EFFECTIVENESS OF THE USE OF ORTHOPEDIC INSOLES WITH INFRACAPITAL ELEMENT IN IMPROVING THE SYMPTOMS OF PLANTAR FASCITIS: A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202512090828
Gabriel Almeida Teixeira Batista
Rubyan Matheus
Juliano Mendes
RESUMO
A fascite plantar é uma das principais causas de dor no calcâneo e comprometimento funcional entre adultos. A utilização de palmilhas ortopédicas, especialmente aquelas contendo elemento infracapital, é considerada uma intervenção conservadora relevante por promover redistribuição pressórica, redução da tensão sobre a fáscia e alívio sintomático. Este estudo revisa criticamente a literatura científica publicada sobre a eficácia das palmilhas com elemento infracapital na melhora dos sintomas da fascite plantar. Foram analisados estudos que abordaram biomecânica, dor, funcionalidade e intervenções ortopédicas. Os achados demonstram melhora consistente na dor, função e parâmetros baropodométricos, com maior eficácia quando as palmilhas são personalizadas. Limitações metodológicas persistem, como amostras pequenas, heterogeneidade no desenho das palmilhas e curto seguimento. Conclui-se que palmilhas com elemento infracapital são eficazes como parte de protocolos conservadores, embora ensaios clínicos controlados e padronização técnica sejam necessários.
Palavras-chave: Fascite plantar. Palmilhas ortopédicas. Elemento infracapital.
ABSTRACT
Plantar fasciitis is one of the main causes of heel pain and functional impairment among adults. The use of orthopedic insoles, especially those containing an infracapital element, is considered a relevant conservative intervention because it promotes pressure redistribution, reduction of tension on the fascia, and symptomatic relief. This study critically reviews the scientific literature on the effectiveness of insoles with an infracapital element in improving the symptoms of plantar fasciitis. Studies addressing biomechanics, pain, functionality, and orthopedic interventions were analyzed. The findings demonstrate consistent improvement in pain, function, and baropodometric parameters, with greater efficacy when the insoles are personalized. Methodological limitations persist, such as small samples, heterogeneity in insole design, and short follow-up. It is concluded that insoles with an infracapital element are effective as part of conservative protocols, although controlled clinical trials and technical standardization are necessary.
Keywords: Plantar fasciitis. Orthopedic insoles. Infracapital element.
1. INTRODUÇÃO
A Fascite Plantar (FP) configura-se como uma das patologias musculoesqueléticas mais comuns do pé, sendo a principal causa de dor na região do calcâneo em adultos (ARRAIS-LIMA et al., 2024) e estimando-se que afete cerca de 10% da população geral em algum momento da vida (PONTIN; COSTA; CHAMLIAN, [s.d.]). Embora popularmente referida como uma inflamação, a FP é caracterizada por um processo degenerativo ou fasciopatia resultante de microtraumas repetitivos na origem da fáscia plantar no tubérculo medial do calcâneo (ARRAIS-LIMA et al., 2024), condição essa que leva a um quadro clínico de dor intensa, sobretudo ao iniciar a marcha após períodos de repouso (a chamada “dor da primeira pisada”) ou após longos períodos em pé. O tratamento da FP é predominantemente conservador, abrangendo uma série de intervenções fisioterapêuticas como alongamentos, fortalecimento muscular, eletroterapia e, notavelmente, o uso de órteses e palmilhas ortopédicas (MATSUMOTO et al., 2023), as quais buscam atuar como um modificador biomecânico visando a redistribuição das cargas plantares e a redução da tensão sobre a fáscia.
Nesse contexto, o presente estudo concentra-se na eficácia da palmilha ortopédica que incorpora o elemento infracapital, componente específico que tem como objetivo imediato o alívio pressórico na região calcânea ao transferir a carga para a região metatarsal e, teoricamente, diminuir o estiramento da fáscia durante a fase de apoio da marcha. O objetivo deste estudo é realizar uma revisão bibliográfica sobre a eficácia desse uso na melhora dos sintomas, analisando os achados clínicos e biomecânicos da literatura. A base teórica para tal intervenção reside na compreensão da patologia e das opções de tratamento, entendendo a FP como uma condição complexa com etiologia multifatorial cujos riscos incluem obesidade, idade avançada, pés planos ou cavos, rigidez da musculatura da panturrilha e atividades de impacto repetitivo (ARRAIS-LIMA et al., 2024). A fisiopatologia central envolve o estresse de tração excessivo na fáscia plantar, levando a microtraumas e degeneração do colágeno, sendo o esporão calcâneo frequentemente um achado radiológico e não a causa primária da dor (PONTIN; COSTA; CHAMLIAN, [s.d.]).
Como primeira linha de tratamento, a fisioterapia utiliza modalidades como o alongamento, principalmente do tríceps sural e da própria fáscia para reduzir a tensão (PONTIN; COSTA; CHAMLIAN, [s.d.]; KOBALL, 2024), o fortalecimento com foco nos músculos intrínsecos do pé e extrínsecos da panturrilha e quadril (QUEIROZ et al., 2022), e a terapia manual, como a liberação miofascial (ROCHA; ROCHA; GUIMARÃES, 2023). Somam-se a isso as órteses plantares, dispositivos externos amplamente utilizados para corrigir ou melhorar a função biomecânica (ARAUJO, 2022). O elemento infracapital (barra ou almofada metatarsal) funciona deslocando a pressão da parte mais dolorosa do calcâneo para a região metatarsal do antepé, com o objetivo biomecânico de reduzir o pico de pressão calcâneo e a tensão fascial através da alteração no braço de momento ou leve encurtamento da fáscia, sendo a personalização das palmilhas defendida como superior por permitir melhor ajuste às necessidades individuais (ARAUJO, 2022).
2. MÉTODO
O presente estudo constitui uma Revisão Bibliográfica de Escopo (ou Revisão Narrativa), buscando analisar criticamente a literatura científica sobre a eficácia das palmilhas ortopédicas com elemento infracapital no tratamento da fascite plantar.
Estratégia de Busca: A busca eletrônica de artigos foi realizada em bases de dados conceituadas como Google Acadêmico, PubMed/MEDLINE, SciELO, BVS e PEDro, cobrindo publicações predominantemente no período de 2014 a 2025.
Descritores (Palavras-chave): Foram utilizados descritores em português, inglês e espanhol, isoladamente ou combinados, incluindo: Fascite plantar, Plantar Fasciitis, Palmilhas ortopédicas, Orthotic insoles, Elemento infracapital, Órteses plantares e Forefoot pad.
Critérios de Inclusão e Exclusão: Foram incluídos artigos completos que abordassem o tratamento conservador da fascite plantar, com enfoque específico ou menção detalhada ao uso de órteses plantares, palmilhas e seus componentes biomecânicos. Foram excluídos estudos focados exclusivamente em tratamento cirúrgico, artigos inconclusivos, e estudos que não apresentassem relevância direta para a intervenção ortopédica.
3. RESULTADOS
Os estudos revisados apontam para achados consistentes de melhora clínica e funcional decorrentes do uso de palmilhas ortopédicas no tratamento da fascite plantar, com forte ênfase na modulação biomecânica promovida pelo elemento infracapital. A eficácia clínica das órteses plantares é solidificada por revisões sistemáticas recentes, como o trabalho de Matsumoto et al. (2023), que ao revisar intervenções fisioterapêuticas concluiu que as órteses e palmilhas apresentam resultados positivos na melhora da dor (avaliada por escalas como a EVA) e da função em indivíduos com FP, sendo uma modalidade de tratamento conservador amplamente aceita. De forma complementar, a análise dos estudos que compuseram o projeto inicial (BATISTA et al., 2025) confirmou que a intervenção com palmilhas leva a uma melhora consistente nesses desfechos primários, com redução da dor matinal e da dor após longos períodos em pé, indicando uma restauração parcial da funcionalidade do pé.
A principal evidência do mecanismo de ação do elemento infracapital reside nas medições de pressão plantar (baropodometria), onde o estudo de Hähni, Hirschmüller e Baur (2016), ao investigar o efeito de almofadas metatarsais (análogo ao elemento infracapital) em corredores, demonstrou quantitativamente o efeito de redistribuição de carga. O uso de componentes como almofadas metatarsais resulta em uma redução significativa do pico de pressão plantar na região do antepé, sendo que a magnitude da redução observada no estudo de Hähni et al. (2016) foi clara, indicando que o deslocamento de carga promovido pelo componente é um mecanismo biomecânico mensurável e eficaz. Esse achado é diretamente transposto para a FP, pois o elemento infracapital busca transferir a carga do ponto mais doloroso do calcâneo para uma área menos sensível do metatarso, diminuindo a tensão sob a fáscia, e os resultados baropodométricos confirmam que a órtese funciona como um modificador da interface pé-solo.
Outro resultado proeminente na literatura é a distinção de eficácia baseada no método de confecção da órtese, ponto em que o trabalho de Araujo (2022), ao revisar órteses, enfatiza que o uso de palmilhas personalizadas (moldadas individualmente) é frequentemente associado a melhores resultados clínicos quando comparadas às palmilhas pré-fabricadas. Isso ocorre porque as palmilhas personalizadas permitem um controle mais preciso sobre a altura e o posicionamento do elemento infracapital, assegurando que o ponto de máxima pressão e o desalinhamento biomecânico específico do paciente sejam abordados de forma otimizada. Por fim, como parte dos resultados do processo de revisão, foi observado um padrão de limitações nos estudos de intervenção com órteses (BATISTA et al., 2025), caracterizado por amostras reduzidas, já que muitos ensaios clínicos apresentam um número limitado de participantes; pela heterogeneidade técnica, dada a falta de padronização na descrição técnica das palmilhas (variando materiais, espessura e especificações do elemento infracapital), o que dificulta a replicação e a comparação direta de resultados; e pelo curto follow-up, uma vez que a maioria dos estudos avalia os resultados em períodos curtos (3 a 6 meses), impedindo a análise da eficácia em longo prazo ou da taxa de recidiva da FP.
4. DISCUSSÃO
A discussão central da eficácia das palmilhas ortopédicas reside na modulação das forças plantares. O elemento infracapital não deve ser visto meramente como um amortecedor, mas sim como um dispositivo com função ortopédica e cinemática, cujo principal objetivo é transferir a pressão do calcâneo para a região metatarsal e, consequentemente, aliviar a tensão de tração na origem da fáscia plantar (BATISTA et al., 2025).
A evidência instrumental de suporte a esta tese é robusta. O componente infracapital atua na promoção de um novo ponto de apoio na planta do pé. Hähni, Hirschmüller e Baur (2016) demonstraram que:
A manipulação da pressão plantar, como a observada com o uso do metatarsal pad, é crucial, pois ao se redistribuir a carga e ao promover o suporte do arco transverso, reduz-se o momento de dorsiflexão na articulação metatarsofalângica. Este efeito biomecânico diminui indiretamente o estiramento da fáscia durante o ciclo da marcha, mitigando a microlesão e o processo degenerativo que caracteriza a FP. A redução do estresse de pico na inserção calcânea, confirmada por achados baropodométricos, é o mecanismo direto para o alívio da dor (HÄHNI; HIRSCHMÜLLER; BAUR, 2016).
Um ponto crucial de discussão na literatura é a necessidade de personalização da órtese. Revisões como a de Araujo (2022) apontam para a superioridade das palmilhas moldadas sob medida em relação às pré-fabricadas. A fascite plantar frequentemente está associada a desalinhamentos biomecânicos específicos, como excesso de pronação (pé plano) ou supinação (pé cavo), que variam drasticamente entre os indivíduos.
Somente a palmilha personalizada pode incorporar correções específicas (cunhas ou apoios adicionais) que se ajustam à morfologia e à disfunção de cada paciente, garantindo que o elemento infracapital seja posicionado de maneira a otimizar a transferência de pressão. A falta de personalização pode resultar em uma transferência ineficaz de pressão ou até mesmo no aumento de pontos de pressão indesejados, comprometendo o resultado terapêutico.
Apesar da eficácia inegável como intervenção, as palmilhas não devem ser vistas como um tratamento isolado. A discussão deve enfatizar que a literatura sobre FP (PONTIN; COSTA; CHAMLIAN, [s.d.]; QUEIROZ et al., 2022) consistentemente defende a abordagem multimodal.
O uso da palmilha (intervenção passiva, que modula a carga) deve ser sinérgico com as intervenções ativas. Exercícios de alongamento do tríceps sural e fortalecimento da musculatura intrínseca do pé são componentes cruciais. O alongamento, por exemplo, demonstrou evidência moderada de benefício por reduzir a tensão geral na cadeia posterior (PONTIN; COSTA; CHAMLIAN, [s.d.]), preparando o tecido para a modulação de carga fornecida pela palmilha. Ao combinar a correção biomecânica passiva com a melhoria da capacidade de suporte muscular ativa, o plano de tratamento alcança uma taxa de sucesso superior.
As limitações metodológicas encontradas nos resultados (Seção 4.4) têm implicações diretas na prática clínica. A heterogeneidade no desenho das palmilhas e a falta de padronização técnica (material, densidade, altura exata do elemento infracapital) dificultam que o fisioterapeuta determine a prescrição “ideal” baseada puramente em evidências de ensaios clínicos randomizados.
Essa ausência de protocolo robusto (BATISTA et al., 2025) exige que a prescrição seja frequentemente guiada pela experiência clínica, pela análise individualizada (como a baropodometria) e pela resposta e conforto relatados pelo paciente. A maior limitação é a falta de follow-up prolongado, o que impede a avaliação da durabilidade dos resultados clínicos e da taxa real de recidiva da FP após a interrupção ou manutenção do uso da órtese.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revisão bibliográfica demonstrou que as palmilhas ortopédicas com elemento infracapital apresentam evidência de eficácia na redução da dor e na melhora funcional em pacientes com fascite plantar.
O benefício clínico é amplamente sustentado pelo mecanismo de ação biomecânica, que promove a redistribuição da pressão plantar e a subsequente redução do estresse de tração sobre a fáscia (HÄHNI et al., 2016; ARAUJO, 2022). O uso das palmilhas é mais bem-sucedido quando integrado a um protocolo de tratamento multimodal (junto com alongamentos e fortalecimento) e quando sua confecção é personalizada para maximizar os benefícios clínicos.
Recomenda-se que estudos futuros busquem ensaios clínicos controlados com maior padronização das características das palmilhas e follow-up prolongado para refinar as recomendações práticas baseadas em evidências.
REFERÊNCIAS
ARAUJO, Hallef do Nascimento. Órteses empregadas no tratamento da fascite plantar: uma revisão de escopo. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Biomédica) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2022.
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BATISTA, Gabriel Almeida Teixeira et al. Eficácia do uso de palmilhas ortopédicas com elemento infracapital na melhora dos sintomas da fascite plantar: uma revisão bibliográfica. Varginha: UNIS/MG, 2025.
HÄHNI, Michaela; HIRSCHMÜLLER, Anja; BAUR, Heiner. The effect of foot orthoses with forefoot cushioning or metatarsal pad on forefoot peak plantar pressure in running. Journal of Foot and Ankle Research, London, v. 9, n. 44, p. 1-8, 2016. DOI: 10.1186/s13047-016-0176-z.
KOBALL, Gilialdo. Reabilitação da fascite plantar através de exercícios terapêuticos. 2024. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Fisioterapia) – Centro Universitário IBMR, Rio de Janeiro, RJ, 2024.
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PONTIN, José Carlos Baldocchi; COSTA, Thiago Ragusa; CHAMLIAN, Therezinha Rosane. Tratamento fisioterapêutico da fasciíte plantar. Revista Brasileira de Ortopedia, [S. l.], [s.d.].
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ROCHA, Lidiane Botelho da; ROCHA, Paula Botelho da; GUIMARÃES, João Flávio. Benefícios da liberação miofascial em fascite plantar: revisão bibliográfica. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação-REASE, São Luís, v. 9, n. 10, p. 2505-2519, 2023.
