A INFLUÊNCIA DAS ATIVIDADES LÚDICAS NA ADESÃO AO TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO PARA CRIANÇAS COM TEA NA PERSPECTIVA DOS PAIS

THE INFLUENCE OF PLAYFUL ACTIVITIES ON ADHERENCE TO PHYSIOTHERAPEUTIC TREATMENT FOR CHILDREN WITH ASD FROM THE PARENTS’ PERSPECTIVE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl102025006061510


Thais Fernanda Santos de Abreu1
Aline da Silveira2
Eloeth Kaliska Piva3


RESUMO

Introdução: O Transtorno do Espectro Autista é uma condição de neurodesenvolvimento e seus sinais surgem antes dos três anos, incluem dificuldades na comunicação social, comportamentos repetitivos e restritos, além de alterações sensoriais e déficits psicomotores. Objetivo: investigar a influência das atividades lúdicas na adesão ao tratamento fisioterapêutico de crianças com autismo, a partir da perspectiva dos pais, bem como, o papel da ludicidade na fisioterapia e o seu impacto no tratamento e bem-estar dessas crianças. Metodologia: o estudo foi exploratório, transversal e quantitativo, realizado por meio de um formulário online, nos meses de março e abril do ano de 2025, com pais ou responsáveis de crianças com autismo que já tivessem realizado ou estivessem realizando tratamento fisioterapêutico. Resultados: Houve a participação de 81 pais e ou responsáveis, sendo que 24 destes atendiam ao critério de inclusão. O perfil das crianças autistas contou com a prevalência do gênero masculino com (58,33%), idade da maioria (54,17%) na faixa etária de 4 a 6 anos. Um total de (95,83%) pais ao serem questionados sobre a importância dos fisioterapeutas utilizarem atividades lúdicas nas sessões de terapia, relataram acreditarem ser muito importante, e quanto a adesão do filho (a) na terapia, quando é utilizada atividades lúdicas (100%) referiram que a criança participa mais ativamente. Discussão: compreender a eficácia da ludicidade em contextos terapêuticos contribui diretamente para o aperfeiçoamento da atuação fisioterapêutica. E embora a utilização de brinquedos seja ampla, a baixa presença de atividades cognitivas, como raciocínio lógico e leitura, sugere a necessidade de diversificação das terapias. Também são importantes estratégias de capacitação parental e de maior envolvimento dos cuidadores no processo terapêutico, promovendo autonomia e coesão familiar.  Conclusão: Os resultados deste estudo indicaram que as atividades lúdicas exercem influência positiva na adesão ao tratamento fisioterapêutico de crianças com autismo na percepção dos pais.

Palavras-chave: Autismo infantil. Lúdico. Modalidades de fisioterapia. 

ABSTRACT

Introduction: Autism Spectrum Disorder is a neurodevelopmental condition and its signs appear before the age of three, including difficulties in social communication, repetitive and restricted behaviors, as well as sensory alterations and psychomotor deficits. Objective: to investigate the influence of playful activities on adherence to physiotherapy treatment of children with autism, from the perspective of parents, as well as the role of playfulness in physiotherapy and its impact on the treatment and well-being of these children. Methodology: the study was exploratory, cross-sectional and quantitative, carried out through an online form, in the months of March and April of the year 2025, with parents or guardians of children with autism who had already undergone or were undergoing physiotherapy treatment. Results: There was the participation of 81 parents and/or guardians, of which 24 met the inclusion criteria. The profile of autistic children was predominantly male (58.33%), with the majority (54.17%) between the ages of 4 and 6 years. When asked about the importance of physiotherapists using playful activities in therapy sessions, a total of 95.83% of parents reported believing it to be very important. Regarding their child’s adherence to therapy, when playful activities are used (100%) reported that the child participates more actively. Discussion: understanding the effectiveness of playfulness in therapeutic contexts directly contributes to improving physiotherapy performance. Although toys are widely used, the low presence of cognitive activities, such as logical reasoning and reading, suggests the need to diversify therapies. Strategies for parental training and greater involvement of caregivers in the therapeutic process are also important, promoting autonomy and family cohesion. Conclusion: The results of this study indicated that playful activities have a positive influence on adherence to physiotherapy treatment for children with autism in the perception of parents.

Keywords: Childhood autism; Playful; Physiotherapy modalities.

1. INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição complexa do neurodesenvolvimento que afeta de maneira significativa a satisfação de vida das crianças com esse diagnóstico (Zhang et al., 2024). Com uma prevalência crescente ao longo dos anos, o TEA é atualmente diagnosticado em 1 a cada 36 crianças com 8 anos, nos Estados Unidos da América (EUA) (Maenner et al., 2023).  

Os sintomas que se manifestam antes dos três anos de idade incluem dificuldades na comunicação social, habilidades de linguagem limitadas e comportamentos rígidos ou ritualizados. A manifestação precoce do TEA, assim como, a ampla variação na intensidade dos sintomas, reflete a diversidade das experiências individuais das crianças, impactando profundamente suas capacidades de interação social e seu desenvolvimento global (Zhang et al., 2024). A variabilidade nos sintomas do TEA resulta em diversos níveis de autonomia, com algumas crianças sendo capazes de viver de forma independente, enquanto outras necessitam de suporte contínuo devido às limitações impostas pela condição (Ostrowski et al., 2024).  

Crianças com TEA apresentam alterações sensoriais e déficits psicomotores, tornando essencial intervenções terapêuticas adequadas. Essas intervenções são fundamentais para promover o desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida (QV), enfatizando a importância de estratégias terapêuticas personalizadas que considerem as especificidades de cada indivíduo (Fernandes; Polli; Martinez, 2021). Nesse contexto, a fisioterapia desempenha um papel importante ao integrar atividades lúdicas, como jogos e brincadeiras, que contribuem para o desempenho físico e para maior interação social, bem como, redução de sintomas como dor e ansiedade (Silva; Valenciano; Fujisawa, 2017). 

O desenvolvimento infantil é influenciado pela brincadeira, que vai além do simples entretenimento, promovendo o aprendizado de regras, o desenvolvimento de relações sociais e o fortalecimento das habilidades cognitivas. Para as crianças com TEA, o lúdico se apresenta como uma ferramenta terapêutica que proporciona um ambiente seguro para a prática e desenvolvimento de habilidades sociais. A introdução de atividades direcionadas e mediadas por adultos no contexto do brincar é importante para essas crianças, permitindo a introdução de novos desafios e o desenvolvimento de habilidades de forma adaptada e envolvente (Moura; Santos; Marchesini, 2021). 

A importância de uma abordagem lúdica na fisioterapia é reforçada pelo uso de brinquedos, jogos e atividades recreativas que estimulam a coordenação motora, propriocepção, e outros aspectos sensoriais e motores. A inclusão de técnicas como a gameterapia, equoterapia e musicoterapia amplia ainda mais as possibilidades terapêuticas, proporcionando benefícios tanto no aspecto físico, quanto emocional das crianças com TEA (Piva; Cardoso; Schwartz, 2022). 

Os aspectos lúdicos atrelados ao tratamento fisioterapêutico promovem sentimentos de prazer com os exercícios e atividades propostas, permite uma relação de interação social por meio do brincar e gera a motivação, tão fundamental para a aprendizagem, e direcionamento da terapia para a humanização, facilitando a adesão da criança (Silva; Valenciano; Fujisawa, 2017) e de seus familiares à intervenção fisioterapêutica. O papel da ludicidade aliado a fisioterapia permite entender como essas estratégias podem impactar no tratamento fisioterapêutico e no bem-estar dessas crianças.

Diante da crescente prevalência do TEA e das dificuldades enfrentadas, tanto pelas crianças, quanto pelos profissionais e familiares na adesão ao tratamento fisioterapêutico, este estudo buscou fornecer subsídios para intervenções mais eficazes a esse público, e proporcionar achados importantes para os profissionais fisioterapeutas.

Para tanto, este estudo teve como objetivo investigar a influência das atividades lúdicas na adesão ao tratamento fisioterapêutico de crianças com TEA, a partir da perspectiva dos pais, bem como, o papel da ludicidade na fisioterapia e o seu impacto no tratamento e bem-estar dessas crianças. 

2. METODOLOGIA 

Este estudo seguiu uma abordagem exploratória, com desenho transversal e caráter quantitativo. A pesquisa teve como objetivo compreender a influência das atividades lúdicas na adesão ao tratamento fisioterapêutico em crianças com TEA, a partir da perspectiva dos pais ou responsáveis.

O estudo foi realizado durante os meses de março e abril do ano de 2025. Os pais ou responsáveis pelas crianças com TEA responderam a um formulário online, acessível por meio de plataformas digitais ou grupos de whatsapp, garantindo a comodidade e facilidade de participação.

A população do estudo foi composta por pais ou responsáveis de crianças com TEA que já tivessem realizado ou estivessem realizando tratamento fisioterapêutico, residentes na cidade de Cascavel – Paraná e região, crianças com até 11 anos, 11 meses e 29 dias. A amostra foi intencional e por conveniência, considerando todos os pais e/ou responsáveis que aceitaram participar do estudo, e concordaram com o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), atendendo aos critérios de inclusão. Como critério de exclusão, foram considerados os responsáveis que não tinham condições emocionais ou cognitivas de responder ao formulário online

O formulário desenvolvido pelas pesquisadoras permitiu a coleta de dados, com uma abordagem quantitativa sobre a experiência e perspectiva dos pais em relação ao tratamento fisioterapêutico de seus filhos com TEA. Essa escolha visou fornecer uma visão inicial sobre o impacto das atividades desenvolvidas pela fisioterapia, e como elas contribuíram para a adesão terapêutica nesse público. 

A pesquisa somente foi iniciada após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) sob parecer número 7.422.991, e todos os participantes concordaram com o TCLE, garantindo que os procedimentos éticos fossem rigorosamente seguidos, afirmamos que os participantes não receberam e não pagaram nenhum valor para participar deste estudo. Além disso, foi garantida a privacidade e o sigilo de sua participação em todas as etapas da pesquisa e na publicação dos resultados. 

Para tal, o formulário aplicado, elaborado pelos pesquisadores, continha perguntas como: nome, cidade onde residia, idade da criança, avaliação dos pais sobre a importância das atividades lúdicas no tratamento fisioterapêutico, quais tipos de atividades lúdicas atraíam mais a atenção da criança durante as sessões, se o responsável percebia diferença na adesão ao tratamento com o uso de atividades lúdicas, a opinião dos pais sobre a importância do uso dessas atividades pelos fisioterapeutas, se os pais consideravam que a criança gostava de participar das sessões de fisioterapia e se o responsável costumava acompanhar as sessões no consultório.

Os dados coletados foram analisados de forma quantitativa e as informações fornecidas pelos pais e/ou responsáveis pelas crianças foram organizadas e apresentadas a partir de uma planilha do Microsoft Office Excel 2010 e processados pelo software IBM SPSS®, versão 22.0. Os dados foram posteriormente apresentados de forma descritiva por meio de frequências absolutas e relativas e distribuídos em tabelas e gráficos.

3. RESULTADOS 

O estudo contou com a participação de 81 pais e ou responsáveis pelas crianças com TEA, sendo que 24 destes atendiam ao critério de inclusão de seus filhos estarem realizando ou terem realizado tratamento fisioterapêutico. O perfil das crianças com TEA expôs a prevalência do gênero masculino com 14(58,33%) das crianças, enquanto 10 (41,67%) do gênero feminino. A idade das crianças ficou com maioria 13 (54,17%) na faixa etária de 4 a 6 anos, 5(20,83%) entre 7 a 9 anos e 6 (25,00%) com 10 a 11 anos. Tabela 1.

Tabela 1 – Perfil das crianças com autismo participantes da pesquisa. (n=24)

Fonte: Dados da pesquisa 2025. FA= frequência absoluta, N= número, FR= frequência relativa, % = porcentagem.

Quanto ao diagnóstico médico, os pais e/ou responsáveis relataram que 16 (66,66%) das crianças tinham apenas diagnóstico de TEA e 8 (33,33%) relatam que além do TEA as crianças tinham outras comorbidades associadas, por exemplo, foram citadas epilepsia, deficiência intelectual, Transtorno e déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), Transtorno opositor desafiador (TOD) e Paralisia cerebral (PC). Para 21 (87,50%) dos pais e/ou responsáveis a ludicidade era considerada como muito importante no tratamento fisioterapêutico dos filhos, enquanto para 3 (12,5%) era considerada importante.

As principais características quanto às condutas fisioterapêuticas e sobre os atendimentos realizados com as crianças com TEA abrangeram, por exemplo, se os pais e/ou responsáveis acompanhavam os filhos assistindo a sessão de fisioterapia no consultório fisioterapêutico, sendo que 14 (58,33%) relataram que não acompanhavam. Quando questionados se percebiam que o filho gostava da sessão de fisioterapia 17 (70,83%) relataram que sim, sempre.

Os pais também foram questionados sobre a importância dos fisioterapeutas utilizarem atividades lúdicas nas sessões de terapia, os quais 23 (95,83%) relataram acreditarem ser muito importante. Em relação a percepção quanto a adesão do filho (a) na terapia, quando são utilizadas atividades lúdicas 24 (100%) referiram que a criança participa mais ativamente.

Quanto a quais tipos de atividades lúdicas parecem atrair mais atenção do filho (a) durante a fisioterapia, foi prevalente para 10 (41,67%) dos pais e/ou responsáveis as atividades lúdicas com objetos coloridos. E quando questionado sobre se os fisioterapeutas passavam orientações para casa com a utilização de recursos lúdicos para os pais fazerem 13 (54,17%) relataram que sim, às vezes. Os dados acima foram descritos na Tabela 2 a seguir.

Tabela 2 – Características e condutas dos atendimentos fisioterapêuticos às crianças com TEA, na percepção dos pais e/ou responsáveis. (n=24)

Fonte: Dados da pesquisa 2025. FA= frequência absoluta, N= número, FR= frequência relativa, %= porcentagem.

Dentre os recursos lúdicos mais utilizados pelos fisioterapeutas nas sessões de fisioterapias, foi relatado por 19 (79,17%) dos pais e/ou responsáveis se tratar de brinquedos diversos. Gráfico 1.

Gráfico 1 – Recursos lúdicos mais utilizados nas sessões de fisioterapia, de acordo com os pais e/ou responsáveis. (n=24)

Fonte: Dados da pesquisa 2025. Legenda: R1= Brinquedos; R2= Bolas; R3= Cones; R4= Cordas; R5= Músicas; R6= Blocos; R7= Massinhas e tintas; R8= Tesoura e papel/papelão; R9= Livros; R10= Balão; R11= Bambolês; R12= Elásticos; R13=Tecidos coloridos; R14= Bastões.

4. DISCUSSÃO

Este estudo teve como objetivo analisar os efeitos do uso de estratégias lúdicas na fisioterapia pediátrica de crianças com TEA, especialmente no que se refere ao engajamento, à participação familiar e ao desenvolvimento funcional. A análise concentrou-se na caracterização do perfil da amostra, nos padrões de intervenção adotados e nas percepções familiares quanto à ludicidade. Ao considerar a importância do brincar terapêutico, buscou-se compreender como os recursos lúdicos contribuem para a consolidação dos ganhos terapêuticos. Além disso, investigaram-se os fatores limitantes relacionados à participação parental e à diversidade dos estímulos utilizados.

Destacar a importância do tema para a área da fisioterapia pediátrica torna-se fundamental diante do crescente número de crianças diagnosticadas com TEA e das exigências por práticas terapêuticas centradas na criança. Nesse sentido, a literatura aponta que o uso de atividades lúdicas promove não apenas o engajamento motor, mas também, o fortalecimento dos vínculos terapêuticos e familiares. Estudos como o de Silva; Valenciano; Fujisawa (2017) reforçam a relevância dessas práticas na promoção do bem-estar infantil. Dessa forma, compreender a eficácia da ludicidade em contextos terapêuticos contribui diretamente para o aperfeiçoamento da atuação fisioterapêutica.

A brincadeira é fundamental para o desenvolvimento infantil, permitindo que as crianças satisfaçam necessidades, reproduzam aspectos de sua realidade e aprendam. Embora a brincadeira frequentemente envolva imaginação, ela vai além do aspecto lúdico, e também ensina regras, desenvolve relações sociais e reforça habilidades cognitivas. Brincadeiras livres e espontâneas ajudam as crianças a formarem uma visão única da realidade e a desenvolverem aspectos socioafetivos. No entanto, profissionais que atendem crianças autistas devem estar preparados para enfrentar desafios como impaciência, ansiedade e desinteresse, especialmente em ambientes coletivos (Moura, Santos, Marchesini, 2021; Chicon et al., 2019).

A análise dos dados do presente estudo revelou uma prevalência de meninos na amostra, o que está de acordo com os dados epidemiológicos mais amplos sobre o TEA, que indicam maior incidência entre o sexo masculino (Maenner et al., 2023). A faixa etária predominante entre 4 e 6 anos, também, está em consonância com o período crítico para intervenções eficazes. Embora essa concentração limite a generalização dos achados para outras idades, observou-se ainda diversidade nos níveis de suporte e presença de comorbidades, ressaltando a heterogeneidade do TEA. Essa caracterização do perfil é essencial para nortear condutas terapêuticas individualizadas (Fernandes; Polli; Martinez, 2021).

O diagnóstico médico e os resultados do estudo indicaram que a percepção das famílias sobre a ludicidade é amplamente positiva. A quase unanimidade na valorização das práticas lúdicas corrobora estudos que associam tais práticas a maior engajamento e bem-estar infantil (Silva; Valenciano; Fujisawa, 2017). O dado de que 100% das crianças participam mais ativamente quando as atividades são lúdicas, evidencia o papel mediador do brincar na construção do vínculo terapêutico.

Os dados revelaram que estímulos visuais e motores, como objetos coloridos e jogos de movimento, são altamente eficazes no engajamento das crianças com TEA. Essa constatação encontra respaldo em Fernandes, Polli e Martinez (2021), que destacam a importância dos recursos psicomotores e sensoriais nos atendimentos terapêuticos. Embora a utilização de brinquedos seja ampla, a baixa presença de atividades cognitivas, como raciocínio lógico e leitura, sugere a necessidade de diversificação. Nesse cenário, a inclusão de estímulos cognitivos pode ampliar o repertório funcional e proporcionar avanços mais abrangentes no desenvolvimento das crianças com TEA.

A personalização das atividades lúdicas para atender às necessidades individuais das crianças autistas é crucial. Considerando as preferências, interesses e níveis de desenvolvimento de cada criança, essa abordagem centrada no indivíduo é vital para uma intervenção eficaz (Oliveira; Araújo, 2023). O presente estudo mostrou que, quando as atividades são ajustadas às preferências individuais das crianças com TEA, aumenta significativamente a adesão ao tratamento. As intervenções que se destacaram foram atividades com objetos coloridos (41,67%) e jogos de movimento (37,49%). Resultados que reforçam o que Moura; Santos; Marchesini (2021) encontrou em sua pesquisa: o brincar exerce uma influência significativa no desenvolvimento de crianças com TEA. Embora crianças com TEA frequentemente apresentem dificuldades na comunicação social, na interação e comportamentos repetitivos, essas barreiras podem ser superadas com a mediação adequada, potencializando a plasticidade cerebral.

Por outro lado, a ausência de participação direta de (58,33%) dos pais nas sessões configura uma limitação prática e afetiva, o que compromete a continuidade das intervenções. Já sobre o recebimento de orientações domiciliares, apenas (54,17%) dos pais relataram que as recebem “às vezes”. Esses dados vão em direção oposta aos achados da literatura, que apontam que o envolvimento ativo dos pais no tratamento facilita a adaptação às necessidades específicas e fortalece os laços familiares, criando um ambiente de apoio e compreensão essencial para o progresso das crianças no espectro autista (Carissimi et al., 2024).

Os achados também demonstram uma lacuna na continuidade terapêutica, visto que mais da metade dos fisioterapeutas apenas “às vezes” orientam práticas lúdicas para o ambiente domiciliar. Moura; Santos; Marchesini (2021) argumentam que o brincar precisa ser incorporado à rotina familiar como uma extensão da terapia clínica. A ausência de um plano estruturado de atividades domiciliares pode comprometer a consolidação dos ganhos terapêuticos. Isso evidencia a urgência de estratégias de capacitação parental e de maior envolvimento dos cuidadores no processo terapêutico, promovendo autonomia e coesão familiar.

Destaca-se que, entre os 81 pais ou responsáveis entrevistados, apenas 24 atenderam ao critério de terem filhos com TEA em acompanhamento fisioterapêutico atual ou prévio. Esse recorte tão pequeno pode sinalizar dificuldades de acesso ao serviço, e suscita questionamentos sobre as políticas públicas voltadas à população com TEA no Brasil.

Embora existam dispositivos como Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros Especializados em Reabilitação (CERs), e salas de recursos voltados à reabilitação de pessoas com TEA, a oferta de profissionais capacitados é insuficiente. A legislação define o que garantir, mas carece de diretrizes operacionais claras sobre como ofertar terapias especializadas e orientar famílias. As filas são longas e grande parte dos serviços concentra-se nas capitais. Resultado: o acesso à fisioterapia especializada torna-se limitado. Muitos pais recorrem a atendimentos esporádicos e outras famílias permanecem sem cuidado contínuo. O direito está previsto, mas a implementação ainda não acompanha a demanda real (Miranda, 2025).

É importante ressaltar que este estudo apresentou limitações, como a amostra reduzida e obtida por conveniência, o uso de questionário online que pode ter dificultado o acesso de famílias com menor acesso digital. Além disso, a dependência exclusiva da percepção dos pais pode introduzir vieses subjetivos. Ainda assim, os achados oferecem indícios consistentes sobre a influência do lúdico na adesão à fisioterapia e apontam caminhos relevantes para futuras pesquisas com grupos maiores e métodos variados, além de explorar a idade real ao invés de faixa etária, como utilizado neste estudo.

5. CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo indicam que as atividades lúdicas exercem influência positiva na adesão ao tratamento fisioterapêutico de crianças com TEA, segundo a percepção dos pais. As evidências apontam que a ludicidade favorece maior engajamento, prazer e participação ativa nas sessões, contribuindo diretamente para a evolução terapêutica. Dentre os recursos utilizados, destacam-se os brinquedos coloridos e os jogos de movimento como os mais eficazes na prática fisioterapêutica. A pesquisa reforça a relevância de estratégias individualizadas e evidencia a necessidade de maior participação familiar no processo. A limitação quanto ao número reduzido de participantes e ao uso de coleta digital sugere a realização de novos estudos com amostras mais amplas e metodologias diversificadas.

REFERÊNCIAS

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ZHANG, X. et al. Identification of Autism Spectrum Disorder Using Topological Data Analysis. Journal of Imaging Informatics in Medicine, v. 37, n. 3, p. 1-15, 2024.


1Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Univel Centro Universitário Campus Cascavel e-mail: thais.nand4@gmail.com
2Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Univel Centro Universitário Campus Cascavel e-mail: alinedasilveira907@gmail.com
3Docente do Curso Superior de Fisioterapia do Centro Universitário Univel. Mestre em Biociência e Saúde (PPGBCS/UNIOESTE). E-mail: kaliska_fisio@hotmail.com