IMPACT OF VAGINAL DELIVERY COMPARED TO CESAREAN SECTION ON POSTPARTUM RECOVERY AND NEWBORN HEALTH
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202506200257
Layra Eduarda Moreira Santana
RESUMO
O estudo analisou as diferenças entre o parto normal e a cesárea quanto à recuperação da mãe no pós-parto e à saúde do recém-nascido, diante do aumento significativo de cesarianas no Brasil. O objetivo foi investigar as diferenças entre o parto normal e a cesárea, com foco nas suas implicações para a recuperação pós-parto da mãe e nos efeitos sobre a saúde do recém-nascido. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada por meio de buscas nas bases PubMed, MEDLINE, LILACS e SciELO, com utilização do acrônimo PICO para a formulação da pergunta norteadora. Foram selecionados 12 artigos publicados nos últimos dez anos, com critérios de inclusão e exclusão previamente definidos. Os achados indicaram que o parto normal está associado a uma recuperação materna mais rápida, menor incidência de complicações no puerpério e benefícios à saúde neonatal, como melhor adaptação ao ambiente extrauterino e maiores escores de Apgar. Já a cesariana, quando realizada sem indicação clínica, demonstrou associação com infecção pós-parto, dificuldades na amamentação e maior risco de morbidades infantis, como problemas respiratórios e atrasos no desenvolvimento. A análise evidenciou que a escolha da via de parto deve ser baseada em critérios clínicos, com apoio de orientações adequadas durante o pré-natal, a fim de garantir melhores desfechos para mãe e bebê.
PALAVRAS-CHAVE: Parto normal. Cesárea. Recuperação pós-parto. Saúde do recém-nascido. Revisão integrativa.
ABSTRACT
The study analyzed the differences between vaginal delivery and cesarean section regarding maternal postpartum recovery and newborn health, considering the significant increase in cesarean rates in Brazil. The objective was to investigate the differences between vaginal delivery and cesarean section, focusing on their implications for the mother’s postpartum recovery and the effects on the newborn’s health. This is an integrative literature review conducted through searches in the PubMed, MEDLINE, LILACS, and SciELO databases, using the PICO acronym to formulate the guiding question. Twelve articles published in the last ten years were selected based on predefined inclusion and exclusion criteria. The findings indicated that vaginal delivery is associated with faster maternal recovery, lower incidence of postpartum complications, and neonatal benefits such as better adaptation to the extrauterine environment and higher Apgar scores. On the other hand, cesarean section, when performed without clinical indication, was associated with postpartum infections, breastfeeding difficulties, and increased risk of infant morbidities such as respiratory problems and developmental delays. The analysis highlighted that the choice of delivery method should be based on clinical criteria, supported by proper prenatal guidance to ensure better outcomes for both mother and baby.
KEYWORDS: Vaginal delivery. Cesarean section. Postpartum recovery. Newborn health. Integrative review.
INTRODUÇÃO
O parto consiste em uma série de processos fisiológicos que culminam na saída do feto e dos anexos maternos. Este evento marca a chegada de uma nova vida e é repleto de significados e emoções, indo além de um simples ato médico. A experiência do trabalho de parto é profundamente marcante para as mulheres, envolvendo não apenas transformações físicas, mas também influências culturais que podem gerar ansiedade e dor. Durante a gestação, muitas mulheres enfrentam incertezas sobre a escolha entre parto normal e cesárea (Da Silva; Dos Santos; De Passos 2022).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o parto normal é aquele que inicia espontaneamente, com baixo risco durante todo o trabalho de parto, resultando no nascimento do bebê na posição cefálica, entre 37 e 42 semanas de gestação, com a mãe e o bebê em boas condições após o nascimento (Lupu et al., 2023).
Por outro lado, a cesárea é uma intervenção cirúrgica destinada a retirar o bebê diretamente do útero. Originalmente desenvolvida para salvar a vida da mãe e do feto em casos de complicações graves, a cesárea tem sido cada vez mais empregada para atender às preferências da gestante e às conveniências da equipe médica (Ferreira; Skupien; Ravelli 2018).
Contudo, o aumento da preferência pela cesárea levanta preocupações sobre sua realização excessiva. Vários fatores podem contribuir para essa tendência, entre eles o temor das mulheres em relação à dor associada ao parto normal, a ausência de autonomia durante o processo de nascimento, a prevalência de violências obstétricas e a falta de compreensão sobre os riscos e benefícios das diferentes modalidades de parto. Esses elementos evidenciam a urgência de uma reavaliação do modelo de atendimento ao parto (Morais et al., 2022).
O parto normal oferece uma série de benefícios, incluindo uma recuperação mais rápida para a mãe, o contato imediato pele a pele com o recém-nascido e maior facilidade no início do aleitamento materno. Além disso, o risco de complicações em gestações futuras tende a ser menor. Já a cesariana, embora necessária em casos de emergência, como prolapso de cordão, descolamento prematuro da placenta ou placenta prévia, é associada a uma recuperação mais lenta e a maiores riscos em gestações subsequentes (Indami et al., 2024).
Diante dessas considerações, este trabalho busca responder à seguinte questão norteadora: “como o parto normal e a cesárea diferem em termos de recuperação pós-parto da mãe e saúde do recém-nascido, e quais são os impactos específicos de cada método?” A relevância desta investigação se justifica pelo crescente aumento das cesáreas no Brasil, o que torna essencial uma análise mais profunda dos efeitos desse tipo de parto em comparação ao parto normal, especialmente no que diz respeito à saúde materno-infantil. Compreender essas diferenças pode proporcionar às mulheres orientações para decisões mais informadas sobre a via de parto, além de contribuir para o aprimoramento das práticas obstétricas, assegurando que o bem-estar da mãe e do bebê seja priorizado. O objetivo deste estudo é investigar as diferenças entre o parto normal e a cesárea, com foco nas suas implicações para a recuperação pós-parto da mãe e nos efeitos sobre a saúde do recém-nascido.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, composta por seis etapas, conforme o método proposto por Mendes, Silveira e Galvão (2008). Na primeira etapa, foi formulada a pergunta norteadora: “Como o parto normal e a cesárea diferem em termos de recuperação pós-parto da mãe e saúde do recém-nascido, e quais são os impactos específicos de cada método?” Para a elaboração dessa pergunta, foi aplicada a estratégia de acrônimo PICO. Nessa estratégia, a letra “P” refere-se à população-alvo do estudo, que inclui gestantes e recém-nascidos. A letra “I” diz respeito à intervenção, considerando os diferentes tipos de parto, como o parto normal e a cesárea. O “C” indica a comparação entre os dois tipos de parto, com foco nas diferenças relacionadas à recuperação pós-parto da mãe e à saúde do recém-nascido. Finalmente, o “O” se refere aos desfechos observados, ou seja, os resultados relacionados à saúde materno-infantil.
Para a segunda fase, foi realizado o levantamento das publicações nas bases de dados de saúde, incluindo PubMed, MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e SciELO (Scientific Electronic Library Online). Utilizou-se o DECS (Descritores em Ciências da Saúde) e o MESH (Medical Subject Headings) para a construção dos descritores. Além disso, foram aplicados conectivos booleanos (AND, OR e NOT) e a estratégia de truncamento para otimizar a busca. O processo de seleção incluiu a aplicação de critérios de inclusão e exclusão para assegurar a relevância e a qualidade dos estudos selecionados para a análise.
A pesquisa inicial resultou em 401 estudos. Após a aplicação de filtros, como o período de publicação (últimos 10 anos) e idioma (português e inglês), o número de resultados foi reduzido para 90. A partir da leitura dos títulos e resumos, foram selecionados 12 estudos para análise completa, excluindo aqueles que não atendiam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos. Também foram descartados estudos que abordavam exclusivamente questões farmacológicas ou que ficavam em populações específicas, como gestantes de alto risco. Esses critérios de inclusão selecionaram artigos que exploravam as diferenças entre o parto normal e a cesárea, considerando a recuperação materna e a saúde do recém-nascido.
Na terceira fase, foi realizada a coleta de dados a partir dos estudos selecionados na etapa anterior. Para isso, foi elaborado um instrumento de coleta, que inclui informações como: ano de publicação, autor, referência, método e principais resultados e conclusões. Esses dados foram organizados em uma tabela para facilitar a análise e comparação entre os estudos.
Na quarta fase, foi conduzida uma análise crítica dos estudos incluídos, considerando a qualidade metodológica, a relevância e a consistência dos resultados apresentados. Essa etapa permitiu identificar padrões e divergências nas evidências sobre as diferenças entre o parto normal e a cesárea, com foco na recuperação materna e saúde do recém-nascido.
A quinta fase consistiu na discussão dos resultados, interpretando as evidências encontradas à luz do objetivo do estudo e das questões levantadas na introdução. Foram destacados os achados mais relevantes, bem como as lacunas e limitações observadas nos estudos analisados.
Finalmente, na sexta fase, foi realizada a apresentação da revisão integrativa, incluindo a síntese dos resultados, as conclusões e as implicações para a prática clínica e futuras pesquisas.
Figura 1: Fluxograma de seleção dos estudos para composição desta Revisão Integrativa de Literatura (RIL).
RESULTADOS
A seguir, são apresentados os achados da pesquisa, com base nos artigos selecionados. Os estudos analisados abordam diferentes aspectos da comparação entre parto normal e cesárea, considerando fatores como complicações maternas e neonatais, recuperação pós-parto, impacto na amamentação e no desenvolvimento infantil. O Quadro 1 sintetiza as principais informações extraídas das publicações revisadas.
Quadro 1. Principais resultados dos estudos selecionados para RIL.
Ano | Autor | Referência | Método | Principais Resultados |
2015 | De Melo, Jacia Kaline Ferreira et al. | Vantagens e desvantagens do parto normal e cesariano: opinião de puérperas. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, v. 7, n. 4, p. 3197-3205, 2015. | Pesquisa qualitativa. | O estudo concluiu que, embora o parto normal cause dores intensas no momento do parto, a recuperação é mais rápida. Já a cesariana foi associada a uma recuperação mais lenta, com maior risco de complicações e dores prolongadas no pós-operatório. As participantes destacaram uma percepção mais negativa da cesariana. |
2016 | İsic, Yuksel et al. | Efeitos precoces da lactação pós-parto do parto cesáreo e vaginal. Ginekol Pol. 2016;87(6):426-30. doi: 10.5603/GP.2016.0020. PMID: 27418219. | Estudo observacional e comparativo. | O estudo mostrou que a cesárea, especialmente a eletiva, está associada a dificuldades na amamentação, com maior necessidade de apoio materno e menor frequência de amamentação nos primeiros dias após o parto. Além disso, a cesárea foi identificada como um fator de risco para lactogênese retardada. A pesquisa reforça que o contato pele a pele e a amamentação precoce são fundamentais para o sucesso da amamentação, sendo que mães que passam por cesárea podem precisar de suporte adicional da equipe de saúde. |
2018 | Mascarelo, Keila Cristina et al. | Complicações puerperais precoces e tardias associadas à via de parto em uma coorte no Brasil. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 21, p. e180010, 2018. | Estudo de coorte. | O estudo apontou que a cesariana esteve associada a um risco significativamente maior de complicações maternas precoces, incluindo infecção pós-parto, infecção urinária, dor, cefaleia e complicações anestésicas, em comparação ao parto vaginal. |
2020 | Cavaggioni, Ana Paula Magosso et al. | A influência da via de parto no desenvolvimento infantil: uma comparação por meio da Bayley-III. J. Hum. Growth Dev., São Paulo , v. 30, n. 2, p. 301-310, ago. 2020 . | Estudo exploratório descritivo e transversal | A pesquisa identificou que crianças nascidas por cesárea eletiva apresentaram mais prejuízos no processamento sensorial, no comportamento adaptativo, na motricidade fina e na linguagem expressiva em comparação às nascidas por parto vaginal, evidenciando possíveis impactos dessa via de nascimento no desenvolvimento infantil. |
2020 | Slabuszewsk a-Jozwiak, Aneta et al. | Consequências Pediátricas da Cesariana—Uma Revisão Sistemática e Meta-Análise. International journal of environmental research and public health, v. 17, n. 21, p. 8031. | Revisão sistemática. | O estudo mostrou que crianças nascidas por cesariana tiveram maior ocorrência de infecções respiratórias, obesidade e asma em comparação às nascidas por parto vaginal. |
2021 | Brito, Ana Paula Almeida et al. | Prevalência, características e impacto da dor no período pós-parto. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 55, p. e03691, 2021. | Estudo transversal | O estudo indicou que, entre as puérperas entrevistadas, a ocorrência de dor foi maior entre aquelas que passaram por cesariana; contudo, a severidade da dor não demonstrou relação direta com o tipo de parto. |
2021 | Mascarello, Keila Cristina et al. | Análise das complicações maternas precoces e tardias associadas à via de parto utilizando escore de propensão. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 24, p. e210027, 2021. | Estudo de coorte. | O estudo identificou que as mulheres que tiveram cesariana apresentaram maior risco de infecção pós-parto, infecção urinária, complicações anestésicas e cefaleia em comparação às que tiveram parto vaginal. No entanto, o risco de anemia e hemorroidas foi menor no grupo da cesárea, destacando a importância de indicações bem fundamentadas para esse tipo de parto. |
2022 | Khanum, Sabiha et al. | Saúde mental de mães após parto normal e cesariana: Um estudo comparativo em Kohat, Khyber Pakhtunkhwa, Paquistão.Texto & Contexto-Enfermagem m, v. 31, p. e20220140, 2022. | Estudo causal-comparativo. | A pesquisa revelou que as mulheres que tiveram parto normal relataram uma qualidade de vida superior no pós-parto em comparação às que passaram por cesariana, especialmente em relação à saúde emocional, energia e interação social. |
2022 | Gonzaga, Márcia Féldreman Nunes et al. | Incidência de morbidades e déficit no desenvolvimento de crianças nascidas de cesariana x parto normal. Scire Salutis, v. 12, n. 2, p. 163-172. | Revisão de escopo. | A revisão mostrou que a cesariana sem indicação médica pode trazer impactos negativos à saúde da criança, tanto a curto quanto a longo prazo. O procedimento está associado a riscos como imprecisão na idade gestacional, atraso no contato pele a pele com a mãe e na primeira amamentação, além de menor aceitação da amamentação. Esses fatores podem contribuir para déficits no desenvolvimento infantil, incluindo atrasos nos marcos de crescimento, maior risco de TEA, TDAH e doenças imunológicas. Crianças nascidas por cesariana também apresentam maior taxa de hospitalização, especialmente por asma quando há cesarianas repetidas. |
2023 | Rosa, Carolina Martins da et al. | Avaliação e comparação da força muscular respiratória, funcionalidade, e de assoalho pélvico no puerpério imediato de parto normal e cesárea. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 45, p. 121-126, 2023. | Estudo transversal. | O estudo constatou que, embora as mulheres submetidas à cesariana apresentavam maior força do assoalho pélvico, aquelas que tiveram parto normal demonstraram melhor funcionalidade, sem diferenças na força muscular respiratória e periférica. Além disso, bebês de menor peso ao nascer foram, em sua maioria, concebidos por parto normal, enquanto os de maior peso nasceram por cesariana. |
2024 | Dalla Corte, Sofia Lisboa et al. | Relação da via de parto com a prematuridade em uma maternidade pública do sul do Brasil. Studies in Health Sciences, v. 5, n. 2, p. e4051-e4051, 2024. | Estudo de coorte transversal. | O estudo mostrou que recém-nascidos prematuros de cesárea tiveram menor peso ao nascer, piores índices de Apgar e maior necessidade de UTI, ventilação mecânica e apresentaram mais casos de morte neonatal em comparação aos nascidos de parto normal. |
2024 | Cardoso, Vanessa Lara et al. | Comparação Entre as Vias de Parto e os Impactos no Recém-Nascido. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences. 2024;6(9):953-960. | Revisão integrativa. | A revisão identificou que bebês nascidos por parto vaginal apresentam melhor adaptação ao ambiente extrauterino, melhores escores de Apgar e menor risco de complicações respiratórias. Já os nascidos por cesariana, especialmente eletiva, têm maior necessidade de cuidados intensivos neonatais, risco aumentado de desconforto respiratório e menor diversidade microbiana inicial, o que pode afetar a imunidade. |
Com base nos estudos analisados, observou-se que o parto normal tende a favorecer uma recuperação materna mais rápida, menor incidência de complicações pós-parto e benefícios significativos à saúde do recém-nascido, como melhores escores de Apgar, menor necessidade de internação em UTI e melhor adaptação ao ambiente extrauterino. Em contrapartida, a cesariana, sobretudo quando realizada sem indicação clínica, foi associada a maior risco de infecções, dificuldades na amamentação, dor prolongada, além de possíveis impactos negativos no desenvolvimento infantil e maior prevalência de doenças respiratórias. Esses achados reforçam a importância da escolha consciente da via de parto, considerando os riscos e benefícios de cada método.
DISCUSSÃO
Os achados desta revisão reforçam que a escolha da via de parto influencia significativamente tanto a recuperação materna quanto a saúde do recém-nascido. O parto normal tem sido relacionado a melhores desfechos maternos e neonatais, enquanto a cesariana, especialmente sem indicação clínica, pode trazer complicações imediatas e tardias.
A dor pós-parto é um dos aspectos mais relevantes na comparação entre as vias de parto. Segundo Brito et al. (2021), a ocorrência de dor foi maior entre puérperas submetidas à cesariana, ainda que sua severidade não tenha apresentado relação direta com o tipo de parto. Além da dor, outros aspectos da saúde materna também são impactados. Khanum et al. (2022) evidenciaram que mulheres que passaram pelo parto normal relataram melhor qualidade de vida no pós-parto, com maior estabilidade emocional, mais energia e melhor interação social em comparação às que tiveram cesariana.
As complicações maternas também são um ponto central nessa discussão. Estudos de Mascarello et al. (2018; 2021) indicaram que a cesariana está vinculada a um maior risco de infecção pós-parto, infecção urinária, complicações anestésicas e cefaleia. No entanto, foi identificado um menor risco de anemia e hemorroidas nesse grupo, o que ressalta a importância de uma avaliação criteriosa quanto à indicação do procedimento.
Outro fator relevante é a percepção das puérperas sobre as vias de parto. O estudo qualitativo de De Melo et al. (2015) revelou que, apesar da dor intensa no momento do parto normal, as mulheres relataram uma recuperação mais rápida em comparação à cesariana, que foi relacionada a dores prolongadas e maior risco de complicações no pós-operatório.
Além das consequências maternas, a escolha da via de parto também impacta a funcionalidade e o desenvolvimento infantil. Rosa et al. (2023) observaram que, embora a cesariana tenha sido associada a uma maior força do assoalho pélvico materno, o parto normal proporcionou melhor funcionalidade global para as mulheres no puerpério imediato. Cavaggioni et al. (2020) identificaram que crianças nascidas por cesariana eletiva apresentaram mais dificuldades no processamento sensorial, motricidade fina e linguagem expressiva, sugerindo efeitos adversos no desenvolvimento.
A relação entre cesariana e prematuridade também merece destaque. Dalla Corte et al. (2024) mostraram que recém-nascidos prematuros de cesárea apresentaram menor peso ao nascer, piores índices de Apgar, maior necessidade de UTI e ventilação mecânica, além de maior taxa de mortalidade neonatal em comparação aos nascidos de parto normal.
Contribuindo para essa perspectiva, Cardoso et al. (2024) destacaram que o parto normal favorece uma melhor adaptação do recém-nascido ao ambiente extrauterino, melhores 8 escores de Apgar e menor risco de complicações respiratórias. Já a cesariana, especialmente a eletiva, esteve associada a maior necessidade de cuidados intensivos neonatais, maior incidência de desconforto respiratório e menor diversidade microbiana, o que pode afetar negativamente o desenvolvimento imunológico do bebê.
As consequências pediátricas da cesariana também foram abordadas por Słabuszewska-Jóźwiak et al. (2020), que identificaram maior incidência de infecções respiratórias, obesidade e asma em crianças nascidas por esse tipo de parto. Em relação à amamentação, İsik et al. (2016) evidenciaram que a cesariana, especialmente a eletiva, pode ocasionar dificuldades na lactação, aumentar a necessidade de apoio materno e reduzir a frequência de amamentação nos primeiros dias. Além disso, foi identificada como fator de risco para lactogênese retardada.
Gonzaga et al. (2022) também alertaram sobre os impactos a curto e longo prazo na saúde infantil decorrentes da cesariana sem indicação médica, como atraso no contato pele a pele e na amamentação, maior risco de hospitalizações e o desenvolvimento de doenças imunológicas, TDAH e TEA.
Dessa forma, os resultados desta revisão reforçam a necessidade de um planejamento cuidadoso da via de parto, priorizando sempre a indicação clínica e a saúde materno-infantil. A decisão sobre o tipo de parto deve ser baseada em uma abordagem individualizada, levando em consideração os riscos e benefícios de cada opção. Além disso, é fundamental ampliar o conhecimento das gestantes sobre as consequências das diferentes vias de parto, permitindo uma escolha informada e consciente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos estudos evidencia a necessidade de incentivar o parto normal, sempre que viável, em virtude de seus benefícios para a recuperação materna e a saúde do recém-nascido. A cesariana, embora seja um procedimento seguro e fundamental em determinadas situações, quando realizada sem indicação médica, está associada a riscos aumentados para a mãe, como infecção pós-parto e dificuldades na amamentação, além de possíveis efeitos negativos para o bebê, como maior incidência de problemas respiratórios e déficits no desenvolvimento infantil.
Diante disso, torna-se indispensável que as gestantes recebam informações claras e baseadas em evidências durante as consultas de pré-natal sobre as possíveis complicações de ambos os tipos de parto. O esclarecimento adequado permite que tomem decisões mais embasadas, reduzindo a realização de cesarianas desnecessárias. Além disso, políticas públicas devem ser voltadas para conscientizar sobre as consequências da cesariana eletiva e garantir que o parto normal seja priorizado sempre que possível, com assistência adequada e segura.
Por fim, considerando que muitos dos estudos analisados são observacionais e podem apresentar limitações metodológicas, pesquisas futuras devem explorar os efeitos da cesariana a longo prazo, bem como investigar estratégias eficazes para reduzir sua realização desnecessária. Dessa forma, será possível aperfeiçoar as práticas obstétricas e proporcionar melhores desfechos para mães e recém-nascidos.
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