DIFERENÇAS NEUROBIOLÓGICAS NO TEA: COMO A ESTIMULAÇÃO INFLUENCIA A SOCIALIZAÇÃO E A COMUNICAÇÃO?

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202511092117


Isabella Fernanda Silva Rodrigues1
Mikaelayne de Cena Reis da Silva2
Jackeliny Matias Nunes3
Isabela Bernades Bosque4


Resumo: Este artigo analisou como a estimulação influencia as diferenças  neurobiológicas no Transtorno do Espectro Autista (TEA), com foco na primeira  infância, fase marcada por intensa plasticidade cerebral. A partir de uma revisão  narrativa da literatura, investigaram-se os principais tipos de estimulação utilizados  em intervenções voltadas ao desenvolvimento de crianças com TEA, avaliando seus  efeitos na comunicação e na socialização. Os resultados demonstraram que práticas  como fonoaudiologia precoce, comunicação alternativa, musicoterapia,  psicomotricidade, realidade virtual e capacitação parental contribuem para ampliar  as possibilidades comunicativas, reduzir comportamentos disruptivos e fortalecer  vínculos afetivos. Além disso, observou-se que a estimulação precoce favorece a  participação em atividades coletivas, o brincar compartilhado e a inclusão escolar,  aspectos fundamentais para o desenvolvimento socioemocional. A literatura indica  que quanto mais cedo e de forma mais estruturada forem aplicadas as intervenções,  maiores são os ganhos no desenvolvimento comunicativo e social das crianças  autistas. Conclui-se que a estimulação precoce desempenha papel essencial na  reorganização neural e na promoção da autonomia e inclusão social, oferecendo  subsídios práticos e teóricos para a Psicologia e áreas afins. 

Palavras-chave: autismo; neurobiologia; estimulação precoce; comunicação; socialização.

Abstract: This article analyzed how stimulation influences neurobiological  differences in Autism Spectrum Disorder (ASD), with a focus on early childhood, a  stage marked by intense brain plasticity. Based on a narrative literature review, the  study investigated the main types of stimulation used in interventions aimed at the  development of children with ASD, assessing their effects on communication and  socialization. The results showed that practices such as early speech therapy,  augmentative communication, music therapy, psychomotricity, virtual reality and  parental training contribute to expanding communicative possibilities, reducing  disruptive behaviors, and strengthening affective bonds. Furthermore, it was  observed that early stimulation favors participation in group activities, shared play  and school inclusion, aspects that are fundamental for socioemotional development.  The literature indicates that the earlier and more structured the interventions are  applied, the greater the gains in the communicative and social development of  autistic children. It is concluded that early stimulation plays an essential role in neural  reorganization and in promoting autonomy and social inclusion, offering practical and  theoretical contributions to Psychology and related fields. 

Key-words: Autism; neurobiology; early stimulation; communication; socialization.

1. INTRODUÇÃO 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) constitui uma condição do  neurodesenvolvimento caracterizada por alterações significativas na comunicação,  na interação social e no comportamento, além da presença de padrões restritos e  repetitivos de atividades e interesses. Trata-se de um transtorno complexo, de  origem multifatorial, que envolve influências genéticas, epigenéticas e ambientais.  Nas últimas décadas, o aumento da prevalência de diagnósticos tem despertado a  atenção da comunidade científica, impulsionando pesquisas sobre as bases  neurobiológicas do TEA e suas implicações para o desenvolvimento infantil (Becker;  Riesgo, 2016). 

A primeira infância, período que abrange os primeiros anos de vida, é  considerada uma janela crítica para o desenvolvimento, especialmente devido à  elevada plasticidade cerebral que caracteriza essa fase. Durante esse período, as  conexões sinápticas são formadas e reorganizadas de maneira intensa, e o ambiente desempenha papel central na modulação dessas conexões. No caso do  TEA, a identificação precoce das alterações neurobiológicas associadas ao  transtorno é essencial para o planejamento de intervenções que possam favorecer a  aquisição de habilidades comunicativas, cognitivas e sociais (De Marco et al., 2021). 

Do ponto de vista clínico, a intervenção precoce tem se mostrado um recurso  fundamental para minimizar os impactos do TEA e potencializar a autonomia das  crianças. A atuação de profissionais da Psicologia é apontada como estratégica  nesse processo, já que possibilita não apenas o enfrentamento das dificuldades  relacionadas à comunicação e ao comportamento, mas também o fortalecimento das  potencialidades individuais. Alves e Alves (2022) destacam que a prática clínica  direcionada ao autismo deve ultrapassar abordagens tradicionais, incorporando  estratégias que respeitem a singularidade do sujeito e favoreçam o desenvolvimento  socioemocional. 

Outro aspecto de relevância nesse cenário é a participação da família,  sobretudo dos pais, como agentes ativos no processo de estimulação. Bagaiolo et  al. (2018) demonstram que a capacitação parental contribui para a promoção de um  ambiente de aprendizagem contínuo, que se estende para além dos atendimentos  clínicos, favorecendo a generalização das habilidades desenvolvidas. Essa parceria  fortalece vínculos afetivos e cria uma base emocional segura, elementos  indispensáveis para a socialização de crianças com TEA. 

Pesquisas em neurociência têm mostrado que indivíduos com TEA  apresentam padrões diferenciados de conectividade cerebral. Estudos de  neuroimagem apontam hiperconectividade local e hipoconectividade de longa  distância, bem como alterações em neurotransmissores como serotonina, dopamina  e GABA, responsáveis por funções ligadas ao humor, à linguagem e ao  comportamento social (Junior et al., 2023). Tais evidências reforçam a necessidade  de práticas terapêuticas que estimulem a reorganização neural, aproveitando o  potencial de plasticidade da primeira infância. 

Além da clínica, o contexto escolar também exerce papel fundamental no  desenvolvimento de crianças com TEA. Cabral, Falcke e Marin (2021) ressaltam que  quando família e escola estabelecem estratégias conjuntas, as chances de avanços  comunicativos e sociais são significativamente ampliadas. Esse alinhamento  favorece não apenas a inclusão escolar, mas também a construção de trajetórias de aprendizado mais significativas, que fortalecem a autoestima e a sociabilidade dos  alunos. 

Práticas terapêuticas inovadoras, como musicoterapia, psicomotricidade e  realidade virtual, também vêm sendo apontadas como alternativas eficazes para  ampliar os recursos de estimulação em crianças autistas. Essas estratégias, além de  promoverem motivação e engajamento, favorecem a estimulação multissensorial e o  fortalecimento das conexões neurais (Magalhães et al., 2020). Complementando  esse quadro, ferramentas de comunicação alternativa, como pranchas e aplicativos,  possibilitam que crianças com comprometimento verbal possam expressar suas  necessidades e emoções, o que favorece inclusão social e maior autonomia  (Montenegro et al., 2021). 

O brincar, elemento natural da infância, tem papel estruturante no processo  de desenvolvimento de crianças com TEA. Moura et al. (2021) ressaltam que as  atividades lúdicas organizadas em ambiente terapêutico ou escolar favorecem a  ampliação do repertório comunicativo, a socialização e a organização dos estímulos  sensoriais. Nesse sentido, o brincar torna-se uma via essencial para a construção de  interações sociais mais ricas e funcionais. 

A psicomotricidade também se destaca como recurso de grande relevância,  pois permite integrar aspectos motores, cognitivos e afetivos. Pinheiro et al. (2022)  mostram que a estimulação psicomotora contribui para o desenvolvimento das  funções executivas, percepção corporal e regulação emocional, impactando  diretamente na socialização e comunicação das crianças autistas. Assim, estratégias  que associam corpo e mente ampliam as possibilidades de desenvolvimento global e  favorecem a autonomia nas atividades cotidianas. 

Apesar dos avanços nas pesquisas sobre o Transtorno do Espectro Autista,  ainda existe uma lacuna teórica significativa quanto à compreensão de como  diferentes formas de estimulação atuam sobre os mecanismos neurobiológicos e  comportamentais na primeira infância, especialmente na integração entre  comunicação, socialização e desenvolvimento emocional. Essa ausência de  consenso reforça a importância de novas análises que articulem evidências clínicas,  neurocientíficas e educacionais sobre o tema. 

Diante disso, este artigo tem como problema de pesquisa: de que forma a  estimulação precoce pode influenciar as diferenças neurobiológicas em crianças  com Transtorno do Espectro Autista, especialmente no que se refere à socialização e à comunicação? Assim, o objetivo geral é analisar como a estimulação, aplicada  na primeira infância, pode contribuir para o desenvolvimento cerebral e favorecer  habilidades comunicativas e sociais em indivíduos com TEA. Como objetivos  específicos, busca-se: (i) investigar os tipos de estimulação mais utilizados em  intervenções precoces; (ii) avaliar os efeitos da estimulação no desenvolvimento da  comunicação; e (iii) identificar o impacto da estimulação na socialização de crianças  autistas. 

Para alcançar os objetivos propostos, este artigo adotou uma abordagem  qualitativa de natureza exploratória, fundamentada em revisão narrativa da literatura  (Rother, 2007). Foram analisados 120 artigos científicos publicados entre os anos de  2015 e 2025, identificados nas bases SciELO e PubMed. Após a leitura e triagem  dos títulos, resumos e textos completos, 20 estudos atenderam aos critérios de  inclusão e foram analisados integralmente. A análise dos dados seguiu uma  perspectiva integrativa, buscando identificar convergências teóricas e evidências  empíricas sobre os efeitos das práticas de estimulação na socialização e  comunicação infantil. 

2. Diferenças Neurobiológica No Transtorno Do Espectro Autista 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) possui raízes neurobiológicas  complexas, envolvendo alterações estruturais e funcionais do cérebro que impactam  diretamente no comportamento, na comunicação e nas interações sociais. A  literatura científica demonstra que indivíduos com TEA apresentam padrões  diferenciados de conectividade neural, sendo caracterizados por uma  hiperconectividade local associada à hipoconectividade de longa distância, além de  modificações na densidade sináptica (Becker; Riesgo, 2016). Essas diferenças  repercutem na forma como os estímulos são processados e explicam, em parte, as  dificuldades em integrar informações sociais e comunicativas. 

Estudos também evidenciam alterações nos neurotransmissores relacionados  à regulação emocional, ao comportamento social e à linguagem. Entre eles  destacam-se a serotonina, dopamina e o GABA, substâncias que desempenham  papel essencial no funcionamento neural e no equilíbrio das respostas cognitivas e  comportamentais (Junior et al., 2023). Esses achados reforçam a importância de compreender o TEA a partir de uma perspectiva neurobiológica, que considere as  especificidades do desenvolvimento cerebral. 

A neurociência contemporânea tem contribuído para aprofundar esse  entendimento por meio de pesquisas em neuroimagem. Resultados apontam  diferenças significativas em estruturas como o córtex pré-frontal, a amígdala e o  cerebelo, regiões diretamente associadas ao controle executivo, ao processamento  emocional e à coordenação motora (Cheung; Lau, 2020). Além disso, evidências  sugerem que o TEA não é homogêneo, mas apresenta variações relacionadas a  fatores biológicos, como o sexo, que pode influenciar características diagnósticas e  comportamentais (Napolitano et al., 2022). 

Nessa perspectiva, torna-se fundamental considerar a plasticidade cerebral  como elemento-chave para compreender a capacidade de reorganização neural em  indivíduos com TEA. Ainda que haja alterações estruturais, o cérebro é capaz de  responder a estímulos externos e adaptar-se por meio de novas conexões (Rotta;  Bridi Filho; Souza Bridi, 2018). Tal fenômeno abre possibilidades para intervenções  que visem potencializar funções cognitivas e sociais. 

A detecção precoce dessas alterações é outro aspecto crucial. Souza et al.  (2020) ressaltam que o papel do pediatra é essencial para identificar sinais do  espectro nos primeiros anos de vida, favorecendo encaminhamentos para  intervenções adequadas. Além disso, o olhar interdisciplinar permite integrar  aspectos neurológicos, sociais e emocionais na compreensão do TEA, ampliando as  possibilidades de intervenção (De Souza; Juliani, 2018). 

Por fim, vale destacar que o processo de pesquisa científica, entendido como  um meio sistemático de investigar fenômenos humanos, contribui para aprofundar a  compreensão da complexidade do TEA e gerar conhecimentos aplicáveis ao  contexto clínico e educacional (Bastos; Keller, 2015). Assim, estudar as diferenças  neurobiológicas do autismo é essencial para subsidiar práticas de estimulação que  possam reorganizar as funções cerebrais e favorecer a socialização e comunicação. 

2.1 Plasticidade cerebral e estimulação precoce 

A plasticidade cerebral é um fenômeno que confere ao cérebro a capacidade  de se reorganizar em resposta a estímulos ambientais, experiências e intervenções  terapêuticas. Essa característica é especialmente relevante na primeira infância, período em que o cérebro se encontra em intenso processo de formação e  reorganização de conexões sinápticas. No contexto do TEA, compreender como a  plasticidade atual permite elaborar práticas de estimulação capazes de modificar  trajetórias de desenvolvimento (De Marco et al., 2021). 

Pesquisas mostram que a intervenção precoce é determinante para  potencializar o desenvolvimento de crianças com TEA. Lavor e Muner (2020)  reforçam que a estimulação aplicada nos primeiros anos de vida pode ampliar  significativamente as funções cognitivas, motoras, sociais e comunicativas. A  ausência de intervenção nessa fase crítica pode, ao contrário, acentuar déficits e  limitar o desenvolvimento global. 

Nesse cenário, a plasticidade cerebral não se limita à infância, mas  permanece ativa ao longo da vida. Rotta, Bridi Filho e Souza Bridi (2018) afirmam  que estímulos contínuos, adequados às demandas de cada fase, possibilitam que o  cérebro reorganize suas conexões mesmo diante de alterações estruturais. Isso  significa que a estimulação precoce é essencial, mas deve ser acompanhada por  práticas permanentes, ajustadas ao longo do desenvolvimento. 

Abordagens terapêuticas inovadoras, como musicoterapia, psicomotricidade e  realidade virtual, têm sido apontadas como recursos complementares eficazes para  favorecer a estimulação multissensorial em crianças autistas. Essas estratégias  ampliam a motivação e o engajamento, elementos fundamentais para o  fortalecimento de conexões neurais (Magalhães et al., 2020). Outro recurso de  grande relevância é a psicomotricidade, que, ao integrar corpo e mente, contribui  para o desenvolvimento das funções executivas, percepção corporal e regulação  emocional (Pinheiro et al., 2022). 

Além das práticas terapêuticas, o brincar também se constitui como  ferramenta poderosa de estimulação. Moura et al. (2021) destacam que as  atividades lúdicas promovem ganhos significativos no desenvolvimento cognitivo,  afetivo e social de crianças com TEA, além de ampliar repertórios comunicativos.  Nesse sentido, a ludicidade assume um papel terapêutico estruturante, que dialoga  com as necessidades da infância. 

A participação da família é outro elemento central nesse processo. Bagaiolo  et al. (2018) enfatizam que a capacitação parental amplia a efetividade das  intervenções, criando ambientes de aprendizagem contínuos e fortalecendo vínculos  afetivos. Do mesmo modo, Alves e Alves (2022) reforçam a importância de uma prática clínica que vá além das técnicas convencionais, respeitando as  singularidades neurobiológicas e sociais de cada criança. 

2.2 Estimulação, socialização e comunicação na primeira infância 

A socialização e a comunicação estão entre os principais desafios  enfrentados por crianças com TEA. Nesse sentido, práticas de estimulação precoce  têm se mostrado decisivas para favorecer o desenvolvimento dessas habilidades.  Alves e Alves (2022) ressaltam que o papel do psicólogo é atuar de forma sensível,  construindo estratégias que respeitem as particularidades neurobiológicas e  fortaleçam o potencial comunicativo do sujeito. 

A família ocupa posição estratégica nesse processo. Bagaiolo et al. (2018)  apontam que o envolvimento parental amplia as oportunidades de generalização das  aprendizagens, fortalecendo vínculos e promovendo maior segurança emocional.  Esse cenário contribui para o desenvolvimento de competências sociais que se  refletem em melhor qualidade de vida. 

O ambiente escolar, por sua vez, também desempenha papel decisivo na  construção da socialização. Cabral, Falcke e Marin (2021) afirmam que quando  família e escola trabalham de forma articulada, as intervenções se tornam mais  eficazes, refletindo em ganhos comunicativos e acadêmicos. Rezende et al. (2021)  complementam que a inclusão escolar exige práticas pedagógicas fundamentadas  nas especificidades do TEA, possibilitando trajetórias educativas mais significativas. 

Ferramentas de comunicação alternativa são recursos que ampliam as  possibilidades de interação de crianças autistas com comprometimento da  linguagem verbal. Montenegro et al. (2021) demonstram que pranchas de  comunicação e aplicativos digitais favorecem a expressão de necessidades e  emoções, promovendo maior autonomia e inclusão social. O brincar, como recurso  natural da infância, também favorece a comunicação e a socialização, funcionando  como meio estruturante para a ampliação do repertório interativo (Moura et al.,  2021). 

A psicomotricidade se mostra igualmente eficaz, pois integra corpo e mente  em atividades que estimulam funções executivas, percepção corporal e regulação  emocional, favorecendo a socialização e comunicação (Pinheiro et al., 2022). Além  disso, práticas como a musicoterapia e a realidade virtual ampliam o engajamento infantil e a estimulação multissensorial, aspectos que repercutem positivamente no  desenvolvimento psicossocial (Magalhães et al., 2020). 

Do ponto de vista metodológico, a pesquisa científica fornece subsídios para  sistematizar e avaliar essas práticas. Bastos e Keller (2015) destacam que a  produção acadêmica deve ser reflexiva, capaz de integrar teorias e práticas. Lunetta  e Guerra (2023) complementam que a metodologia científica é essencial para  garantir que os avanços na área sejam construídos com rigor e aplicabilidade. 

De Souza e Juliani (2018) acrescentam que a prática psicológica deve  abranger não apenas o tratamento de dificuldades comportamentais, mas também a  promoção do desenvolvimento global da criança. Isso reforça a ideia de que a  estimulação deve ser planejada de forma interdisciplinar, contemplando aspectos  clínicos, escolares e familiares. 

3. MATERIAIS E MÉTODOS 

3.1 Tipo de estudo 

Este artigo adotou uma abordagem qualitativa de natureza exploratória,  fundamentada no método de revisão narrativa da literatura, por se tratar de um  procedimento que possibilita explorar, de maneira abrangente e flexível, produções  acadêmicas relacionadas às diferenças neurobiológicas no Transtorno do Espectro  Autista (TEA) e aos efeitos da estimulação precoce sobre o desenvolvimento da  comunicação e da socialização. Segundo Rother (2007), a revisão narrativa é um  tipo de pesquisa que permite integrar e interpretar criticamente a literatura existente,  sem o rigor metodológico de revisões sistemáticas, sendo especialmente adequada  para investigações exploratórias em contextos complexos. 

3.2 Levantamento bibliográfico e procedimentos de busca 

O levantamento bibliográfico foi realizado entre os meses de março e junho  de 2025, abrangendo o período de publicação de 2015 a 2025. Foram consultadas  bases de dados eletrônicas reconhecidas pela comunidade científica, tais como  SciELO, PubMed, PsycINFO, LILACS e Google Scholar, além de periódicos  nacionais e internacionais especializados nas áreas de Psicologia, Neurociências,  Educação e Desenvolvimento Infantil. Também foram considerados livros, capítulos de obras e trabalhos de pós-graduação, a fim de enriquecer a fundamentação  teórica e contextualizar as discussões apresentadas. 

3.3 Critérios de inclusão e exclusão 

No total, foram identificados aproximadamente 120 estudos, dos quais 20  foram selecionados por atenderem aos critérios de inclusão previamente definidos.  Os critérios de inclusão contemplaram publicações dentro do recorte temporal  estabelecido, em português ou inglês, que abordassem pelo menos um dos  seguintes eixos: (i) fundamentos neurobiológicos do TEA; (ii) plasticidade cerebral na  primeira infância; (iii) estimulação precoce e práticas terapêuticas aplicadas a  crianças com autismo; e (iv) impactos da estimulação na socialização e  comunicação. 

Foram excluídas produções que não apresentaram fundamentação científica  adequada, como textos opinativos, publicações anteriores ao período definido e  estudos sem relação direta com a primeira infância. Essa delimitação garantiu a  pertinência, atualidade e confiabilidade dos materiais analisados. 

3.4 Descritores e estratégia de busca 

Para a condução das buscas, utilizaram-se descritores controlados baseados  no DeCS/MeSH, tais como Transtorno do Espectro Autista, NeurobiologiaPlasticidade Cerebral, Estimulação Precoce, Comunicação e Socialização. Esses  termos foram combinados por meio dos operadores booleanos AND e OR, o que  permitiu refinar os resultados e ampliar a precisão da coleta, garantindo maior  representatividade dos estudos relevantes ao tema. 

3.5 Análise e sistematização dos dados 

A análise foi conduzida de forma crítica e interpretativa, em consonância com  os princípios da revisão narrativa. Inicialmente, os textos selecionados foram lidos na  íntegra e organizados em planilhas, registrando-se os principais conceitos, objetivos  e resultados de cada publicação. Em seguida, os dados foram sistematizados em  três eixos temáticos: 

(i) diferenças neurobiológicas no TEA; 

(ii) plasticidade cerebral e estimulação precoce; 

(iii) socialização e comunicação na primeira infância.

A interpretação dos resultados ocorreu por meio da triangulação teórica,  comparando e contrastando os achados das diferentes fontes. Esse processo  permitiu identificar convergências, divergências e lacunas na produção científica  atual. 

Por fim, buscou-se garantir a fidedignidade e validade do processo  investigativo por meio da diversidade de referências, da análise reflexiva e da  integração crítica dos dados. A metodologia adotada possibilitou reunir e organizar o  conhecimento existente sobre as diferenças neurobiológicas no TEA e sobre a  influência da estimulação precoce na comunicação e socialização infantil,  respondendo adequadamente ao problema de pesquisa e aos objetivos propostos. 

4. RESULTADOS 

4.1 Tipos de estimulação mais utilizados em intervenções voltadas ao TEA 

As práticas de estimulação voltadas ao Transtorno do Espectro Autista (TEA)  têm sido objeto de crescente interesse científico, especialmente quando aplicadas à  primeira infância. O conjunto de estratégias identificadas nos estudos recentes  revela um campo diversificado, no qual terapias clínicas, recursos tecnológicos e  programas familiares se complementam no objetivo de promover o desenvolvimento  integral da criança. 

Entre as abordagens mais recorrentes, destaca-se a fonoaudiologia precoce,  essencial para estimular tanto a linguagem verbal quanto a não verbal. A intervenção  nessa área é direcionada à construção de vocabulário, ao treino articulatório e ao  uso de gestos, criando oportunidades para que a criança estabeleça formas  funcionais de comunicação. A literatura ressalta que, quando iniciada precocemente,  a fonoaudiologia aproveita a plasticidade cerebral e reduz atrasos no  desenvolvimento comunicativo, além de dialogar com outras práticas, como a  comunicação alternativa. 

A comunicação alternativa e aumentativa tem se consolidado como um  recurso indispensável para crianças não verbais ou com fala restrita. Por meio de  pranchas ilustradas, pictogramas e aplicativos digitais, é possível ampliar os canais  expressivos da criança, permitindo que ela participe ativamente das interações  sociais. Esses dispositivos não substituem a fala, mas funcionam como suporte, prevenindo frustrações e promovendo inclusão. O uso contínuo desses recursos,  tanto em casa quanto na escola, fortalece a autonomia e contribui para a  socialização. 

Outra prática que se mostra eficaz é a musicoterapia, que utiliza elementos  sonoros e rítmicos para estimular a atenção, a interação e a comunicação não  verbal. Estudos apontam que a música atua sobre áreas cerebrais relacionadas ao  processamento emocional e auditivo, favorecendo a imitação, a coordenação motora  e a percepção rítmica. Além de ser uma ferramenta de engajamento, a  musicoterapia promove experiências prazerosas que fortalecem o vínculo afetivo  entre a criança e o terapeuta. 

A realidade virtual também aparece como inovação promissora. Os ambientes  digitais imersivos oferecem situações controladas que permitem simular interações  sociais e desenvolver habilidades cognitivas e perceptivas. Por seu caráter lúdico,  essa prática mantém a motivação da criança e potencializa o engajamento em  terapias que, de outra forma, poderiam ser menos atrativas. Ainda que seja uma  área em expansão, os resultados sugerem impactos positivos na atenção  compartilhada e na participação em atividades interativas. 

A psicomotricidade, por sua vez, é considerada central no processo de  estimulação, pois une movimento e cognição. Atividades motoras planejadas  desenvolvem percepção corporal, organização espacial e regulação emocional, o  que repercute diretamente no comportamento e na comunicação. Ao integrar corpo e  mente, a psicomotricidade amplia as possibilidades de interação e fortalece funções  executivas essenciais ao aprendizado. 

Outro ponto relevante é a capacitação parental, que visa treinar pais e  cuidadores para aplicarem estratégias de estimulação no cotidiano. Essa prática  amplia o alcance das intervenções, assegurando a generalização das aprendizagens  em diferentes contextos e fortalecendo vínculos afetivos. Estudos indicam que  famílias capacitadas demonstram maior segurança no manejo de comportamentos e  no estímulo à comunicação funcional. 

Por fim, observa-se a inclusão de intervenções pedagógicas adaptadas ao  ambiente escolar, que integram práticas clínicas e educacionais. A escola, ao  acolher a criança com TEA, organiza atividades lúdicas e pedagógicas estruturadas,  promovendo tanto a socialização quanto a aprendizagem. Essa integração garante um ambiente rico em estímulos, que potencializa os resultados obtidos em contextos  clínicos. 

A síntese dessas práticas pode ser observada na Tabela 1, que apresenta os  principais tipos de estimulação identificados na literatura, suas características e  resultados esperados. 

Tabela 1 – Principais tipos de estimulação identificados na literatura

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2025.

A análise da tabela evidencia que as práticas de estimulação não atuam  isoladamente, mas se complementam em um modelo integrado. Enquanto recursos  clínicos, como a fonoaudiologia e a comunicação alternativa, fornecem canais de  expressão, estratégias inovadoras, como a musicoterapia e a realidade virtual,  ampliam a motivação e a interação. Já a psicomotricidade fortalece a regulação  emocional, e a capacitação parental assegura a continuidade da intervenção em  contextos familiares. Assim, a literatura demonstra que o sucesso da estimulação em  crianças com TEA depende da articulação entre diferentes práticas, aplicadas de  maneira precoce, estruturada e interdisciplinar. 

4.2 Efeitos da estimulação no desenvolvimento das habilidades comunicativas

A comunicação é um dos domínios mais impactados pelo Transtorno do  Espectro Autista (TEA) e constitui um dos principais desafios para o  desenvolvimento das crianças na primeira infância. O déficit comunicativo pode se  manifestar tanto na linguagem verbal quanto na não verbal, comprometendo a capacidade de expressar necessidades, compartilhar emoções e estabelecer  interações sociais significativas. Nesse contexto, a literatura aponta que diferentes  formas de estimulação precoce contribuem para reduzir as barreiras comunicativas e  favorecer avanços consistentes. 

A intervenção precoce em comunicação possibilitou que crianças autistas  desenvolvessem recursos expressivos mais funcionais. Estratégias aplicadas em  idade inicial mostraram resultados positivos na construção de vocabulário, na  articulação de palavras e na capacidade de formar frases simples. Em paralelo,  foram observados progressos na comunicação não verbal, como o uso de  expressões faciais, gestos e contato visual. Esses resultados confirmam que o início  antecipado das intervenções aumenta as chances de aproveitamento da plasticidade  cerebral, fator decisivo na aquisição da linguagem. 

O uso de recursos tecnológicos, especialmente aqueles voltados para a  comunicação alternativa e aumentativa, também demonstrou impacto significativo.  Tablets, softwares específicos e aplicativos interativos ofereceram às crianças  oportunidades de expressar emoções, desejos e necessidades mesmo em situações  em que a fala estava ausente ou limitada. O caráter visual desses dispositivos  facilitou a associação entre símbolos e significados, permitindo que as crianças  participassem de interações com familiares, colegas e professores. Esse processo  contribuiu para reduzir frustrações decorrentes da dificuldade de expressão,  diminuindo comportamentos disruptivos associados à comunicação ineficaz. 

Além dos recursos digitais, outras estratégias de estimulação buscaram  fortalecer a função pragmática da linguagem, ou seja, a capacidade de usar a  comunicação em contextos sociais. Intervenções estruturadas, realizadas em grupos  ou ambientes escolares inclusivos, favoreceram a prática da comunicação em  situações cotidianas, como brincar, pedir ajuda ou interagir em jogos coletivos.  Nessas condições, observou-se que as crianças ampliaram o repertório  comunicativo, tornando-se mais participativas e responsivas em interações com  pares. 

Outro aspecto relevante identificado nos estudos foi o papel das intervenções  familiares na estimulação das habilidades comunicativas. Pais orientados por  profissionais puderam aplicar estratégias em casa, reforçando o aprendizado e  promovendo oportunidades constantes de comunicação. Essa continuidade entre os ambientes clínico e familiar resultou em maior consistência nos avanços da  linguagem, consolidando a generalização das habilidades adquiridas. As práticas de estimulação também se mostraram eficazes na regulação  emocional associada à comunicação. Crianças que apresentavam dificuldade em se  expressar verbalmente frequentemente manifestavam crises de irritação ou  comportamentos repetitivos como resposta à frustração. Com a introdução de  recursos de comunicação funcional, essas manifestações tendem a diminuir,  evidenciando a relação entre comunicação eficaz e equilíbrio emocional. Esse  achado reforça a importância de pensar a linguagem não apenas como habilidade  técnica, mas como meio de inserção social e de autorregulação. 

A literatura ainda destacou que os ganhos comunicativos se estenderam para  o desempenho acadêmico. Crianças que desenvolveram maior competência na  linguagem verbal ou alternativa conseguiram acompanhar com mais autonomia  atividades escolares, favorecendo o aprendizado de conteúdos básicos, como leitura  inicial e escrita emergente. Dessa forma, a comunicação precoce não apenas abriu  caminhos para a socialização, mas também ampliou as condições para a inclusão  educacional. 

Os resultados descritos podem ser sintetizados na Tabela 2, que apresenta  os efeitos da estimulação precoce sobre a linguagem verbal, a linguagem não verbal  e outros aspectos relacionados ao desenvolvimento comunicativo de crianças com  TEA. 

Tabela 2 – Efeitos da estimulação na comunicação de crianças com TEA

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2025.

A análise da tabela reforça que os efeitos da estimulação se manifestam em  múltiplas dimensões. Enquanto a fonoaudiologia precoce se concentrou no  desenvolvimento da fala, a comunicação alternativa garantiu canais expressivos em  crianças não verbais. Já a musicoterapia favoreceu a prosódia e o engajamento, e a  capacitação parental assegurou a continuidade da estimulação em contextos  naturais. Em conjunto, essas práticas não apenas reduziram os prejuízos  comunicativos do TEA, mas também criaram condições para que as crianças  participassem de forma mais ativa da vida social e acadêmica. 

4.3 Impacto da estimulação na socialização e interação social 

A socialização representa um dos aspectos mais desafiadores para crianças  com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sobretudo na primeira infância, fase em  que se estruturam as bases do desenvolvimento socioemocional. A dificuldade em  iniciar e manter interações, responder a estímulos sociais ou compartilhar  experiências frequentemente compromete a participação da criança em contextos  familiares, escolares e comunitários. Nesse cenário, práticas de estimulação precoce  mostraram-se fundamentais para ampliar oportunidades de convivência e promover  ganhos significativos na interação social. 

As intervenções voltadas para a socialização priorizaram a criação de  ambientes estruturados que incentivassem a participação ativa das crianças. O uso  de jogos cooperativos, atividades em grupo e recursos lúdicos organizados por  profissionais da educação e saúde favoreceu o engajamento das crianças em  situações coletivas. Relatos da literatura indicaram que, quando expostas a práticas  mediadas, as crianças ampliaram o repertório de comportamentos sociais, como  compartilhar objetos, aguardar turnos e responder a interações com pares. 

A presença da família nesse processo também foi destacada como elemento  essencial. A capacitação parental não apenas contribuiu para o desenvolvimento  comunicativo, mas também possibilitou que os cuidadores criassem oportunidades  de socialização no cotidiano. Atividades simples, como brincadeiras em casa,  passeios ao parque ou participação em eventos comunitários, tornaram-se meios de  aplicar as estratégias aprendidas em contextos clínicos. Essa prática fortaleceu  vínculos afetivos e criou uma base emocional segura, condição indispensável para  que a criança se sentisse mais confiante em interações externas.

O ambiente escolar, por sua vez, revelou-se um espaço privilegiado para  estimular a socialização. Programas de inclusão educacional, que adotaram práticas  pedagógicas adaptadas às especificidades do TEA, demonstraram impactos  positivos na interação com colegas e professores. A literatura apontou que escolas  preparadas para lidar com a diversidade criaram condições para a criança  desenvolver autonomia, autoestima e senso de pertencimento. Nesse processo, o  alinhamento entre família e escola foi decisivo para assegurar a continuidade das  estratégias e a coerência na aplicação das intervenções. 

Outro fator relevante foi a utilização do brincar compartilhado como  ferramenta de socialização. Atividades lúdicas mediadas, estruturadas em jogos  simbólicos e atividades de faz de conta, estimulam a cooperação, a imaginação e  a capacidade de interação espontânea. Estudos destacaram que, por meio do  brincar, crianças com TEA aprenderam a interpretar regras sociais, a negociar  papéis em grupo e a expressar emoções de maneira mais integrada. Esse recurso  mostrou-se ainda mais eficaz quando combinado a abordagens terapêuticas como  psicomotricidade e musicoterapia. 

A psicomotricidade, ao integrar corpo e mente em atividades planejadas,  contribuiu para a regulação emocional, a coordenação motora e a percepção do  próprio corpo em relação ao outro. Esses aspectos favoreceram a participação em  atividades coletivas, uma vez que crianças mais seguras em seus movimentos se  mostraram mais propensas a interagir. Da mesma forma, a musicoterapia  proporcionou experiências grupais que facilitaram a construção de vínculos,  utilizando o ritmo e o som como mediadores das interações. 

Outro resultado observado foi a ampliação da autonomia social. Crianças  submetidas a programas de estimulação precoce apresentaram maior iniciativa em  interações, desde cumprimentar colegas até solicitar ajuda em sala de aula. Esse  comportamento representou não apenas um ganho comunicativo, mas também uma  conquista de independência no convívio social. 

A inclusão social também foi favorecida pelo uso de tecnologias de  comunicação alternativa, que permitiram que crianças não verbais participassem de  atividades em grupo de forma mais ativa. Ao utilizar pranchas de comunicação ou  aplicativos digitais, essas crianças puderam expressar opiniões, tomar decisões  coletivas e engajar-se em interações que antes eram limitadas.

Os impactos da estimulação na socialização de crianças com TEA podem ser  sintetizados na Tabela 3, que apresenta as principais dimensões trabalhadas, as  evidências encontradas e os resultados observados nos estudos analisados. 

Tabela 3 – Impactos da estimulação na socialização de crianças com TEA

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2025.

A análise da tabela confirma que a estimulação precoce promoveu efeitos que  ultrapassaram o âmbito clínico, alcançando a vida cotidiana das crianças. Ao  favorecer a participação em atividades coletivas, fortalecer vínculos afetivos,  estimular o brincar compartilhado, ampliar a autonomia e garantir recursos para a  inclusão, as práticas de estimulação contribuíram para a construção de trajetórias  sociais mais ricas e inclusivas. Em síntese, a literatura evidenciou que a socialização  das crianças autistas não depende apenas da superação de barreiras individuais,  mas da criação de ambientes favoráveis e de estratégias de intervenção  consistentes desde a primeira infância. 

5. DISCUSSÃO 

A análise dos resultados evidenciou que a estimulação precoce exerce papel  decisivo no desenvolvimento comunicativo e social de crianças com Transtorno do  Espectro Autista (TEA), especialmente na primeira infância — período marcado por  intensa plasticidade cerebral. Esse achado converge com a literatura, que reconhece  a infância como uma janela de oportunidades para intervenções capazes de  modificar trajetórias de desenvolvimento e minimizar os impactos das diferenças  neurobiológicas (De Marco et al., 2021; Lavor; Muner, 2020).

Do ponto de vista neurobiológico, os estudos apontam que crianças com TEA  apresentam padrões atípicos de conectividade cerebral, com hiperconexões locais e  hipoconexões de longa distância, além de alterações nos sistemas de  neurotransmissores, como serotonina e dopamina (Becker; Riesgo, 2016; Junior et  al., 2023). Essas particularidades explicam parte das dificuldades na decodificação  de estímulos sociais e comunicativos. Entretanto, a literatura ressalta que tais  diferenças não determinam o curso do desenvolvimento, pois a plasticidade neural  permite reorganizações estruturais diante de estímulos consistentes e precoces  (Rotta; Bridi Filho; Souza Bridi, 2018). 

Esse potencial de reorganização confere à estimulação precoce um papel  estratégico, uma vez que favorece a formação de novas conexões sinápticas e o  fortalecimento de circuitos relacionados à linguagem e à interação social. Diversos  autores reforçam que quanto mais cedo ocorre a intervenção, maiores são os  ganhos observados (Souza et al., 2020). No entanto, há consenso de que os  estímulos devem ser contínuos e adaptativos, garantindo a manutenção das  habilidades adquiridas (Rotta; Bridi Filho; Souza Bridi, 2018). 

Entre as práticas analisadas, destacam-se a fonoaudiologia precoce e a  comunicação alternativa e aumentativa. Enquanto a primeira favorece o  desenvolvimento da fala e da articulação verbal (Magalhães et al., 2020), a segunda  amplia a participação comunicativa de crianças não verbais (Montenegro et al.,  2021). Ambas se complementam ao reduzir barreiras de expressão e favorecer a  inclusão. A literatura também ressalta a relevância do envolvimento familiar.  Bagaiolo et al. (2018) e Alves e Alves (2022) defendem que a capacitação parental  potencializa os efeitos terapêuticos, garantindo a continuidade das aprendizagens e  fortalecendo vínculos afetivos. Essa dimensão emocional é essencial, pois a  segurança afetiva cria o ambiente propício à interação (Cabral; Falcke; Marin, 2021). 

A socialização apresentou avanços significativos quando associada a práticas  lúdicas e psicomotoras. O brincar mediado, segundo Moura et al. (2021), estimula  cooperação, imaginação e compreensão das regras sociais, aproximando a criança  de experiências coletivas. Pinheiro et al. (2022) complementam que a  psicomotricidade, ao integrar corpo e mente, promove regulação emocional e maior  disposição para o convívio. Assim, o brincar e o movimento configuram-se não  apenas como instrumentos terapêuticos, mas como pontes para o desenvolvimento  social.

As tecnologias emergem como aliadas nesse processo. A realidade virtual,  embora ainda incipiente, tem demonstrado potencial em criar ambientes simulados  que promovem práticas sociais seguras e controladas (Magalhães et al., 2020).  Contudo, os estudos sobre seus efeitos a longo prazo são escassos, indicando  lacunas para pesquisas futuras. Essa observação reforça a importância de ampliar  investigações sobre intervenções digitais aplicadas à primeira infância (Rinaldi et al.,  2021). 

A relação entre comunicação e regulação emocional também se mostrou  significativa. Crianças com maior competência comunicativa apresentaram menos  comportamentos disruptivos e crises de irritação, confirmando que a linguagem é  mediadora da estabilidade emocional (Montenegro et al., 2021). Do mesmo modo, a  inclusão escolar desponta como espaço privilegiado de socialização. Rezende et al. (2021) evidenciam que práticas pedagógicas adaptadas contribuem tanto para o  desenvolvimento acadêmico quanto para o fortalecimento das habilidades sociais,  embora a falta de recursos e de formação docente ainda sejam desafios  importantes. 

De modo geral, a literatura revisada converge ao destacar a intervenção  precoce como estratégia central para potencializar a plasticidade cerebral e o  desenvolvimento integral da criança com TEA. As divergências observadas entre os  autores concentram-se nas abordagens mais eficazes — enquanto alguns defendem  terapias tradicionais, outros valorizam estratégias inovadoras, como recursos  tecnológicos. Essa pluralidade revela a complexidade do autismo e a necessidade  de práticas individualizadas e interdisciplinares. 

Como enfatizam De Souza e Juliani (2018), compreender o TEA requer uma  visão ampliada que articule dimensões neurológicas, psicológicas e sociais. Assim, a  estimulação precoce deve ser entendida como um processo dinâmico e  multifacetado, que integra ciência, afeto e prática social. Apesar dos avanços,  permanecem lacunas quanto à avaliação longitudinal dos efeitos dessas  intervenções, o que indica a necessidade de estudos que acompanhem os  resultados ao longo da vida, permitindo compreender não apenas os ganhos  imediatos, mas também os impactos duradouros da estimulação sobre a  comunicação e a socialização.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O presente artigo analisou de que forma a estimulação influencia as  diferenças neurobiológicas no Transtorno do Espectro Autista (TEA), com foco na  primeira infância, fase reconhecida pela elevada plasticidade cerebral e pela  capacidade de formação de novas conexões sinápticas. A revisão narrativa  demonstrou que esse período constitui uma janela de oportunidades para  intervenções eficazes, capazes de modificar trajetórias de desenvolvimento e  potencializar habilidades comunicativas e sociais. 

Os resultados apontaram que diferentes formas de estimulação — como  fonoaudiologia precoce, comunicação alternativa e aumentativa, musicoterapia,  psicomotricidade, realidade virtual e capacitação parental — mostraram-se eficazes  na ampliação das possibilidades expressivas e no fortalecimento das interações  sociais. A integração interdisciplinar dessas práticas evidenciou ganhos significativos  na linguagem verbal e não verbal, na redução de comportamentos disruptivos e na  consolidação dos vínculos afetivos, aspectos essenciais para o desenvolvimento  global da criança com TEA. 

No campo da socialização, observou-se que a estimulação precoce favoreceu  a participação em atividades coletivas, o brincar compartilhado e o desenvolvimento  da autonomia social. A parceria entre família, profissionais e escola mostrou-se  determinante para a efetividade das intervenções, pois estabelece contextos  consistentes de aprendizagem, interação e afeto, sustentando os avanços  conquistados nas terapias. 

Conclui-se que a estimulação precoce exerce influência direta sobre as  diferenças neurobiológicas no TEA, promovendo reorganizações neurais que  resultam em ganhos cognitivos, comunicativos e emocionais. Ainda assim, persistem  desafios relacionados à escassez de estudos longitudinais e à necessidade de  políticas públicas voltadas ao diagnóstico precoce e à formação continuada de  profissionais que atuam com o público autista. 

Dessa forma, investir em estimulação precoce representa não apenas uma  estratégia terapêutica, mas também um compromisso ético, científico e social.  Ampliar o acesso a práticas interdisciplinares e baseadas em evidências contribui  para o desenvolvimento integral e a autonomia das crianças com TEA, fortalecendo os princípios de inclusão, equidade e humanização que orientam o cuidado em  saúde e educação. 

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1Graduanda em Psicologia pela Uninassau Tocantins. E-mail: fernandaisabela156@gmail.com
2Graduanda em psicologia pela Uninassau Tocantins. E-mail: senamikaelayne@gmail.com
3Graduanda em psicologia pela Uninassau Tocantins. E-mail: matiasjackeliny@gmail.com
4Professora orientadora Esp. Em Neuropsicologia e Psicologia Clínica. Email:  bosquepsicologa@gmail.com