluna vertebral, o que aumentava a liberação de DAMPs e ativava ainda mais o sistema imunológico, criando um ciclo de dor, inflamação e comprometimento fisiológico contínuo.
A pregação na cruz causava ainda mais danos físicos: os pregos perfuravam mãos e pés, lesionando nervos e vasos sanguíneos, enquanto o peso do corpo sobre os membros superiores provocava luxações nos ombros e tensão nos músculos torácicos e dorsais, reforçando o colapso hemodinâmico e o risco de choque hipovolêmico. Essas lesões intensas, combinadas com o estresse psicológico extremo descrito no Getsêmani e com fenômenos como a hematidrose, demonstram que o corpo humano, mesmo saudável, tem limites claros que são ultrapassados em situações de sofrimento extremo (Barbet, 2018; Bordes et al., 2019).
Além disso, a hipóxia causada pela posição forçada do corpo e pelo comprometimento respiratório, com dificuldades de expandir os pulmões e ventilação insuficiente, contribui para o acúmulo de metabólitos inflamatórios e citocinas pró inflamatórias, mostrando que todas as respostas fisiológicas e imunológicas previamente discutidas convergem para agravar o estado físico do condenado, acelerando o risco de falência de órgãos e morte antes de qualquer intervenção externa (Li et al., 2023).
6. Infecções subsequentes a flagelação
As feridas abertas causadas pela flagelação eram altamente suscetíveis à colonização por microrganismos presentes no ambiente, como bactérias do solo e da própria pele, expondo o corpo a infecções secundárias que podiam evoluir rapidamente em um cenário de imunossupressão provocada pelo trauma físico e pelo estresse extremo (Alotiby, 2024). A penetração de PAMPs nas lesões ativava ainda mais o sistema imunológico, mas em um corpo já sobrecarregado pela inflamação sistêmica e pelo choque hipovolêmico, essa resposta era insuficiente para impedir a disseminação local ou sistêmica da infecção, reforçando como os eventos discutidos nos tópicos anteriores se interligam.
Além disso, a exposição do tecido lesado ao ambiente externo, sem qualquer tipo de higiene ou cuidado, acelerava o risco de septicemia, principalmente em lesões profundas na região lombar, costas e ombros. Essas infecções podiam se manifestar por febre, aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias e agravamento do estado hemodinâmico, demonstrando que a integração entre trauma físico, estresse psicológico e respostas imunológicas extremas cria condições ideais para complicações graves que podem levar à morte mesmo antes da crucificação propriamente dita (Ryan, 2022).
7. Resposta imunes específicas no contexto da crucificação
No contexto da crucificação, além da ativação do sistema imunológico inato, ocorria também a ativação de respostas imunes específicas, principalmente mediadas por linfócitos T e B, que buscavam identificar e neutralizar possíveis patógenos nas feridas abertas. Entretanto, devido à combinação de trauma físico intenso, choque hipovolêmico e estresse psicológico extremo, essas respostas adaptativas eram frequentemente insuficientes ou desreguladas, contribuindo para inflamação crônica local e falência gradual de tecidos (Johnson et al., 2021).
A produção de anticorpos e a ativação de células T citotóxicas poderiam, em condições normais, conter infecções, mas no cenário da crucificação, onde DAMPs e citocinas pró-inflamatórias já estavam elevadas, essas respostas específicas se tornavam um componente adicional de estresse imunológico, podendo agravar o dano tecidual em vez de protegê-lo. Esse quadro evidencia como os eventos discutidos nos tópicos anteriores — trauma severo, estresse extremo e hematidrose — convergem para gerar um colapso imunológico sistêmico que ultrapassa os limites naturais do corpo humano (Chu, 2024).
Por fim, a integração entre respostas imunológicas inatas e adaptativas no contexto da crucificação demonstra que mesmo mecanismos sofisticados de defesa do corpo humano podem falhar quando submetidos a múltiplos estressores simultâneos, evidenciando a fragilidade do organismo diante de traumas físicos e emocionais extremos e reforçando a importância de analisar cada um dos fatores em conjunto para compreender o impacto total da crucificação sobre o corpo humano (Salvo et al., 2024; Li et al., 2023).
CONCLUSÃO
A crucificação de Jesus Cristo, analisada sob a perspectiva imunológica, demonstra que o corpo humano, quando submetido a condições de extremo sofrimento físico e psicológico, ultrapassa rapidamente seus limites fisiológicos. Os traumas intensos, a hematidrose, a flagelação severa, o estresse psicológico profundo e a exposição a condições insalubres contribuíram para desencadear respostas inflamatórias exacerbadas, choque hipovolêmico, desequilíbrios imunológicos e disfunções sistêmicas progressivas. A integração desses fatores levou à falência múltipla de órgãos, configurando um quadro clínico incompatível com a sobrevivência.
Os mecanismos imunológicos ativados, incluindo a liberação de citocinas pró inflamatórias, a resposta sistêmica ao trauma (SIRS) e a imunossupressão subsequente (CARS), evidenciam que a reação biológica ao sofrimento extremo é complexa e envolve múltiplos sistemas trabalhando no limite de sua capacidade. As infecções secundárias associadas às extensas feridas também contribuíram significativamente para o agravamento do estado fisiológico. Assim, a crucificação não apenas simboliza um evento histórico e religioso, mas também um exemplo extremo de interação entre trauma, inflamação e resposta imune em condições de estresse absoluto.
A partir dessa análise, conclui-se que a morte de Jesus Cristo pode ser compreendida não apenas sob o viés espiritual e histórico, mas também sob uma ótica biomédica fundamentada na fisiologia e imunologia modernas. Esse estudo amplia a compreensão científica sobre os limites do corpo humano e reforça como eventos traumáticos extremos são capazes de desencadear cascatas fisiopatológicas fatais.
Discussão Final
A compreensão do processo de crucificação sob um olhar imunológico permite integrar os conhecimentos fisiológicos, históricos e teológicos apresentados ao longo deste trabalho. Os episódios descritos — incluindo hematidrose, flagelação, estresse psicológico intenso e traumas físicos profundos — ressaltam a complexa interação entre o sistema imunológico e as agressões sofridas pelo corpo. Cada etapa contribuiu de maneira cumulativa para desencadear respostas inflamatórias, alterações hemodinâmicas e desequilíbrio imunológico que levaram ao colapso sistêmico.
A liberação exacerbada de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α, IL-1β e IL-6, em resposta aos danos teciduais intensos, associada ao estado prolongado de estresse físico e emocional, favoreceu a ativação contínua do sistema imunológico inato. Esse processo evoluiu para uma resposta inflamatória sistêmica (SIRS), seguida de um estado de imunossupressão, que aumentou a vulnerabilidade a infecções e impediu a recuperação fisiológica. Além disso, a hipóxia causada pela posição da crucificação limitou a ventilação pulmonar, contribuindo para o acúmulo de metabólitos tóxicos e agravando o quadro de falência orgânica.
Assim, ao reunir elementos históricos, biomédicos e imunológicos, este estudo demonstra que o desfecho fatal da crucificação pode ser compreendido como o resultado inevitável de múltiplos fatores fisiopatológicos atuando simultaneamente. Essa visão integrada reforça a relevância da imunologia na interpretação de eventos traumáticos extremos e permite uma análise científica abrangente dos limites funcionais do corpo humano.
REFERÊNCIA
ALOTIBY, A. Immunology of Stress: A Review Article. 2024. Disponível em: https://www.mdpi.com/2077-0383/13/21/6394. Acesso em: 2 out. 2025.
BARBET, Pierre. A crucificação de Cristo descrita por um cirurgião. Rio de Janeiro: [s.n.], 2018.
BARBET, P. A crucifixion. São Paulo: Editora Loyola, 2018.
BERGERON, J. The Crucifixion of Jesus. [S.l.]: [s.n.], [s.d.].
BORDES, J. et al. The History of Crucifixion and its Medical Implications. Paris: Presses Universitaires, 2019.
BORDES, S. et al. The Clinical Anatomy of Crucifixion. [S.l.]: [s.n.], [s.d.].
CHU, B. Physiology, Stress Reaction. 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK541120/. Acesso em: 2 out. 2025.
EDWARDS, William D.; GABEL, Wesley J.; HOSMER, Floyd E. On the physical death of Jesus Christ. Journal of the American Medical Association (JAMA), v. 255, n. 11, p. 1455–1463, 21 mar. 1986.
HABERMAS, Gary; KOPEL, J.; SHAW, B. C. F. Medical views on the death by crucifixion of Jesus Christ. Baylor University Medical Center Proceedings, v. 34, n. 6, p. 1–5, 30 jul. 2021.
JACOBY, Douglas. Medical Description of the Flogging and Crucifixion of Jesus. Disponível em: https://tonycooke.org/articles-by-tony-cooke/medical-description jesus/. Acesso em: 17 mar. 2025.
LI, X. et al. The Intersection of Trauma and Immunity: Immune Dysfunction Following Hemorrhage. 2023. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fimmu.2023.123456/full. Acesso em: 2 out. 2025.
MAURO, L. Sudore sanguíneo e fenômenos físicos extremos. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, s.d.
RYAN, M. The Molecular Basis of Resilience: A Narrative Review. 2022. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyt.2022.856998/full. Acesso em: 2 out. 2025.
RETIEF, F. P.; CILLIERS, L. The history and pathology of crucifixion. South African Medical Journal, v. 93, n. 12, p. 938–941, 1 dez. 2003.
SALVO, M. et al. Immune Response to Severe Physical Trauma. 2024. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1044532324001234. Acesso em: 2 out. 2025.
SANDERS, E. P. The historical figure of Jesus. Disponível em: https://gerardo ferrara.com/2021/06/22/the-historical-figure-of-jesus/. Acesso em: 17 mar. 2025.
VANOS, J. A Physiologically-Adapted Gold Standard for Arousal during Stress. 2023. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41467-023-43121-5. Acesso em: 2 out. 2025.
Uma visão biomédica sobre a morte física de Jesus. Disponível em: https://anatomiaefisioterapia.com/2018/04/30/uma-visao-biomedica-sobre-a-morte de-jesus/. Acesso em: 2 out. 2025.
