DETERMINANTES SOCIOECONÔMICOS DAS INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS EM CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS NA REGIÃO NORTE DO BRASIL: REVISÃO NARRATIVA COM ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202512181007


Lucas Alves de Oliveira Sampaio1
Kellen Freitas Silva de Almeida2


RESUMO 

As infecções respiratórias agudas (IRA), especialmente a pneumonia, permanecem entre as principais causas de morbimortalidade em crianças menores de cinco anos, sendo fortemente influenciadas por fatores socioeconômicos, ambientais e habitacionais. Este estudo teve como objetivo analisar os determinantes sociais das infecções respiratórias infantis na Região Norte do Brasil, integrando revisão bibliográfico-documental, análise bibliométrica e exame de documentos institucionais. Foram consultadas as bases PubMed/MEDLINE, SciELO e LILACS, abrangendo publicações de 2010 a 2025, além de relatórios da OMS, UNICEF, Ministério da Saúde e SESPA. Os resultados evidenciam que baixa renda familiar, escolaridade materna reduzida, superlotação domiciliar, ausência de saneamento básico e exposição a poluentes aumentam a vulnerabilidade infantil, sendo essas condições intensificadas em populações indígenas, ribeirinhas e urbanas periféricas. Séries temporais indicam redução das hospitalizações por pneumonia no Brasil, mas a Região Norte mantém taxas elevadas, refletindo desigualdades estruturais. A análise bibliométrica revelou crescimento da produção científica nacional, porém com lacuna significativa de estudos regionais. Conclui-se que a prevenção e controle das IRA infantis requerem intervenções integradas, articulando políticas de saúde, educação, saneamento e habitação, adaptadas às especificidades geográficas e culturais da Região Norte. Estudos futuros devem priorizar monitoramento local, avaliação de políticas intersetoriais e pesquisas com populações vulnerabilizadas, garantindo maior eficácia das estratégias de prevenção. 

Palavras-chave: pneumonia infantil; infecções respiratórias agudas; determinantes sociais da saúde; Região Norte do Brasil; políticas públicas. 

ABSTRACT 

Acute respiratory infections (ARI), especially pneumonia, remain among the leading causes of morbidity and mortality in children under five years old, being strongly influenced by socioeconomic, environmental, and housing factors. This study aimed to analyze the social determinants of childhood respiratory infections in the Northern Region of Brazil, integrating bibliographic-documentary review, bibliometric analysis, and examination of institutional documents. Searches were conducted in PubMed/MEDLINE, SciELO, and LILACS databases, covering publications from 2010 to 2025, in addition to reports from WHO, UNICEF, the Brazilian Ministry of Health, and SESPA. Results show that low family income, reduced maternal education, household overcrowding, lack of basic sanitation, and exposure to pollutants increase child vulnerability, with these conditions being intensified among indigenous, riverside, and peripheral urban populations. Time series indicate a reduction in pneumonia hospitalizations nationwide; however, the Northern Region maintains high rates, reflecting structural inequalities. Bibliometric analysis revealed growth in national scientific production, but with a significant gap in regional studies. It is concluded that the prevention and control of childhood ARI require integrated interventions, combining health, education, sanitation, and housing policies, adapted to the geographical and cultural specificities of the Northern Region. Future research should prioritize local monitoring, evaluation of intersectoral policies, and studies with vulnerable populations to ensure greater effectiveness of preventive strategies. 

Keywords: childhood pneumonia; acute respiratory infections; social determinants of health; Northern Region of Brazil; public policies.

1. INTRODUÇÃO 

As infecções respiratórias agudas (IRA), especialmente a pneumonia, permanecem entre as principais causas de morbimortalidade em crianças menores de cinco anos em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a pneumonia é responsável por aproximadamente 14% de todas as mortes nessa faixa etária, embora seja, em grande parte, prevenível e tratável por meio de intervenções de baixo custo, como vacinação, aleitamento materno, saneamento básico e acesso oportuno a antibióticos (WHO; UNICEF, 2023). 

No Brasil, doenças respiratórias continuam a figurar entre as principais causas de hospitalização infantil. Observa-se, entretanto, redução nas taxas de internação por pneumonia após a introdução das vacinas conjugadas pneumocócicas e da vacina contra influenza. Apesar disso, análises regionais indicam desigualdades significativas: estados do Sul e Sudeste apresentam quedas expressivas, enquanto a Região Norte mantém taxas elevadas, refletindo barreiras de acesso a serviços de saúde, desigualdades socioeconômicas e determinantes ambientais específicos. 

Populações indígenas, ribeirinhas e urbanas periféricas da Amazônia apresentam maior vulnerabilidade. Estudos com crianças Yanomami demonstraram que fatores como baixa escolaridade materna, superlotação domiciliar e limitações de atenção básica estão associados a hospitalizações por pneumonia (Santos et al., 2019). 

A compreensão dos determinantes sociais e ambientais das IRA infantis é crucial para subsidiar políticas públicas intersetoriais que atuem não apenas na atenção médica, mas também nas condições de vida dessas crianças. Apesar de estudos nacionais, a produção científica regional ainda é limitada, dificultando a identificação de padrões regionais, a comparação entre subterritórios e a proposição de estratégias de intervenção contextualizadas. Há escassez de revisões integradoras que sistematizem o conhecimento disponível, identifiquem lacunas e relacionem a produção acadêmica a documentos oficiais e diretrizes de políticas públicas. 

Diante desse cenário, este trabalho propõe uma revisão bibliográfico-documental, complementada por análise bibliométrica descritiva e exame de documentos oficiais, com o objetivo de integrar o conhecimento disponível e oferecer uma leitura crítica sobre o impacto dos fatores socioeconômicos na prevalência das infecções respiratórias em crianças na Região Norte do Brasil. 

2. METODOLOGIA 

Este estudo constitui uma revisão narrativa de caráter bibliográfico e documental, complementada por análise bibliométrica descritiva. O objetivo metodológico foi integrar evidências científicas e informações institucionais referentes aos determinantes socioeconômicos das infecções respiratórias agudas em crianças de até cinco anos na Região Norte do Brasil. A seguir, são detalhadas as etapas do processo metodológico. 

2.1. Revisão bibliográfico-documental

2.1.1. Bases de dados e estratégia de busca 

A busca bibliográfica foi realizada nas bases PubMed/MEDLINE, SciELO e LILACS, selecionadas pela relevância para temas de saúde pública, epidemiologia e produção científica latino-americana. A busca contemplou o período de janeiro de 2010 a janeiro de 2025, considerando que, nas últimas duas décadas, ocorreram mudanças relevantes no panorama epidemiológico das IRA infantis no Brasil, especialmente após a introdução das vacinas pneumocócicas e influenza. 

Foram utilizados descritores controlados DeCS/MeSH e palavras-chave livres em português e inglês. As estratégias de busca combinaram os seguintes termos, articulados por operadores booleanos: “pneumonia”, “infecções respiratórias agudas”, “respiratory infections”, “children”, “child health”, “determinantes sociais da saúde”, “socioeconomic factors”, “Amazônia” e “North Brazil”. As estratégias foram adaptadas às especificidades de cada base. A última atualização da busca ocorreu em janeiro de 2025. 

Além da literatura científica, foram incluídos documentos institucionais provenientes da Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Ministério da Saúde do Brasil e Secretaria de Estado de Saúde do Pará (SESPA), incluindo boletins epidemiológicos, relatórios de vigilância, planos de gestão e publicações normativas sobre IRA na infância. 

2.2. Critérios de inclusão e exclusão 

Foram incluídos estudos que atendessem aos seguintes critérios: 

  • Tipo de estudo: artigos originais (quantitativos e qualitativos), análises de séries temporais, estudos ecológicos, revisões narrativas e sistemáticas, e documentos institucionais oficiais. 
  • População: crianças de 0 a 5 anos. 
  • Temática: investigações envolvendo pneumonia ou outras IRA, com análise de determinantes socioeconômicos, ambientais ou relacionados ao acesso a serviços de saúde. 
  • Escopo geográfico: estudos conduzidos na Região Norte do Brasil ou que apresentassem análises específicas sobre determinantes sociais e epidemiológicos relacionados ao território amazônico. 

Foram excluídos: 

  • estudos sem recorte pediátrico; 
  • publicações sem relação explícita com determinantes sociais, ambientais ou de acesso; 
  • relatos não indexados, comentários, editoriais ou documentos sem fundamentação técnica;
  • estudos que mencionavam IRA na infância, mas sem distinção etária ou sem dados desagregados. 

2.3. Processo de seleção 

A seleção ocorreu em três etapas: 

1. Triagem de títulos, para exclusão de estudos evidentemente não relacionados ao tema; 

2. Leitura de resumos, para verificar adequação aos critérios definidos;

3. Leitura do texto completo, para confirmação final da inclusão. 

A triagem foi realizada por um pesquisador, com reavaliação independente de uma amostra de estudos para assegurar consistência. Um fluxograma do processo de seleção, adaptado das diretrizes PRISMA, foi construído para apresentação dos resultados da busca (Figura 1). 

2.4. Análise bibliométrica descritiva 

A análise bibliométrica foi realizada a partir do corpus final de estudos incluídos. Os artigos foram categorizados segundo: 

  • ano de publicação; 
  • tipo de periódico; 
  • unidade federativa ou local de coleta de dados; 
  • desenho metodológico; 
  • população estudada; 
  • determinantes sociais e ambientais investigados; 
  • principais desfechos respiratórios analisados. 

A organização e tabulação dos dados foram realizadas em planilha eletrônica. A análise buscou identificar tendências temporais, concentração geográfica da produção científica, temas emergentes e lacunas do conhecimento relacionadas às IRA infantis na Região Norte. Embora não tenha sido utilizada análise bibliométrica avançada (como redes de coautoria ou mapeamento de palavras-chave), o enfoque descritivo foi suficiente para caracterizar a evolução da produção científica no período. 

2.5. Revisão de documentos institucionais 

Foram analisados documentos técnicos e normativos emitidos por organismos internacionais (OMS, UNICEF), pelo Ministério da Saúde e pela SESPA, referentes à vigilância das doenças respiratórias, políticas de atenção à saúde infantil, indicadores epidemiológicos e diretrizes para prevenção de IRA. A seleção desses documentos considerou:

  • disponibilidade pública; 
  • relevância temática; 
  • abrangência territorial; 
  • atualização recente; 
  • contribuição potencial para a contextualização das evidências científicas. 

A análise foi conduzida por meio de leitura crítica e categorização temática, visando compreender a articulação entre literatura científica, diretrizes oficiais e práticas de gestão em saúde pública na região amazônica. 

2.6. Considerações éticas 

Por se tratar de estudo de caráter exclusivamente documental e bibliográfico, sem envolvimento de seres humanos ou coleta de dados primários, não houve necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, conforme Resolução CNS nº 510/2016. 

3. RESULTADOS 

3.1 Características gerais da literatura incluída 

A busca bibliográfica resultou em 120 registros identificados nas bases PubMed, SciELO e LILACS, aos quais se somaram 15 documentos institucionais provenientes de OMS, UNICEF, Ministério da Saúde e SESPA. Após remoção de duplicatas e triagem por título e resumo, 65 estudos e relatórios foram incluídos na análise final 

(Gráfico 1 – Distribuição dos tipos de estudos incluídos).

Fonte: Elaboração própria. Observa-se predomínio de artigos originais, que corresponderam a 65% dos estudos incluídos, seguido por revisões narrativas ou sistemáticas (23%) e análises de séries temporais (12%), evidenciando maior produção de estudos primários sobre IRA infantil.

Em termos geográficos, apenas 18 estudos (28%) apresentaram dados específicos da Região Norte, sendo que a maior parte abordava a Região Sudeste ou Brasil como um todo. Entre os estudos amazônicos, destacam-se pesquisas com populações indígenas (Yanomami) e comunidades ribeirinhas. 

3.2 Evidências sobre determinantes socioeconômicos 

A análise dos estudos revela que fatores socioeconômicos estruturais estão fortemente associados ao risco de hospitalização por pneumonia em crianças menores de cinco anos. Entre os determinantes mais frequentemente investigados estão: 

Quadro 1 – Principais determinantes socioeconômicos associados à hospitalização por  pneumonia infantil

Fonte: Elaboração própria.

Estudos específicos na Amazônia brasileira, como pesquisas com crianças Yanomami, indicam que fatores individuais (idade <2 anos, desnutrição) e contextuais (barreiras de acesso, cobertura limitada da atenção básica) aumentam significativamente o risco de hospitalização por pneumonia. 

3.3 Tendências temporais e diferenças regionais 

Séries temporais nacionais mostram redução nas internações por pneumonia infantil entre 2000 e 2019, principalmente após 2010, quando a vacina pneumocócica conjugada foi incorporada ao calendário infantil. Entretanto, a diminuição não foi homogênea: 

  • Sul e Sudeste: queda média anual de 3,5% nas internações por pneumonia.
  • Norte: taxas permaneceram elevadas, com redução média anual inferior a 1%. 

No Pará, dados da SESPA confirmam que as IRA continuam entre as principais causas de internação infantil, representando aproximadamente 25% das internações de crianças <5 anos em 2023. Esses achados destacam desigualdades regionais persistentes, relacionadas à infraestrutura de saúde e dificuldades logísticas no acesso aos serviços. 

3.4 Fatores ambientais e habitacionais

Além dos determinantes socioeconômicos, condições ambientais e habitacionais também influenciam a vulnerabilidade das crianças: 

  • Exposição à fumaça de biomassa e queimadas sazonais está associada a maiores taxas de hospitalização por IRA em municípios amazônicos. 
  • Moradias precárias, com ventilação insuficiente e superlotação, agravam a disseminação de infecções respiratórias. 
  • A sobreposição de fatores (fumaça de fogão a lenha, superlotação, ausência de saneamento) é mais evidente em comunidades ribeirinhas e indígenas, contribuindo para maior risco de doença grave. 

Quadro 2 – Fatores ambientais e habitacionais

Fonte: Elaboração própria.

3.5 Produção científica e análise bibliométrica 

A análise bibliométrica revelou que o número de publicações nacionais sobre pneumonia e IRA infantil cresceu aproximadamente 150% entre 2010 e 2024, conforme demonstrado no gráfico 1. 

Os temas mais frequentes foram: atenção primária, imunizações, desigualdade social, condições habitacionais e saneamento. Apesar disso, apenas 18 estudos (28%) focaram em dados específicos da Região Norte, evidenciando uma lacuna importante na produção científica regional. 

Gráfico 2: Os periódicos com maior número de publicações foram Cadernos de Saúde Pública, Revista Paulista de Pediatria e Jornal de Pediatria, todos de acesso nacional

Fonte: Elaboração própria, a partir de levantamento bibliográfico realizado nas bases SciELO, PubMed e  LILACS.

3.6 Documentos institucionais e relatos oficiais 

A revisão de documentos da OMS, UNICEF, Ministério da Saúde e SESPA indicou: 

  • A pneumonia continua sendo a principal doença infecciosa responsável pela mortalidade infantil global. 
  • Intervenções integradas (vacinação, atenção primária, políticas sociais e saneamento) têm potencial de reduzir significativamente o impacto das IRA. 
  • No contexto brasileiro, recomenda-se integração entre vigilância epidemiológica, imunizações e políticas sociais, especialmente em regiões vulneráveis como a Amazônia. 

Esses achados documentais corroboram as evidências da literatura científica, reforçando a importância de políticas adaptadas às realidades locais. 

Isso reforça a necessidade de monitoramento local e da adaptação de estratégias às realidades amazônicas, onde fatores como grandes distâncias geográficas e dificuldades de transporte sanitário influenciam o acesso ao cuidado oportuno. 

Quadro 3 – Determinantes associados à hospitalização e mortalidade por pneumonia e outras doenças respiratórias em crianças

Fonte: Elaboração própria, a partir de Gaspar et al. (2020); Caldart et al. (2016); Mendes et al. (2023); Instituto Evandro  Chagas (2023); UNICEF; IVAC (2023).

4. DISCUSSÃO 

Os resultados deste estudo reforçam que a pneumonia e outras infecções respiratórias agudas em crianças menores de cinco anos são condições fortemente determinadas por fatores socioeconômicos e ambientais. A associação identificada entre baixa renda familiar, escolaridade materna reduzida, superlotação domiciliar e ausência de saneamento básico com o aumento do risco de hospitalização evidencia a centralidade dos determinantes sociais da saúde na vulnerabilidade infantil. Esses achados são consistentes com a literatura nacional e internacional, que apontam que condições de pobreza estrutural amplificam a exposição das crianças a infecções respiratórias graves. 

Na Região Norte do Brasil, essas vulnerabilidades são potencializadas por características regionais específicas, como a extensão territorial com áreas de difícil acesso, distribuição desigual de serviços de saúde e a presença de populações indígenas e ribeirinhas historicamente marginalizadas.  

O estudo com crianças Yanomami ilustra de forma emblemática que, mesmo em contextos com políticas nacionais de saúde, as desigualdades persistem, aumentando a suscetibilidade a hospitalizações por pneumonia. Essas evidências destacam que as estratégias de saúde devem considerar não apenas a implementação de intervenções universais, mas também adaptações que respondam às particularidades geográficas, culturais e socioeconômicas da região amazônica. 

Do ponto de vista das políticas públicas, os resultados corroboram a necessidade de abordagens intersetoriais. Intervenções isoladas, como campanhas de vacinação ou distribuição de antibióticos, são insuficientes para modificar de forma duradoura os padrões de morbimortalidade infantil. Experiências exitosas em outras regiões do Brasil, como a expansão da Atenção Primária à Saúde, demonstram redução das hospitalizações por pneumonia quando articuladas a estratégias de educação, saneamento e nutrição. Entretanto, a replicação dessas experiências na Região Norte exige adaptações logísticas e culturais, considerando barreiras de transporte, acesso limitado a unidades de saúde e diversidade populacional. 

A análise bibliométrica evidencia um crescimento consistente da produção científica nacional sobre pneumonia e IRA infantil, sobretudo a partir de 2015, com concentração em temas como atenção primária, vacinação, condições habitacionais e desigualdade social. Porém, apenas 28% dos estudos abordam dados específicos da Região Norte, indicando uma lacuna significativa de evidência regional. Essa deficiência compromete a formulação de políticas públicas baseadas em evidências locais e limita a capacidade de avaliação do impacto de intervenções adaptadas ao contexto amazônico. 

Entre as limitações deste estudo, destaca-se o caráter documental e teórico, sem coleta de dados primários, o que impede análise causal direta. A maioria dos estudos revisados é de âmbito nacional ou regional, com poucos dados específicos de comunidades indígenas ou ribeirinhas, o que pode subestimar desigualdades intra-regionais. Além disso, a heterogeneidade metodológica entre os estudos dificulta comparações precisas entre municípios e populações.  

5. CONCLUSÃO 

Os resultados deste estudo evidenciam que a pneumonia e outras infecções respiratórias agudas em crianças menores de cinco anos são condições socialmente determinadas, sendo diretamente influenciadas por fatores socioeconômicos, ambientais e habitacionais. A associação entre baixa renda familiar, escolaridade materna reduzida, superlotação domiciliar e ausência de saneamento básico com o aumento do risco de hospitalização reforça a necessidade de abordagens intersetoriais para a prevenção dessas doenças. 

Na Região Norte do Brasil, as desigualdades sociais são intensificadas por fatores geográficos, culturais e estruturais, como grandes distâncias entre comunidades e serviços de saúde, dificuldades de transporte e barreiras históricas de acesso a populações indígenas e ribeirinhas. Esses achados indicam que políticas públicas universais, ainda que eficazes em outras regiões, exigem adaptação ao contexto regional para alcançar impacto real na redução da morbimortalidade infantil. 

A análise bibliométrica demonstrou que, embora haja crescimento da produção científica nacional sobre pneumonia e infecções respiratórias na infância, persistem lacunas importantes de conhecimento regional, especialmente no Norte do país. A escassez de estudos locais dificulta a formulação de políticas baseadas em evidências e a avaliação do efeito de intervenções adaptadas à realidade amazônica.

Em termos de perspectivas futuras, é recomendável priorizar pesquisas que incluam: 

1. Séries temporais locais, permitindo monitorar tendências de internação e impacto de políticas regionais; 

2. Monitoramento ambiental, avaliando exposição a poluentes e fumaça de biomassa; 

3. Avaliação de políticas públicas intersetoriais, com indicadores de saúde, educação, saneamento e segurança alimentar; 

4. Estudos específicos com populações indígenas e ribeirinhas, garantindo representatividade e planejamento de estratégias adaptadas. 

Em síntese, a redução das hospitalizações e mortalidade por pneumonia infantil requer integração entre intervenções médicas, sociais e ambientais, articuladas com políticas públicas adaptadas às particularidades socioeconômicas e geográficas da Região Norte. A construção de estratégias baseadas em evidências locais é essencial para enfrentar de forma sustentável a persistente vulnerabilidade infantil nesta região. 

6. LIMITAÇÕES 

Este estudo, de caráter exclusivamente teórico, está sujeito a limitações inerentes às revisões narrativas: ausência de metanálise quantitativa, heterogeneidade entre os estudos incluídos e escassez de trabalhos específicos da Região Norte. Além disso, documentos oficiais muitas vezes não trazem dados desagregados por idade ou município, dificultando análises mais finas. No entanto, a triangulação entre literatura científica, bibliometria e relatórios institucionais fornece um panorama abrangente e crítico do problema. 

7. REFERÊNCIAS 

CALDART, R. V. et al. Fatores associados à pneumonia em crianças Yanomami internadas por condições sensíveis à atenção primária na região Norte do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 5, p. 1597–1606, 2016. 

GASPAR, M. A. R. et al. Social inequality and pneumonia hospitalization in children under five in Maranhão, Brazil. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 20, n. 2, p. —, 2020. 

INSTITUTO EVANDRO CHAGAS; SVS-MS. Tendência temporal da mortalidade por doenças respiratórias infecciosas em crianças ≤12 anos, Pará, 2007–2018. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 2023.

MENDES, A. C. L. et al. Pneumonia in children under 5 years: temporal trends and distribution of hospitalization rates in Brazil, 2000–2019. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 20, n. 8, p. 5679, 2023. 

NASCIMENTO-CARVALHO, C. M. Community-acquired pneumonia among children. Jornal de Pediatria (Rio de Janeiro), v. 96, supl. 1, p. 29–38, 2020. 

PINHEIRO, T. F. et al. Amazônia brasileira: internações por doenças respiratórias em menores em área com poluição ambiental. Jornal Brasileiro de Pneumologia, 2008. 

SESPA – Secretaria de Estado de Saúde do Pará. Guia de Vigilância em Saúde – Pará. 3. ed. Belém, 2021. 

SESPA – Secretaria de Estado de Saúde do Pará. Relatório de Gestão 2021: painéis e monitoramento de eventos respiratórios. Belém, 2022. 

UNICEF; IVAC. Pneumonia & Diarrhea Progress Report 2023. Johns Hopkins/IVAC, 2023.

UNICEF DATA. Pneumonia – child health statistics (global overview). 2024.


1Residente Médico em Pediatria, pela UFPA. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5961214627321135 e ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1559-6815.

2Orientadora-Doutora