A IMPORTÂNCIA DO EXAME CITOPATOLÓGICO NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

THE IMPORTANCE OF THE CYTOPATHOLOGICAL EXAMINATION IN THE PREVENTION OF CERVICAL CANCER

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202512102214


Carla Nogueira Soares; Francisley da Silva Rego; Karolinny da Silva Matos; Luiz Gabriel Delgado Reis; Luana Cristina Alves Silva do Patrocinio; Paulino Santos Vieira; Renata Pereira Lacerda


RESUMO: O câncer do colo do útero é uma das principais causas de mortalidade feminina evitável no Brasil e no mundo, sendo o exame citopatológico, conhecido como Papanicolau, a principal ferramenta para sua detecção precoce. O presente estudo tem como objetivo identificar a importância do exame citopatológico na prevenção do câncer cervical, destacando o papel da enfermagem na promoção da saúde e na adesão das mulheres ao rastreamento. Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, realizada em bases científicas nacionais e internacionais, abordando publicações entre 2015 e 2025. Verificou-se que, apesar das políticas públicas consolidadas e da ampla disponibilidade do exame no Sistema Único de Saúde (SUS), ainda existem barreiras sociais, culturais e estruturais que limitam sua efetividade. A atuação do enfermeiro, aliando competência técnica, acolhimento e ações educativas, mostra-se essencial para aumentar a adesão das mulheres e reduzir as desigualdades regionais no acesso à prevenção. Conclui-se que a prevenção do câncer do colo do útero depende de estratégias integradas entre educação em saúde, rastreamento sistemático e fortalecimento da Atenção Primária.

Palavras-chave: Câncer Cervical. Prevenção. Colo do Útero. Enfermagem.

ABSTRACT: Cervical cancer is one of the leading causes of preventable female mortality worldwide, and the cytopathological examination, commonly known as the Pap smear, remains the main strategy for early detection of precursor lesions. This study aims to identify the importance of the cytopathological exam in cervical cancer prevention, highlighting the role of nursing in health promotion and in strengthening women’s adherence to screening programs. This is an integrative literature review conducted in national and international scientific databases, covering studies published between 2009 and 2025. The findings show that, despite the existence of consolidated public policies and the wide availability of the exam within the Brazilian Unified Health System (SUS), social, cultural, and structural barriers continue to limit the effectiveness of screening. These challenges include limited access, lack of information, feelings of shame or fear during the procedure, and inequalities related to geographic distribution and healthcare organization. The review indicates that nursing professionals play a central role in improving adherence to the exam by combining technical competence, welcoming attitudes, and educational strategies that promote awareness and autonomy among women. The study concludes that effective prevention of cervical cancer depends on integrated actions that involve health education, systematic screening, and the strengthening of Primary Health Care services, ensuring equitable access and improved outcomes for the female population.

Keywords: cervical cancer, prevention, cytopathological exam, Pap smear, nursing, primary health care.

1.  INTRODUÇÃO

O câncer do colo do útero é uma das neoplasias mais comuns entre mulheres em idade fértil e tem como principal causa o papilomavírus humano (HPV), transmitido sexualmente. Embora muitas infecções por HPV sejam transitórias e não causem danos, algumas podem gerar lesões que evoluem para o câncer se não forem tratadas. O vírus penetra nas camadas profundas do epitélio cervical, atingindo células responsáveis pela regeneração e transformação do tecido, geralmente por meio de pequenas lesões causadas durante o ato sexual (Sartori et al., 2019).

Em 2020, o Brasil registrou uma taxa de mortalidade por câncer de colo do útero de 3,64 mortes a cada 100 mil mulheres. A região Norte apresentou os índices mais elevados do país, alcançando 9,52 óbitos por 100 mil mulheres, configurando-se como a principal causa de morte por câncer entre as mulheres dessa região (Silva et al., 2024).

O exame de Papanicolau e a vacinação contra o HPV constituem medidas essenciais na prevenção do câncer do colo do útero. Contudo, a adesão de muitas mulheres ainda é limitada, em grande parte por sentimentos de vergonha, desconhecimento e receio. Nesse contexto, o papel da equipe de enfermagem torna-se indispensável, atuando no incentivo ao rastreamento e na promoção da participação das mulheres nos exames preventivos (Alvarenga et al., 2022).

O câncer do colo do útero constitui um importante problema de saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento, onde a cobertura dos programas preventivos ainda é insuficiente para conter a mortalidade associada à doença. O exame citopatológico, ou exame de Papanicolau, é reconhecido mundialmente como o método mais eficaz para identificar lesões precursoras em estágios iniciais, permitindo intervenções precoces e aumentando as chances de cura (Azevedo e Silva et al., 2023).

No contexto brasileiro, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o exame gratuitamente, contudo, fatores como o desconhecimento, o medo, o constrangimento e as barreiras estruturais dificultam a adesão regular das mulheres ao rastreamento. Nesse cenário, a enfermagem desempenha papel central, atuando tanto na coleta e orientação técnica quanto na educação em saúde e na promoção do autocuidado feminino (Santos; Santos; Santos, 2024).

Dessa forma, a problemática que orienta este estudo é quais fatores determinam a importância do exame citopatológico na prevenção do câncer do colo do útero e de que forma a atuação da enfermagem pode contribuir para ampliar a adesão das mulheres ao exame preventivo?

O presente trabalho tem como objetivo geral identificar a importância do exame citopatológico na prevenção do câncer do colo do útero, destacando sua relevância para o diagnóstico precoce e a redução da mortalidade feminina. Busca-se, ainda, discutir o papel do enfermeiro na atenção primária à saúde, compreender as barreiras que dificultam a realização do exame e refletir sobre as estratégias educativas que fortalecem a adesão e o empoderamento das mulheres no cuidado com a própria saúde.

2.  REFERENCIAL TEÓRICO

No contexto da prevenção do câncer do colo do útero, os resultados deste estudo reforçam a importância do exame citopatológico, ou Papanicolau, como principal método de rastreamento de lesões precursoras. Sua realização periódica permite identificar alterações em fases iniciais, favorecendo intervenções menos invasivas e melhor prognóstico. Assim, destaca-se sua relevância para o diagnóstico precoce e para a redução da mortalidade feminina, desde que haja qualidade na cobertura e na execução do exame (Silva et al., 2023).

Ao caracterizar o câncer do colo do útero, verificou-se que esta neoplasia permanece como um grave problema de saúde pública, sobretudo em contextos de vulnerabilidade socioeconômica, o que reforça a necessidade de enfatizar a prevenção primária e secundária. Estudos recentes apontam que o rastreamento por citologia ainda é oportunístico no Brasil e que a cobertura plena permanece aquém do ideal, fato que limita os efeitos esperados sobre a incidência e a mortalidade. Essa constatação denota que, mesmo havendo disponibilização dos exames via sistema público de saúde, a efetividade na prevenção depende não apenas da oferta, mas da organização, da qualidade da coleta, do seguimento e da integração entre os níveis de atenção. (Teixeira et al., 2024)

No que se refere aos resultados analisados, evidências de que a realização do exame citopatológico com adequada periodicidade, aliada à garantia de resultados de qualidade e ao encaminhamento oportuno dos achados alterados, está associada à redução de casos de carcinoma invasivo e ao aumento da detecção de lesões de baixo grau ou intermediárias, que são suscetíveis ao tratamento eficaz (Correa et al., 2012). Verificase que, conforme Costa et al. (2021), os indicadores de qualidade da citologia, como a proporção de esfregaços insatisfatórios, a positividade de lesões de alto grau e a cobertura geográfica, variam segundo o índice de desenvolvimento humano municipal, o que implica que a heterogeneidade regional interfere diretamente nos resultados do rastreamento e, por consequência, no impacto sobre a mortalidade (Discacciati; Barboza;  Zeferino, 2014).

Por outro lado, ao discutir os tratamentos empregados após a detecção de lesões precursoras ou neoplasia invasiva, identifica-se que a via de cuidado desencadeada pelo exame citopatológico constitui um elemento vital no fluxo assistencial: ao permitir a identificação precoce, possibilita intervenções de menor agressividade, com melhores desfechos clínicos e menores custos para o sistema de saúde. Nesse sentido, a literatura salienta que programas de rastreamento de câncer cervical bem estruturados, com etapa de diagnóstico precoce bem conectada ao tratamento, exercem efeito significativo sobre a mortalidade. No entanto, a simples realização do exame não garante impacto pleno se a rede de encaminhamento e tratamento não estiver organizada ou se houver atraso no seguimento (Lima et al., 2020).

A discussão dos resultados indica que as dificuldades na realização do exame citopatológico e na prevenção decorrem de múltiplas barreiras, incluindo acesso limitado, retorno inadequado, falhas técnicas, desigualdades territoriais e fatores culturais que influenciam a adesão. Bezerra (2021) demonstra que a cobertura do exame varia entre regiões e apresenta quedas em determinados períodos, mostrando que a descentralização sem monitoramento contínuo compromete o rastreamento. Assim, a prevenção do câncer cervical requer mais que a oferta do exame, demandando um sistema integrado, eficiente, com profissionais qualificados e políticas voltadas à redução das desigualdades em saúde.

Segundo Ferreira et al. (2023), a educação em saúde baseada em metodologias participativas melhora a adesão terapêutica, reduz crises hipertensivas e favorece a estabilidade dos níveis pressóricos. O estudo destaca ainda que a abordagem educativa deve ir além da simples transmissão de informações, considerando o contexto sociocultural e a capacidade de autogerenciamento do indivíduo.

A literatura evidencia que o acompanhamento clínico realizado pela enfermagem contribui diretamente para a melhoria dos indicadores de controle da hipertensão. Brito et al. (2022) destacam que o monitoramento periódico dos usuários do Programa Hiperdia e a estratificação de risco permitem identificar precocemente alterações e ajustar condutas terapêuticas. Esses achados reforçam o papel central do enfermeiro na coordenação do cuidado e na integração das ações multiprofissionais, sobretudo em populações vulneráveis. Além disso, a sistematização da assistência favorece registros padronizados e precisos, fortalecendo o monitoramento epidemiológico e a tomada de decisão em saúde coletiva.

Outro ponto relevante evidenciado na análise refere-se à incorporação de tecnologias de informação e comunicação como ferramentas de apoio à vigilância clínica e à educação em saúde. Estudos recentes indicam que o uso de aplicativos móveis, telemonitoramento e plataformas digitais de acompanhamento pressórico tem se mostrado eficaz na ampliação do alcance das ações educativas e na continuidade do cuidado domiciliar. Segundo Souza et al. (2021), a utilização de tecnologias digitais pela equipe de enfermagem reduz a lacuna entre consulta e retorno, aumenta a adesão à terapêutica e melhora a autopercepção do estado de saúde entre os pacientes hipertensos. Esse movimento de inovação tecnológica, contudo, requer políticas institucionais de capacitação permanente, infraestrutura adequada e protocolos éticos de uso de dados sensíveis, conforme ressaltam os mesmos autores.

Sob a perspectiva do cuidado integral, observa-se que as práticas de enfermagem voltadas à prevenção da hipertensão articulam-se a outros componentes da atenção básica, como o controle do diabetes mellitus, a promoção de hábitos alimentares saudáveis e o incentivo à atividade física. Nessa direção, Silva et al. (2020) argumentam que o enfermeiro, ao adotar uma postura proativa e intersetorial, contribui para a redução dos fatores de risco modificáveis e para a construção de um ambiente comunitário favorável à saúde cardiovascular. Essa abordagem integrada reforça a necessidade de que as equipes da APS desenvolvam ações planejadas e contínuas, voltadas não apenas à intervenção clínica, mas à transformação de determinantes sociais que condicionam o adoecimento.

A comparação dos achados entre diferentes estudos evidencia que a presença ativa do enfermeiro na coordenação do cuidado constitui um fator decisivo para a sustentabilidade das estratégias de prevenção. Ribeiro et al. (2023) apontam que municípios com maior cobertura de Estratégia Saúde da Família (ESF) e com enfermeiros responsáveis pelo gerenciamento de grupos educativos e visitas domiciliares apresentam melhores indicadores de controle pressórico e menor taxa de internações por complicações cardiovasculares evitáveis. Esse dado confirma que a atuação da enfermagem na APS é capaz de impactar diretamente a morbimortalidade associada à hipertensão, desde que haja planejamento, continuidade das ações e apoio institucional.

Entretanto, apesar dos avanços observados, os resultados também revelam fragilidades estruturais que limitam a efetividade das intervenções de enfermagem. Entre os principais desafios destacam-se a sobrecarga de trabalho, a escassez de recursos humanos, a rotatividade de profissionais e a insuficiência de capacitação continuada. De acordo com Nascimento et al. (2021), a ausência de políticas permanentes de educação em serviço e a carência de instrumentos de avaliação da qualidade das ações comprometem o desempenho da equipe e reduzem o alcance das metas de controle da hipertensão. Assim, a análise integrada dos dados sugere que a sustentabilidade das estratégias depende da consolidação de um modelo de gestão participativo e do fortalecimento do protagonismo técnico da enfermagem na atenção primária.

A prevenção do câncer do colo do útero constitui um eixo central na saúde da mulher, sendo reconhecida mundialmente como uma estratégia essencial para a redução da incidência e mortalidade associadas à doença. Estudos nacionais e internacionais ressaltam que o rastreamento oportuno, por meio do exame de citologia oncótica (Papanicolau), representa a principal ferramenta de detecção precoce, capaz de identificar alterações precursoras que, se tratadas adequadamente, evitam a progressão para estágios avançados da neoplasia (Brasil, 2013; Inca, 2016).

O exame Papanicolau, portanto, não apenas configura um procedimento técnico, mas também assume papel crítico na construção de práticas preventivas e de educação em saúde voltadas para a população feminina, sendo fortemente influenciado por políticas públicas que consolidam a atenção primária como espaço estratégico de intervenção (Santos et al., 2019; Amaral; Gonçalves; Silveira, 2017).

Nesse contexto, a literatura evidencia que a integração de diretrizes nacionais com estratégias de educação e acompanhamento das usuárias contribui significativamente para a efetividade do rastreamento, reforçando a necessidade de protocolos claros e padronizados, bem como da atuação contínua da equipe de enfermagem na promoção e manutenção da adesão ao exame (Lopes; Alves; Silva, 2022).

O arcabouço normativo brasileiro, consolidado pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), estabelece parâmetros técnicos que orientam a realização periódica da citologia oncótica, recomendando intervalos regulares e estratégias de busca ativa das mulheres elegíveis (Brasil, 2015; Inca, 2016).

Tais documentos enfatizam que a prevenção primária, aliada à detecção precoce, é fundamental para reduzir os índices de mortalidade, especialmente considerando que o câncer cervical ainda representa um problema de saúde pública relevante, com distribuição desigual entre diferentes regiões do país e entre estratos socioeconômicos distintos (Barbosa, 2017).

A literatura aponta que a cobertura do exame apresenta variações significativas em função de fatores demográficos, socioeconômicos e culturais, evidenciando a persistência de barreiras de acesso e a necessidade de estratégias diferenciadas para populações vulneráveis (Onofre; Vieira; Bueno, 2019; Silva et al., 2020).

Essa realidade destaca que, embora exista uma base normativa consolidada, a simples disponibilidade do exame não garante a adesão universal, sendo imprescindível que a atenção primária atue de forma articulada, considerando fatores contextuais e individuais das mulheres (Nazaré et al., 2020).

A atuação do enfermeiro na Atenção Primária à Saúde e um elemento decisivo na promoção do rastreamento do câncer do colo do útero, assumindo múltiplas funções que vão desde a orientação individualizada até o acompanhamento sistemático das usuárias e a implementação de estratégias de busca ativa (Dias et al., 2017; Medeiros et al., 2021).

Estudos demonstram que a intervenção do profissional de enfermagem, por meio de atividades educativas e de esclarecimento sobre o exame, contribui significativamente para reduzir o medo e a resistência das mulheres, fatores frequentemente apontados como barreiras à realização do Papanicolau (Oliveira et al., 2019; Nóbrega et al., 2021).

A literatura evidencia que ações educativas bem estruturadas, que consideram crenças culturais, experiências prévias e percepção de risco individual, potencializam a adesão ao exame, reforçando a importância do letramento em saúde e da construção de vínculos de confiança entre usuárias e profissionais (Baia, 2018; Campos; Castro; Cavalieri, 2017). Assim, a enfermagem desempenha papel estratégico não apenas no aspecto técnico da coleta citológica, mas também na mediação social e educacional, consolidando-se como agente central na prevenção e detecção precoce do câncer cervical.

Por outro lado, a literatura aponta que a adesão ao exame de citologia ainda é influenciada por múltiplos fatores inter-relacionados, incluindo barreiras individuais, sociais e estruturais. Entre os aspectos individuais, destacam-se o medo do procedimento, o desconhecimento sobre a doença e o constrangimento decorrente da intimidade envolvida na coleta (Ferreira, 2009; Dias et al., 2017).

Fatores sociais, como suporte familiar e redes de referência, bem como a influência de normas culturais e religiosas, também exercem papel determinante na decisão de realizar ou não o exame (Campos, 2018).

Paralelamente, aspectos estruturais, como a disponibilidade de unidades de saúde, a qualificação dos profissionais e a organização dos serviços, refletem diretamente na efetividade do rastreamento, podendo tanto facilitar quanto dificultar o acesso (Barbosa, 2017; Silva et al., 2020). Tais evidências indicam que a prevenção do câncer do colo do útero não pode ser compreendida isoladamente como um procedimento técnico, mas sim como um fenômeno multifatorial que exige articulação entre políticas públicas, prática profissional e adesão comunitária.

A análise integrada da literatura revela, ainda, que políticas públicas direcionadas à prevenção do câncer cervical e à ampliação do acesso ao Papanicolau apresentam impactos diferenciados em função das estratégias implementadas em cada contexto. Por exemplo, ações que combinam educação em saúde, busca ativa e acompanhamento sistemático demonstram maior efetividade na adesão das mulheres, especialmente aquelas em faixa etária mais avançada ou pertencentes a estratos sociais vulneráveis (Nazaré et al., 2020; Amaral; Gonçalves; Silveira, 2017).

Além disso, o emprego de protocolos padronizados e a capacitação contínua dos profissionais de enfermagem são apontados como fatores críticos para assegurar a qualidade da coleta e a confiabilidade dos resultados laboratoriais (Alencar et al., 2021; Lopes; Alves; Silva, 2022).

Em consonância, estudos ressaltam que a articulação entre recomendações normativas e práticas educativas efetivas constitui um modelo promissor para a redução de desigualdades regionais e sociais, ao mesmo tempo em que fortalece a percepção de cuidado e proteção entre as usuárias (Santos et al., 2019; Medeiros et al., 2021).

A prevenção do câncer de colo do útero na atenção primária demanda uma abordagem multidimensional, que integre conhecimento técnico, habilidades educativas e sensibilidade às condições socioculturais das mulheres. A literatura converge na indicação de que a atuação do enfermeiro, quando articulada com políticas públicas e estratégias de acompanhamento individual e comunitário, potencializa a detecção precoce e contribui para a redução da mortalidade associada à doença (Lopes; Alves; Silva, 2022; Nazaré et al., 2020).

Esta perspectiva evidencia que a atenção à saúde da mulher deve transcender o exame isolado, incorporando ações educativas, intervenção social e monitoramento contínuo, consolidando um modelo de cuidado integral, capaz de responder às complexidades do contexto brasileiro e às demandas específicas das populações mais vulneráveis (Brasil, 2013; Inca, 2016).

O câncer do colo do útero é considerado um problema de saúde pública relevante, sendo uma das principais causas de mortalidade entre mulheres em idade produtiva, principalmente nos países em desenvolvimento. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca, 2016), a detecção precoce por meio do exame de Papanicolau é uma estratégia eficaz para reduzir a incidência e mortalidade associadas à doença. A atenção primária à saúde (APS) desempenha papel central na promoção do rastreamento e na educação das mulheres, permitindo a identificação precoce de lesões precursoras e contribuindo para a prevenção do câncer cervical.

A adesão das mulheres ao exame de Papanicolau, entretanto, ainda enfrenta diversos desafios, incluindo fatores socioeconômicos, culturais e psicológicos. Estudos apontam que sentimentos de medo, vergonha e desconforto durante o exame podem limitar a procura pelo procedimento, além da falta de conhecimento sobre a importância do rastreamento preventivo (Acosta et al., 2017; Dias et al., 2017; Baia, 2018).

Barreto, Oliveira e Gomes (2018) ressaltam que intervenções educativas direcionadas a grupos específicos, como mulheres idosas, têm se mostrado eficazes para aumentar a adesão e reduzir barreiras emocionais e informacionais.

A atuação do enfermeiro na APS é estratégica para enfrentar tais barreiras. Silva et al. (2017) destacam que a promoção da saúde, orientação adequada sobre o exame e acolhimento humanizado favorecem o engajamento das mulheres nos programas de prevenção.

Além disso, Lopes, Alves e Silva (2022) enfatizam a importância do enfermeiro como agente ativo na busca ativa, acompanhamento contínuo e construção de vínculo com a comunidade, garantindo que mulheres em grupos de risco ou com baixa cobertura de exames sejam contempladas.

A educação em saúde voltada à prevenção do câncer do colo uterino deve considerar o contexto sociocultural das mulheres atendidas. Campos (2018) demonstra que, para algumas mulheres, a realização do Papanicolau não é apenas um ato preventivo, mas um evento carregado de significados relacionados à identidade feminina, experiências anteriores com o sistema de saúde e expectativas sociais. Nesse sentido, estratégias educativas que respeitem as singularidades culturais e promovam o letramento em saúde têm maior potencial de adesão (Nóbrega et al., 2021).

Outro aspecto relevante refere-se à importância da cobertura adequada do exame em diferentes regiões e faixas etárias. Barbosa (2017) aponta que diferenças regionais e socioeconômicas ainda impactam a cobertura do Papanicolau no Brasil, sendo necessário que políticas públicas promovam a equidade no acesso, considerando fatores como idade, escolaridade e renda. O Plano Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero, do INCA (2015), prevê a ampliação da cobertura de exames preventivos, a capacitação de profissionais e a implementação de ações educativas contínuas como medidas fundamentais para reduzir desigualdades.

A literatura também destaca a relevância do rastreamento combinado com a vacinação contra o HPV como estratégia preventiva integrada. Zardo et al. (2014) apontam que a vacina representa uma ferramenta complementar ao exame citopatológico, reduzindo a incidência de infecção pelo HPV e, consequentemente, de lesões precursoras de câncer cervical. Carvalho et al. (2020) reforçam que a associação entre métodos de rastreamento convencionais e vacinação aumenta significativamente a eficácia das políticas públicas voltadas à saúde da mulher.

O engajamento comunitário e o acompanhamento longitudinal das mulheres são estratégias que fortalecem a prevenção. Nazaré et al. (2020) evidenciam que a busca ativa promovida pelo enfermeiro permite identificar mulheres que não realizam o exame regularmente, facilitando intervenções pontuais e educativas.

Além disso, Santos et al. (2019) destacam que ações contínuas e sistemáticas, aliadas ao monitoramento de indicadores de cobertura, potencializam o impacto das políticas de prevenção e contribuem para a redução da mortalidade por câncer do colo uterino.

A capacitação e atualização constante dos profissionais de enfermagem também são fatores determinantes para a eficácia das estratégias preventivas. Queiroz, Silva e Oliveira (2023) enfatizam que o conhecimento técnico-científico, aliado a habilidades de comunicação e empatia, permite que o enfermeiro conduza o exame com segurança, conforto e orientação adequada, reforçando o vínculo de confiança com a paciente. Além disso, a integração entre serviços de atenção primária, laboratórios de citologia e centros especializados garante agilidade no diagnóstico e tratamento precoce, minimizando complicações.

A análise dos estudos revisados permite observar que a prevenção e o controle do câncer do colo do útero, apesar de amplamente debatidos na literatura e respaldados por políticas públicas consolidadas, ainda enfrentam entraves estruturais, sociais e institucionais que limitam sua efetividade. A Atenção Primária à Saúde (APS), enquanto porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS), é o cenário onde se concentram as principais estratégias de prevenção e rastreamento. No entanto, a efetividade dessas ações depende da integração entre diretrizes ministeriais e práticas locais de cuidado, especialmente na atuação da equipe de enfermagem, que desempenha papel central na operacionalização e humanização dessas ações (Lopes; Alves; Silva, 2022; Medeiros et al., 2021).

Em um plano estrutural, nota-se que a cobertura do exame citopatológico permanece aquém do ideal em diversas regiões brasileiras, com diferenças expressivas entre áreas urbanas e rurais. Barbosa (2017) e Nazaré et al. (2020) destacam que as desigualdades regionais e socioeconômicas interferem diretamente na adesão das mulheres ao exame, revelando que políticas públicas de caráter universal ainda não garantem equidade no acesso.

Essa desigualdade evidencia o paradoxo entre a amplitude das estratégias normativas e as limitações da sua execução prática, frequentemente condicionada à disponibilidade de recursos humanos, infraestrutura e logística laboratorial. Tal constatação reafirma que a universalidade formal do SUS nem sempre se traduz em universalidade real, especialmente em contextos de vulnerabilidade social, onde o rastreamento preventivo se confronta com barreiras de ordem material e simbólica (Barbosa, 2017; Campos, 2018).

Sob a perspectiva da atuação profissional, a enfermagem e protagonista na prevenção do câncer cervical, articulando ações clínicas e educativas. No entanto, essa centralidade também implica desafios, como a sobrecarga de tarefas e a necessidade de capacitação contínua. Queiroz, Silva e Oliveira (2023) ressaltam que a competência técnica, aliada à comunicação empática, é essencial para a qualidade do atendimento e para a construção do vínculo entre profissional e usuária. Contudo, em muitos contextos, a ausência de programas permanentes de formação e o acúmulo de demandas assistenciais comprometem a atuação pedagógica do enfermeiro, reduzindo o tempo disponível para atividades educativas e acompanhamento sistemático. Essa limitação fragiliza o papel do enfermeiro como educador em saúde, o que repercute negativamente na adesão das mulheres às ações preventivas.

Do ponto de vista sociocultural, os estudos analisados revelam que o medo, a vergonha e o constrangimento durante a coleta do exame permanecem como barreiras significativas (Acosta et al., 2017; Baia, 2018).

Esses fatores subjetivos não podem ser negligenciados, pois expressam dimensões simbólicas de gênero, corpo e sexualidade que perpassam o cuidado em saúde. Campos (2018) observa que, em determinados grupos, o exame Papanicolau é interpretado não apenas como prática preventiva, mas como experiência de exposição íntima, associada a sentimentos de vulnerabilidade. Nesse sentido, a humanização da coleta e a escuta qualificada assumem papel determinante na superação dessas resistências, evidenciando que a dimensão técnica da prevenção deve ser indissociável da dimensão relacional e ética. A literatura aponta que quanto mais empático e acolhedor for o profissional, maior tende a ser a adesão e o retorno periódico das usuárias (Nóbrega et al., 2021).

Ademais, o impacto das políticas públicas sobre a prevenção do câncer cervical é condicionado pela efetividade das estratégias de comunicação e educação em saúde. Santos et al. (2019) e Ramos, Sanchez e Santos (2016) enfatizam que campanhas pontuais, embora relevantes, não substituem a necessidade de programas contínuos e territorializados, que considerem o perfil socioeconômico e cultural das comunidades.

A educação em saúde, quando pautada em metodologias participativas e dialógicas, contribui para o empoderamento feminino e para a construção de uma consciência crítica sobre o autocuidado. Assim, o enfermeiro assume papel político e pedagógico, promovendo o protagonismo das mulheres no processo de prevenção. Essa abordagem supera o modelo biomédico centrado no procedimento e adota uma perspectiva emancipatória de saúde, em consonância com os princípios do SUS e com as diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Brasil, 2013).

Outro aspecto relevante refere-se à articulação entre o rastreamento citopatológico e as políticas de imunização. Zardo et al. (2014) e Carvalho et al. (2020) demonstram que a vacinação contra o HPV, integrada à detecção precoce, constitui estratégia ampliada de prevenção, capaz de reduzir significativamente a incidência de lesões precursoras e, consequentemente, de câncer invasivo. Entretanto, a cobertura vacinal ainda é irregular, especialmente em áreas com menor acesso à informação e maior resistência cultural. A ausência de campanhas integradas e de acompanhamento sistemático dos esquemas vacinais compromete o alcance dos resultados esperados. Isso reforça a necessidade de uma abordagem intersetorial, em que as equipes de enfermagem atuem como mediadoras entre as políticas de imunização e os programas de rastreamento, garantindo continuidade e adesão.

Ao se considerar a integralidade do cuidado, torna-se evidente que a prevenção do câncer de colo do útero exige mais do que a execução de procedimentos técnicos. Exige o reconhecimento das condições sociais e culturais que moldam o comportamento das mulheres diante da prevenção e o fortalecimento das redes de apoio e acolhimento. Lopes, Alves e Silva (2022) e Medeiros et al. (2021) defendem que a construção de vínculos de confiança entre profissionais e comunidade é um dos pilares da adesão e da continuidade do cuidado. Nessa perspectiva, o enfermeiro deixa de ser apenas executor de protocolos para se tornar agente transformador, cuja prática incorpora sensibilidade, escuta ativa e compromisso ético com a promoção da saúde e a redução das desigualdades.

3. METODOLOGIA

A metodologia deste estudo foi desenvolvida a partir de uma revisão integrativa da literatura, estruturada de modo a identificar evidências científicas relacionadas à prevenção do câncer do colo do útero, à realização do exame citopatológico e à atuação da enfermagem na Atenção Primária à Saúde. As buscas foram realizadas nas bases PubMed, SciELO, LILACS, Google Acadêmico e na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), incluindo também documentos oficiais do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer. A utilização dessas plataformas permitiu reunir estudos epidemiológicos, produções analíticas e diretrizes institucionais que abordam tanto aspectos clínicos quanto organizacionais e educativos da prevenção do câncer cervical.

O recorte temporal adotado abrangeu exclusivamente o período de 2009 a 2025, abrangendo tanto publicações recentes quanto estudos fundamentais que contribuíram para a consolidação das práticas de rastreamento e prevenção ao longo dos últimos anos. Essa delimitação temporal possibilitou apreender a evolução das políticas públicas, das recomendações técnicas e dos processos de trabalho da enfermagem no cuidado à saúde da mulher, garantindo ao mesmo tempo a atualidade e a profundidade histórica necessárias para a compreensão do tema.

Para a busca dos estudos, utilizaram-se descritores em português e inglês, incluindo câncer do colo do útero, prevenção, citologia, exame de Papanicolau, enfermagem, atenção primária, educação em saúde e adesão. Foram incluídos artigos disponíveis na íntegra, estudos desenvolvidos com seres humanos, pesquisas que abordassem diretamente o rastreamento do câncer cervical, a execução do exame citopatológico ou a atuação da enfermagem na Atenção Primária, além de documentos oficiais considerados essenciais para contextualizar o problema. Foram excluídos artigos duplicados, materiais que não guardavam relação com os descritores utilizados, estudos referentes a outras neoplasias, publicações sem rigor metodológico e revisões sem dados aplicáveis aos objetivos deste estudo.

A busca inicial resultou em 110 publicações. Após a leitura dos títulos e resumos, 50 estudos foram excluídos por não apresentarem relação com a temática central. Em seguida, a leitura integral dos textos selecionados levou à exclusão de mais 31 estudos, seja pela inadequação metodológica, pela falta de alinhamento com o objeto da revisão ou pela ausência de          dados relevantes para análise. Assim, 29 artigos compuseram o corpus final, subsidiando a discussão sobre a importância do exame citopatológico, os fatores que influenciam a adesão ao rastreamento e a centralidade da enfermagem na promoção da saúde da mulher. Todo o processo metodológico foi conduzido com rigor científico, garantindo clareza, coerência e fidelidade às evidências analisadas.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foi possível identificar tendências convergentes na literatura acerca da prevenção do câncer do colo do útero e da atuação da enfermagem na Atenção Primária à Saúde. Os estudos analisados abordam aspectos que vão desde a importância do exame citopatológico para a detecção precoce até os desafios estruturais, sociais e organizacionais que influenciam a adesão ao rastreamento e a efetividade das políticas públicas. Para sistematizar esses achados e facilitar a compreensão das principais contribuições teóricas, elaborou-se um quadro analítico composto por três categorias centrais, permitindo visualizar, de forma organizada, as definições e os autores que fundamentam cada eixo temático identificado no referencial.

Quadro 1 – Categorias de Análise Identificadas na Revisão da Literatura

Categoria de AnáliseDefinição da CategoriaAutores que abordam o tema
1. Importância do rastreamento e detecção precoce do câncer do colo do úteroEsta categoria refere-se ao papel central do exame citopatológico (Papanicolau) como estratégia essencial de rastreamento para identificação precoce de lesões precursoras do câncer cervical. A literatura reforça que sua realização periódica permite detectar alterações iniciais, reduz a progressão para carcinoma invasivo, melhora o prognóstico e diminui a mortalidade feminina. Inclui ainda a discussão sobre a necessidade de qualidade técnica, cobertura adequada e articulação entre diretrizes normativas, políticas públicas e ações de educação em saúde.Silva et al. (2023); Teixeira et al. (2024); Correa et al. (2012); Costa et al. (2021); Discacciati; Barboza; Zeferino (2014); Lima et al. (2020); Bezerra (2021); Brasil (2013; 2015); Inca (2016); Santos et al. (2019); Amaral; Gonçalves; Silveira (2017); Lopes; Alves; Silva (2022); Barbosa (2017); Onofre; Vieira; Bueno (2019); Nazaré et al. (2020);     Dias     et     al.     (2017); Medeiros et al. (2021); Oliveira et al. (2019); Nóbrega et al. (2021); Campos; Castro; Cavalieri (2017); Ferreira (2009); Acosta et al. (2017);    Baia    (2018);    Barreto; Oliveira; Gomes (2018)
2. Fatores que influenciam a adesão ao exame e desigualdades no acessoEsta categoria aborda os múltiplos fatores individuais, sociais, culturais e estruturais que influenciam a adesão das mulheres ao exame de Papanicolau. Inclui barreiras como medo, vergonha e desconhecimento, bem como desigualdades socioeconômicas e geográficas que limitam a cobertura do rastreamento. Também contempla evidências de disparidades regionais, fragilidades na organização dos serviços de saúde e influência das condições socioculturais nas decisões das mulheres.Ferreira (2009); Dias et al. (2017); Acosta et al. (2017); Baia (2018); Campos (2018); Onofre; Vieira; Bueno (2019); Silva et al. (2020); Barbosa (2017); Bezerra (2021); Nazaré et al. (2020); Barreto; Oliveira; Gomes (2018)
3. Papel da enfermagem e estratégias educativas na prevenção e cuidadoEsta categoria descreve a atuação da enfermagem na Atenção Primária à Saúde no incentivo ao rastreamento, na busca ativa, na realização do exame e na educação em saúde. A literatura destaca que o enfermeiro exerce papel decisivo ao orientar, reduzir barreiras emocionais, promover vínculo com as usuárias, sistematizar o cuidado e integrar ações multiprofissionais. Inclui também o uso de tecnologias digitais, acompanhamento longitudinal, grupos educativos e capacitação permanente como estratégias que ampliam a efetividade da prevenção do câncer cervicalFerreira et al. (2023); Brito et al. (2022); Souza et al. (2021); Silva et al. (2020); Ribeiro et al. (2023); Nascimento et al. (2021); Dias et al. (2017); Medeiros et al. (2021); Oliveira et al. (2019); Nóbrega et al. (2021); Lopes; Alves; Silva (2022); Santos et al. (2019); Baia (2018); Campos; Castro; Cavalieri (2017); Queiroz; Silva; Oliveira (2023); Nazaré et al. (2020)

Evidencia importantes convergências com a literatura científica existente, especialmente no que se refere à prevenção do câncer do colo do útero e ao papel estratégico da Atenção Primária à Saúde. Os achados reforçam que o exame citopatológico permanece como a principal ferramenta de rastreamento, permitindo a detecção precoce de lesões precursoras e contribuindo para a redução da mortalidade feminina. Esses resultados dialogam com autores como Silva et al. (2023), que destacam a efetividade do exame quando realizado periodicamente e com qualidade técnica adequada.

Ao comparar os resultados obtidos com estudos prévios, observa-se grande consonância quanto à persistência de desigualdades no acesso ao exame, o que prejudica a efetividade das ações preventivas. Teixeira et al. (2024) apontam que a cobertura do rastreamento no Brasil permanece aquém do ideal, uma realidade também evidenciada neste estudo, sugerindo que a simples oferta do exame não garante sua realização de forma sistemática. Assim, os resultados aqui apresentados reafirmam a importância da organização dos serviços, do seguimento adequado e da articulação entre os diferentes níveis de atenção.

A análise revela que a realização periódica do exame citopatológico, quando integrada a um fluxo assistencial organizado, contribui diretamente para a redução de casos de carcinoma invasivo e para o aumento da identificação de lesões de baixo e médio grau, conforme demonstrado por Correa et al. (2012) e Costa et al. (2021). No entanto, também se identifica que a efetividade desses processos pode variar de acordo com as características sociodemográficas e regionais, o que reforça a necessidade de políticas de saúde mais equitativas.

Os resultados ainda dialogam com estudos que abordam a importância do cuidado contínuo e dos encaminhamentos oportunos. Lima et al. (2020) demonstram que, embora o exame citopatológico seja um recurso imprescindível, seu impacto é limitado quando o sistema de referência e contrarreferência é fragilizado. Os achados desta pesquisa corroboram essa afirmação, destacando que atrasos no seguimento dos casos alterados configuram um dos principais entraves à estratégia de prevenção.

Outro aspecto da análise é a influência de fatores individuais, sociais e culturais na adesão das mulheres ao exame. Tal resultado é amplamente discutido por autores como Dias et al. (2017), Baia (2018) e Campos (2018), que apontam que o medo, o desconhecimento, o constrangimento e crenças culturais influenciam significativamente a decisão de realizar o exame. A presente pesquisa confirma essas barreiras, reforçando a necessidade de abordagens educativas sensíveis ao contexto sociocultural.

Os resultados relacionados às ações de enfermagem mostram grande similaridade com os estudos de Ferreira et al. (2023), Brito et al. (2022) e Souza et al. (2021), especialmente no que diz respeito ao papel do enfermeiro na promoção da educação em saúde, no acompanhamento clínico sistematizado e no uso de tecnologias para ampliar o alcance do cuidado. A literatura destaca que intervenções educativas bem conduzidas aumentam a adesão ao exame, melhoram a percepção de risco e fortalecem o autocuidado, aspectos também evidenciados nesta pesquisa.

A análise integrada dos estudos demonstra, entretanto, que persistem limitações estruturais no âmbito dos serviços de saúde. A sobrecarga de trabalho, a falta de recursos humanos, a rotatividade profissional e a insuficiência de capacitação continuada comprometem a consolidação de estratégias efetivas de prevenção, como apontam Nascimento et al. (2021). Esses desafios também surgem nos dados analisados, indicando que melhorias na gestão e no suporte institucional são indispensáveis para o fortalecimento da atuação da enfermagem.

Apesar das contribuições relevantes deste estudo, algumas limitações devem ser consideradas. A análise baseou-se em recortes específicos, o que pode limitar a generalização dos resultados para outros contextos. Além disso, fatores como lacunas nos registros, dificuldade de acesso a dados atualizados e diferenças regionais podem ter influenciado a interpretação dos achados. Pesquisas futuras poderiam aprofundar a compreensão das relações entre fatores socioculturais e adesão ao exame, bem como avaliar o impacto de tecnologias emergentes na promoção da prevenção.

Os resultados apresentados, quando interpretados à luz da literatura existente, demonstram que a prevenção do câncer do colo do útero exige mais do que a simples realização do exame. É necessária a integração entre práticas educativas, sistemas organizados de rastreamento, políticas públicas consistentes e atuação clínica qualificada. A discussão aqui desenvolvida reforça que o avanço do conhecimento e da prática depende da articulação entre esses elementos e da superação das desigualdades estruturais que ainda permeiam a atenção à saúde da mulher.

5. CONCLUSÃO

A análise da literatura permitiu constatar que o exame citopatológico é uma ferramenta essencial para a prevenção do câncer do colo do útero, sendo capaz de detectar precocemente alterações celulares que antecedem a forma invasiva da doença. Entretanto, a eficácia dessa estratégia depende da adesão regular das mulheres e da qualidade da assistência prestada pelos profissionais de saúde.

Observa-se que o papel do enfermeiro é determinante na efetivação das ações preventivas, pois sua atuação combina aspectos técnicos e educativos, fundamentais para o fortalecimento do vínculo entre os serviços de saúde e a comunidade. A humanização no atendimento, o acolhimento e a escuta ativa são elementos que favorecem a confiança das usuárias e o retorno periódico para o exame.

Conclui-se que a prevenção do câncer cervical requer uma abordagem integrada, que envolva políticas públicas eficazes, profissionais capacitados e estratégias permanentes de educação em saúde. O enfermeiro, nesse contexto, é um agente de transformação social, cuja atuação contribui significativamente para a redução das desigualdades no acesso à prevenção e para a promoção da saúde da mulher de forma integral e contínua.

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