ANESTESIA EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA RENAL: AJUSTES E RISCOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202512202351


Lucas Andrade Menezes


RESUMO

O manejo anestésico de pacientes com insuficiência renal exige atenção redobrada devido às alterações hemodinâmicas, metabólicas e farmacocinéticas características dessa condição. A presente revisão bibliográfica analisou estudos publicados entre 2024 e 2025, identificando estratégias para otimizar a segurança perioperatória. A literatura demonstra que esses pacientes apresentam maior risco de instabilidade cardiovascular, retenção de anestésicos e distúrbios eletrolíticos, tornando indispensáveis ajustes individuais de fármacos e monitorização intensiva. Técnicas anestésicas combinadas, controle rigoroso da volemia, ventilação protetora e integração multiprofissional são apontados como medidas fundamentais para reduzir complicações. Conclui-se que a personalização do plano anestésico permanece a principal recomendação para garantir melhores desfechos em nefropatas submetidos a procedimentos cirúrgicos.

Palavras-chave: Insuficiência renal; Anestesia; Manejo perioperatório.

ABSTRACT

The anesthetic management of patients with renal failure requires heightened attention due to the hemodynamic, metabolic, and pharmacokinetic alterations characteristic of this condition. This literature review analyzed studies published between 2024 and 2025, identifying strategies to optimize perioperative safety. The literature demonstrates that these patients have a higher risk of cardiovascular instability, anesthetic retention, and electrolyte disturbances, making individual drug adjustments and intensive monitoring indispensable. Combined anesthetic techniques, rigorous volemia control, protective ventilation, and multidisciplinary integration are identified as fundamental measures to reduce complications. It is concluded that the personalization of the anesthetic plan remains the main recommendation to ensure better outcomes in nephropathic patients undergoing surgical procedures.

Keywords: Renal failure; Anesthesia; Perioperative management.

1 INTRODUÇÃO 

A insuficiência renal, em suas formas aguda ou crônica, representa um dos maiores desafios para a prática anestésica contemporânea, exigindo abordagens específicas para garantir segurança e redução de complicações perioperatórias. Alterações hemodinâmicas, eletrolíticas, metabólicas e farmacocinéticas interferem diretamente na escolha de técnicas, fármacos e monitorização, tornando imprescindível uma avaliação individualizada. Segundo Mello et al. (2025), pacientes com comorbidades complexas, especialmente nefropatias, apresentam maior risco de instabilidade intraoperatória e pós-operatória, reforçando a necessidade de protocolos direcionados.

O anestesiologista precisa compreender profundamente como a falência renal modifica a distribuição, metabolização e excreção dos anestésicos, sobretudo aqueles dependentes de eliminação renal. Além disso, condições frequentemente associadas, como diabetes, hipertensão e distúrbios hidroeletrolíticos, ampliam o risco de eventos adversos durante o ato anestésico, exigindo intervenções cuidadosas (Barbosa et al., 2024). Estudos recentes também apontam que pacientes nefropatas apresentam maior probabilidade de variabilidade hemodinâmica, acúmulo de metabólitos ativos e necessidade de ajustes de dose em praticamente todas as categorias farmacológicas.

No contexto cirúrgico, os riscos são potencializados quando a anestesia é realizada em cenários críticos, como UTIs ou salas com pacientes hemodinamicamente instáveis, onde técnicas inadequadas podem agravar complicações metabólicas e cardiovasculares (Júnior, 2025). No caso de procedimentos de grande porte, como nefrectomias ou transplantes, os ajustes anestésicos tornam-se ainda mais relevantes devido à complexidade dos fluxos sanguíneos renais e grande volume de perdas e reposições, como analisado por Sena Filho et al. (2024).

Além dos cuidados farmacológicos, a prática anestésica demanda também uma atenção ampliada ao monitoramento ventilatório e hemodinâmico. Flutuações pressóricas, risco de sobrecarga hídrica e acidose metabólica podem precipitar instabilidade, hipercalemia e arritmias graves, especialmente quando o manejo não segue diretrizes baseadas em evidências (Sato et al., 2025). Assim, compreender os riscos e os ajustes anestésicos aplicáveis a esses pacientes é fundamental para reduzir morbidades e garantir um perioperatório seguro.

Desse modo, torna-se necessário reunir estudos atuais que discutam parâmetros de segurança, manejo anestésico e estratégias de mitigação de riscos em pacientes com insuficiência renal. Este artigo tem como objetivo analisar os ajustes anestésicos necessários e os principais riscos perioperatórios em pacientes com insuficiência renal, à luz da literatura científica recente.

2 REFERENCIAL TEÓRICO 
2.1 Alterações fisiopatológicas da insuficiência renal e implicações anestésicas

A insuficiência renal promove uma série de alterações sistêmicas que afetam diretamente o planejamento anestésico, incluindo acidose metabólica, desequilíbrios eletrolíticos, anemia e retenção de metabólitos urêmicos. Segundo Cegoñino et al. (2025), a redução da taxa de filtração glomerular modifica a farmacocinética de praticamente todos os anestésicos, aumentando risco de toxicidade e prolongamento de efeitos. Essas alterações podem intensificar a depressão respiratória e hemodinâmica, reforçando a necessidade de monitorização contínua e ajustes individualizados.

Outro ponto relevante é a instabilidade cardiovascular nesses pacientes. A retenção de líquidos e a hipertensão arterial crônica aumentam a probabilidade de flutuações pressóricas durante a anestesia, especialmente sob agentes voláteis e opioides de longa ação. Barbosa et al. (2024) destacam que comorbidades associadas, como cardiopatia e diabetes, tornam os riscos ainda mais elevados. Isso impõe ao anestesiologista a necessidade de escolher técnicas com menor impacto hemodinâmico e tituladas lentamente.

O desequilíbrio eletrolítico, sobretudo da hipercalemia, representa risco significativo de arritmias durante a indução e manutenção anestésica. Sena Filho et al. (2024) descrevem que cirurgias renais frequentemente apresentam maior variação de potássio sérico, reforçando cautela no uso de bloqueadores neuromusculares despolarizantes, como a succinilcolina. A avaliação prévia é essencial para evitar colapso cardiovascular decorrente de alterações bruscas no balanço iônico.

Pacientes renais também costumam apresentar anemia, que prejudica o transporte de oxigênio e aumenta o risco de hipóxia perioperatória. De Araújo Sampaio et al. (2025) alertam que tais pacientes têm maior probabilidade de instabilidade durante anestesias gerais profundas, exigindo abordagem criteriosa no manejo de volume e oxigenação. Estratégias como ventilação protetora e otimização da perfusão podem reduzir complicações.

O acúmulo de escórias nitrogenadas também afeta o sistema nervoso central, amplificando sensibilidade a anestésicos sedativos. Rosa et al. (2025) demonstram que pacientes com alterações metabólicas apresentam maior probabilidade de depressão prolongada. Por isso, a monitorização da profundidade anestésica torna-se crucial. Assim, compreender a fisiopatologia da insuficiência renal é condição essencial para um manejo seguro.

Por fim, o risco de interação medicamentosa é elevado nesses pacientes, devido ao uso crônico de anti-hipertensivos, insulina, diuréticos e anticoagulantes. Pinto et al. (2024) ressaltam que, nesses contextos, falhas na triagem pré-anestésica podem levar a eventos graves. Portanto, a anestesia em nefropatas exige avaliação ampliada, conhecimento das alterações fisiológicas e ajustes criteriosos em cada etapa do procedimento.

2.2 Escolha dos agentes anestésicos e ajustes de dose em nefropatas

A escolha farmacológica é um dos pilares mais críticos da anestesia em pacientes com insuficiência renal. De acordo com Cegoñino et al. (2025), fármacos com excreção predominantemente renal devem ser evitados, incluindo certos opióides, sedativos e bloqueadores neuromusculares. O uso de agentes como morfina e meperidina, por exemplo, pode causar acúmulo de metabólitos ativos, prolongando efeitos e podendo desencadear depressão respiratória tardia.

Em relação aos anestésicos intravenosos, etomidato e propofol são amplamente utilizados devido à metabolização predominantemente hepática, sendo seguros em nefropatas quando utilizados com cautela. Barbosa et al. (2024) destacam que a titulação lenta é essencial para evitar hipotensão súbita, uma vez que esses pacientes possuem menor reserva cardiovascular. Já o uso de quetamina deve ser ponderado, pois, embora segura, pode elevar a pressão arterial de forma indesejável em hipertensos.

Quanto aos opióides, fentanil e remifentanil são preferidos por não dependerem da função renal para eliminação. Braga et al. (2025) descrevem que fármacos de metabolização extra-hepática apresentam melhor perfil de segurança. No entanto, ainda assim, ajustes na dose são necessários para evitar depressão prolongada, especialmente em cirurgias de longa duração ou pacientes idosos.

Outro grupo que exige cautela são os bloqueadores neuromusculares. Agentes despolarizantes, como a succinilcolina, podem elevar mortalmente níveis séricos de potássio, sendo contraindicados em nefropatas. Já os bloqueadores não despolarizantes, como rocurônio e vecurônio, podem ter a duração prolongada. A literatura recomenda priorizar cisatracúrio, que tem degradação independente da função renal (Ortiz & Ballesteros, 2025).

Em relação aos anestésicos voláteis, o sevoflurano, apesar de eficiente, produz compostos fluorados que podem, em teoria, afetar ainda mais a função renal. Contudo, estudos atuais sugerem segurança quando administrado em concentrações moderadas. Segundo Sena Filho et al. (2024), a escolha do agente deve ser guiada pelo impacto hemodinâmico e não apenas pelo metabolismo renal. Isoflurano permanece como alternativa segura e amplamente utilizada.

Assim, ajustar doses, evitar fármacos nefrotóxicos e priorizar agentes com metabolismo independente dos rins são medidas essenciais para garantir um perioperatório seguro em pacientes com insuficiência renal.

2.3 Manejo hemodinâmico e controle hidroeletrolítico

O manejo hemodinâmico é considerado um dos pilares mais importantes na anestesia de pacientes com insuficiência renal. Isso ocorre porque esses indivíduos apresentam alterações na volemia, na resistência vascular sistêmica e na contratilidade cardíaca, tornando-os mais susceptíveis à instabilidade perioperatória. Segundo Sato et al. (2025), manter estabilidade cardiovascular nesses pacientes demanda ajustes refinados e monitorização invasiva quando necessário.

A reposição volêmica deve ser feita com cautela, uma vez que a sobrecarga hídrica pode precipitar edema agudo de pulmão e descompensação cardíaca. Braga et al. (2025) ressaltam que nefropatas possuem menor capacidade de manejar grandes volumes de fluidos. Assim, soluções equilibradas devem ser preferidas, e a monitorização contínua da diurese, pressão arterial invasiva e parâmetros dinâmicos de responsividade a fluidos é recomendada para orientar a reposição adequada.

O equilíbrio eletrolítico também exige atenção máxima. A hipercalemia é uma das principais causas de arritmias intraoperatórias e pode ser agravada por certas técnicas anestésicas e medicamentos. Sena Filho et al. (2024) destacam que níveis séricos de potássio devem ser corrigidos antes do procedimento, e o uso de fármacos que aumentam potássio deve ser evitado. A acidose metabólica, comum em nefropatas, também favorece arritmias e deve ser corrigida de forma gradual.

A manutenção da perfusão renal, mesmo que residual, é essencial para evitar agravamento da função renal. De Araújo Sampaio et al. (2025) destacam que manter níveis pressóricos adequados e evitar anestesias profundas que reduzam débito cardíaco são estratégias eficazes. Vasopressores como noradrenalina podem ser utilizados, desde que titulados cuidadosamente para evitar vasoconstrição excessiva.

A ventilação mecânica também influencia o manejo hemodinâmico. Pressões elevadas no ventilador podem reduzir o retorno venoso e diminuir a perfusão renal. Estudos como os de Verdezoto et al. (2024) recomendam utilizar estratégias protetoras, com volumes baixos e pressão positiva moderada, minimizando o impacto cardiovascular. Ajustes na ventilação são particularmente importantes em cirurgias torácicas ou abdominais superiores.

Por fim, o controle glicêmico é outro ponto crucial, pois a diabetes é uma causa comum de insuficiência renal. Mello et al. (2025) afirmam que manter glicemias estáveis reduz complicações infecciosas e hemodinâmicas. Assim, o manejo hemodinâmico adequado integra diversos parâmetros que, quando equilibrados, reduzem o risco anestésico nesses pacientes.

2.4 Riscos perioperatórios e estratégias de mitigação

Pacientes com insuficiência renal apresentam riscos perioperatórios mais elevados quando comparados à população geral. Entre os principais riscos estão instabilidade hemodinâmica, arritmias, reações adversas a medicamentos, depressão respiratória prolongada e infecções pós-operatórias. Segundo Barbosa et al. (2024), compreender o perfil clínico e as comorbidades do paciente é essencial para reduzir eventos adversos.

O risco de toxicidade por anestésicos é particularmente elevado devido à menor excreção renal. Rosa et al. (2025) destacam que os metabólitos podem se acumular e exercer efeitos prolongados sobre o sistema nervoso central e respiratório. Por isso, titulação lenta e monitorização da profundidade anestésica são recomendadas. Além disso, técnicas anestésicas combinadas podem reduzir a necessidade de agentes voláteis e opióides, minimizando efeitos sistêmicos.

As alterações cardíacas também merecem atenção. Hipercalemia, acidose e hipertensão crônica aumentam a probabilidade de arritmias e colapso cardiovascular intraoperatório. Sato et al. (2025) enfatizam a importância de correções prévias e monitorização contínua. A escolha cuidadosa de bloqueadores neuromusculares e agentes cardiovascularmente estáveis também contribui para minimizar esses riscos.

Infecções no pós-operatório são mais comuns devido à imunossupressão decorrente da uremia. Pinto et al. (2024) ressaltam que pacientes renais apresentam menor capacidade de resposta imunológica, aumentando o risco de complicações pulmonares e sistêmicas. Medidas como antibioticoprofilaxia adequada e otimização do estado nutricional podem reduzir esses eventos.

Os riscos respiratórios incluem dificuldade no manejo da via aérea, edema de glote e depressão ventilatória prolongada. De Araújo Sampaio et al. (2025) enfatizam que ajustes na ventilação mecânica são fundamentais para evitar acidose respiratória e hipercapnia. A avaliação prévia da via aérea evita complicações durante a indução.

Por fim, estratégias de mitigação incluem avaliação pré-operatória completa, correção de distúrbios hidroeletrolíticos, escolha adequada de agentes anestésicos e monitorização intensificada. Quando aplicadas de forma sistematizada, reduzem significativamente complicações perioperatórias, proporcionando maior segurança ao paciente.

2.5 Considerações anestésicas em cirurgias específicas: nefrectomias e transplantes

Cirurgias que envolvem diretamente os rins, como nefrectomias e transplantes renais, representam desafios ainda maiores para o anestesiologista. Nefropatas apresentam maior variação hemodinâmica, perda sanguínea significativa e riscos de acidose metabólica. Sena Filho et al. (2024) explicam que manter a perfusão adequada durante a nefrectomia é crucial para evitar disfunções adicionais e garantir estabilidade cardiovascular.

No caso de transplantes renais, o manejo anestésico é ainda mais complexo, exigindo equilíbrio entre volemia, pressão arterial e prevenção de trombose do enxerto. Ortiz e Ballesteros (2025) destacam que, durante o implante, a perfusão adequada é determinante para o sucesso do transplante. A manutenção de pressões médias estáveis e volemia suficiente contribuem para adequada perfusão do órgão.

O manejo anestésico também deve considerar o risco aumentado de hipercalemia durante o período de clampeamento vascular. Verdezoto et al. (2024) demonstram que a monitorização frequente dos níveis eletrolíticos reduz complicações. Além disso, o controle glicêmico rigoroso é essencial, já que muitos pacientes renais são diabéticos e apresentam resistência à insulina durante procedimentos extensos.

A escolha dos agentes anestésicos em cirurgias renais também exige cautela. Agentes nefrotóxicos e voláteis com risco renal devem ser evitados, principalmente quando a perfusão renal pode ser comprometida. Barbosa et al. (2024) reforçam que técnicas combinadas podem reduzir dosagens necessárias e ampliar a segurança do procedimento.

Outro ponto relevante é a ventilação mecânica. Cirurgias abdominais extensas podem reduzir a complacência pulmonar e dificultar ventilação adequada. Braga et al. (2025) defendem estratégias protetoras com volumes baixos para minimizar impacto hemodinâmico. Isso é especialmente importante quando há risco de lesão pulmonar ou instabilidade cardiovascular.

Por fim, o pós-operatório exige cuidados intensivos, incluindo monitorização da função renal do enxerto, controle rigoroso de eletrólitos e prevenção de infecções. Pinto et al. (2024) destacam que a segurança do paciente depende de continuidade do cuidado perioperatório. Assim, cirurgias renais exigem abordagem integrada e altamente especializada.

3 METODOLOGIA 

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, de natureza descritiva e abordagem qualitativa, fundamentada na análise crítica de produções científicas que abordam o manejo anestésico de pacientes com insuficiência renal. A investigação foi conduzida por meio da consulta a artigos publicados entre 2024 e 2025, selecionados em bases de dados nacionais e internacionais reconhecidas pela área da saúde, tais como SciELO, PubMed, Google Scholar e LILACS.

O processo de seleção do material iniciou-se com a definição de descritores relacionados ao tema, incluindo: anestesia, insuficiência renal, ajustes farmacológicos, riscos perioperatórios e segurança anestésica. A partir desses termos, foram identificadas publicações que discutem aspectos fisiopatológicos da deterioração renal, implicações anestésicas, modificações na farmacocinética de fármacos e estratégias de prevenção de complicações intra e pós-operatórias.

Após a identificação inicial das publicações, realizou-se uma leitura exploratória para verificar a pertinência temática e, em seguida, uma leitura analítica, voltada à extração de informações relevantes e à compreensão dos principais achados. O material selecionado foi posteriormente organizado por categorias temáticas, permitindo uma interpretação integrada e coerente sobre as especificidades da anestesia em pacientes com insuficiência renal.

A análise qualitativa seguiu princípios de sistematização e comparação dos conteúdos, visando identificar convergências, divergências e lacunas no conhecimento disponível. Esse processo possibilitou a elaboração de um panorama atualizado e crítico sobre os ajustes necessários, riscos envolvidos e recomendações apresentadas pela literatura contemporânea.

Por fim, os resultados foram sintetizados e discutidos de forma articulada com o referencial teórico, permitindo construir uma visão ampla e fundamentada sobre as particularidades do cuidado anestésico direcionado a pacientes com comprometimento renal.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

A literatura analisada evidencia que pacientes com insuficiência renal representam um grupo de alto risco no contexto anestésico, principalmente devido às alterações hemodinâmicas, acidobásicas e farmacocinéticas associadas à disfunção renal. Segundo Butterworth et al. (2022), a depuração reduzida de medicamentos impacta diretamente o metabolismo e a excreção de opióides, sedativos e bloqueadores neuromusculares, exigindo ajustes criteriosos nas doses. Miller e Pardo (2020) reforçam que até mesmo agentes considerados seguros podem apresentar prolongamento de efeitos, tornando indispensável a monitorização rigorosa da profundidade anestésica.

Os estudos revisados convergem ao apontar que a instabilidade cardiovascular constitui o maior desafio intraoperatório. Alterações no volume intravascular, na resistência vascular periférica e na resposta autonômica tornam esses pacientes mais suscetíveis à hipotensão durante a indução, conforme descrito por Kheterpal et al. (2021). Em linha com essas observações, Barash et al. (2023) destacam que a manutenção da perfusão sistêmica adequada, a correção prévia de distúrbios eletrolíticos especialmente hiperpotassemia e a utilização de vasopressores titulados são medidas fundamentais para reduzir eventos adversos.

A ventilação mecânica também requer atenção diferenciada. De acordo com Hines & Marschall (2021), estratégias ventilatórias protetoras, com baixas pressões de platô e volumes correntes reduzidos, minimizam repercussões hemodinâmicas, além de evitarem retenção de CO₂, que pode agravar acidose metabólica nesses pacientes.

Em procedimentos de maior complexidade, como nefrectomias, cirurgias vasculares renais e transplantes, o manejo anestésico torna-se ainda mais desafiador. O’Hara et al. (2020) demonstram que o controle rigoroso da volemia, bem como níveis pressóricos estáveis, favorecem perfusão renal residual e melhoram desfechos cirúrgicos. Agentes com excreção renal predominante, como morfina, meperidina ou certas formulações de bloqueadores neuromusculares, devem ser evitados para prevenir acúmulo tóxico, como defendido por Stoelting & Hillier (2021). Além disso, diferentes autores ressaltam que a integração entre anestesiologistas, nefrologistas e cirurgiões desempenha papel decisivo na redução da morbidade perioperatória.

A literatura também revela lacunas importantes. Há carência de protocolos uniformizados para ajuste seguro de fármacos em nefropatas, como destacado por Goyal et al. (2024), bem como a escassez de estudos comparativos entre técnicas anestésicas gerais, regionais e combinadas. Entretanto, observa-se consenso de que a personalização do plano anestésico, baseada em avaliação pré-operatória detalhada, permanece como estratégia fundamental, alinhada às recomendações contemporâneas de anestesia individualizada propostas por Miller (2020).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A anestesia em pacientes com insuficiência renal exige abordagem altamente especializada, considerando alterações fisiopatológicas que interferem diretamente na farmacocinética, hemodinâmica e segurança anestésica. A literatura demonstrou que ajustes de dose, seleção criteriosa de agentes, controle rigoroso da volemia e correção dos distúrbios eletrolíticos são fundamentais para reduzir complicações.

Constatou-se ainda que técnicas anestésicas combinadas e monitorização avançada representam estratégias eficazes para minimizar riscos, especialmente em cirurgias de grande porte. Apesar dos avanços, a necessidade de estudos comparativos e protocolos atualizados permanece evidente. Assim, reforça-se a importância da avaliação pré-operatória detalhada e da personalização do plano anestésico.

Logo, o  manejo anestésico adequado de pacientes com insuficiência renal promove maior segurança, reduz morbidades e melhora o prognóstico cirúrgico. A integração entre profissionais e o conhecimento atualizado sobre a fisiopatologia renal constituem pilares essenciais para uma prática anestésica eficaz e baseada em evidências.

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