THE ROLE OF THE NURSE IN CARING FOR WOMEN WITH ENDOMETRIOSIS: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202512201814
Ilcieli Silva Brito
Jorge Rafael Ribeiro Reis
Mírian Gabrielly Monteiro de Araújo
Thayla Victoria Sousa da Silva
Vicente Gabriel Rosa Lopes
Jamilly Karoliny da Silva Miranda
RESUMO
INTRODUÇÃO: A endometriose é uma condição ginecológica crônica caracterizada pelo crescimento de tecido endometrial fora da cavidade uterina, associada a dor pélvica persistente, alterações reprodutivas e impactos significativos na qualidade de vida da mulher, configurando-se como relevante problema de saúde pública. OBJETIVO: Diante desse cenário, o presente estudo teve como objetivo analisar o papel do enfermeiro na assistência à mulher com endometriose, a partir das evidências científicas disponíveis na literatura. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, de abordagem qualitativa, realizada nas bases de dados Google Acadêmico, Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), utilizando os descritores Assistência de enfermagem, Endometriose e Saúde da mulher, nos idiomas português e inglês. Foram incluídos artigos publicados entre 2021 e 2025, selecionados conforme critérios de inclusão e exclusão, seguindo as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). RESULTADOS: Os resultados apontam que a endometriose permanece subdiagnosticada, principalmente em razão da variabilidade sintomatológica e da desvalorização da dor feminina nos serviços de saúde, o que contribui para impactos negativos nas dimensões física, emocional e social das mulheres. Evidenciou-se que o enfermeiro exerce papel fundamental no cuidado integral, atuando no acolhimento, na escuta qualificada, na educação em saúde, no acompanhamento clínico e na articulação do cuidado na rede de atenção à saúde. CONCLUSÃO: Conclui-se que a atuação qualificada da enfermagem, associada à capacitação profissional e à utilização de protocolos clínicos, é indispensável para a melhoria da assistência e para a promoção da qualidade de vida das mulheres acometidas pela endometriose.
Palavras-chave: Assistência de Enfermagem. Endometriose. Saúde da Mulher.
ABSTRACT
INTRODUCTION: Endometriosis is a chronic gynecological condition characterized by the growth of endometrial tissue outside the uterine cavity, associated with persistent pelvic pain, reproductive alterations, and significant impacts on women’s quality of life, thus constituting a relevant public health problem. OBJECTIVE: Given this scenario, the present study aimed to analyze the role of nurses in the care of women with endometriosis, based on the scientific evidence available in the literature. METHODOLOGY: This is an integrative literature review, with a qualitative approach, carried out in the databases Google Scholar, Scientific Electronic Library Online (SciELO) and Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), using the descriptors Nursing care, Endometriosis and Women’s health, in Portuguese and English. Articles published between 2021 and 2025 were included, selected according to inclusion and exclusion criteria, following the recommendations of the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). RESULTS: The results indicate that endometriosis remains underdiagnosed, mainly due to the variability of symptoms and the undervaluation of women’s pain in health services, which contributes to negative impacts on the physical, emotional, and social dimensions of women. It was evident that nurses play a fundamental role in comprehensive care, acting in welcoming, active listening, health education, clinical follow-up, and coordinating care within the health care network. CONCLUSION: It is concluded that qualified nursing practice, combined with professional training and the use of clinical protocols, is essential for improving care and promoting the quality of life of women affected by endometriosis.
Keywords: Nursing care. Endometriosis. Women’s health.
INTRODUÇÃO
A endometriose é uma doença ginecológica crônica caracterizada pelo crescimento anormal de tecido semelhante ao endométrio fora da cavidade uterina, podendo acometer órgãos como ovários e intestino, estando associada à dor intensa e à infertilidade. Apresenta sintomas variados, o que dificulta o diagnóstico precoce, conforme destacado pela Organização Mundial da Saúde. Entre as principais manifestações clínicas estão a dor pélvica crônica, a dismenorreia intensa, a dispareunia, as alterações do ciclo menstrual e a dificuldade para engravidar (Torres et al., 2021). Além dos impactos físicos, a endometriose compromete a qualidade de vida da mulher, repercutindo nos aspectos emocionais, sociais e econômicos, o que evidencia a relevância do tema e a necessidade de uma abordagem integral pelo enfermeiro no cuidado às mulheres acometidas pela doença. A mudança na qualidade vida é significativa, sendo fundamental considerar esses aspectos biopsicossociais ao traçar protocolos de tratamento para a endometriose, visando proporcionar bem-estar às pacientes (Rodrigues et al., 2022).
Atualmente, o manejo da endometriose envolve diferentes modalidades terapêuticas, definidas de forma individualizada de acordo com as necessidades e o quadro clínico de cada mulher. As estratégias de tratamento incluem o uso de terapias medicamentosas voltadas ao controle da dor e da atividade da doença, bem como intervenções cirúrgicas indicadas para a remoção dos focos da doença e a preservação ou recuperação da função dos órgãos acometidos. Adicionalmente, a adoção de hábitos de vida saudáveis, como a prática regular de atividade física e a manutenção de uma alimentação equilibrada, pode contribuir de maneira complementar para o controle dos sintomas. De modo geral, o tratamento tem como finalidade a redução da dor, a melhoria da qualidade de vida e, sempre que possível, a preservação da fertilidade da mulher (Júnior et al., 2023).
Nesse contexto, o diagnóstico da endometriose apresenta-se como um desafio recorrente nos serviços de saúde, especialmente em razão da inespecificidade dos sintomas e da normalização da dor feminina, fatores que contribuem para atrasos diagnósticos significativos. Estudos apontam que esse cenário repercute negativamente na qualidade de vida das mulheres, ampliando o sofrimento físico, emocional e social, além de dificultar o acesso ao tratamento adequado. Assim, o reconhecimento precoce da doença e a qualificação dos profissionais de saúde, com destaque para a enfermagem, mostram-se fundamentais para a oferta de um cuidado integral, humanizado e capaz de minimizar os impactos da endometriose na vida das mulheres(Silva; Souza; Silva, 2024)
Nesse contexto, a assistência de enfermagem assume papel estratégico no manejo da endometriose, considerando que o enfermeiro integra a equipe multiprofissional e participa ativamente das diferentes etapas do cuidado à mulher. Sua atuação envolve a avaliação clínica contínua, o acolhimento qualificado, o suporte emocional, a educação em saúde e a articulação dos cuidados necessários ao acompanhamento terapêutico, contribuindo para a integralidade da assistência. Dessa forma, evidencia-se a necessidade de um olhar holístico e multidimensional voltado à saúde integral da mulher com endometriose, capaz de favorecer a amenização dos sintomas e a melhoria da qualidade de vida. A compreensão ampliada da doença, aliada à oferta de cuidados de enfermagem fundamentados em evidências científicas, mostra-se essencial para a promoção do bem-estar e para o fortalecimento do cuidado humanizado às mulheres acometidas por essa condição (Lima; Silva, 2022).
Desse modo, a identificação precoce da endometriose constitui estratégia fundamental para a prevenção de possíveis complicações e para a promoção de melhores desfechos clínicos e qualidade de vida da mulher. A atuação oportuna do enfermeiro no reconhecimento dos sinais e sintomas da doença possibilita a ampliação das alternativas terapêuticas disponíveis e favorece um prognóstico mais positivo em longo prazo para a pessoa acometida, reforçando a importância do cuidado qualificado e contínuo no contexto da atenção à saúde da mulher (Cruz; Apolinário, 2023)
Considerando a endometriose como uma condição ginecológica crônica de elevada complexidade e com repercussões significativas na saúde e na qualidade de vida da mulher, evidencia-se a necessidade de fortalecer práticas assistenciais qualificadas e integradas às pacientes. Nesse contexto, a atuação do enfermeiro destaca-se por sua proximidade com a usuária dos serviços de saúde, exercendo papel fundamental no acolhimento, na identificação precoce dos sinais e sintomas, na educação em saúde, no acompanhamento contínuo e na articulação da assistência multiprofissional. Assim, o presente artigo tem como objetivo evidenciar o papel do enfermeiro na assistência à mulher com endometriose, ressaltando a importância de práticas de enfermagem baseadas em evidências científicas, capazes de contribuir para a melhoria da qualidade de vida, para o fortalecimento do cuidado humanizado e para a visibilidade dessa condição como relevante problema de saúde pública.
METODOLOGIA
A revisão integrativa da literatura constitui um método de investigação de caráter sistemático, amplo e rigoroso, voltado à identificação, análise crítica e síntese do conhecimento científico produzido sobre um determinado tema ou problema de pesquisa. Essa abordagem metodológica fundamenta-se na adoção de um protocolo previamente estruturado, o que assegura transparência, consistência e reprodutibilidade ao processo investigativo, além de permitir a incorporação de estudos com diferentes delineamentos metodológicos. Dessa forma, a revisão integrativa possibilita a construção de uma compreensão aprofundada do fenômeno estudado, contribuindo para o fortalecimento das práticas baseadas em evidências e para a produção de conhecimentos relevantes na área da saúde (Dantas et al., 2022).
As etapas que compõem a revisão integrativa da literatura envolvem um processo metodológico estruturado, iniciando-se pela formulação da questão norteadora da revisão, seguida pela definição da estratégia de busca e seleção criteriosa das fontes científicas mais relevantes para a abordagem do tema. Posteriormente, procede-se à análise e à síntese das evidências apresentadas nos estudos incluídos, articulando-as às competências clínicas e ao contexto da prática profissional. Em seguida, realiza-se a avaliação crítica das evidências, considerando a consistência metodológica e a aplicabilidade dos achados. Por fim, ocorre a sistematização e a apresentação dos resultados obtidos, de modo a possibilitar a disseminação do conhecimento produzido de forma clara, organizada e fundamentada em evidências científicas (Dantas et al., 2022).
A busca dos estudos foi realizada nas bases de dados cientificas como: Google Acadêmico, Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Para a seleção das publicações, utilizaram-se os descritores: Assistência de enfermagem, Endometriose e Saúde da mulher.
Para a seleção dos estudos, adotaram-se como critérios de inclusão artigos científicos disponíveis na íntegra, publicados nos idiomas português e inglês, com recorte temporal compreendido entre os anos de 2021 e 2025 selecionados conforme critérios de inclusão e exclusão, seguindo as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). Como critérios de exclusão, foram considerados monografias, teses, dissertações e demais trabalhos acadêmicos que não correspondessem a artigos científicos. Após a identificação das publicações potencialmente elegíveis, procedeu-se à leitura e análise dos resumos, seguida da leitura dos textos completos dos estudos selecionados. Os dados extraídos foram sistematizados e organizados em instrumentos de análise, possibilitando a construção de quadros e representações gráficas, que subsidiaram a interpretação dos resultados e a discussão dos achados à luz da literatura científica.
Tabela 1 –Processo de seleção dos estudos incluídos na revisão
RESULTADOS
Após a aplicação rigorosa dos critérios de inclusão e exclusão definidos na metodologia, foram selecionados oito artigos científicos que atenderam aos objetivos propostos para o desenvolvimento deste estudo. As produções incluídas foram analisadas de forma criteriosa e organizadas em uma tabela síntese, considerando as seguintes variáveis: autor e ano de publicação, título do estudo, objetivo e resultados. Essa sistematização possibilitou uma visão panorâmica das evidências científicas disponíveis, favorecendo a compreensão das principais abordagens relacionadas ao papel do enfermeiro na assistência à mulher com endometriose e subsidiando a análise qualitativa dos achados. A organização dos dados permitiu, ainda, identificar convergências e lacunas na produção científica recente, contribuindo para o aprofundamento da discussão e para o fortalecimento das reflexões apresentadas neste trabalho.
Quadro 1 –Resultados da análise sobre a atuação da enfermagem no diagnóstico precoce da endometriose.
Autores 2025.
DISCUSSÕES
Os estudos analisados nesta revisão evidenciam que a endometriose permanece como uma condição ginecológica crônica marcada por invisibilidade clínica, diagnóstico tardio e manejo assistencial fragmentado. De modo geral, os autores questionam a naturalização da dor feminina e a dificuldade dos serviços de saúde em reconhecer precocemente os sinais e sintomas da doença, o que contribui para a progressão do quadro clínico e para o agravamento das repercussões físicas e psicossociais vivenciadas pelas mulheres (Torres et al., 2022; Júnior et al., 2023).
Um dos principais pontos problematizados na literatura refere-se à fragilidade do diagnóstico precoce, especialmente no âmbito da Atenção Primária à Saúde. A diversidade de manifestações clínicas, aliada à ausência de protocolos padronizados e à limitação do conhecimento técnico dos profissionais, é apontada como fator determinante para o atraso diagnóstico (Silva; Souza; Silva, 2024). Esse cenário reforça a necessidade de fortalecimento das práticas assistenciais e da qualificação profissional, com vistas à identificação oportuna da endometriose.
Os impactos da doença sobre a qualidade de vida também são amplamente discutidos pelos autores. Rodrigues et al., (2022) destacam que a dor crônica, a fadiga, as alterações menstruais e as dificuldades reprodutivas comprometem de forma significativa o bem-estar físico, emocional e social das mulheres, afetando suas relações interpessoais, desempenho laboral e saúde mental. Esses achados reforçam a compreensão da endometriose como um problema de saúde pública, que exige cuidado contínuo, integral e humanizado.
No que se refere à atuação da enfermagem, os estudos convergem ao apontar o enfermeiro como profissional estratégico no cuidado à mulher com endometriose. Lima; Silva (2022) e Cruz; Apolinário (2023) questionam a limitada sistematização da assistência de enfermagem voltada a essa patologia, destacando lacunas na formação profissional e na adoção de práticas baseadas em evidências. Ainda assim, reconhecem que a enfermagem desempenha papel essencial no acolhimento, na escuta qualificada, na educação em saúde e no suporte emocional, ações fundamentais para minimizar os impactos da doença.
A discussão é ampliada com a contribuição de Vasconcelos; Chaves; Ribeiro (2023), que ressaltam a importância da construção e implementação de protocolos clínicos de enfermagem na Atenção Primária à Saúde. Os autores questionam a ausência de instrumentos padronizados que orientem a investigação clínica da endometriose, apontando que essa lacuna compromete a resolutividade do cuidado. A proposta de um protocolo clínico específico emerge como estratégia capaz de fortalecer a consulta de enfermagem, favorecer o reconhecimento precoce da patologia e organizar o fluxo de encaminhamento na rede de atenção à saúde.
Outro aspecto recorrente nos estudos refere-se à insuficiência de políticas públicas e de ações educativas direcionadas à endometriose. A falta de informação e de estratégias de educação permanente limita o acesso das mulheres ao diagnóstico e ao tratamento adequados, reforçando desigualdades no cuidado e ampliando o sofrimento associado à doença (Silva; Souza; Silva, 2024).
Dessa forma, a literatura analisada questiona o modelo assistencial ainda centrado em abordagens fragmentadas e evidencia a necessidade de fortalecer a atuação da enfermagem por meio de práticas integradas, protocolos clínicos, educação em saúde e cuidado centrado na mulher. A consolidação do papel do enfermeiro na investigação, no acompanhamento e no suporte à mulher com endometriose mostra-se fundamental para a melhoria dos desfechos clínicos e para a promoção da qualidade de vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente revisão sistemática possibilitou uma análise aprofundada acerca da endometriose enquanto condição ginecológica crônica de elevada relevância clínica e social, evidenciando que seus impactos ultrapassam a dimensão biológica e alcançam aspectos emocionais, sociais e funcionais da vida das mulheres acometidas. Os estudos analisados demonstram que o diagnóstico tardio, associado à naturalização da dor feminina e às fragilidades nos fluxos assistenciais, permanece como um dos principais desafios para o manejo adequado da doença, contribuindo para a intensificação dos sintomas e para a redução da qualidade de vida.
A partir da análise crítica da literatura, observa-se que o enfermeiro ocupa posição estratégica na assistência à mulher com endometriose, especialmente no contexto da Atenção Primária à Saúde, uma vez que frequentemente atua como primeiro ponto de contato no sistema de saúde.
A atuação da enfermagem no acolhimento, na escuta qualificada, na educação em saúde e na vigilância clínica contínua mostra-se essencial para a identificação precoce dos sinais e sintomas, favorecendo o encaminhamento oportuno e a continuidade do cuidado na rede de atenção à saúde.
Entretanto, evidenciam-se limitações que comprometem a efetividade da assistência de enfermagem, tais como a ausência de protocolos clínicos padronizados, a insuficiência de capacitação específica sobre a endometriose e a baixa visibilidade da patologia nos serviços de saúde. Essas fragilidades dificultam a sistematização do cuidado e limitam a atuação baseada em evidências científicas, reforçando a necessidade de investimentos em educação permanente e na implementação de instrumentos assistenciais que orientem a prática profissional.
Sob uma perspectiva analítica, compreende-se que a qualificação do cuidado à mulher com endometriose exige a adoção de uma abordagem integral, centrada na pessoa e articulada com a equipe multiprofissional. Nesse contexto, a enfermagem desempenha papel fundamental ao promover ações educativas, fortalecer o autocuidado, oferecer suporte emocional e contribuir para a construção de vínculos terapêuticos, elementos essenciais para o enfrentamento da doença e para a melhoria dos desfechos clínicos.
Conclui-se, portanto, que o fortalecimento da atuação do enfermeiro na assistência à mulher com endometriose é indispensável para a consolidação de um modelo assistencial mais humanizado, resolutivo e equânime. Este estudo contribui ao evidenciar lacunas existentes na prática assistencial e ao reforçar a importância de ampliar a produção científica e o debate acadêmico sobre a temática, de modo a subsidiar políticas públicas, protocolos clínicos e práticas profissionais voltadas à promoção da saúde e à melhoria da qualidade de vida das mulheres acometidas pela endometriose.
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