THE IMPACTS OF HEPATITIS B IN THE STATE OF RONDONIA AND THE CLINICAL PROFILE OF PATIENTS UNDER TREATMENT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202510101431
Lucas de Lima Magalhães1
Pedro Henrique Campelo Tomazelli2
Rebecca Victória Souza Medeiros3
Orientador: Deusilene Souza Vieira4
RESUMO
Introdução: O termo hepatite B é utilizado para designar uma infecção do fígado, na qual vírus hepatotrópicos são os agentes etiológicos responsáveis em determinadas regiões do planeta. O vírus da hepatite B (VHB) é um importante problema de saúde pública, sendo o agente causador de uma das formas mais graves de hepatite viral. O Brasil é considerado um país de baixa endemicidade, porém algumas regiões, como o estado de Rondônia, apresentam taxas mais elevadas de infecção, influenciadas por fatores socioeconômicos e de acesso à saúde. A transmissão pode ocorrer por via parenteral, sexual ou perinatal, e a infecção pode manifestar-se de forma aguda ou crônica. Em sua forma crônica, o VHB pode desencadear acometimentos sistêmicos que envolvem órgãos como rins, pele, articulações e sistema nervoso, além de evoluir para cirrose e carcinoma hepatocelular. Dessa forma, compreender o panorama da hepatite B em Rondônia e suas repercussões sistêmicas é essencial para aprimorar o diagnóstico, o tratamento e as medidas preventivas. Objetivos: Dessa forma, o objetivo deste estudo será revisar a literatura científica acerca dos impactos da hepatite B no estado de Rondônia e seu acometimento sistêmico, destacando a importância do diagnóstico precoce, do acompanhamento clínico e das medidas de prevenção. Materiais e Métodos: Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica narrativa, com base na análise de artigos científicos publicados entre 2010 e 2025, disponíveis nas bases de dados SciELO, PubMed e LILACS. Foram utilizados os descritores: “hepatite B”, “Rondônia”, “manifestações sistêmicas” e “epidemiologia”. Foram incluídos estudos em português e inglês que abordassem aspectos clínicos, epidemiológicos, terapêuticos e preventivos relacionados à hepatite B no contexto brasileiro, com ênfase na região Norte. Trabalhos duplicados, editoriais e artigos sem texto completo foram excluídos. Resultados Esperados: Assim, espera-se que, por meio deste estudo, seja possível identificar e compreender os principais impactos da hepatite B em Rondônia, destacando suas características epidemiológicas, manifestações sistêmicas e estratégias de manejo clínico descritas na literatura. Pretende-se, ainda, contribuir para a ampliação do conhecimento científico sobre a doença no estado, reforçando a importância da vacinação, do rastreamento ativo e do tratamento adequado na redução da morbimortalidade associada à infecção pelo VHB.
Palavras-chave: Hepatite B; Rondônia; Manifestações sistêmicas.
ABSTRACT
Introduction: The term hepatitis B is used to describe a liver infection in which hepatotropic viruses are the etiological agents responsible in certain regions of the world. The hepatitis B virus (HBV) represents an important public health issue and is the causative agent of one of the most severe forms of viral hepatitis. Brazil is considered a country with low endemicity; however, some regions, such as the state of Rondônia, present higher infection rates influenced by socioeconomic factors and healthcare access. Transmission can occur through parenteral, sexual, or perinatal routes, and the infection may present in acute or chronic forms. In its chronic form, HBV can trigger systemic involvement affecting organs such as the kidneys, skin, joints, and nervous system, and may progress to cirrhosis and hepatocellular carcinoma. Therefore, understanding the epidemiological and clinical landscape of hepatitis B in Rondônia and its systemic repercussions is essential for improving diagnosis, treatment, and preventive measures. Objectives: Thus, the objective of this study is to review the scientific literature on the impacts of hepatitis B in the state of Rondônia and its systemic involvement, highlighting the importance of early diagnosis, clinical follow-up, and preventive strategies. Materials and Methods: For this purpose, a narrative literature review was conducted based on the analysis of scientific articles published between 2010 and 2025, available in the databases SciELO, PubMed, and LILACS. The descriptors used were “hepatitis B”, “Rondônia”, “systemic manifestations”, and “epidemiology”. Studies in Portuguese and English addressing clinical, epidemiological, therapeutic, and preventive aspects related to hepatitis B in the Brazilian context, with emphasis on the Northern region, were included. Duplicated studies, editorials, and articles without full text were excluded. Expected Results: It is expected that this study will allow the identification and understanding of the main impacts of hepatitis B in Rondônia, highlighting its epidemiological characteristics, systemic manifestations, and clinical management strategies described in the literature. Furthermore, it aims to contribute to the expansion of scientific knowledge about the disease in the state, reinforcing the importance of vaccination, active screening, and adequate treatment in reducing the morbidity and mortality associated with HBV infection.
Keywords: Hepatitis B; Rondônia; Systemic manifestations.
1. INTRODUÇÃO
A hepatite B é uma infecção causada por um vírus do gênero Orthohepadnavirus, com genoma constituído por um DNA de fita dupla parcialmente circular, conforme estudos de Bastos et al. (2019). A partícula viral apresenta um envelope lipoprotéico, onde estão proteínas expressas de superfície (HBsAg). Contém internamente o nucleocapsídeo, com informações que codificam quatro genes: polimerase (P), superfície (S; pré-S1 e pré-S2), pré-núcleo/núcleo (C) e a proteína X. Através da transcrição reversa, o vírus produz 5 transcrições de RNA viral, que posteriormente são traduzidas em 7 proteínas específicas (McNaughton et al., 2018).
O vírus da hepatite B pode ser transmitido através do contato com sangue contaminado pela via parenteral e perinatal. A primeira ocorre comumente com contatos realizados por agulhas infectadas ou objetos perfurocortantes, enquanto a segunda ocorre da mãe infectada para o filho durante a gestação. A transmissão sexual consiste em outro meio de propagação envolvendo o contato com sangue ou fluidos corporais infectados (TERRAULT et al., 2018; THAN et al., 2019).
Quanto à cronicidade da doença, é caracterizada pelo tempo de infecção, a qual é tida como aguda, quando o paciente é acometido pelo vírus por um período menor que seis meses, ou quando esse tempo é ultrapassado, tem-se a hepatite B crônica (CHB). Vale salientar que a vacina permanece sendo o principal meio de prevenção à hepatite B, apesar da baixa adesão por parte da população durante os últimos anos.
Estima-se que aproximadamente 2 bilhões de pessoas tenham sido infectadas pelo vírus da hepatite B, e entre 257 e 291 milhões são infecciosas, segundo Naggie e Lok (2021). A endemicidade da infecção crônica varia mundialmente, com cerca de 50% da população que habita regiões altamente endêmicas (prevalência de infecção crônica em adultos superior a 8%).
Nos países de endemicidade divergentes, onde a prevalência do HBsAg varia entre 2-7%, a população infectada corresponde a aproximadamente 43%, segundo Santos et al. (2014). O Brasil, que registrou 264.640 casos confirmados de HBV entre 2000 e 2021, é classificado como um país de baixa endemicidade (prevalência de HBsAg menor que 2%), embora apresente alta heterogeneidade, com regiões de prevalência elevada, como os estados do Acre, Roraima e Rondônia (Pinto et al., 2021).
O diagnóstico clínico da hepatite B é muito diversificado, variando desde formas assintomáticas até o carcinoma hepatocelular. Manifestações clínicas podem surgir na fase aguda da doença, como: mal-estar, náusea, icterícia, colúria e dor no abdômen (DUARTE et al., 2021). Porém, o diagnóstico laboratorial é o mais utilizado para constatar a presença do HBV, uma vez que, através de marcadores sorológicos, os antígenos virais e seus respectivos anticorpos serão detectados, dependendo da metodologia analisada, contribuindo também para análise da fase clínica e monitoramento evolutivo da infecção pelo vírus (BRASIL, 2022). A identificação do DNA/HBV utilizando o diagnóstico molecular quantifica a taxa de replicação viral, permitindo um acompanhamento na avaliação da evolução clínica dos indivíduos infectados, além de inspecionar a eficácia da terapêutica aplicada (BRASIL, 2018).
Ademais, atualmente tem-se indicado o uso de certos medicamentos para o tratamento da hepatite B crônica, que envolve a prevenção do progresso da doença e o aumento da expectativa de vida do paciente infectado, além de evitar a evolução para cirrose e câncer hepático. Entre os medicamentos antivirais, observa-se a recomendação de alguns que já foram aprovados para o tratamento da CHB: entre os quais: alfapeginterferona 2a (αpegINF), tenofovir disoproxil fumarato (TDF), tenofovir alafenamida fumarato (TAF) e imunoglobulina humana anti-hepatite B (IGHAHB) (BRASIL, 2022). O presente estudo teve como objetivo analisar o perfil clínico dos portadores de hepatite B.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. VÍRUS DA HEPATITE B
O vírus da hepatite B (VHB) é um agente infeccioso hepatotrópico que pertence à família Hepadnaviridae, gênero Orthohepadnavirus (ICTV, 2017), e possui 42 nm de diâmetro. Este agente apresenta constituição externa de um envelope lipoproteico, no qual estão expressas as proteínas de superfície (HBsAg), e uma constituição interna de um capsídeo icosaédrico que contém o genoma viral, formado por aproximadamente 3.200 pares de bases que originam um DNA circular parcialmente duplo, constituído por uma fita completa – que apresenta polaridade negativa – e uma fita incompleta – que apresenta polaridade positiva – correspondente a um tamanho que varia entre 50% e 70% da fita completa (SANTOS et al., 2014). O genoma do VHB codifica quatro unidades de transcrição, quais sejam, o gene P (polimerase), o gene S (superfície), o gene C e o gene X (MCNAUGHTON et al., 2018). Além disso, o vírus apresenta-se classificado pela ordem alfabética em 10 genótipos (A – J) e 40 subgenótipos, exceto os genótipos E e G, distribuídos diferentemente nas diversas regiões do mundo, observando-se uma variabilidade de 8% entre os genótipos (GUVENIR; ARIKAN, 2020).
Figura 1. Estrutura da partícula do vírus da hepatite B (HBV).

2.2. REPLICAÇÃO DO VÍRUS HEPATITE B
A replicação do vírus da hepatite B, ou partícula de Dane, tem início com a entrada da partícula nos hepatócitos, ação mediada pelo receptor de entrada do HBV nas células do fígado, o peptídeo cotransportador de taurocolato de sódio (NTCP), que se liga à região pré-S1 da proteína de superfície do vírus (HBsAg) (TSUKUDA; WATASHI, 2020). Após isso, o nucleocapsídeo liberado no citoplasma é transportado aos poros nucleares (NCP), liberando a proteína Core e rcDNA, o qual é convertido em DNA de fita dupla circular covalentemente fechado (cccDNA), induzido por várias fontes celulares e virais. O cccDNA, então, permite a síntese de RNA mensageiro (mRNA) e RNA pré-genômico (pgRNA). O pgRNA é, por sua vez convertido, por transcrição reversa, em rcDNA pela polimerase viral nos capsídeos recém-formados (CHABROLLES et al, 2018), dando início a um novo ciclo viral.
Figura 2. Replicação do vírus da hepatite B.

2.3. TRANSMISSÃO
O HBV possui mecanismos de transmissão pela via sexual e pelo contato com sangue contaminado, que pode ocorrer pela via parenteral, percutânea ou vertical. A transmissão por via sexual é comum para o HBV, sendo a hepatite B considerada uma IST, em que a contaminação pode resultar de relação sexual sem preservativo com uma pessoa infectada. A transmissão da mãe com infecção para o bebê caracteriza a via vertical, que geralmente ocorre no momento do parto, sendo a via transplacentária incomum. Outras causas frequentes são pelo compartilhamento de seringas, agulhas e outros materiais para uso de drogas; compartilhamento de materiais de higiene pessoal que furam ou cortam; na confecção de tatuagem e colocação de piercings, procedimentos odontológicos, cirúrgicos, médicos, hemodiálise, quando as normas de biossegurança não são atendidas de maneira adequada e por contato próximo de pessoa a pessoa (presumivelmente por cortes, feridas e soluções de continuidade). A contaminação durante a transfusão de sangue se tornou rara desde a obrigatoriedade da triagem nos bancos de sangue (BRASIL, 2022).
2.4. EPIDEMIOLOGIA DO HBV
2.4.1 Mundial
A infecção pelo HBV é um grave problema de saúde pública no mundo e no Brasil. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente dois bilhões de indivíduos, cerca de um terço da população mundial, já tiveram contato com o HBV; destes, 257 milhões têm a forma crônica da Hepatite B, representando cerca de 3,5% da população. O número de mortes chega a 900 mil no mundo, principalmente causados por complicações da doença (PACCOUD et al., 2019). A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a endemicidade como baixa, intermediária baixa, intermediária alta e alta, de acordo com o antígeno de superfície (HBsAg), que indica a prevalência do marcador sorológico de viremia. A distribuição, no mundo, é heterogênea. Entretanto, algumas áreas apresentam alta endemicidade, principalmente o Sul da Ásia, a África Subsaariana, a Oceania e a Amazônia. Enquanto isso, países industrializados como a América do Norte, Austrália, Oeste Europeu e Escandinávia possuem baixa endemicidade. Portanto, à medida que o país oferece melhores condições de moradia, higiene e infraestrutura, ocorre uma progressiva diminuição da endemicidade da hepatite B (SOUTO, 2016).
2.4.2 No Brasil
A prevalência do HBV no Brasil alcança aproximadamente 6,7/100,000 habitantes, considerada baixa. Porém, o país apresenta considerável heterogeneidade em seu território. As 5 regiões em que ele é dividido possuem diferentes aspectos econômicos, sociais e culturais, que impactam diretamente na condição de saúde da população residente. Além disso, uma mesma região pode apresentar discrepâncias na infecção (ALBUQUERQUE et al., 2017).
Figura 3. Taxa de detecção de hepatite B segundo UF e capital de residência. Brasil, 2021.

2.4.3. Em Rondônia
No estado de Rondônia, entre 2002 e 2012, foram notificados 7.132 casos, uma incidência de 42/100.000 habitantes por ano. Monte Negro e Ariquemes foram os municípios com as maiores taxas de incidência, respectivamente 187,2/100.000 habitantes e 157,2/100.000 habitantes (VIEIRA et al., 2015). Um estudo conduzido em duas localidades ribeirinhas na capital de Rondônia observou que em 660 amostras, 335 delas apresentaram positividade para algum tipo de marcador sorológico. Entretanto, em apenas 12 delas o HBsAg foi reagente, demonstrando que os dois locais são de baixa endemicidade (SILVA et al., 2015).
2.5. EVOLUÇÃO CLÍNICA DA HEPATITE B
A hepatite B apresenta-se na sua forma aguda ou crônica em indivíduos infectados. O período médio de incubação da infecção pelo vírus é de 75 dias após a exposição, com a variação de 30 a 180 dias, o aparecimento de sintomas durante a infecção aguda pelo HBV e sua evolução são dependentes da idade e status imunológicos do indivíduo. A maioria dos infectados com sintomas na fase aguda demonstra um quadro insidioso, inespecífico e de baixa duração, os quais podem dificultar a identificação clínica se não houver procura por uma avaliação e dosagem dos níveis de transaminases. Os sintomas mais comuns na fase agudam podem incluir náuseas, anorexia, fadiga, mal-estar, vômitos, desconforto abdominal e icterícia (WILKINS et al., 2019).
A infecção crônica da hepatite B torna-se um processo dinâmico, refletindo a comunicação entre a replicação viral e a resposta imune do hospedeiro. Pode evoluir de forma lenta ou rápida, é definida pela presença persistente do HbsAg no marcador sorológico do indivíduo por um período de 6 meses ou mais. Surgimento de cirrose hepática e carcinoma hepatocelular podem ser marcas da hepatite B crônica, sua história natural é apresentada por cinco fases distintas, que podem ser ou não sequenciais e levam em consideração a presença de HBeAg, aminotransferases (ALT/TGP), níveis do material genético do vírus (HBV-DNA) e a presença ou ausência de inflamação e fibrose hepáticas. Sendo assim, as cinco fases são: fase imunotolerante, fase imunorreativa, fase de baixa replicação viral, fase de reativação e fase de cura funcional (ASPINALL et al., 2011; BRASIL, 2022).
2.6. DIAGNÓSTICO (PCDT)
Surge a necessidade de utilizar o diagnóstico laboratorial para detectar a presença do HBV. Baseia-se na detecção de marcadores sorológicos e molecular do vírus (DUARTE et al., 2021).
2.6.1. Marcadores Sorológicos e Molecular do HBV
Os marcadores sorológicos objetivam a detecção do antígeno (HBsAg) de superfície do HBV, nos casos de positivação, a complementação é realizada através do anti-HBc total. Os anti-HBs, anti-HBe e HBeAg, utilizados com os outros marcadores, contribuem na análise da fase clínica e monitoramento evolutivo da infecção pelo vírus da hepatite B. Após 12 semanas do desaparecimento do HBsAg, é possível detectar o anti-HBs na circulação sanguínea, indicando cura e imunidade. Dessa maneira, caracteriza imunidade ao HBV, que presente de forma isolada caracteriza imunidade vacinal, já quando está junto com o anti-HBc total caracteriza imunidade por contato com o vírus. Determina-se o DNA/HBV utilizando a biologia molecular, através da implementação de métodos extremamente sensíveis e específicos para detecção do mesmo, quantificando a taxa de replicação viral, genotipagem e análise de mutações (GONÇALES, 2006; BRASIL, 2022; WILKINS et al., 2019).
Tabela 1. Marcadores sorológicos da hepatite B.

2.7. PREVENÇÃO E TRATAMENTO
A vacinação é o principal meio de prevenção contra a hepatite B, fazendo parte da distribuição gratuita e universal do SUS. Aos recém-nascidos e crianças com até 6 anos 11 meses e 29 dias, ela deve ser administrada em 4 doses, sendo a primeira monovalente até as primeiras 24h de vida e as restantes, pentavalentes aos 2, 4 e 6 meses de vida. Além disso, deve-se salientar a utilização de preservativos e o não compartilhamento de objetos perfurocortantes, evitando, assim, a transmissão sexual e parenteral.
Com relação ao tratamento, a carga viral é a principal referência para se indicar o tratamento de pacientes infectados, dessa forma, pacientes com concentrações de HBV-DNA maior ou igual a 2.000 UI/mL e níveis de ALT maiores ou iguais a 52 U/L em homens e 37 U/L em mulheres, devem ser tratados. E esse tratamento consiste na administração de fármacos como: alfapeginterferona 2a (αpegINF), entecavir (ETV), fumarato de tenofovir desoproxila (TDF), tenofovir alafenamida (TAF) e imunoglobulina humana anti-hepatite B (IGHAHB), este último especialmente indicado com a aplicação concomitante da vacina em indivíduos suscetíveis (BRASIL, 2022).
3. METODOLOGIA
3.1. TIPO DE PESQUISA
Trata-se de uma revisão bibliográfica narrativa, com abordagem descritiva e qualitativa, voltada à análise dos impactos da hepatite B no estado de Rondônia e ao perfil clínico de pacientes em tratamento. O estudo não envolveu coleta direta de dados de pacientes, sendo realizado exclusivamente a partir da literatura científica disponível.
A busca foi realizada nas bases de dados SciELO, PubMed e LILACS, considerando publicações entre os anos de 2010 e 2025. Foram utilizados os descritores: “hepatite B”, “Rondônia”, “perfil clínico”, “tratamento”, “epidemiologia” e “manifestações sistêmicas”.
3.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Artigos publicados em português ou inglês;
Estudos que abordassem aspectos epidemiológicos, clínicos, terapêuticos ou preventivos da hepatite B;
Trabalhos focados em pacientes residentes no Brasil, com ênfase na região Norte ou no estado de Rondônia.
3.3. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Publicações duplicadas, editoriais, resumos sem texto completo ou sem relevância direta para o tema;
Estudos sobre coinfecções (HIV, HCV, HDV) ou populações especiais não representativas do cenário geral.
3.4. ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Os artigos selecionados foram analisados de forma narrativa, buscando identificar:
A epidemiologia da hepatite B em Rondônia;
O perfil clínico dos pacientes em tratamento;
As estratégias terapêuticas adotadas e os principais desfechos clínicos descritos; Complicações sistêmicas associadas à doença crônica.
3.5. SÍNTESE DOS RESULTADOS
Os achados foram organizados em tópicos temáticos, de forma a apresentar uma visão integrada sobre os impactos da hepatite B no estado, o perfil clínico dos pacientes em tratamento e as recomendações terapêuticas encontradas na literatura científica.
4. RESULTADOS
A análise dos estudos revisados evidencia que a hepatite B em Rondônia configura um problema de saúde pública persistente, com características próprias relacionadas à distribuição geográfica, ao perfil clínico dos pacientes e à resposta terapêutica.
Estudos apontam que Rondônia apresenta taxas de incidência superiores à média nacional, principalmente em municípios como Monte Negro e Ariquemes, que registraram incidências anuais de 187,2/100.000 e 157,2/100.000 habitantes, respectivamente (VIEIRA et al., 2015). Pesquisas em comunidades ribeirinhas do rio Madeira identificaram marcadores sorológicos do HBV em mais de 50% das amostras avaliadas, embora a positividade do HBsAg tenha sido de apenas 1,8%, sugerindo baixa endemicidade nessas localidades específicas (SILVA et al., 2015).
Levantamentos mais recentes reforçam a heterogeneidade regional. Nielsen Ezinheiro et al. (2024) observaram que, entre 2009 e 2018, a incidência de hepatite B em Rondônia manteve tendência estável, com picos em áreas urbanas e rurais de difícil acesso, reforçando a influência de fatores socioeconômicos e culturais já discutidos por Albuquerque et al. (2017).
O perfil clínico dos portadores crônicos em Rondônia é caracterizado por predomínio de adultos jovens e de meia-idade, com manifestações variando desde quadros assintomáticos até evolução para fibrose e cirrose (VIEIRA et al., 2015; RODRIGUES et al., 2022). Em estudos locais, aproximadamente 18% dos pacientes acompanhados apresentaram cirrose, com estratificação predominante em Child-Pugh A, sugerindo evolução lenta da doença na maioria dos casos (PINTO et al., 2021).
Além disso, pesquisas apontam a importância da diversidade genética do vírus na região. Gomes (2017) identificou diferentes genótipos e subgenótipos circulando em Rondônia, fator que pode interferir tanto na evolução clínica quanto na resposta ao tratamento, corroborando achados internacionais que associam determinados genótipos a maior risco de progressão para carcinoma hepatocelular (LEE; LEE; AHN, 2020).
A adesão aos protocolos clínicos estabelecidos pelo Ministério da Saúde (2022) tem mostrado impacto positivo nos desfechos clínicos. Em pacientes tratados com antivirais como tenofovir e entecavir, observou-se redução significativa de marcadores bioquímicos, como ALT, AST e alfafetoproteína, indicando controle da replicação viral e menor risco de evolução para carcinoma hepatocelular (DUARTE et al., 2021; VIEIRA et al., 2015).
No entanto, desafios permanecem. A baixa cobertura vacinal em determinadas populações e as desigualdades de acesso a serviços especializados dificultam o controle da infecção (ALBUQUERQUE et al., 2017; BRASIL, 2022). A literatura sugere que intervenções intersetoriais e estratégias de busca ativa são fundamentais para ampliar o diagnóstico precoce e garantir maior eficácia terapêutica (ASPINALL et al., 2011; VERGARA, 2021).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na literatura revisada, é possível observar que a hepatite B apresenta impactos significativos na saúde dos pacientes em Rondônia, incluindo manifestações hepáticas e sistêmicas que podem afetar múltiplos órgãos. O perfil clínico dos pacientes em tratamento demonstra variação conforme o estágio da doença, a adesão terapêutica e a presença de comorbidades, evidenciando a importância do acompanhamento médico contínuo e do acesso adequado às terapias recomendadas pelo PCDT.
Além disso, os achados da literatura ressaltam a necessidade de estratégias de prevenção eficazes, como vacinação, rastreamento ativo e educação em saúde, para reduzir a morbimortalidade associada ao VHB na região.
Por fim, destaca-se que mais estudos epidemiológicos e clínicos são necessários, com maior abrangência populacional e acompanhamento longitudinal, para compreender melhor os fatores que influenciam a evolução clínica e a resposta ao tratamento em pacientes com hepatite B em Rondônia.
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1Discente do curso de Medicina do Centro Universitário Aparício Carvalho, Porto Velho, RO, Brasil.
2Discente do curso de Medicina do Centro Universitário Aparício Carvalho, Porto Velho, RO, Brasil.
3Discente do curso de Medicina do Centro Universitário Aparício Carvalho, Porto Velho, RO, Brasil.
4Docente do curso de Medicina do Centro Universitário Aparício Carvalho, Porto Velho, RO, Brasil.