ESTUDO PILOTO: FORMAÇÃO EM PRIMEIROS SOCORROS PARA  PROFESSORES DE ARTES MARCIAIS

PILOT STUDY: FIRST AID TRAINING FOR MARTIAL ARTS INSTRUCTORS

ESTUDIO PILOTO: CAPACITACIÓN EN PRIMEROS AUXILIOS PARA  INSTRUCTORES DE ARTES MARCIALES 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202512212320


Gustavo Suzigan de Melo1
Letícia Rodrigues Teixeira da Silva2
Teresa Ontañon Barragan3
Fernanda Vianna Vacilotto Raupp4
Wagner de Aguiar Raupp5


Resumo 

O presente estudo teve como objetivo analisar a necessidade formação em primeiros socorros  dos professores de artes marciais da cidade de Ituiutaba/MG. A pesquisa justifica-se pela alta  incidência de lesões traumáticas nessas modalidades esportivas, como contusões, luxações, fraturas,  traumas faciais e desmaios decorrentes de nocautes, que podem comprometer o Sistema Nervoso  Central e o Sistema Nervoso Periférico, exigindo intervenção imediata e adequada.  Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa de natureza quali-quantitativa, realizada por meio da  aplicação de um questionário acompanhado do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)  aos professores participantes de um curso de extensão em primeiros socorros promovido pela  Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Foram coletadas informações sobre o nível de  conhecimento, escolaridade, formação profissional e percepção dos participantes quanto à  importância do preparo para situações de emergência. Os resultados parciais demonstraram que,  embora os professores reconheçam a relevância do tema, ainda existem lacunas significativas no  domínio prático e teórico dos procedimentos de primeiros socorros, especialmente entre os que não  possuem formação em Educação Física. Observou-se também que a maioria dos participantes não havia recebido treinamento prévio, reforçando a importância de ações educativas contínuas. Conclui-se que a Formação em primeiros socorros é fundamental para os profissionais de artes marciais, não  apenas para o atendimento imediato em casos de acidentes, mas também para a promoção de um  ambiente esportivo mais seguro e responsável. Destaca-se, ainda, a necessidade de cumprimento da  Lei nº 13.722/2018 (Lei Lucas), que torna obrigatória a formação básica em primeiros socorros para  profissionais e funcionários da educação, bem como para os ambientes de recreação. 

Palavras-chave: primeiros socorros; artes marciais; Formação profissional; Lei Lucas; educação física.

ABSTRACT 

This study aimed to evaluate the level of first aid training among martial arts instructors in the  city of Ituiutaba, Minas Gerais, Brazil. The research is justified by the high incidence of traumatic  injuries in these sports, such as contusions, dislocations, fractures, facial trauma, and fainting due to  knockouts, which may affect the Central Nervous System (CNS) and the Peripheral Nervous System  (PNS), requiring immediate and adequate intervention. Methodologically, this is a qualitative and  quantitative study carried out through the application of a questionnaire, accompanied by the Free  and Informed Consent Form (FICF), to instructors who participated in a first aid extension course  offered by the State University of Minas Gerais (UEMG). Data were collected on participants’ level of  knowledge, educational background, professional training, and perception of the importance of  preparedness for emergency situations. Partial results showed that although instructors recognize the  relevance of the topic, there are still significant gaps in their theoretical and practical mastery of first  aid procedures, especially among those without a degree in Physical Education. It was also observed  that most participants had not received previous training, highlighting the need for continuous  educational initiatives. It is concluded that first aid training is essential for martial arts professionals,  not only for immediate response to accidents but also to promote a safer and more responsible sports  environment. Furthermore, compliance with Law No. 13.722/2018 (Lucas Law), which makes basic first  aid training mandatory for education professionals, is emphasized. 

Keywords: first aid; martial arts; professional training; Lucas Law; physical education. 

RESUMEN 

Este estudio tuvo como objetivo evaluar el nivel de formación en primeros auxilios de los  instructores de artes marciales de la ciudad de Ituiutaba, Minas Gerais, Brasil. La investigación se  justifica por la alta incidencia de lesiones traumáticas en estas modalidades deportivas, tales como contusiones, luxaciones, fracturas, traumas faciales y desmayos provocados por nocauts, que pueden  afectar al Sistema Nervioso Central (SNC) y al Sistema Nervioso Periférico (SNP), requiriendo una  intervención inmediata y adecuada. Metodológicamente, se trata de una investigación de enfoque  cualitativo y cuantitativo, realizada mediante la aplicación de un cuestionario acompañado del  Término de Consentimiento Libre e Informado (TCLI), dirigido a los instructores participantes de un  curso de extensión en primeros auxilios ofrecido por la Universidad del Estado de Minas Gerais  (UEMG). Se recopilaron datos sobre el nivel de conocimiento, la formación académica, la capacitación  profesional y la percepción de los participantes respecto a la importancia de la preparación ante  situaciones de emergencia. Los resultados parciales demostraron que, aunque los instructores  reconocen la relevancia del tema, aún existen carencias significativas en el dominio teórico y práctico  de los procedimientos de primeros auxilios, especialmente entre aquellos que no poseen formación  en Educación Física. También se observó que la mayoría de los participantes no había recibido  capacitación previa, lo que refuerza la necesidad de acciones educativas continuas. Se concluye que la  capacitación en primeros auxilios es fundamental para los profesionales de las artes marciales, no solo  para la atención inmediata en casos de accidentes, sino también para la promoción de un entorno  deportivo más seguro y responsable. Asimismo, se destaca la importancia del cumplimiento de la Ley  N.º 13.722/2018 (Ley Lucas), que establece la obligatoriedad de la formación básica en primeros  auxilios para los profesionales de la educación. 

Palabras clave: primeros auxilios; artes marciales; capacitación profesional; Ley Lucas; educación física. 

1. INTRODUÇÃO 

A prática das artes marciais envolve, por natureza, elevado nível de contato físico, com  movimentos que incluem golpes, projeções e técnicas de imobilização. Esse cenário torna  frequentes as ocorrências de lesões, especialmente aquelas de caráter traumático, exigindo que  os profissionais responsáveis pela instrução estejam preparados para atuar diante de situações  de urgência. Entre as lesões mais comuns destacam-se traumas faciais, conforme descrito por  Lima et al. (2020), que apontam o trauma de face relacionado à prática esportiva como o quarto  mais prevalente entre as lesões esportivas. Forte et al. (2018) e Leme (2016) também  identificam incidência elevada de injúrias em regiões como joelho, ombro e cabeça/face em  diversas modalidades de luta. Traumas faciais, contusões, luxações e fraturas, conforme  apontado por diversos estudos, que relacionam as modalidades de combate a injúrias  recorrentes na cabeça, face, ombro e joelho. Além disso, traumas craniofaciais e impactos de alta intensidade apresentam potencial de afetar estruturas do Sistema Nervoso Central e  Periférico, podendo resultar em complicações graves quando não manejadas adequadamente. Nesse contexto, a formação em primeiros socorros, definida por Carvalho et al. (2020)  como o conjunto de ações imediatas prestadas a uma vítima de acidente ou mal súbito para  preservar a vida, evitar o agravamento do quadro e garantir condições até a chegada de ajuda  profissional, torna-se essencial na prática esportiva e, especialmente, nas modalidades de  combate, constitui-se como um elemento essencial para a prática segura das artes marciais. De  maneira mais ampla, trata-se de uma necessidade social, dado que o atendimento inicial  prestado a uma vítima pode determinar a evolução do quadro até a chegada da equipe  profissional de saúde. Segundo Carvalho et al. (2020), os primeiros socorros correspondem às  intervenções imediatas realizadas diante de um agravo súbito que coloque a vítima em risco de  morte. A importância dessa preparação se reforça com a promulgação da Lei nº 13.722/2018  (Lei Lucas), que instituiu a obrigatoriedade da formação básica em primeiros socorros para  profissionais da educação básica e de ambientes de recreação infantil, públicos e privados,  embora Santos et al. (2024) indiquem a existência de um despreparo generalizado na área. Diante desse cenário, emergem alguns questionamentos: profissionais que atuam no  ensino de artes marciais, que são responsáveis por contextos esportivos caracterizados por alta  incidência de lesões, possuem formação adequada para lidar com situações de urgência e  emergência? Neste cenário e considerando as evidências apresentadas por autores como Forte  et al. (2018), Leme (2016) e Lima et al. (2020) sobre a frequência de traumas nas artes marciais,  essa inquietação motivou o presente estudo, conduzido com uma turma composta  exclusivamente por professores de artes marciais que participaram de um Curso de Extensão Universitária em Suporte Básico de Vida (SBV), ofertado pela Universidade do Estado de  Minas Gerais (UEMG). 

A amostra foi composta por 10 mestres atuantes em diferentes modalidades de combate.  Considerando que as lutas apresentam índice elevado de injúrias, espera-se que esses  profissionais estejam aptos a reconhecer sinais de gravidade, prestar atendimento seguro e  encaminhar seus alunos ao serviço de saúde adequado, quando necessário. A formação em SBV  pode, portanto, contribuir tanto para a proteção dos praticantes quanto para a atuação mais  qualificada dos professores, que se tornam agentes essenciais no manejo inicial de acidentes  esportivos. 

Assim, este estudo, de caráter quali-quantitativo, buscou analisar a aplicabilidade da  formação em primeiros socorros na atuação desses profissionais, bem como refletir sobre a pertinência de programas formativos específicos para instrutores de artes marciais,  considerando as demandas particulares de suas práticas pedagógicas e esportivas. 

2. MATERIAIS E MÉTODOS 

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de abordagem quali-quantitativa, que,  conforme destaca Creswell (2014), permite integrar a profundidade interpretativa das análises  qualitativas com a objetividade dos dados quantitativos, resultando em uma compreensão mais  ampla do fenômeno investigado. De acordo com Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa  científica deve organizar-se de maneira sistemática e metódica, utilizando instrumentos  adequados para garantir a validade dos resultados, diretriz que foi seguida neste trabalho. 

Para a coleta de dados, utilizou-se um questionário estruturado composto por 09 questões objetivas. A aplicação ocorreu após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento  Livre e Esclarecido (TCLE) pelos participantes, todos professores de artes marciais  matriculados no Curso de Extensão Universitária em Suporte Básico de Vida (SBV), ofertado  pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). A participação foi voluntária e apenas  os indivíduos que concordaram com o TCLE responderam ao instrumento de pesquisa. 

O curso foi divulgado previamente em academias de artes marciais da cidade de  Ituiutaba/MG, com o objetivo de alcançar mestres e instrutores das modalidades de combate.  Embora a turma planejada comportasse 12 participantes, apenas 10 compareceram e  participaram da formação e pesquisa. 

A organização pedagógica do curso foi estruturada em duas etapas complementares. A  primeira parte, de caráter teórico, contemplou conteúdos fundamentais sobre prevenção de  acidentes e primeiros socorros, fundamentados nas diretrizes do Suporte Básico de Vida da  American Heart Association (2020) e nos protocolos do Prehospital Trauma Life Support, 10ª  edição (2023). Entre os temas abordados destacam-se: fundamentos históricos e concepções de  primeiros socorros; noções de vida e lesões que ameaçam a sobrevivência; diferenças entre  doenças clínicas e traumáticas; princípios básicos de epidemiologia aplicados à prática  esportiva; engenharia de segurança; mecanismos de lesões comuns em esportes de combate; e  protocolos de atendimento e segurança de cena.

Na segunda parte do curso, de natureza prática, os participantes realizaram atividades  supervisionadas envolvendo: manejo de vias aéreas em situações clínicas e traumáticas; posição  lateral de segurança; manobras de desengasgo; ventilação com Bolsa-Válvula-Máscara (BVM);  atendimento a convulsões e síncopes; controle de hemorragias internas e externas; execução de  Reanimação Cardiopulmonar (RCP); e uso do Desfibrilador Externo Automático (DEA).

O curso teve duração total de 8 horas, ofertado em formato intensivo, sendo realizado  em um dia. Os dados coletados foram organizados em planilha eletrônica, onde foram tabulados  e organizados, permitindo a análise descritiva dos achados em momento posterior à aplicação  do questionário. 

3. RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Segundo Moura et al (2024) o principal motivo da carência dos professores em  primeiros socorros se deve aos currículos acadêmicos de formação superior, pois a maioria dos cursos de licenciatura não oferece disciplinas relacionadas a este conteúdo. Os resultados da  pesquisa, mostram de forma correta esta afirmação, a Tabela 1 mostra que dos 10 participantes  da pesquisa, 7 possuem ensino superior, onde apenas 2 são formados como profissionais da  Educação Física.

Tabela 1 – Escolaridade dos entrevistados

Fonte: dados da pesquisa

Esse dado evidencia a escassez de profissionais com formação específica na área entre  os mestres de artes marciais que participaram da pesquisa. Assim, verifica-se que somente  28,57% dos entrevistados apresentam qualificação adequada para ministrar suas aulas de forma  segura e embasada nos princípios da Educação Física. Essa proporção, ilustrada na Tabela 2,  reforça a necessidade de maior incentivo à formação acadêmica voltada para o ensino  responsável das artes marciais.

Tabela 2 – Curso de graduação

Fonte: dados da pesquisa.

Os resultados demonstraram que a maioria dos professores de artes marciais avaliados  nesta amostra possui formação em áreas distintas da Educação Física ou de campos correlatos.  Foram identificados profissionais graduados em cursos como Química, Matemática, Análise e  Desenvolvimento de Sistemas, Direito e Administração, formações sem vínculo direto com as  ciências do movimento ou da motricidade humana. Essa diversidade de formações, embora  enriquecedora em alguns aspectos, acarreta uma limitação importante: a dificuldade de acesso  a conteúdos de primeiros socorros durante a formação inicial, uma vez que a maioria dos cursos  de graduação fora da área da saúde não contempla essa disciplina em sua grade curricular. Por  esse motivo, muitos desses profissionais não tiveram contato prévio com os fundamentos  básicos de primeiros socorros, como evidenciado na Tabela 3. 

Tabela 3 – No curso superior tinha a disciplina de primeiros socorros?

Fonte: dados da pesquisa.

Como apresentado na tabela, observa-se que a esmagadora maioria dos professores — equivalente a seis mestres de artes marciais, representando aproximadamente 85,71% da amostra analisada — afirmou não ter cursado a disciplina de primeiros socorros durante a  graduação. Em contrapartida, apenas um participante declarou ter recebido essa formação em  seu currículo acadêmico. Esse dado constitui um dos aspectos mais relevantes do estudo, pois  evidencia uma lacuna significativa na formação de nível superior dos professores de artes  marciais. Tal deficiência implica em maior vulnerabilidade nos ambientes de treino, uma vez  que muitos desses profissionais não possuem conhecimentos técnicos adequados para lidar com  situações de urgência e emergência, que são suscetíveis de ocorrer com frequência nas  academias de luta. 

Ao analisarmos os resultados de Pardo (2024) percebemos que uma pequena parte dos  entrevistados cursaram a disciplina de primeiros socorros no ensino superior, cenário este que  corrobora com os achados neste trabalho. 

De acordo com Lima et al (2020) é desejável que os treinadores desenvolvam e  estimulem uma prática esportiva mais segura, mantendo a saúde e a integridade dos atletas. Como observado nas tabelas anteriores, apenas um participante demonstrou ter recebido  acesso a essa informação em sua formação inicial. Diante deste fato torna-se relevante  questionar se houve acesso a este tipo de treinamento por cursos de educação continuada. O  que podemos constatar na tabela abaixo. 

Tabela 4 – Já realizou ou participou de cursos ou treinamentos sobre Suporte básico de vida?

Fonte: dados da pesquisa.

Constatamos através da tabela acima que 70% dos participantes da pesquisa já  participaram de cursos ou treinamentos sobre Suporte Básico de Vida (SBV), com isso podemos  perceber a preparação dos professores através de cursos de formação continuada. 

Conforme citado por Tojal (2011), a Federação Paulista de Judô (FPJ) estabelece, como  requisito obrigatório para a formação de técnicos de judô no estado de São Paulo, a formação em Socorros de Urgência aplicados à modalidade. Essa exigência tem como finalidade  promover um ambiente mais seguro para os praticantes, assegurando que os profissionais  estejam preparados para agir em situações de emergência. A obrigatoriedade da formação em  primeiros socorros é válida tanto para a participação em competições quanto para o exercício  da docência nas artes marciais. A realização de cursos de formação e atualização em  atendimentos de primeira resposta é, portanto, de extrema importância para os professores  dessas modalidades de contato, garantindo a atualização dos protocolos e das técnicas  empregadas, de modo a assegurar a integridade física dos alunos durante as aulas e  treinamentos. De acordo com Neto (2020), a Federação Paraibana de Judô (FEPAJU) realizou  uma pesquisa com judocas faixas-pretas filiados, com o objetivo de avaliar o nível de formação em primeiros socorros. Os resultados indicaram que aproximadamente 72,5% dos participantes  relataram ter participado de algum treinamento de Atendimento Pré-Hospitalar (APH)  oferecido pela própria federação. 

Diante a este cenário, foi questionado aos respondentes, que realizaram os cursos de  formação, há quanto tempo realizaram o curso de primeiros socorros e a tabela 5 esclarece a  dificuldade de acesso ou até mesmo a falta da procura pela formação específica. 

Tabela 5 – Há quanto tempo realizou o curso de primeiros socorros?

Fonte: dados da pesquisa.

Ao realizar a análise da tabela temos como constatação que os 7 professores de artes  marciais que realizaram treinamento, contudo há um dado crucial para ser considerado,  observamos que grande parte dos participantes da pesquisa, não tem o seu certificado dentro da  validade, seguindo o padrão da American Heart Association (AHA,), que é um padrão internacional, a certificação em Suporte Básico de Vida (SBV) tem sua validade por 2 anos, e  apenas 14,29% do grupo dos pesquisados, possuí seu certificado dentro da validade.  Concluindo que, os mestres de artes marciais, possuem treinamentos desatualizados de acordo  com o SBV (American Heart Association, 2020) e o PHTLS (Associação Nacional de Técnicos  de Emergência Médica, 2023). 

A partir da análise desta tabela, é possível observar e interpretar os dados referentes aos  treinamentos em que os participantes tiveram contato. Com base nessas informações, torna-se  pertinente questionar se esses profissionais se consideram aptos a prestar atendimentos de  primeiros socorros em emergências. Os resultados dessa avaliação estão apresentados na Tabela  6, a seguir. 

Tabela 6 – Você se sente apto a prestar primeiros socorros?

Fonte: dados da pesquisa.

Como apresentado na tabela acima, o 70% dos professores se sentem aptos para  ministrar atendimentos aos seus alunos caso seja necessário, mas podemos indagar se realmente  essa sensação de estar apto a prestar os primeiros atendimentos de urgência e emergência vai  estar correto e seguindo os protocolos de manuais renomados, como o PHTLS ou o SBV. O  devaneio de estar apto a realizar alguma atividade sem nunca ter estudado, é uma prática muito  grave, onde o profissional pode responder criminalmente por imperícia, caso venha a socorrer  algum aluno de forma errônea, podendo até mesmo debilitar essa vítima permanentemente.  

De acordo com os resultados de Pardo (2024) podemos comparar os resultados da sua  pesquisa, com o resultado da tabela 6, em que os membros pesquisados, possuem a noção  correta de que por não terem o curso de formação em primeiros socorros, não se sentem aptos  a realizar os primeiros socorros, diferente do cenário que foi apresentado nessa pesquisa. 

Diante a este cenário, temos que observar se os mestres de artes marciais já tiveram que  oferecer primeiros socorros em suas aulas ou nas competições em que estavam presentes, diante  isto, a tabela 7 ilustra os resultados desta problemática. 

Tabela 7 – Durante as aulas de artes marciais, treinos e competições você já precisou oferecer  primeiros socorros a alguém?

Fonte: dados da pesquisa.

Ao analisar a tabela supracitada, observamos que, cerca de 50% dos professores de artes  marciais presenciaram e ofereceram primeiros socorros aos alunos, durante as práticas diárias.  Assim, e de acordo com Pardo (2024), percebemos que os primeiros socorros são restritos aos  profissionais da saúde, não tendo interesse pelos demais segmentos da sociedade. 

Com a afirmação do autor acima, que defende de forma correta que o acesso a cursos  de formação em Atendimento Pré Hospitalar (APH), é mais facilitado aos profissionais da área  da saúde, com isso, a dificuldade de acesso por parte de outros atores sociais.  

Após a realização do curso, foi perguntado aos cinco professores que responderam que  já precisavam oferecer os primeiros socorros a alguém, se diante a situação de urgência e  emergência, conseguiram agir de forma correta e de acordo com os protocolos. Segue o  resultado na tabela 8: 

Tabela 8 – Com base no que você aprendeu hoje, você acredita que agiu de forma correta?

Fonte: dados da pesquisa.

De acordo com as respostas obtidas, os participantes demonstraram ter agido de forma  assertiva durante os atendimentos de primeiros socorros realizados. No entanto, é importante destacar que nem todos os profissionais de artes marciais apresentam essa mesma postura.  Conforme observado por Pardo (2024), alguns instrutores, diante da necessidade de prestar  socorro imediato, podem permanecer inertes, aguardando exclusivamente a chegada do  atendimento médico especializado. Diante desse panorama, torna-se relevante avaliar se, após  a participação no curso de formação, os mestres das modalidades de luta passaram a se sentir  aptos para realizar atendimentos de primeiros socorros. Esse questionamento foi direcionado  aos participantes da pesquisa e resultou em dados bastante positivos, apresentados na tabela a  seguir. 

Tabela 9 – Após a realização deste curso, você se sente apto a prestar os primeiros  socorros?

Fonte: dados da pesquisa.

Durante as pesquisas relacionadas ao tema, Neto (2020) destacou que o judô é  uma das modalidades esportivas com o maior número de praticantes em todo o mundo. Nesse  contexto, sentir-se apto, seguro e confiante para realizar atendimentos de primeiros socorros,  seja com seus próprios alunos ou com terceiros, torna-se um diferencial importante para o  mestre de artes marciais. Essa competência contribui significativamente para transformar o dojô  ou academia de lutas em um ambiente mais seguro e preparado para eventuais emergências.  Ainda segundo Neto (2020), observou-se que o procedimento de Parada Cardiorrespiratória  (PCR) é aquele em que os mestres faixas-pretas demonstram menor nível de confiança ao  intervir. No entanto, a PCR representa uma das condições mais graves que uma vítima pode  apresentar, uma vez que envolve a ausência de batimentos cardíacos e de ventilação espontânea.  Soma-se a isso o fato de que grande parte da população desconhece a relação correta entre as  compressões torácicas e as ventilações, um conhecimento essencial para aumentar as chances  de sobrevivência diante desse tipo de ocorrência.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Os resultados deste estudo evidenciam uma lacuna significativa na formação de  instrutores de artes marciais no que diz respeito aos primeiros socorros, temática indispensável  para a condução segura de práticas esportivas de combate. A constatação de que 85,71% dos  participantes não tiveram acesso à disciplina de primeiros socorros durante a graduação revela  um cenário preocupante, sobretudo diante da elevada incidência de lesões traumáticas que  caracterizam as modalidades de luta. Esse déficit leva muitos profissionais a recorrerem à  formação continuada como estratégia para suprir conhecimentos fundamentais à atuação  responsável. 

A importância do conhecimento em primeiros socorros transcende o campo da saúde e  constitui um saber essencial para qualquer cidadão. Trata-se de um conjunto de ações que  possibilitam intervenções imediatas e seguras até a chegada do atendimento especializado,  reduzindo significativamente o risco de sequelas graves e óbitos evitáveis. No caso de  professores e mestres de artes marciais, essa importância se amplifica: além de atuarem em  práticas que envolvem contato físico intenso e alta probabilidade de acidentes, esses  profissionais ocupam posição de referência e liderança diante de seus alunos. Dessa forma, o  domínio de técnicas básicas, como controle de hemorragias, manejo de contusões, identificação  de sinais de contusão, desobstrução de vias aéreas e estabilização inicial em casos de trauma,  torna-se indispensável para garantir um ambiente de treino seguro, ético e responsável. 

Os achados deste estudo dialogam também com a importância da Lei nº 13.722/2018,  ou Lei Lucas, que estabelece a obrigatoriedade da formação em primeiros socorros para  professores e trabalhadores da educação básica e instituições de recreação. No entanto, esta  pesquisa mostra que, apesar da regulamentação, a formação em primeiros socorros não alcança  de maneira equitativa profissionais inseridos em contextos esportivos não formais, como  academias e centros de artes marciais. Isso reforça a necessidade de estratégias formativas mais  amplas, que contemplem segmentos que convivem diariamente com riscos elevados de  acidentes. 

A análise do perfil dos participantes revela que cerca de 30% não possuem formação em nível superior e atuam com base predominantemente empírica. Entre os graduados, apenas  28,57% são formados em Educação Física, e apenas um deles cursou a disciplina de primeiros  socorros durante a formação inicial. Esses dados evidenciam a insuficiência estrutural dessa  temática nos currículos acadêmicos e reforçam a urgência de políticas que integrem os primeiros socorros como elemento obrigatório na trajetória profissional dos instrutores de  modalidades de combate. 

Nesse contexto, torna-se fundamental investir na formação, entendida como um  processo contínuo que vai além da noção restrita de “formação”. A formação envolve  construção coletiva de saberes, reflexão crítica sobre a prática e ampliação de competências,  alinhando teoria e experiência profissional. No caso das artes marciais, cursos formativos  específicos são particularmente relevantes, uma vez que essas modalidades expõem praticantes  a lesões de alta gravidade, como traumas craniofaciais, hemorragias e obstrução de vias aéreas.  O domínio técnico para reconhecer sinais de risco, aplicar intervenções imediatas e acionar o  suporte adequado pode ser determinante para a preservação da vida. 

Apesar dos resultados relevantes, o estudo apresenta limites que precisam ser  reconhecidos. O número reduzido de participantes restringe a generalização dos achados e  recomenda cautela na extrapolação dos resultados. Além disso, por se tratar de um estudo  piloto, o escopo das análises é inicial e funciona como uma primeira aproximação ao tema,  oferecendo um retrato preliminar, porém significativo, da realidade formativa dos instrutores  de artes marciais. 

Esses limites, contudo, também apontam caminhos promissores. Como perspectivas,  propõe-se a ampliação da amostra em futuras investigações, envolvendo profissionais de  diferentes regiões, modalidades e contextos de atuação. Além disso, vislumbra-se o  desenvolvimento de um programa de formação mais abrangente e aprofundado, com maior  carga horária e conteúdos teórico-práticos, que atenda a um número maior de professores e  responda às demandas emergentes do campo esportivo. 

Assim, este estudo constitui-se como um ponto de partida essencial, oferecendo indícios  relevantes e abrindo possibilidades concretas para a expansão das ações formativas,  contribuindo para a construção de uma cultura de prevenção, segurança e cuidado nas artes  marciais. 

Ademais, os dados obtidos nesta pesquisa evidenciam outra lacuna significativa na  formação profissional e na regulamentação do ensino das lutas e em muitas outras modalidades  esportivas. Constata-se que, a maioria dos mestres não tinha formação em educação física, e  estes atuam com base exclusivamente no conhecimento da modalidade, sem considerar  aspectos, pedagógicos, fisiológicos, cinesiológicos ou biomecânicos que são adquiridos  durante o curso. 

Apesar da regulamentação da educação física ser um campo de disputa constante,  percebemos que é comum termos modalidades esportivas sendo ministradas por instrutores sem  formação na área, e isto pode colocar em risco a integridade física da população ao delegar a  ciência do movimento humano e do esporte a pessoas sem a devida formação, fato, que foi  corroborado pelos resultados deste estudo. 

REFERÊNCIAS 

BRASIL. Lei nº 13.722, de 4 de outubro de 2018. Torna obrigatória a capacitação em noções  básicas de primeiros socorros de professores e funcionários de estabelecimentos de ensino  públicos e privados de educação básica e de estabelecimentos de recreação infantil. Diário  Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, n. 193, p. 1, 5 out. 2018. Acesso em: 12 de set. 2025 

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1Discente do Curso Superior de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado de Minas Gerais Campus Ituiutaba e-mail: gustavo.1599396@discente.uemg.br
2Docente do Curso Superior de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado de Minas Gerais  Campus Ituiutaba. Doutora em Educação Física. e-mail: leticia.teixeira@uemg.com.br
3Docente do Instituto Federal IFTM. Campus Ituiutaba. Doutora em Educação Física. e-mail: teresa@iftm.edu.br
4Docente do Curso Superior de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia Campus Uberlândia. Mestre em  Patologia. e-mail: fernanda.raupp@ufu.br
5Docente do Curso Superior de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado de Minas Gerais  Campus Ituiutaba. Mestre em Fisiologia. e-mail: wagner.raupp@uemg.com.br