DESAFIOS DA ENFERMAGEM NAS PRISÕES: INFRAESTRUTURA, DOENÇAS E LIMITAÇÕES NO ATENDIMENTO 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202506182003


Layane de Souza Silva1
Yan Marques dos Santos2
Ana Paula de Oliveira Rosembal3
Lidia Marcia Heringer Sanabria4


RESUMO

A enfermagem é uma profissão comprometida com os princípios éticos e com a  promoção da saúde em todos os níveis de atenção. Quando se trata do sistema  prisional brasileiro, ela tende a enfrentar desafios e complexidades. Nesse âmbito, o  presente artigo tem como objetivo principal discorrer acerca das dificuldades  enfrentadas pelos profissionais de enfermagem em unidades prisionais, com foco nas possíveis deficiências estruturais, na alta prevalência de doenças e nas limitações  operacionais que comprometem o atendimento em saúde. A metodologia foi  construída a partir de uma revisão bibliográfica. Como resultados, observou-se que a  precariedade da infraestrutura física, a escassez de recursos humanos e materiais,  assim como o ambiente de constante tensão e insegurança, limitam significativamente  a prática da enfermagem e impedem a efetivação de cuidados integrais, humanizados  e contínuos. Além disso, verifica-se a recorrência de doenças infectocontagiosas,  transtornos mentais e agravos decorrentes das condições insalubres, os quais exigem  da enfermagem não apenas competência técnica, mas também habilidades  socioemocionais e compromisso ético com os direitos humanos, indicando a  necessidade urgente do fortalecimento das políticas públicas voltadas para a saúde  prisional e de capacitação específica para os profissionais que atuam nesse contexto. 

Palavras-chave: Enfermagem; Sistema prisional; Saúde pública; Infraestrutura  carcerária; Direitos humanos. 

ABSTRACT

Nursing is a profession committed to ethical principles and the promotion of health at  all levels of care. When it comes to the Brazilian prison system, it tends to face  challenges and complexities. In this context, the main objective of this article is to discuss the difficulties faced by nursing professionals in prison units, focusing on  possible structural deficiencies, the high prevalence of diseases and operational  limitations that compromise health care. The methodology was built from a  bibliographic review. As a result, it was observed that the precariousness of the  physical infrastructure, the scarcity of human and material resources, as well as the  environment of constant tension and insecurity, significantly limit nursing practice and  prevent the implementation of comprehensive, humanized and continuous care. Furthermore, there is a recurrence of infectious diseases, mental disorders and  illnesses resulting from unhealthy conditions, which require nursing not only technical  competence, but also socio-emotional skills and ethical commitment to human rights,  indicating the urgent need to strengthen public policies aimed at prison health and  specific training for professionals who work in this context. 

Keywords: Nursing; Prison system; Public health; Prison infrastructure; Human rights.

1. INTRODUÇÃO 

A enfermagem trata-se de uma profissão socialmente reconhecida e  comprometida com o cuidado integral e pleno para a saúde, entretanto, a mesma  enfrenta desafios singulares e complexos quando é inserida em contextos de privação  de liberdade, por exemplo (Brito et al., 2022). O sistema prisional brasileiro,  historicamente marcado por fatores como a superlotação e a precariedade sanitária,  se revela como um cenário desafiador para a prática da enfermagem, principalmente,  pautada na humanização (Rocha et al., 2022). 

Cabe destacar que a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das  Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), que foi instituída em  2014 pela Portaria Interministerial nº 1, representa um avanço normativo ao  estabelecer que as ações de saúde no sistema prisional devem estar integradas na  atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS) (Maciel et al., 2022). Entretanto,  como apontam Silva; Almeida; Freitas (2024), ainda que exista um marco legal, a sua  implementação concreta é limitada por fatores estruturais, como por exemplo,  ausência de profissionais qualificados, escassez de recursos materiais e humanos,  fragilidade dos processos de gestão e articulação intersetorial, entre outros. 

Ademais, verifica-se que o ambiente prisional favorece a proliferação de  doenças, principalmente, as transmissíveis, sendo a principal a tuberculose, além de  hepatites virais, sífilis, AIDS e entre outras, cujas prevalências são superiores quando  comparadas na população em liberdade (Nascimento et al., 2020). Assim, o  confinamento em condições insalubres, associado com a escassez de exames,  medicamentos e práticas preventivas, contribui para que o cuidado em saúde das  pessoas privadas de liberdade seja frequentemente negligenciado ou colocado em  segundo plano nas prioridades institucionais. 

O profissional da enfermagem, nesse âmbito, move-se no centro da ação  sanitária, atuando não apenas como técnico, mas como agente ético, humanizador e político (Costa Silva et al., 2021). Contudo, a atuação do profissional é limitada por  barreiras institucionais, entre elas a dependência de escolta para a realização de  encaminhamentos externos, condição que embora importante para a segurança, pode  dificultar o acesso ao cuidado. Soma-se a isso a interferência de agentes  penitenciários na triagem dos atendimentos e a ausência de capacitação específica  para lidar com as particularidades do ambiente prisional, conforme analisado por  Maciel et al., (2022). 

Considerando todos esses fatores, percebe-se a importância de discutir com  mais atenção a atuação da enfermagem dentro das prisões brasileiras. Assim, apesar  das leis e políticas que garantem o direito à saúde para quem está em situação  de privação de liberdade, ainda são muitos os obstáculos enfrentados no dia a dia  desses profissionais.  

Diante desse contexto, o presente estudo busca responder à seguinte questão problema: “Quais são os principais desafios enfrentados pelos profissionais de  enfermagem no atendimento à saúde dentro das unidades prisionais brasileiras,  especialmente no que diz respeito à infraestrutura, as doenças mais comuns e as  limitações no cuidado?”. 

Logo, a escolha do tema se justifica pela necessidade de dar visibilidade a uma  realidade ainda pouco debatida, mas de grande importância. Portanto, o presente artigo se propõe a refletir sobre essa realidade a partir de uma revisão de literatura,  com abordagem qualitativa, com o objetivo de reunir e analisar os principais desafios  enfrentados pela enfermagem nos presídios brasileiros. 

1.1 Objetivos 

1.1.1 Objetivo geral 

Discorrer acerca dos principais desafios enfrentados por profissionais de  enfermagem no sistema prisional brasileiro, com foco nas limitações estruturais, na  prevalência de doenças e nas restrições no atendimento para a saúde das pessoas  privadas de liberdade por meio de uma revisão bibliográfica. 

1.1.2 Objetivos específicos

• Identificar por meio da revisão bibliográfica os principais entraves relacionados  com a infraestrutura física e organizacional das unidades prisionais que  impactam a atuação da enfermagem; 

• Mapear os agravos para a saúde mais prevalentes entre a população  carcerária; 

• Compreender as limitações operacionais, éticas e institucionais que  comprometem o acesso à atenção em saúde dentro dos estabelecimentos  penais. 

2. REFERENCIAL TEÓRICO 

O referencial teórico constitui uma das seções centrais do presente estudo, por  apresentar os fundamentos conceituais e científicos que sustentam o trabalho. Logo,  é por meio dele que se estabelece o diálogo com a literatura existente, permitindo a  compreensão crítica do objeto de estudo. Assim, nos subtópicos a seguir, serão  discutidos os principais temas que embasam a pesquisa. 

2.1 A Infraestrutura prisional e seus efeitos sobre a prática de enfermagem 

O sistema penitenciário brasileiro enfrenta, historicamente, deficiências  estruturais que comprometem diretamente a garantia de direitos básicos, como por  exemplo, ao acesso para a saúde. Dessa maneira, o sistema prisional brasileiro figura  entre os que possuem as maiores populações carcerárias do planeta (Brito et al., 2022).

Segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias  (INFOPEN), mais de 70% dos estabelecimentos prisionais operam acima de sua  capacidade, o que compromete não apenas a segurança, mas também o cuidado em  saúde (Brasil, 2019). 

No que se refere à assistência à saúde nesse contexto, observa-se que ela  ainda ocorre de forma fragmentada e esporádica, concentrando-se principalmente em  demandas emergenciais (Silva et al., 2020). Como consequência, ações com foco na  prevenção, na promoção contínua da saúde e na educação em saúde permanecem  pouco desenvolvidas ou negligenciadas nas rotinas institucionais, dado o contexto penitencial. Além disso, a precariedade das instalações, superlotação e insalubridade  são condições que tendem a ser recorrentes nas unidades prisionais do país (Costa Silva et al., 2024).  

Essas condições acabam interferindo na atuação dos profissionais de  enfermagem. Outrossim, as estruturas físicas inapropriadas dificultam a realização de  procedimentos básicos, como curativos, aferição de sinais vitais, administração de  medicamentos e atendimento individualizado (Sousa et al., 2021). De acordo com  Barbosa et al., (2014), a inexistência de consultórios adequados e de espaços de  isolamento impossibilita a adoção de medidas de controle de infecções, por exemplo,  expondo tanto os detentos quanto os profissionais a riscos constantes. 

Estudos como o de Soares; Camponogara; Vargas (2020), reforçam que a  estrutura deficitária das prisões desestimula o trabalho dos profissionais de saúde,  comprometendo o vínculo terapêutico e limitando a autonomia profissional. Ademais,  o acúmulo de funções e a inexistência de equipes multiprofissionais completas  contribuem para a sobrecarga dos enfermeiros, muitas vezes os únicos responsáveis  pela assistência direta. Diante de tal cenário, é possível observar que as condições  estruturais inadequadas do sistema prisional não apenas limitam a efetivação do  cuidado em saúde, mas também fragilizam o exercício profissional da enfermagem,  comprometendo a qualidade da assistência das pessoas privadas de liberdade. 

2.2 A prevalência de doenças, os desafios epidemiológicos no contexto  prisional e o profissional da enfermagem 

A população privada de liberdade tende a apresentar uma alta incidência de  doenças transmissíveis, em especial tuberculose, AIDS, hanseníase, hepatites virais  e sífilis (Nascimento et al., 2020). A própria natureza do ambiente prisional, com celas  geralmente superlotadas, baixa circulação de ar, umidade e higiene precária, favorece  a transmissão de agentes patogênicos e dificulta a adoção de medidas preventivas.  Por exemplo, segundo Macedo; Maciel; Struchiner (2017), o risco de infecção por  tuberculose no ambiente prisional é significativamente mais elevado do que fora dele,  podendo ser até 30 vezes maior. 

Essas condições de vulnerabilidade são agravadas pela falta de continuidade  do cuidado e pela escassez de insumos e medicamentos. Segundo Melo et al. (2025),  as condições físicas inadequadas das unidades prisionais se tornam ainda mais críticas diante da escassez de recursos financeiros, da ausência de infraestrutura  sanitária, da má qualidade da ventilação e da cobertura assistencial insuficiente.  Esses fatores, combinados, criam um ambiente propício para a disseminação de  doenças infecciosas entre a população encarcerada. 

A enfermagem, nesse contexto, tem papel central no rastreamento, na triagem,  na promoção de ações educativas e na administração de tratamentos (Brito et al., 2022). Como afirmam Garcia et al., (2022), os enfermeiros são geralmente os  primeiros profissionais de saúde a ter contato com o preso adoecido, sendo essenciais  para o monitoramento e encaminhamento adequado dos casos. 

Entretanto, as estatísticas relacionadas aos atendimentos em saúde no sistema  prisional evidenciam uma cobertura ainda limitada dos serviços ofertados. No estado  de Goiás, por exemplo, entre os anos de 2014 e 2019, foram realizadas 62.212  consultas dentro das unidades prisionais e 84.125 encaminhamentos para  atendimentos externos. Apesar disso, o número de profissionais de saúde, como  médicos, enfermeiros e outros integrantes da equipe multiprofissional, permaneceu  abaixo do necessário para suprir a demanda existente (Nascimento et al., 2020). 

Em Mato Grosso, por exemplo, o número de enfermeiros registrados nesse  mesmo período foi de apenas 140 para todo o sistema prisional estadual, número  claramente insuficiente diante da complexidade dos casos atendidos. Outro ponto  crítico refere-se à carência de médicos especialistas, o que compromete a  integralidade da atenção à saúde (Nascimento et al., 2020). 

Além disso, cabe destacar que a presença de transtornos mentais é  significativa entre os detentos, o que demanda um olhar mais atento da enfermagem  sobre aspectos psicossociais do cuidado (Silva; Almeida; Freitas, 2024). De acordo  com o estudo de Ranuzi et al., (2018), o transtorno de depressão e o comportamento  suicida estão entre os agravos mais subnotificados no ambiente prisional, em parte  por falta de profissionais especializados, mas também pela invisibilidade institucional  das questões de saúde mental no sistema penitenciário. 

Diante de tais complexidades, destaca-se que a alta carga de doenças físicas  e mentais nas prisões tende a ser um reflexo direto das condições estruturais  degradantes e do desafio institucional, reforçando a necessidade de uma atuação de  enfermagem comprometida, sensível e integrada, que vá além do atendimento  pontual.

2.3 Limitações institucionais, éticas e operacionais da enfermagem no cárcere 

O cuidado em saúde dentro do sistema prisional sofre interferências não  apenas estruturais, mas também institucionais e éticas. A enfermagem, como prática  comprometida com o bem-estar, a escuta e promoção da autonomia, enfrenta  obstáculos que vão desde a ausência de protocolos assistenciais até o cerceamento  de decisões por parte da segurança penitenciária (Brito et al., 2022).  

A inexistência de formação específica para atuar com a população encarcerada  é um dos pontos mais críticos levantados por autores como Maciel et al., (2022). De  modo geral, os enfermeiros não recebem preparação adequada durante a graduação  para lidar com as particularidades de tal contexto. Isso pode gerar insegurança,  estresse e dificuldades para estabelecer vínculos terapêuticos (Maciel et al., 2022). 

De acordo com Fonseca et al., (2024), a atuação da enfermagem no sistema  prisional é marcada por desafios éticos importantes, especialmente em relação com a garantia do sigilo profissional, da privacidade, frequentemente comprometidos pela  presença de escoltas, pela ausência de ambientes adequados e pela lógica  institucional voltada à segurança. Logo, o atendimento nessas unidades tende a ser  diferente dos outros tipos de ambiente. 

Ainda, segundo Brito et al. (2022), mesmo diante de condições adversas, como  a precariedade estrutural, o estigma social e negligência institucional, a atuação da  enfermagem no sistema prisional é marcada por uma abordagem ética, integral e  voltada para a humanização do cuidado. Para enfrentar esses desafios, é fundamental  que os profissionais estejam engajados não apenas na execução de procedimentos  técnicos, mas também em práticas sensíveis para as especificidades da população  privada de liberdade. Cabe ao enfermeiro assumir um papel alinhado aos princípios  do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Portanto, a atuação da enfermagem nas prisões brasileiras exige muito mais  do que competência técnica: exige coragem e compromisso ético. 

3. METODOLOGIA 

O presente estudo foi desenvolvido por meio de uma abordagem qualitativa,  em uma revisão bibliográfica da literatura. Verifica-se que essa modalidade de estudo  permite reunir, analisar e sintetizar os resultados de pesquisas já publicadas sobre o tema (Rodrigues et al., 2007). Logo, a escolha se justifica pela sua capacidade de  agregar diferentes tipos de evidência científica e possibilitar reflexões aprofundadas  sobre realidades complexas, como é o caso da saúde em contextos de privação de  liberdade. 

A busca pelos estudos foi realizada nas bases de dados SciELO e Google  Acadêmico. Para a construção da estratégia de busca, foram utilizados descritores  controlados do DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), tais como “enfermagem”,  “sistema prisional”, “saúde prisional” e “desafios no atendimento”. 

Foram selecionados alguns artigos publicados entre os anos de 2014 e 2024,  que estivessem disponíveis na íntegra, gratuitamente e escritos em português. A  seleção ocorreu em etapas: inicialmente, com a leitura dos títulos e resumos para  triagem preliminar, seguida da leitura completa dos textos que se mostraram  relevantes. Foram excluídos artigos repetidos, textos que não abordavam diretamente  a atuação da enfermagem no sistema prisional ou os que o acesso não era gratuito. 

A análise dos dados foi realizada por meio da análise temática, que permitiu  identificar categorias relacionadas aos principais desafios enfrentados pela  enfermagem no contexto prisional brasileiro. Os estudos incluídos foram lidos de  forma integral e analisados criticamente, com foco nos principais obstáculos e  complexidades enfrentadas pela enfermagem dentro das unidades prisionais. As  informações foram organizadas em quadros comparativos para facilitar a visualização  e discussão crítica dos resultados encontrados.  

Portanto, por se tratar de uma pesquisa baseada exclusivamente em dados  secundários, sem envolvimento direto de participantes humanos, o estudo não  necessitou de aprovação por Comitê de Ética em Pesquisa. Ainda assim, todos os  procedimentos seguiram os princípios éticos da integridade científica. 

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 

Com base na revisão bibliográfica realizada, foi possível identificar um  panorama preocupante sobre a atuação da enfermagem nas unidades prisionais  brasileiras. De acordo com as leituras, observou-se que os principais desafios  enfrentados pelos profissionais, estão diretamente relacionados com a precariedade  da infraestrutura física, alta incidência de doenças infectocontagiosas e crônicas, escassez de profissionais de saúde e entre outros. A seguir, os achados são  apresentados e discutidos com base nas produções científicas analisadas.

Tabela 1 – Comparativo dos estudos analisados sobre enfermagem e saúde no sistema prisional

Autores Ano Tema Objetivo Principais resultados
Nascimento  et al.2020 Doenças 
transmissíveis na  população privada  de liberdade na  região Centro Oeste do Brasil.
Analisar a  incidência de  doenças entre  presos na região  Centro-Oeste do  Brasil.Os autores apontam que as  doenças transmissíveis configuram  uma séria ameaça para a saúde  pública, especialmente quando se  observa que o ambiente prisional  não dispõe de condições  
adequadas para a prevenção,  tratamento e acompanhamento  contínuo dos casos. Ressalta-se,  assim, a necessidade de  responsabilização do Estado, tanto  do ponto de vista legal quanto  ético, sendo fundamental a adoção  de políticas públicas articuladas  entre os setores da saúde e da  justiça. 
Oliveira 2022 Saúde e prisão: um  estudo do acesso,  assistência e  
promoção da saúde no cárcere.
Analisar dados  epidemiológicos  e acesso à  saúde.A dissertação conclui que o direito  à saúde das pessoas privadas de  liberdade permanece violado,  sobretudo pela precariedade  estrutural, ausência de equipes  completas e obstáculos no acesso  aos serviços. No Pará, o cenário é  agravado por altos índices de  doenças evitáveis, carência de  assistência contínua e baixa  efetividade das políticas públicas,  como a PNAISP.
Brito et al. 2022 Pessoas privadas  de liberdade: uma  visão voltada à  
saúde
Refletir sobre o  cuidado de  
enfermagem no  cárcere.
O artigo conclui que apesar dos  marcos legais e das normativas  institucionais que sustentam a  saúde no sistema prisional, o  distanciamento entre o que é  garantido por lei e o que é  efetivamente praticado ainda é  profundo. Esse abismo institucional  resulta em violações de direitos,  em risco à vida e em desrespeito à  dignidade humana.
Gomes e  Ribas2023 Cuidados em  saúde à população  privada de  
liberdade: revisão  integrativa.
Sistematizar 
evidências  sobre cuidado  em saúde.
A pesquisa aponta que o  atendimento em saúde destinado  para a população privada de  liberdade no Brasil ainda se mostra  distante dos princípios 
constitucionais que orientam o  SUS, como a equidade, 
integralidade e humanização do  cuidado. A assistência oferecida  aos indivíduos encarcerados está  inserida em um cenário de  desamparo institucional, cujas  origens envolvem fatores políticos, estruturais e simbólicos
profundamente enraizados. 
Silva,  Almeida;
Freitas
2024 Desafios no cuidado de enfermagem em ambiente prisional.Identificar  entraves para enfermeiros em prisões.O estudo evidencia que a atuação  da enfermagem em ambientes  prisionais é marcada por precariedades estruturais, 
formação insuficiente e limitações  éticas e institucionais que  comprometem o cuidado integral.  As autoras defendem a urgência de reorganização político-institucional  e a valorização da enfermagem  como prática também ética e  social, especialmente no  atendimento a mulheres 
encarceradas.
Fonte: Desenvolvido pelos autores (2025).

Com base na análise da tabela 1, observa-se que os estudos selecionados  convergem ao evidenciar as múltiplas fragilidades que caracterizam a atenção para a saúde no sistema prisional brasileiro, especialmente no que tange ao cuidado de  enfermagem. As publicações apontam, de modo reiterado, que a precariedade  estrutural, ausência de condições adequadas para a prevenção e controle de doenças  transmissíveis, escassez de profissionais qualificados e falta de políticas públicas  efetivas comprometem a integralidade do cuidado.  

É necessário evidenciar, por exemplo, o estudo de Nascimento et al. (2020),  que enfatiza o impacto das doenças infecciosas em unidades prisionais do Centro Oeste e reforça a responsabilidade do Estado na articulação entre saúde e justiça. De  forma semelhante, Gomes e Ribas (2023) e Silva, Almeida; Freitas (2024) ressaltam  os entraves enfrentados pelos profissionais de enfermagem, que atuam em um  cenário de negligência institucional, marcado por carência de insumos, falta de  autonomia e ausência de preparo técnico e ético para lidar com as especificidades da  população privada de liberdade.  

A dissertação de Oliveira (2022), por sua vez, aprofunda a análise ao  apresentar dados epidemiológicos do estado do Pará, revelando altos índices de  agravos evitáveis e dificuldades no acesso a serviços extramuros. Já o estudo de Brito  et al. (2022) amplia o debate ao abordar a violação sistemática dos direitos humanos  nas unidades prisionais, destacando que as condições de encarceramento afetam não  apenas os indivíduos presos, mas também a saúde coletiva.  

Tais achados reafirmam a urgência de políticas públicas intersetoriais, da  valorização da enfermagem como agente ético e transformador e do compromisso efetivo do Estado com a dignidade humana no contexto prisional. A seguir, apresenta se um levantamento da frequência com que os principais desafios apareceram nos  estudos analisados:

Tabela 2 – Frequência de desafios mais citados nos estudos analisados

Desafio  identificadoFrequência  (número de  estudos)Efeitos para a enfermagem e a saúde
Superlotação e insalubridade  estruturalDificulta o controle de infecções e o atendimento privativo.
Altas taxas de  doenças transmissíveisExige atuação constante em vigilância epidemiológica e  controle de surtos, aumentando a sobrecarga e o risco de  adoecimento dos profissionais.
Escassez de profissionais  de saúdeTende a gerar sobrecarga de trabalho, comprometer a  qualidade do cuidado e favorecer o esgotamento físico e  emocional das equipes de enfermagem.
Falta de protocolos e formaçãoPode prejudicar a padronização das condutas,  comprometer a segurança do paciente e limitar a  autonomia técnica dos profissionais.
Invisibilidade da mulher presaContribui para o apagamento das necessidades  específicas em saúde sexual e reprodutiva, dificultando  ações de cuidado integral e equitativo.
Interferência de agentes penitenciáriosPode comprometer a autonomia profissional da  enfermagem, gerar conflitos éticos e impedir a privacidade  nas consultas e procedimentos de saúde.
Fonte: Desenvolvido pelos autores (2025).

Ao relacionar, esses dados demonstram a força do argumento central do  presente texto: a atuação da enfermagem em unidades prisionais não pode ser  analisada fora de um contexto institucional de violação de direitos. As práticas de  cuidado são limitadas tanto por condições materiais quanto por entraves éticos e  burocráticos. 

A pesquisa de Melo et al. (2025) mostra, por exemplo, que em Pernambuco o  déficit de vagas carcerárias chega a 49%, com índices alarmantes de portadores de  HIV, tuberculose e hepatites. Nascimento et al. (2020), por sua vez, identificaram  3.005 casos de tuberculose e 2.543 de HIV entre presos do Centro-Oeste, o que  reforça a ideia de que as prisões funcionam como verdadeiros “vetores de doença”.  

Em relação ao Sudeste, especificamente, Minas Gerais, dentro do recorte  temporal do presente trabalho, a pesquisa sobre a saúde da população carcerária em  Minas Gerais revela um cenário de precariedade, com condições de saúde geral e  bucal comprometidas devido à negligência nos cuidados básicos e à oferta limitada  de serviços de saúde no ambiente prisional. Um estudo realizado em Barbacena,  Minas Gerais, com dados de 2021 a 2024, demonstrou a alta prevalência de doenças infectocontagiosas (11,7%), hipertensão arterial (9,9%) e diabetes mellitus (2,9%)  entre os indivíduos privados de liberdade, além de uma significativa parcela com  higiene bucal insatisfatória e necessidade de reabilitação protética (Barros, 2024). 

Considerando a escassez de estudos que abordem a atuação do enfermeiro  no contexto prisional especificamente em Minas Gerais, foi necessário recorrer a uma  fonte fora do recorte temporal da presente pesquisa. Nesse sentido, um dos únicos  trabalhos encontrados foi o de Murta et al. (2025), que investigou as atividades  desempenhadas pela equipe de enfermagem em unidades prisionais de Minas Gerais, buscando estabelecer parâmetros para a quantificação de pessoal. Assim, ao pensar  no âmbito do sudeste, os resultados revelaram que as atividades predominantes da  equipe de enfermagem incluem o preparo, a entrega e administração de  medicamentos. Em contrapartida, a educação em saúde foi identificada como uma  área de menor relevância nas práticas cotidianas. A pesquisa também evidenciou uma  sobrecarga de trabalho para os enfermeiros, indicando a necessidade de readequar  os processos de trabalho para que as ações prioritárias se concentrem na prevenção  de agravos e na promoção da saúde, e não apenas na abordagem curativista.  

O estudo de Silva, Almeida e Freitas (2024) denuncia que a autonomia desses  profissionais é constantemente atravessada por hierarquias institucionais e decisões  de agentes penitenciários. Essa interferência direta nas rotinas de atendimento  compromete o princípio da universalidade do SUS e fere a ética profissional. 

Em relação às populações, Gomes e Ribas (2023) reforçam a invisibilidade da  mulher presa, apontando para a ausência de políticas voltadas ao cuidado com a  saúde reprodutiva e mental das mulheres encarceradas. Além disso, a falta de  estrutura é tão grave que muitos presídios sequer dispõem de ambientes adequados  para o atendimento de enfermagem. 

Destaca-se, enfim, a relevância prática desses resultados, indicando  claramente a necessidade urgente de intervenções estruturais e a importância de  políticas públicas intersetoriais que garantam melhores condições de trabalho e  capacitação específica para profissionais de enfermagem que atuam no sistema  prisional. Esses achados evidenciam que sem medidas efetivas o papel fundamental  da enfermagem continuará sendo limitado, o que compromete diretamente a  qualidade da assistência prestada e o direito à saúde das pessoas privadas de  liberdade.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Depois de todo o conteúdo abordado, analisado e discorrido, considerações  finais mostram-se necessárias. Desse modo, os resultados da presente pesquisa  mostram que a atuação da enfermagem no sistema prisional brasileiro é atravessada  por uma série de desafios e complexidades estruturais, institucionais e éticos que  limitam o exercício pleno do cuidado em saúde na então área, diferentemente de  outras. 

Por exemplo, observou-se nas análises dos textos selecionados a precariedade  da infraestrutura, alta prevalência de doenças infectocontagiosas, escassez de  profissionais capacitados e a interferência de normas de segurança sobre a autonomia  profissional configuram um cenário adverso, que demanda atenção das políticas  públicas e das instituições formadoras de profissionais de saúde. 

Constatou-se que embora exista uma base normativa que assegura o direito  para a saúde das pessoas privadas de liberdade, como a Política Nacional de Atenção  Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade (PNAISP), a aplicação prática  dessas diretrizes ainda é insuficiente e frequentemente desarticulada. Nesse contexto,  os profissionais de enfermagem podem se encontrar sobrecarregados, sem suporte  institucional adequado e, muitas vezes, obrigados a atuar em condições que  contrariam os princípios éticos da profissão e os preceitos do Sistema Único de Saúde. 

O presente estudo também conclui que o enfermeiro assume um papel  importante na promoção de ações educativas e preventivas, sendo, muitas vezes, o  primeiro e único profissional a atender as demandas de saúde dos detentos. No  entanto, sem investimentos em infraestrutura, formação específica e valorização do  trabalho em saúde no cárcere, o cuidado permanece restrito, pontual e emergencial. 

Diante disso, reforça-se a importância de incluir a temática da saúde prisional  nos currículos da graduação em enfermagem e em programas de educação  permanente, de forma a preparar os profissionais para atuar com competência nesse  campo. Por fim, espera-se que a pesquisa contribua para o avanço acadêmico e  social, ao estimular a ampliação do debate sobre a saúde prisional, promover maior  visibilidade para as demandas da enfermagem nesse contexto e impulsionar  mudanças práticas significativas nas políticas públicas e na gestão da saúde nas  unidades prisionais.

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1Aluna do curso de graduação em Enfermagem pela Faculdade do Futuro – FAF. E-mail: layanesouza5@hotmail.com

2Aluno do curso de graduação em Enfermagem pela Faculdade do Futuro – FAF. E-mail: yanmarues913@gmail.com

3Aluna do curso de graduação em Enfermagem pela Faculdade do Futuro – FAF. E-mail: anaromsebal@hotmail.com

4Enfermeira, professora do curso de graduação em Enfermagem pela faculdade do Futuro – FAF. E-mail: lidiamarciatrabalhos2022@gmail.com