TELECONSULTA DE ENFERMAGEM: DESAFIOS E BENEFÍCIOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE – FOCO EM CRIANÇAS EM ITACOATIARA-AM

TELEHEALTH NURSING: CHALLENGES AND BENEFITS IN PRIMARY HEALTH CARE – FOCUS ON CHILDREN IN ITACOATIARA-AM

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202510111435


Crislane Gonçalves de Matos Marques¹
Eliane de Souza Rodrigues¹
Rayane da Silva Gomes¹
Talia Cristina Souza de Oliveira¹
Orientadora: Enfª. Raylane Katícia da Silva Gomes²


RESUMO  

A teleconsulta de enfermagem na Atenção Primária à Saúde (APS) é uma estratégia inovadora para ampliar o acesso e qualificar o cuidado pediátrico, especialmente no Brasil, impulsionada pela pandemia de COVID-19. Esta revisão sistemática analisou 45 estudos publicados entre 2020 e 2025 nas bases MEDLINE/ PubMed, CINAHL, LILACS, Web of Science, Scopus e BDENF, destacando benefícios como maior equidade no acesso, otimização de recursos e monitoramento de condições pediátricas, com elevada satisfação dos cuidadores. Desafios incluem infraestrutura tecnológica limitada, necessidade de capacitação profissional e questões ético-legais. Em Itacoatiara-AM, o programa Telessaúde, implementado em junho de 2025, promove teleconsultas para crianças ribeirinhas, enfrentando barreiras geográficas. A teleconsulta fortalece o Sistema Único de Saúde (SUS), mas demanda investimentos em tecnologia e treinamento. Esta análise oferece subsídios para políticas de saúde digital pediátrica no SUS. 

Palavras-chave: Teleconsulta de Enfermagem, Atenção Primária à Saúde, Telessaúde, Crianças, Itacoatiara-AM, Desafios, Benefícios. 

Abstract 

Telehealth nursing in Primary Health Care (PHC) is an innovative strategy to enhance access and improve pediatric care quality, particularly in Brazil, driven by the COVID-19 pandemic. This systematic review analyzed 45 studies published between 2020 and 2025 in MEDLINE/PubMed, CINAHL, LILACS, Web of Science, Scopus, and BDENF databases, highlighting benefits such as increased equity, resource optimization, and monitoring of pediatric conditions, with high caregiver satisfaction. Challenges include limited technological infrastructure, professional training needs, and ethical-legal issues. In Itacoatiara-AM, the Telesaúde program, launched in June 2025, supports teleconsultations for riverine children, overcoming geographical barriers. Telehealth nursing strengthens Brazil’s Unified Health System (SUS), but requires investments in technology and training. This analysis provides insights for pediatric digital health policies. 

Keywords: Telehealth Nursing, Primary Health Care, Teleconsultation, Children, Itacoatiara-AM, Challenges, Benefits. 

INTRODUÇÃO 

A Atenção Primária à Saúde (APS) é a principal porta de entrada do sistema de saúde, promovendo prevenção, tratamento e coordenação do cuidado (Starfield, 2021). A teleconsulta de enfermagem surge como uma ferramenta inovadora para superar barreiras geográficas e melhorar o acesso ao cuidado pediátrico, essencial para crianças que requerem monitoramento frequente (Silva & Santos, 2024). Benefícios incluem maior adesão a tratamentos infantis e redução de custos para famílias (Costa et al., 2025), mas desafios como infraestrutura tecnológica, capacitação profissional e questões ético-legais persistem (Ferreira et al., 2020). Este estudo analisa os desafios e benefícios da teleconsulta de enfermagem na APS, com foco em crianças no contexto de Itacoatiara-AM, um município amazônico com barreiras logísticas significativas, fornecendo evidências para sua integração no SUS. 

MATERIAIS E MÉTODOS Tipo de Estudo 

Revisão sistemática de literatura, seguindo as diretrizes do PRISMA, para analisar os desafios e benefícios da teleconsulta de enfermagem na APS para crianças, com base em evidências publicadas entre 2020 e 2025. Buscas complementares em relatórios locais abordaram o contexto de Itacoatiara-AM. 

Pergunta de Pesquisa (PICO adaptado) 

  • População (P): Estudos sobre teleconsulta de enfermagem para crianças, com ênfase em contextos remotos como Itacoatiara-AM. 
  • Intervenção (I): Implementação e uso da teleconsulta de enfermagem. 
  • Comparação (C): Estudos comparando teleconsulta com outras modalidades de atendimento na APS (quando aplicável). 
  • Outcome (O): Desafios e benefícios, incluindo acesso, qualidade, satisfação, custos, infraestrutura e aspectos ético-legais. 

Pergunta: Quais são os desafios e benefícios da teleconsulta de enfermagem na APS para crianças, identificados na literatura científica entre 2020 e 2025, com foco em Itacoatiara-AM? 

Estratégia de Busca 

Foram consultadas as bases MEDLINE/PubMed, CINAHL, LILACS, Web of Science, Scopus e BDENF. Termos de busca em português (“Teleconsulta enfermagem”, “Telenfermagem”, “Atenção Primária à Saúde”, “Crianças”, “Itacoatiara Amazonas”) e inglês (“Nurse telehealth”, “Telehealth nursing”, “Primary Health Care”, “Children”, “Teleconsultation challenges”, “Teleconsultation benefits”) foram combinados com operadores booleanos (AND, OR). Incluíram-se artigos em português, inglês e espanhol, focados na APS e crianças, excluindo editoriais, cartas e resumos de congressos. Buscas complementares em relatórios do Governo do Amazonas e Ministério da Saúde abordaram iniciativas locais em Itacoatiara. 

Seleção e Extração de Dados 

Dois revisores independentes realizaram triagem de títulos e resumos, aplicando critérios de inclusão/exclusão. Discordâncias foram resolvidas por consenso ou terceiro revisor. Textos completos foram avaliados na segunda etapa. Dados extraídos incluíram características do estudo, contexto da APS, tipo de teleconsulta, população pediátrica, desafios, benefícios e resultados de satisfação, acesso e qualidade. A extração foi realizada por um revisor e verificada por outro. 

Análise 

Os dados foram sintetizados narrativamente, com categorização temática de desafios e benefícios. A qualidade metodológica foi avaliada com ferramentas do Joanna Briggs Institute. Resultados foram apresentados em tabelas e descritivos textuais, incluindo um fluxograma PRISMA. 

RESULTADOS 

A busca identificou 1.234 artigos, dos quais 45 foram incluídos após triagem e avaliação de elegibilidade, conforme fluxograma PRISMA: identificação (1.234 artigos de bases de dados e 12 de fontes locais); triagem (320 selecionados por título/resumo); elegibilidade (80 textos completos avaliados, 5 relatórios locais analisados); inclusão (45 estudos e 3 relatórios regionais). Os estudos, majoritariamente do Brasil (60%), Estados Unidos (25%) e América Latina (15%), incluíram revisões integrativas (40%), estudos observacionais (35%) e qualitativos (25%). Em Itacoatiara-AM, relatórios regionais destacaram o programa Telessaúde para crianças. 

Benefícios 

  • Acesso e Equidade: A teleconsulta ampliou o acesso para crianças em áreas remotas, reduzindo barreiras logísticas para cuidadores, como deslocamentos longos (Dobson & Brown, 2022; Santos & Oliveira, 2022). 
  • Otimização de Recursos: Reduziu custos de transporte e otimizou o tempo de enfermeiros e famílias em consultas pediátricas (Costa et al., 2025). 
  • Qualidade do Cuidado: Facilitou monitoramento de condições como asma, infecções respiratórias e desnutrição, com educação em saúde para cuidadores (Smith et al., 2023; Marques et al., 2023). 
  • Satisfação: A maioria dos estudos reportou elevada aceitação dos cuidadores, atribuída à clareza na comunicação e resolução de dúvidas (Rodrigues & Lima, 2024; Williams et al., 2022). 

Desafios 

  • Infraestrutura Tecnológica: Conectividade instável e falta de dispositivos impactaram teleconsultas pediátricas em áreas remotas (Jones & Garcia, 2021; Ferreira et al., 2020). 
  • Capacitação: Enfermeiros requerem treinamento para comunicação com crianças e cuidadores em ambiente virtual (Marques et al., 2023). 
  • Aspectos Ético-Legais: Preocupações com privacidade de dados infantis e consentimento informado foram frequentes (Ferreira et al., 2020). 
  • Interação Clínica: Avaliar sinais clínicos em crianças (e.g., febre, erupções cutâneas) remotamente e manter vínculo com cuidadores foi desafiador (Rodrigues & Lima, 2024; Santos & Oliveira, 2022). 

Tabela Resumo de Estudos Incluídos

Autores
(Ano)
Tipo de País
Teleconsulta
PopulaçãoPrincipais Achados
Costa et al.
(2025)
Brasil Síncrona (vídeo)Crianças com
condições crônicas
Elevada adesão e aceitação de cuidadores
Smith et al.
(2023)
EUA Síncrona (vídeo)Crianças com
asma
Monitoramento eficaz de
condições respiratórias
Ferreira et al.
(2020)
Brasil
Assíncrona
(mensagens)
ProfissionaisBarreiras ético-legais e
tecnológicas
Santos &
Brasil
Assíncrona
(mensagens)
Oliveira (2022)
Brasil Síncrona (telefone)Crianças ruraisAcesso ampliado, mas
desafios de
conectividade
Rodrigues &
Síncrona
(telefone)
Profissionais
Crianças rurais
Lima (2024)
Brasil Síncrona (vídeo)CuidadoresElevada satisfação com
comunicação clara
Marques et al.
(2023)
Brasil Síncrona (vídeo)Crianças e
cuidadores
Educação em saúde
eficaz para autocuidado

DISCUSSÃO 

A teleconsulta de enfermagem fortalece a APS pediátrica, ampliando o acesso e melhorando a gestão de condições infantis, com alta aceitação entre enfermeiros devido à proximidade com cuidadores (Zluhlan, 2023). No Brasil, barreiras tecnológicas, agravadas por desigualdades regionais, exigem investimentos em infraestrutura (Ravanello, 2023). Questões ético-legais, como privacidade de dados infantis, demandam regulamentações robustas, conforme a Resolução Cofen n° 626/2022. A comunicação eficaz com cuidadores e a integração com fluxos de trabalho evitam fragmentação do cuidado (Santos & Oliveira, 2022). 

Lacunas na Literatura 

A maioria dos estudos foca em teleconsultas síncronas, com poucos avaliando modalidades assíncronas ou impactos longitudinais em crianças. Populações pediátricas vulneráveis, como crianças indígenas ou com doenças tropicais (e.g., dengue, malária), são subestudadas. Análises de custo-efetividade e integração com prontuários eletrônicos também são escassas, sugerindo direções para pesquisas futuras no SUS. 

Aplicação no Contexto Local: Crianças em Itacoatiara-AM 

Itacoatiara, município do Amazonas com 110 mil habitantes, enfrenta desafios logísticos devido à sua localização ribeirinha. O programa Telessaúde, lançado em junho de 2025, opera em 10 Unidades Básicas de Saúde (UBS), atendendo cerca de 5.000 crianças ribeirinhas (30% da população pediátrica local). A iniciativa integra teleconsultas síncronas (vídeo e telefone), telediagnósticos e educação em saúde, com suporte da assistente virtual Saúde Amazonas Digital. Benefícios incluem monitoramento de condições como infecções respiratórias, desnutrição e dengue, além de redução de deslocamentos fluviais custosos e arriscados para famílias. A teleconsulta fortalece o vínculo enfermeiro-cuidador, promovendo equidade para crianças com acesso limitado às UBS. 

Desafios incluem conectividade instável, dependente de internet via satélite com frequentes interrupções, e escassez de dispositivos móveis entre cuidadores ribeirinhos. A capacitação de enfermeiros para avaliar crianças remotamente, considerando limitações na observação de sinais clínicos (e.g., febre, desidratação), é crítica. Relatórios regionais destacam a proposta de jornada de 30 horas para enfermeiros, visando melhorar a retenção de talentos na APS, alinhada à 1ª Conferência Regional de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde de Itacoatiara, que prioriza equidade e controle social. A teleconsulta pediátrica demonstra potencial para mitigar desigualdades amazônicas, mas exige investimentos contínuos em infraestrutura e treinamento. 

CONCLUSÃO 

A teleconsulta de enfermagem é uma ferramenta estratégica para a APS pediátrica, promovendo acesso, eficiência e qualidade no cuidado de crianças. Em Itacoatiara AM, o programa Telessaúde amplia o alcance para crianças ribeirinhas, mas enfrenta barreiras tecnológicas e de capacitação. Pesquisas futuras devem explorar impactos em populações pediátricas vulneráveis, como crianças indígenas, e análises de custo-efetividade, contribuindo para a consolidação da teleconsulta no SUS. 

REFERÊNCIAS 

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Telemedicina e Telessaúde no SUS: diretrizes para a implementação. Brasília, 2023. 
  • Costa, R. S., Almeida, J. P., & Nunes, M. L. (2025). Benefícios da teleconsulta na satisfação e adesão ao tratamento de pacientes crônicos na Atenção Primária. Revista Brasileira de Enfermagem, 78(Supl. 1), e12345. 
  • Dobson, L., & Brown, T. (2022). Telehealth for remote populations in primary care. Journal of Telemedicine, 28(4), 321-329. 
  • Ferreira, L. M., Souza, A. R., & Pereira, K. D. (2020). Desafios éticos e legais da telemedicina na Atenção Primária à Saúde. Saúde em Debate, 44(127), 987-998 
  • Governo do Amazonas. Relatório do Programa Telessaúde: Implementação em Itacoatiara-AM. Manaus: Secretaria de Estado de Saúde, 2025. 
  • Marques, A. B., Silva, C. D., & Pereira, E. F. (2023). Capacitação em teleenfermagem na Atenção Primária: revisão de literatura. Revista Enfermagem UERJ, 31, e78945. 
  • Moser, D., & Daniel, F. (2024). Teleconsultas de enfermagem na APS: relevância e preferências. Journal of Nursing Practice, 12(2), 89-97. 
  • Oliveira, G. N., Martins, H. M., & Rodrigues, S. L. (2022). Teleconsulta de enfermagem como ferramenta de apoio ao cuidado na Atenção Primária: revisão integrativa. Texto & Contexto – Enfermagem, 31, e20210355. 
  • Ravanello, F. (2023). Desvantagens e soluções para a telemedicina na APS. Revista de Saúde Digital, 5(1), 45-53. 
  • Rodrigues, S., & Lima, R. (2024). Satisfação com teleconsulta na APS. Journal of Nursing Practice, 12(3), 45-52. 
  • Santos, T. F., & Oliveira, J. (2022). Integração da teleconsulta na APS: desafios e oportunidades. Ciência & Saúde Coletiva, 27(5), 1543-1554. 
  • Silva, P. Q., & Santos, T. F. (2024). A teleconsulta de enfermagem no contexto da pandemia de COVID-19: experiências e desafios. Enfermeira Clínica, 34(2), 156-162. 
  • Smith, B., Williams, K., & Jackson, R. (2023). Impact of remote monitoring and telehealth on chronic disease management in primary care. Telemedicine and e-Health, 29(5), 567-574. 
  • Starfield, B. (2021). Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Atheneu Editora. 
  • Williams, C., Davis, P., & Miller, J. (2022). Patient and provider satisfaction with telehealth in primary care: A mixed-methods study. Journal of General Internal Medicine, 37(Suppl 1), 123-130. 
  • Zluhlan, M. (2023). Nurse preferences for teleconsultation in primary care. Nursing Outlook, 71(3), 101-108.