EFICÁCIA E SEGURANÇA DA LACOSAMIDA NO TRATAMENTO DA EPILEPSIA PEDIÁTRICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch1020250321501


Maria Beatriz Tiezzi Vergara1


RESUMO

A epilepsia é uma condição neurológica crônica que frequentemente afeta crianças, muitas vezes acompanhada por comorbidades cognitivas e emocionais. A Lacosamida (LCM) é um medicamento antiepiléptico que age na inativação lenta dos canais de sódio, contribuindo para o controle das crises epilépticas. Este estudo realizou uma revisão narrativa da literatura utilizando bases de dados como PubMed e BVS, selecionando estudos publicados entre 2020 e 2025. Os resultados indicam que a LCM reduz significativamente a frequência das crises epilépticas em crianças, especialmente em tratamentos prolongados. Os efeitos adversos mais comuns incluem sonolência e tontura, geralmente leves e reversíveis. A monitorização dos níveis plasmáticos da LCM é essencial para otimizar a eficácia e minimizar riscos. Estudos apontam que a LCM apresenta uma taxa de resposta superior a 50% em muitas crianças, especialmente quando utilizada como primeira linha de tratamento. Além disso, sua combinação com outros antiepilépticos requer precaução devido a possíveis interações. Conclui-se que a LCM é uma alternativa eficaz e segura para o tratamento da epilepsia pediátrica, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

Palavras-chave: Crianças; Epilepsia; Lacosamida.

ABSTRACT

Epilepsy is a chronic neurological condition that frequently affects children, often accompanied by cognitive and emotional comorbidities. Lacosamide (LCM) is an antiepileptic drug that enhances the slow inactivation of voltage-gated sodium channels, aiding seizure control. This study conducted a narrative literature review using databases such as PubMed and BVS, selecting studies published between 2020 and 2025. Findings indicate that LCM significantly reduces seizure frequency in children, particularly with long-term treatment. The most common adverse effects include drowsiness and dizziness, which are generally mild and reversible. Monitoring LCM plasma levels is crucial to optimize efficacy and minimize risks. Studies suggest that LCM achieves a response rate above 50% in many children, especially when used as a first-line treatment. Furthermore, combining LCM with other antiepileptic drugs requires caution due to potential interactions. In conclusion, LCM emerges as an effective and safe option for pediatric epilepsy treatment, improving patients’ quality of life.

Keywords: Children; Epilepsy; Lacosamida.

INTRODUÇÃO

A epilepsia é uma doença neurológica crônica que afeta cerca de 2% da população, com início predominante na infância. Crianças com epilepsia frequentemente apresentam comorbidades, como déficit de atenção e dificuldades emocionais. Os medicamentos antiepilépticos são o tratamento principal, mas o controle das crises é insatisfatório em muitas crianças, com mais de 30% desenvolvendo epilepsia refratária. Isso destaca a necessidade de novas opções terapêuticas para o tratamento da epilepsia (Mao et al., 2025).

A Lacosamida (LCM) é um medicamento antiepiléptico que atua seletivamente ao aumentar a inativação lenta dos canais de sódio dependentes de voltagem nas células neuronais, o que contribui para o controle das crises. Estudos clínicos anteriores, com diferentes durações de titulação e manutenção, avaliaram a segurança, a tolerabilidade e a eficácia do uso da LCM como tratamento adicional em crianças com epilepsia, apresentando resultados relevantes sobre seu perfil terapêutico (Farkas et al., 2024).

Nesse sentido, o presente estudo tem por objetivo discutir a eficácia e a segurança da LCM no tratamento da epilepsia pediátrica.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão narrativa da literatura realizada nas bases de dados da PubMed e da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para a busca, foram utilizados os termos “Children AND Epilepsy AND Lacosamida”. Foram selecionados estudos transversais, prospectivos, de coorte, ensaios clínicos e relatos de caso publicados nos últimos cinco anos (2020-2025), nos idiomas português, inglês ou espanhol. Estudos de revisão, teses, dissertações, artigos pagos e duplicados foram excluídos da análise.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A LCM tem mostrado boa eficácia no tratamento de epilepsia em crianças, com redução significativa das crises, especialmente após longo período de uso. Os efeitos adversos mais frequentes incluem tontura e sonolência, com outros efeitos menos comuns, como irritabilidade e distração. A monitorização das concentrações plasmáticas de LCM é fundamental, já que níveis elevados podem aumentar a incidência de efeitos adversos. Estudos indicam que a faixa ideal de concentração plasmática está entre 2,5 e 6,5 µg/mL para crianças. Fatores como idade e peso, além de interações com outros medicamentos, como a carbamazepina e o perampanel, afetam a eficácia e segurança do tratamento (Mao et al., 2025).

O estudo de Vossler et al. (2024) demonstra que a LCM é eficaz e segura, especialmente para crises tônicas-clônicas generalizadas em pacientes com epilepsia idiopática generalizada. Nos resultados clínicos, observou-se uma redução mediana de 88,6% nas crises, com altas taxas de resposta de 79,8% para uma redução de 50% e 66,0% para 75%. Além disso, 58,4% dos pacientes alcançaram 12 meses de liberdade de crises. Quanto à segurança, a LCM foi bem tolerada, com apenas 7,9% dos pacientes descontinuando o tratamento devido a eventos adversos. Não foram observados novos sinais de segurança, embora efeitos colaterais como tontura tenham sido mais frequentes em pacientes que utilizavam múltiplos medicamentos antiepilépticos, sugerindo uma possível interação farmacodinâmica.

Na pesquisa de Hsiao et al. (2022), a LCM intravenosa contribuiu positivamente no tratamento de epilepsia em crianças com crises repetitivas agudas e status epilepticus convulsivo, incluindo casos graves em crianças pequenas, com controle de crises observado em 82,8% dos pacientes após 72 horas de tratamento. A eficácia foi notável, abrangendo diversas causas das convulsões, como infecções e lesões traumáticas. Em relação à segurança, os efeitos foram relativamente baixos e reversíveis, com destaque para a bradicardia, observada em 23,9% dos pacientes, sem evidência de prolongamento do intervalo P-R no eletrocardiograma. Além disso, outros efeitos adversos, como erupção cutânea, foram raros. 

A análise de Farkas et al. (2024), relata o uso da LCM com uma boa eficácia e tolerabilidade. A redução das crises foi significativa, com uma mediana de 60,4% na frequência de crises focais, e taxas de resposta de 50% e 75% foram consistentes com estudos anteriores. A LCM foi geralmente bem tolerada, com 82,8% dos pacientes apresentando efeitos adversos, sendo os mais comuns febre, infecção respiratória, nasofaringite, vômito e sonolência. Além disso, a função cognitiva e comportamental permaneceu estável ou ligeiramente melhorada, com melhorias observadas na qualidade de vida dos pacientes.

Nesse contexto, a adição de LCM ao tratamento pode reduzir a frequência das crises em mais de 50% em mais de metade dos pacientes, com uma taxa de resposta de 50% superior nas crianças que iniciaram o uso da medicação como primeira linha de tratamento. No que tange à segurança, a LCM apresentou um perfil favorável, com efeitos adversos geralmente limitados a sintomas neurológicos e gastrointestinais, como sonolência e irritabilidade, e com baixa incidência de eventos cutâneos adversos, o que a torna uma alternativa segura para a faixa etária pediátrica (Yang et al., 2024).

CONCLUSÃO

A LCM tem demonstrado ser uma terapia eficaz no controle das crises epilépticas em crianças, com resultados positivos na redução significativa da frequência das crises, especialmente em tratamentos de longo prazo. Os efeitos colaterais mais comuns incluem sonolência e tontura, mas esses são geralmente leves e reversíveis. A monitorização cuidadosa dos níveis plasmáticos da medicação é essencial para evitar a ocorrência de efeitos adversos graves, já que a variação nas concentrações pode afetar a segurança do tratamento. 

Embora a LCM seja bem tolerada pela maioria dos pacientes, a combinação com outros medicamentos requer atenção devido às possíveis interações. No geral, a LCM se apresenta como uma alternativa eficaz e segura, oferecendo benefícios significativos no controle das crises epilépticas em crianças.

REFERÊNCIAS

FARKAS, Mark Kristof et al. Long-term efficacy, safety, and tolerability, including behavior and executive functioning, during adjunctive lacosamide treatment in pediatric patients with uncontrolled epilepsy. Epilepsy & Behavior, v. 159, p. 109989, 2024.

HSIAO, Man‐Ru et al. Intravenous lacosamide for acute repetitive seizures and convulsive status epilepticus in critically ill children. Epilepsia Open, v. 9, n. 6, p. 2241-2250, 2024.

MAO, Fengqian et al. Therapeutic Drug Monitoring for Lacosamide in Chinese Pediatric Patients with Epilepsy: Focus on Clinical Effectiveness, Tolerability and Drug Interactions. International Journal of Medical Sciences, v. 22, n. 5, p. 1150-1157, 2025.

VOSSLER, David G. et al. Long‐term safety and efficacy of adjunctive lacosamide in the treatment of generalized onset tonic–clonic seizures: An open‐label extension trial. Epilepsia, v. 65, n. 12, p. 3488-3500, 2024.

YANG, Lu et al. Efficacy, safety, and tolerability of adjunctive Lacosamide therapy for focal seizures in young children aged≥ 1 month to≤ 4 years: A real‐world study. CNS Neuroscience & Therapeutics, v. 30, n. 8, p. e14917, 2024.


1Médica pela Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE, Jaú, São Paulo, Brasil. E-mail: maria_beatriztv@hotmail.com