THE IMPORTANCE OF BREASTFEEDING FOR THE CRANIOFACIAL DEVELOPMENT OF THE CHILD
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202506131357
Gilmara Guedes Rabello
Sarita Hauck Menezes Pinto
Camila Cristina Gregório de Assis
Larissa Costa Freitas
Fernanda Campos Machado
Raphaella Barcellos Fernandes
Resumo
Nos primeiros meses de vida o aleitamento materno é de fundamental importância para o desenvolvimento e manutenção da saúde do bebê. Sabe-se que o aleitamento materno possui um fator nutricional insubstituível, contribui para o fortalecimento da musculatura através do hábito de sucção, promove um selamento labial e o desenvolvimento craniofacial adequado. Este estudo se propôs a entender a relação entre o aleitamento materno e o desenvolvimento craniofacial da criança, revisando e analisando artigos na literatura. Para o desenvolvimento desta revisão de literatura foi realizada uma busca de artigos em bancos de dados do PUBMED. O estudo indicou que a literatura científica contém opiniões controversas sobre sua influência no desenvolvimento do sistema maxilofacial devido à escassez de pesquisa. Visto que alguns autores defendem que as anomalias esqueléticas e dentoalveolares são determinadas geneticamente, em contrapartida, outros apontam que quando se introduz outro tipo de alimento, o bebê pode desenvolver o hábito de sucção não nutritiva, devido a sua necessidade de sucção, que podem acarretar na alteração da oclusão normal com o surgimento de sobremordida, mordida aberta, inclinação vestibular dos incisivos centrais e laterais superiores, mordida cruzada posterior, redução na dimensão transversal da maxila, problemas na respiração e no desenvolvimento muscular. Portanto, é imprescindível avaliar a relação entre os fenótipos de pais e filhos e os métodos de alimentação. De modo que foi observado que o maior período de amamentação diminui o risco de hábitos de sucção não nutritivos.
Palavras-chave: Aleitamento materno. Desenvolvimento craniofacial. Sucção nutritiva. Sucção não nutritiva. Hábitos deletérios.
1. INTRODUÇÃO
Nos primeiros meses de vida o aleitamento materno é de fundamental importância para o desenvolvimento e manutenção da saúde do bebê. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade. O leite materno é o melhor alimento para o lactente fornecendo toda nutrição, estimulando o amadurecimento do sistema imunológico, protegendo de alergias, distúrbios digestivos e doenças respiratórias (NARBUTYLE et al.; 2013). Além de estabelecer um laço emocional entre mãe e filho. Desempenha um papel fundamental no sistema estomatognático, pelo fato de que o hábito da sucção gera um desenvolvimento muscular da face, um selamento da cavidade bucal adequado, correta posição da língua e do lábio e desenvolvimento anteroposterior da mandíbula (ARAÙJO et al.; 2019).
O aleitamento materno é citado na literatura científica como um dos fatores ambientais responsáveis pelo correto desenvolvimento das estruturas dentofaciais. De modo que, o crescimento e o desenvolvimento craniofacial são afetados por estímulos funcionais como a sucção, mastigação, deglutição e respiração. A sucção nutritiva, que inclui aleitamento materno e mamadeira, e sucção não nutritiva, que inclui chupeta e sucção digital, têm sido associadas ao crescimento e desenvolvimento do complexo maxilomandibular. A ausência ou curta duração da amamentação resulta na criança fazendo menos exercícios orais, isso leva ao subdesenvolvimento dos músculos, postura incorreta do lábio e da língua, e a aquisição de hábitos bucais, todos os quais podem estar associados a más oclusões (CHEN et al.; 2015).
A sucção não nutritiva como, por exemplo, o ato de sugar os lábios, língua, bochecha, sucção de digital e chupeta, é considerada um hábito deletério que assim como o aleitamento artificial por mamadeira são capazes de alterar a oclusão normal. A posição incorreta dos músculos e da língua durante a sucção perturba a dinâmica e o equilíbrio entre língua, bochecha e lábios. Tais características levam a uma pressão não fisiológica na cavidade oral que pode restringir o crescimento transverso normal do palato e causar alinhamento inadequado dos dentes posteriormente (NARBUTYLE et al.; 2013).
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os primeiros meses de vida extrauterina é um período de grandes oportunidades na formação da criança com consequências para a vida adulta, nesta fase se delineia condições propícias ou adversas para o desenvolvimento físico, psíquico e emocional da criança. Sabe-se que a amamentação é a fonte de alimento mais segura para o lactente até os seis meses de idade, proporciona ao bebê benefícios a curto e longo prazo, uma vez que possui valor nutricional insubstituível, estimula o amadurecimento do sistema imunológico através das imunoglobulinas, diminui os quadros de alergias e gastroenterite, contribui para o fortalecimento da musculatura através do hábito de sucção, promove um selamento labial e o desenvolvimento craniofacial adequado (ARAÚJO et al; 2019).
A amamentação natural é importante para o desenvolvimento normal da criança, representa o fator inicial do bom desenvolvimento dentofacial, propiciando a obtenção de uma oclusão dentária normal e, consequentemente, uma mastigação correta no futuro. Estimula também o crescimento anteroposterior da mandíbula. Ademais, determina uma relação adequada entre estruturas duras e moles do aparelho estomatognático, permitindo tonicidade e postura correta da língua, com lábios em perfeito vedamento, favorecendo o estabelecimento da respiração nasal. Assim, promove um bom desenvolvimento das estruturas orais envolvidas no ato de sugar, contribuindo para uma boa fonoarticulação, mastigação, deglutição e respiração. Diferentemente, da amamentação artificial, na qual não supre essas necessidades (MOIMAZ et al; 2008).
A associação entre a forma de sucção nutritiva e hábitos de sucção não nutritivos tem sido apontada por vários autores. De modo que, os primeiros 33 meses é um período de grandes oportunidades na formação da criança, nesta fase constrói condições favoráveis ou desfavoráveis para o desenvolvimento físico, psíquico e emocional da criança (ARAÚJO et al; 2019). Os hábitos se instalam em maior frequência em crianças que não tiveram amamentação natural, pois o impulso neural de sucção está presente desde a vida intrauterina e é normal na criança (NARBUTYTE et al; 2013).
O aleitamento materno, além de alimentar o bebê, tem a função de satisfazer a sucção, devido à ação dos músculos exercidos durante a mamada. Por outro lado, quando a criança é aleitada por mamadeiras, o fluxo de leite é maior do que na amamentação natural, portanto, a criança se nutre mais rapidamente e com menos esforço. E o prazer emocional com relação ao impulso da sucção não é atingido, e a criança procura por substitutos como dedos, chupetas e objetos para satisfazer-se (MOIMAZ et al; 2008).
Com o intuito de suprir as necessidades de sucção durante o período de lactância, a criança tende a apegar-se a hábitos de sucção não nutritivos, como o de sucção de lábio, digital, chupeta e outros objetos. Todo hábito que perdurar após os três anos ou tiver alta frequência, será deletério e capaz de causar oclusopatias graves (MOIMAZ et al; 2013). A má oclusão é um distúrbio do desenvolvimento do sistema maxilofacial que tem impacto na reciprocidade dos maxilares, dentes e tecidos moles faciais, infligindo distúrbios funcionais e estéticos (NARBUTYTY et al; 2013).
Os hábitos orais nocivos e duradores e o uso de mamadeira podem influenciar negativamente na mordida. A tonicidade inadequada dos músculos bucinador e orbicular da boca, bem como a posição incorreta da língua durante a sucção perturba a dinâmica e o equilíbrio entre língua, bochecha e lábios levando ao desenvolvimento alterado das estruturas dentofaciais. As tetinas artificiais, como as utilizadas nas mamadeiras e chupetas, têm formato específico, além de serem feitas de materiais mais rígidos que o tecido mamário, tais características levam a uma pressão não fisiológica na cavidade oral que pode restringir o crescimento transverso normal do palato e causar alinhamento inadequado dos dentes posteriormente (NARBUTYTY et al; 2013).
A sucção não nutritiva é referida na literatura científica como fator etiológico das anomalias ortodônticas como a distorção do arco mandibular em V com redução de suas dimensões transversais, abóbada palatina profunda, aumento do arco mandibular, diminuição na sobreposição, que pode ir até a infra oclusão dos incisivos, aumento na sobressalência e mordida cruzada posterior. Levando a consequências que podem perdurar até a vida adulta, causando danos físicos, psíquicos e emocionais, que comprometem o bem-estar do indivíduo e a relação social (DIOUF et al; 2010).
3. METODOLOGIA
Para a revisão da literatura os estudos foram selecionados nas bases de dados PubMed (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/). As buscas incluíram as seguintes palavras-chaves, em inglês: breastfeeding, craniofacial development, nourishing suction, non-nutritive suction and deleterious habits. O objetivo foi a seleção de referências bibliográficas, preferencialmente internacionais, publicadas nos últimos quinze anos, livros de literatura básica e leitura complementar.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A odontologia atualmente está voltada a atuar preventivamente na atenção primária de saúde, desde a vida intrauterina até a erupção dos dentes, possibilitando o cirurgião-dentista agir precocemente e assim alcançar melhores resultados, evitando danos ao sistema estomatognático e prevenindo oclusopatias.
Considerando a importância do aleitamento materno em livre demanda e exclusivo até os seis meses de vida, pode-se observar nesta revisão de literatura que os estudos são unânimes no que se refere aos seus benefícios para a saúde do bebê, como a nutrição, diminuição da mortalidade infantil, melhoria dos aspectos psicológicos e benefícios para a saúde bucal, para Moimaz et al. (2008) são extremamente importante ações educativo-preventivas, multiprofissionais, com as gestantes incentivando a amamentação natural, a fim de promover maior conscientização acerca do tema.
Nesse viés, segundo Moimaz et al. (2013) o desmame precoce ou a amamentação artificial pode levar aos hábitos de sucção não nutritivos e a presença destes hábitos seria fator desencadeante de oclusopatias, tento uma relação indireta entre aleitamento materno e oclusopatias. A amamentação natural previne a instalação de hábitos deletérios e, consequentemente, de oclusopatias.
Em contraponto, Narbutyty et al. (2013) defende que as más oclusões esqueléticas podem ter uma forte predisposição genética, sendo útil avaliar a relação entre os fenótipos de pais e os métodos de alimentação.
Por outro lado, Alburquerque et. al. (2007) aponta que os hábitos de sucção não nutritivos podem ter origem emocional, causado pela falta de afeto materno, podem aprender o hábito por imitação dos atos dos pais, irmãos ou amigos e podem ser por fatores ligados às primeiras experiências alimentares.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que o aleitamento materno desempenha uma importante função no controle de hábitos deletérios, visto que, ele supre a necessidade de sucção da criança, o que evita a predisposição ao desenvolvimento da sucção não nutritiva tornando o desenvolvimento craniofacial harmônico desde infância até a vida adulta. Sendo assim, é de extrema importância que os futuros pais sejam informados sobre o impacto positivo da amamentação natural para o desenvolvimento físico, psíquico e emocional da criança.
REFERÊNCIAS
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