O PAPEL ESTRATÉGICO DO FARMACÊUTICO NA FARMÁCIA COMERCIAL NO COMBATE AO USO IRRACIONAL DE ANTIBIÓTICOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202512172222


Jady Lobato Senna
Mayara Oliveira Correa
Rosiane Gonçalves de Castro
Orientador: Profº. Manoel Guacelis de Sena Dias Junior


RESUMO

Introdução: A farmacoterapia, um campo essencial da ciência farmacêutica, é fundamental na prevenção e tratamento de doenças, contribuindo para a melhoria da qualidade e expectativa de vida. No entanto, o uso irracional de medicamentos, incluindo antibióticos, tem se tornado uma preocupação global e no Brasil, caracterizando um problema de saúde pública. Esse problema é perpetuado por fatores como a automedicação, o despreparo de prescritores, interesses comerciais da indústria e a omissão de órgãos reguladores. Embora os antibióticos sejam cruciais para combater infecções, seu uso inadequado acelera a resistência bacteriana, um desafio de saúde pública mundial que afeta tanto o setor público quanto o privado. Objetivo: Investigar por meio da pesquisa científica estudos que discutam os impactos do uso irracional de medicamentos sobre a resistência antibiótica. Materiais e métodos: Optou-se como estratégia metodológica por uma Revisão Integrativa de Literatura, tomando-se como tema “O papel estratégico do farmacêutico na farmácia comercial no combate ao uso irracional de antibióticos: uma revisão de literatura”, para assim buscar responder a seguinte questão de pesquisa: Quais as principais evidências na literatura científica no período de 2019 a 2024 que discutem os impactos do uso irracional de dos antibióticos sobre a imunidade?. A pesquisa foi realizada nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde (BVS MS), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Google Scholar. Utilizando-se como descritores: uso irracional de antibióticos. Em uma amostra inicial de 21 artigos, que após leitura minuciosa e aplicação de critérios de exclusão, resultaram em uma amostra final de 8 artigos, posteriormente analisados por categorias temáticas à luz de autores relacionados. Resultados: O uso inadequado de antibióticos resulta diretamente no desenvolvimento de resistência bacteriana, o que compromete a eficácia dos tratamentos e eleva as taxas de morbidade e mortalidade. Dentre os fatores que impulsionam esse cenário, destacam- se a automedicação, muitas vezes motivada pela busca rápida por alívio, e as prescrições inadequadas. Acesso limitado a serviços de saúde e a existência de “farmácias caseiras” também agravam o uso indiscriminado, sublinhando a necessidade de um uso racional para maximizar os benefícios terapêuticos e minimizar os riscos à saúde. Conclusão Para combater a resistência bacteriana, é imperativa uma abordagem multifacetada que inclua ações educativas e o papel ativo do farmacêutico. A educação científica é fundamental para conscientizar a população sobre o uso correto de antibióticos. O farmacêutico, por sua vez, é essencial na orientação aos pacientes e na dispensação adequada dos medicamentos, contribuindo diretamente para o uso racional e a mitigação da resistência. Em síntese, a conscientização pública, regulamentações rigorosas na venda de medicamentos e a valorização do profissional farmacêutico são cruciais para assegurar a eficácia futura dos antibióticos e enfrentar esse desafio global de saúde.

PALAVRAS-CHAVE: Antibacterianos; Farmacorresistência Bacteriana; Automedicação; Tratamento farmacológico.

ABSTRACT

Introduction: Pharmacotherapy, an essential field of pharmaceutical science, is fundamental in the prevention and treatment of diseases, contributing to the improvement of quality of life and life expectancy. However, the irrational use of medications, including antibiotics, has become a global concern and, in Brazil, characterizes a public health problem. This issue is perpetuated by factors such as self-medication, inadequate training of prescribers, commercial interests of the industry, and the omission of regulatory bodies. Although antibiotics are crucial for combating infections, their inappropriate use accelerates bacterial resistance, a worldwide public health challenge affecting both public and private sectors. Objective: To investigate, through scientific research, studies that discuss the impacts of irrational drug use on antibiotic resistance. Materials and Methods: An Integrative Literature Review was chosen as the methodological strategy, taking “The Irrational Use of Antibiotics: A Literature Review” as its theme, to answer the following research question: What are the main evidences in the scientific literature from 2019 to 2024 that discuss the impacts of irrational drug use on antimicrobial resistance? The research was conducted in the following databases: Virtual Health Library of the Ministry of Health (BVS MS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS), and Google Scholar. The descriptors used were: irrational use of antibiotics. From an initial sample of 21 articles, a meticulous reading and application of exclusion criteria resulted in a final sample of 8 articles, subsequently analyzed by thematic categories in light of related authors. Results: The inappropriate use of antibiotics directly results in the development of bacterial resistance, which compromises the effectiveness of treatments and elevates morbidity and mortality rates. Among the factors driving this scenario, self- medication, often motivated by the quick pursuit of relief, and inadequate prescriptions stand out. Limited access to healthcare services and the existence of “home pharmacies” also exacerbate indiscriminate use, underscoring the need for rational use to maximize therapeutic benefits and minimize health risks. Conclusion: To combat bacterial resistance, a multifaceted approach is imperative, including educational actions and the active role of the pharmacist. Scientific education is fundamental for raising public awareness about the correct use of antibiotics. The pharmacist, in turn, is essential in guiding patients and in the proper dispensing of medications, contributing directly to rational use and the mitigation of resistance. In essence, public awareness, rigorous regulations on drug sales, and the valorization of the pharmacist professional are crucial to ensure the future efficacy of antibiotics and to address this global health challenge.

KEYWORDS: Antibacterials; Bacterial Drug Resistance; Self-Medication; Pharmacological Treatment.

1.  INTRODUÇÃO

Segundo Aizenstein (2016) a farmacoterapia, enquanto campo da ciência farmacêutica, tem papel fundamental na prevenção, manutenção e recuperação da saúde, contribuindo para a melhoria da qualidade e da expectativa de vida da população. Sobretudo, na prevenção de agravos à saúde por meio do desenvolvimento de fármacos que possibilitam o tratamento de doenças consideradas incuráveis no passado.

O uso irracional de medicamentos vem se consolidando como uma prática alarmante e de crescente preocupação no âmbito da saúde pública, com observações de aumento tanto no Brasil quanto no cenário internacional. Tal panorama é reflexo de uma cadeia de falhas, na qual se estima que a maioria dos fármacos seja prescrita, dispensada ou vendida de maneira inadequada, culminando no uso incorreto por parte da maioria dos pacientes (SILVA PAULA et al., 2021).

No Brasil, a grande disponibilidade de acesso e uso irracional de medicamentos tem configurado um problema de saúde pública, que se perpetua em virtude de fatores que envolvem o hábito da autoadministração, o despreparo dos prescritores, os interesses mercantilistas da indústria farmacêutica e a omissão dos órgãos responsáveis pela regulação e fiscalização do exercício da assistência farmacêutica no Brasil (Aizenstein., 2016).

O farmacêutico, como profissional habilitado, é considerado a principal solução para o combate a essa prática (SOUZA et al., 2021 ). Seu papel é essencial para criar projetos de promoção e conscientização sobre o uso racional, além de fornecer suporte, esclarecer dúvidas e orientar o paciente, garantindo a correta compreensão do tratamento. A assistência farmacêutica, nesse contexto, constitui um acompanhamento sistemático da farmacoterapia, visando assegurar sua necessidade, segurança e efetividade.

Nesse sentido, os antibióticos se destacam como medicamentos fundamentais no tratamento de doenças infecciosas, em virtude da capacidade de inibição do crescimento ou morte de bactérias responsáveis por infecções. No entanto, sua utilização inadequada pode provocar danos irreparáveis para humanidade, como avanço significativo da resistência bacteriana, prejudicando a efetividade do tratamento e aumentando a mortalidade por doenças infecciosas (Silva Miranda et al., 2022).

De acordo com Guimarães, Momesso e Pupo (2010), os antibióticos são definidos como compostos que podem ser de origem natural ou sintética, e sua principal capacidade é a de inibir o crescimento ou provocar a eliminação de microrganismos como fungos ou bactérias. Os autores detalham ainda que, conforme o mecanismo de ação, esses agentes são classificados em bactericidas, quando resultam na morte da bactéria, ou em bacteriostáticos, caso promovam apenas a inibição do seu desenvolvimento.

A relevância dos antibióticos é incontestável, visto que as doenças infecciosas ainda se configuram como a segunda principal causa de óbito em escala global. No entanto, o problema da resistência bacteriana atingiu níveis tão críticos que impulsiona uma necessidade contínua e urgente por novos agentes, especialmente aqueles que apresentem mecanismos de ação inovadores, com o intuito de superar os desafios impostos pela evolução dos microrganismos (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010).

Para Miller (2019) a resistência aos antibióticos se apresenta como principal evento promotor de virulência em bactérias patogênicas. Assim sendo, uma vez que os microrganismos entram no corpo, três fatores básicos determinam se uma doença infecciosa se desenvolverá, sendo eles: a virulência (propriedades patogênicas do microrganismo invasor), dose (o número de microrganismos que invadem o corpo) e a resistência (mecanismo de defesa corporal do hospedeiro).

Silva e Ortega (2021) destacam o aumento expressivo das capacidades multirresistentes dos microrganismos, e os impactos provocados à saúde da comunidade de maneira geral. Com prejuízos as demais áreas de interesse da população como segurança, educação e infraestrutura, levando-se em conta que recursos que poderiam ser destinados a estas áreas estejam redirecionados para a compra de antimicrobianos cada vez mais potentes e em maior quantidade.

Diante disso, Juliani (2014) enfatiza a participação do farmacêutico na Comissão de Farmácia e Terapêutica- CFT, comissão designada com a finalidade de regulamentar a padronização dos medicamentos a serem prescritos no receituário hospitalar. selecionando os medicamentos que melhor atendam às necessidades terapêuticas dos pacientes que serão atendidos no hospital, assim como, garantindo que estes sejam utilizados de forma racional.

Do mesmo modo em que Braghirolli et al. (2017) ressalta a integração do profissional farmacêutico nas equipes multidisciplinares de saúde, com maior aproximação do paciente, contribuindo com as decisões sobre os medicamentos que farão parte do seu tratamento, objetivando de atender as necessidades relacionadas ao uso dos medicamentos e promover seu uso adequado.

O estudo de agravos causados por microrganismos patogênicos, especialmente as infecções bacterianas que evoluem para um estado séptico, despertou em nosso grupo um profundo interesse em investigar os principais obstáculos relacionados ao tratamento dessas infecções. Nesse contexto, observa-se nas hospitalizações por doenças infecciosas e uma notável dificuldade em alcançar a eficácia do tratamento com as opções terapêuticas disponíveis.

Assim, a resistência antimicrobiana é uma característica intrínseca de certas espécies bacterianas, que podem resistir à ação de um antibiótico devido a características estruturais ou funcionais inerentes, como definem Freires e Junior (2022).

Nessa perspectiva, exames laboratoriais como hemoculturas e uroculturas indicam um aumento preocupante da resistência bacteriana, diretamente relacionado a desfechos desfavoráveis, como a evolução para quadros sépticos e óbitos. Essa problemática fundamentou a formulação de hipóteses sobre a multirresistência antimicrobiana, sugerindo que múltiplos fatores contribuem para esse fenômeno, incluindo características intrínsecas dos agentes, como a presença de genes de resistência e a capacidade de mutação, bem como fatores ambientais externos ao hospedeiro, como o uso irracional de antibióticos.

Diante disso, a resistência bacteriana a antimicrobianos representa uma preocupação global, intensificada pelo uso massivo desses medicamentos durante a pandemia de COVID-19, como apontado por Pereira et al. (2024). Em um panorama onde o conhecimento científico sobre o novo coronavírus levou a prescrições inadequadas e abusivas de antibióticos, baseadas em manifestações clínicas semelhantes às da pneumonia bacteriana, conforme descrito por Santos et al. (2023).

No contexto pandêmico da COVID-19 evidenciou-se o uso inadvertido e exacerbado de antibióticos, como a azitromicina, destacando a urgência de debates sobre os impactos do uso irracional de medicamentos. Ao mesmo tempo, a diminuição do lançamento de novos antimicrobianos pela indústria farmacêutica acentuou ainda mais a importância da conscientização e da atuação do profissional farmacêutico na promoção do uso racional de medicamentos através da assistência farmacêutica, assegurando o controle e a dispensação orientada para o sucesso da terapia e a minimização da resistência bacteriana, conforme destacam Vieira e Freitas (2021).

Diante desse cenário e da limitação de opções terapêuticas para o tratamento de infecções bacterianas, este estudo tem como objetivo geral investigar, por meio de pesquisa científica, os impactos do uso irracional de medicamentos sobre a resistência antibiótica. Para alcançar esse objetivo, é relevante conceituar o uso racional de medicamentos e a resistência antimicrobiana, além de ressaltar a importância da assistência farmacêutica na prevenção da resistência antimicrobiana.

2.  MATERIAIS E MÉTODOS

A estratégia metodológica escolhida para este estudo foi a Revisão Integrativa de Literatura- RIL. Para Lozada e Nunes (2019) a RIL consiste em pesquisar o que já existe de literatura publicada sobre o tema a respeito do qual você pretende tratar em sua pesquisa, definindo-se a base teórica que será utilizada como referência.

Para Sampieri et al. (2013), a revisão da literatura implica em detectar, consultar e obter a bibliografia (referências) e outros materiais úteis para os propósitos do estudo, dos quais pode-se extrair e recompilar informações relevantes e necessárias para delimitação do problema de pesquisa.

Segundo Mendes. et al. (2008) a revisão integrativa de literatura integra seis partes importantes que envolvem a identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão para a seleção da amostra; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados por meio de categorização; avaliação dos estudos incluídos; interpretação dos resultados e apresentação da revisão com síntese do conhecimento.

A Revisão Integrativa de Literatura, portanto, foi realizada a partir da Identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa. Definiu-se como tema “O papel estratégico do farmacêutico na farmácia comercial no combate ao uso irracional de antibióticos: uma revisão de literatura”, para assim buscar responder a seguinte questão de pesquisa: Quais as principais evidências na literatura científica no período de 2019 a 2024 que discutem os impactos do uso irracional de antibióticos sobre a imunidade?

A pesquisa foi realizada nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde (BVS MS), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Google Scholar. Utilizando-se como descritores: Uso irracional de antibióticos. Assistência farmacêutica.

As estratégias de busca estabelecidas basearam-se em suas combinações na língua portuguesa, utilizando o operador booleano AND. O recorte temporal utilizado foi de 5 anos, de 2019 a 2024 resultando em uma amostra inicial de 21 artigos, que após leitura minuciosa e exclusão de textos incompletos, resultaram em uma amostra final de 8 artigos, tabulados em forma de tabela para melhor compreensão dos resultados, e posteriormente analisados por categorias temáticas à luz de autores relacionados.

3.  RESULTADOS

Os artigos selecionados foram analisados e agrupados em três categorias temáticas principais, refletindo as discussões predominantes sobre o uso de antibióticos e a resistência bacteriana. Em cada categoria, os artigos são correlacionados para demonstrar como suas contribuições dialogam e se complementam.

TITULOAUTOR/ ANOTIPO DE ESTUDORESULTADOS
Resistência bacteriana consecutiva do uso indiscriminado de antibióticos: revisão integrativa.Araujo Neto et al. (2023)Pesquisa bibliográfica.Os resultados desta revisão integrativa indicam que o uso indiscriminado de medicamentos, incluindo antibióticos, é impulsionado por fatores socioculturais, condições econômicas, acesso aos serviços de saúde, imperícia na prescrição e falta de vigilância na aquisição. A presença de “farmácias caseiras” foi identificada como um risco alarmante para a automedicação e a não conclusão de tratamentos.
Prescrição de antibacterianos: prevalência, perfil e adesão de pacientes da atenção básicaPelicioli et al. (2019)Estudo transversal.O estudo avaliou 1.909 prescrições de antibacterianos dispensadas em uma farmácia da Estratégia Saúde da Família (ESF) ao longo de um ano. Os resultados indicam que o uso irracional de antibacterianos leva ao desenvolvimento de microrganismos resistentes. O trabalho visou analisar a prescrição, a adesão dos pacientes e realizar intervenções na equipe de saúde.
A realidade de uma prática autocomplacente: relato de um caso de automedicaçãoGarbin et al. (2019)Relato de caso.Este é um relato de caso clínico sobre a automedicação, que é um fenômeno crescente na população brasileira, onde as pessoas buscam alívio instantâneo de dores e desconfortos sem prescrição ou supervisão profissional.
Uso irracional de antibióticos e a resistência bacteriana no tratamento de doenças infecciosas negligencias: uma revisão de literatura.Rocha et al. (2024)Revisão integrativa.A revisão conclui que o uso irracional de antibióticos contribui para o aumento da morbidade e mortalidade, além de ser um problema de saúde pública global e multidisciplinar que intensifica os níveis de morbimortalidade e resistência bacteriana. A falta de informação, profissionais de saúde qualificados, má qualidade nos serviços de saúde, e a ausência de recursos financeiros e do farmacêutico na equipe multidisciplinar são fatores que impedem o uso correto de antibióticos e o combate ao uso irracional.
O farmacêutico frente ao risco do uso irracional de antibióticos.Jesus Pereira et al. (2021)Revisão narrativa da literatura.Os resultados deste estudo enfatizam que o uso contínuo de antibacterianos sem orientação profissional é um dos principais fatores para a alta taxa de resistência bacteriana. O artigo destaca o papel crucial do farmacêutico na promoção do uso racional de antibióticos, por meio da dispensação correta e da educação em saúde para a população, tanto no setor público quanto no privado.
Investigando sobre o conhecimento dos discentes a respeito ao uso irracional de antibióticos e superbactérias.Luna e Cabral (2022)Estudo qualitativo.Este artigo teve como objetivo compreender o conhecimento de alunos do 9º ano de uma escola pública em Manaus, Amazonas, sobre o uso irracional de antibióticos e superbactérias, e verificar o conhecimento sobre microrganismos. O resumo indica que o uso inadequado e o pouco conhecimento contribuem para a resistência bacteriana, um problema de saúde pública.
Conhecimentos dos frequentadores de uma praça em serra-es sobre o uso irracional de antibióticos e resistência bacterianaMuller et al. (2022)Estudo de campo descritivo.A pesquisa revelou que a maioria dos entrevistados em Serra-ES possui nível superior de escolaridade (45%) e utiliza antibióticos sem prescrição médica (46%). As justificativas para a automedicação incluem dificuldade de acesso a consultas médicas (41%) ou falta de tempo (46%). A maioria (46%) demonstrou conhecimento satisfatório sobre resistência bacteriana, afirmando que o uso inadequado de antibióticos é o principal fator para o desenvolvimento de cepas resistentes. O estudo conclui que o uso irracional de antibióticos está mais ligado à cultura de automedicação do que ao grau de instrução.
Avaliação das contribuições de um site que suscita a educação científica como forma atenuante ao uso irracional de antibióticos e multirresistência bacteriana.Cabral et al. (2024)Pesquisa quali- quantitativa.O estudo demonstrou a relevância do site Zoopage para a divulgação do conhecimento científico como ferramenta de extensão universitária, apesar da necessidade de algumas melhorias. O site visa combater a desinformação sobre o uso de antibióticos e a multirresistência, abordando o uso racional de antibióticos, zoonoses e manejo animal para um público não acadêmico.

3.1  Impacto do Uso Irracional e Indiscriminado de Antibióticos na Resistência Bacteriana

A literatura consultada destaca de forma unânime que o uso inadequado e desnecessário de antibióticos é o principal impulsionador do desenvolvimento da resistência bacteriana (Abreu et al., 2024; Müller et al., 2025; Luna & Cabral, 2022; Pereira et al., 2021; Rocha et al., 2024; Pelicioli et al., 2021; Araújo Neto et al., 2023).

Essa resistência é descrita como um fenômeno ecológico intrínseco aos microrganismos, que desenvolvem defesas em resposta à exposição a esses fármacos (Pelicioli et al., 2021; Araújo Neto et al., 2023).

Há ainda um consenso de que o consumo indiscriminado não apenas eleva o surgimento de cepas resistentes, popularmente conhecidas como “superbactérias”, mas também acarreta graves consequências para a saúde pública, incluindo a ineficácia de tratamentos e o aumento da morbidade e mortalidade (Luna & Cabral, 2022; Rocha et al., 2024).

Nesse contexto, a Resolução – RDC Nº 20, de 5 de maio de 2011 (Brasil, 2011), que regulamenta a dispensação de antimicrobianos mediante retenção da segunda via da receita, surge como uma medida regulatória direta para mitigar o uso descontrolado, que, por sua vez, contribui para a resistência. A existência dessa norma ressalta a gravidade do impacto reconhecido pelas autoridades de saúde e a necessidade de intervenções para promover o uso mais consciente e reduzir a pressão seletiva sobre as bactérias.

3.2  Fatores Contribuintes para o Uso Irracional de Antibióticos

Diversos fatores são identificados como catalisadores do uso irracional de antibióticos, abrangendo desde o comportamento individual até questões sistêmicas. Entre eles, a automedicação emerge como um fenômeno prevalente e preocupante, muitas vezes desvinculado do nível de escolaridade do indivíduo, mas enraizado em uma cultura popular de busca por alívios rápidos (Müller et al., 2025; Garbin et al., 2019).

Além disso, a literatura aponta deficiências nas práticas de prescrição, incluindo prescrições errôneas, falta de informações claras, base em conhecimentos empíricos e até mesmo a ilegibilidade dos receituários, como elementos que contribuem significativamente para o problema (Rocha et al., 2024).

Fatores socioeconômicos e culturais, como acesso limitado a serviços de saúde, bem como a existência de “farmácias caseiras” e a ausência de vigilância na aquisição de medicamentos, são igualmente identificados como importantes facilitadores do uso indiscriminado (Araújo Neto et al., 2023).

A definição de Uso Racional de Medicamentos (URM), conforme descrito por Aizenstein (2016), serve como um contraponto direto a esses fatores. O URM preconiza que o paciente receba o medicamento apropriado, na dose e tempo adequados, e ao menor custo possível, com o objetivo de maximizar a eficácia terapêutica e minimizar riscos. Essa definição evidencia que os fatores contribuintes para o uso irracional são desvios desse ideal, e que a regulamentação, como a RDC Nº 20 (Brasil, 2011), é um esforço para alinhar as práticas à busca pelo uso racional.

3.3  Ações Educativas e o Papel do Profissional Farmacêutico na Prevenção da Resistência

A urgência de ações preventivas e educativas é um ponto convergente entre os estudos, que ressaltam a necessidade de combater o uso irracional e a resistência antimicrobiana.

Diante disso, a educação científica é proposta como uma estratégia fundamental para mitigar a desinformação e promover o uso consciente de antibióticos na população (Abreu et al., 2024; Luna & Cabral, 2022).

Nesse contexto, o profissional farmacêutico é unanimemente reconhecido como um ator central e indispensável. Sua atuação é considerada crucial tanto na dispensação correta dos medicamentos quanto na orientação aos pacientes, assegurando o uso racional e contribuindo diretamente para o combate à resistência bacteriana (Pereira et al., 2021).

A presença e a atuação qualificada do farmacêutico na equipe multidisciplinar de saúde são vistas como essenciais para garantir o sucesso terapêutico e minimizar os riscos associados ao uso inadequado de antibióticos (Araújo Neto et al., 2023).

A Assistência Farmacêutica, definida por Gonçalves et al. (2019) como um conjunto de ações voltadas à promoção e recuperação da saúde, com foco no acesso e uso racional do medicamento, abrange desde a pesquisa e produção até a dispensação e garantia. Essa definição amplia o escopo de atuação do farmacêutico, que é visto como essencial na orientação e educação dos pacientes para o uso correto de antibióticos (Pereira et al., 2021). A RDC Nº 20 (Brasil, 2011) fornece o arcabouço regulatório que empodera o farmacêutico no controle da dispensação de antimicrobianos, garantindo que o acesso ocorra sob supervisão profissional.

Além do ambiente de dispensação, Almeida e Miranda (2020) destacam a inserção do farmacêutico em Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) como uma estratégia fundamental. Nesses comitês, o farmacêutico contribui ativamente para a avaliação das prescrições de antimicrobianos, sugerindo a utilização mais racional e auxiliando na elaboração de protocolos padronizados, reforçando sua atuação estratégica na diminuição da resistência bacteriana em ambientes clínicos.

4. CONCLUSÕES

A resistência a antibióticos é um problema grave de saúde pública, causada principalmente pelo uso inadequado desses medicamentos. Essa prática leva as bactérias a desenvolverem defesas, tornando os tratamentos menos eficazes e aumentando o número de doenças e mortes. A situação se agravou com eventos como a pandemia de COVID-19, onde houve um uso excessivo de antibióticos sem necessidade.

Diversos fatores contribuem para o uso inadequado de antibióticos. A automedicação é comum, impulsionada pela busca rápida por alívio. Além disso, prescrições incorretas e a falta de informações claras por parte dos profissionais de saúde, somadas a dificuldades de acesso a serviços de saúde e a prática de ter “farmácias caseiras”, também contribuem para o uso indevido. O objetivo é que os pacientes recebam o medicamento certo, na dose e tempo corretos, e com o menor custo, para maximizar o tratamento e reduzir riscos.

Para combater a resistência bacteriana, são essenciais ações educativas e a participação ativa do farmacêutico. A educação científica ajuda a desmistificar informações e incentiva o uso consciente de antibióticos. O farmacêutico é fundamental na orientação dos pacientes e na correta entrega dos medicamentos, promovendo o uso racional e combatendo a resistência.

Em resumo, é crucial uma abordagem que una a conscientização da população, regulamentações rigorosas na venda de medicamentos e a valorização do papel do farmacêutico.

Isso é vital para garantir que os antibióticos continuem sendo eficazes no futuro.

REFERÊNCIAS

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