PHYSICAL ACTIVITY AND QUALITY OF LIFE OF THE OVERWEIGHT OR OBESE CHILD
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202505281239
Bruna Eduarda Laitart1
Eloeth Kaliska Piva2
Resumo
Introdução: A obesidade infantil é uma condição multifatorial, caracterizada pelo excesso de gordura corporal em crianças e adolescentes, gerando um desequilíbrio entre ingestão e gasto energético, associada a fatores genéticos, ambientais e socioeconômicos. Objetivo: compreender os fatores que influenciam no nível de atividade física de crianças com sobrepeso e obesidade infantil, bem como, a existência de problemas osteoarticulares e qualidade de vida dessas crianças. Métodos: trata-se de um estudo transversal, em que foi aplicado um questionário online para os pais conjuntamente com as crianças entre 4 a 12 anos com sobrepeso ou obesidade. Resultados: o estudo contou com a participação de 30 crianças, que após a aplicação dos critérios de exclusão fizeram parte da amostra final 22 crianças, cujo o perfil abrangeu a idade média de 7,91 anos, gênero feminino para 11 (50%) e masculino para 11 (50%) das crianças. E 18 (81,8%) tinham obesidade e 4 (18,2%) sobrepeso, 17 (77,27%) obtiveram nota acima do corte de 48 pontos, indicando uma qualidade de vida satisfatória para a maioria das crianças participantes. Discussão: as alterações posturais, ortopédicas e dores muscular, são comuns nas crianças com obesidade e sobrepeso. Essas crianças podem apresentar uma baixa capacidade para as tarefas funcionais e habilidades motoras grossas. A obesidade infantil pode influenciar sobre aspectos da vida social, escolar, e estar associado a comportamentos de baixa autoestima das crianças. Conclusão: os fatores que influenciam no nível de atividade física de crianças com sobrepeso e obesidade infantil, partem da existência de alterações ortopédicas. Os hábitos e estilos de vida das crianças em relação ao brincar ao ar livre, tempo excessivo de permanência em telas, e o consumo de alimentos industrializados, demandam da família receber a educação parental. E a qualidade de vida medida pelo instrumento de pesquisa foi satisfatória para as crianças da pesquisa.
Palavras-chave: Obesidade infantil; Qualidade de Vida; Fatores Psicossociais.
Abstract
Introduction: Childhood obesity is a multifactorial condition characterized by excess body fat in children and adolescents, generating an imbalance between energy intake and expenditure, associated with genetic, environmental and socioeconomic factors. Objective: to understand the factors that influence the level of physical activity of overweight and obese children, as well as the existence of osteoarticular problems and quality of life of these children. Methods: this is a cross-sectional study, in which an online questionnaire was applied to parents together with children aged 4 to 12 years who were overweight or obese. Results: the study included the participation of 30 children, who after the application of the exclusion criteria formed part of the final sample of 22 children, whose profile covered the average age of 7.91 years, female gender for 11 (50%) and male gender for 11 (50%) of the children. And 18 (81.8%) were obese and 4 (18.2%) were overweight, 17 (77.27%) obtained a score above the cutoff of 48 points, indicating a satisfactory quality of life for most of the participating children. Discussion: postural and orthopedic changes and muscle pain are common in children with obesity and overweight. These children may have a low capacity for functional tasks and gross motor skills. Childhood obesity can influence aspects of social and school life, and be associated with low self-esteem behaviors in children. Conclusion: the factors that influence the level of physical activity of children with overweight and childhood obesity start from the existence of orthopedic changes. The habits and lifestyles of children in relation to playing outdoors, excessive time spent in front of screens, and the consumption of processed foods, require the family to receive parental education. And the quality of life measured by the research instrument was satisfactory for the children in the research.
Keywords: Childhood obesity; Quality of life; Psychosocial factors.
1 INTRODUÇÃO
A obesidade infantil é uma questão de Saúde Pública no Brasil e no mundo, com a doença sendo caracterizada pelo excesso de gordura corporal em crianças e adolescentes, e tornando-se posteriormente fator de risco de variadas doenças crônicas, tais como diabetes, hipertensão, doenças respiratórias, distúrbios osteoarticulares, metabólicos e cardiovasculares (Capistrano et al., 2022). De acordo com o Atlas da Obesidade Infantil no Brasil fornecido pelo Ministério da Saúde, 29,3% das crianças com idade entre 5 e 9 anos têm excesso de peso, sendo 8,4% de crianças com obesidade (BRASIL, 2019).
A obesidade tem etiologia multifatorial, oriunda de um desequilíbrio no balanço energético, entre o que é ingerido (calorias), e o que é gasto por diminuição energética, sendo essa gênese criada por fatores genéticos, ambientais, metabólicos, nutricionais, culturais e psicossociais (Martins, 2018; Pereira; Xavier, 2024). A condição de obesidade estabelece relação com diversos fatores sociais, dentre eles a influência dos pais sobre essas crianças, hábitos alimentares, tempo de telas e falta de exercícios físicos (Silva et al., 2019).
A obesidade na infância pode alterar o desenvolvimento motor e levar à problemas ortopédicos, alterando o equilíbrio corporal e a coordenação motora, por perda de movimentos, devido ao aumento de Índice de Massa Corporal (IMC) dessas crianças (Brandalize; Leite, 2010; Martins et al., 2021). Além de implicar no físico, tem um grande impacto na qualidade de vida (QV) de crianças e adolescentes (Brandalize; Leite, 2010; Da Cunha et al., 2018). Visto que, a QV faz parte de uma percepção do indivíduo sobre si mesmo, envolve de forma sistemática seu olhar sobre contextos como o seu bem-estar emocional, sua saúde física, a forma como ele se relaciona com sua família, e até mesmo com seus amigos ou pessoas próximas a ele (Assumpção; Bernal, 2018).
O período da infância é importante no enfrentamento à obesidade, pois resulta em intervenções educativas mais eficazes às crianças em relação aos hábitos alimentares e ao sedentarismo. As crianças com aumento do peso têm comportamento menos ativo, não se envolvem em práticas de atividades físicas mais vigorosas, e permanecem por tempo prolongado assistindo à tela e jogando videogames, quando comparadas as crianças com peso adequado (Jardim; Souza, 2017).
Diante dessa situação a prática de exercícios físicos regularmente é coadjuvante essencial para o controle da obesidade e um estilo de vida mais saudável. Podendo ser adaptado para essas crianças, utilizando a prática de atividades lúdicas e o brincar mais ativo, minimizando os hábitos de sedentarismo (Testa; Poeta; Duarte, 2017). E a fisioterapia pode oportunizar a promoção de um estilo de vida ativo e saudável desde a infância para a vida adulta (Muller et al., 2023). As técnicas de fisioterapia incluem uma variedade de abordagens com relação aos aspetos biomecânicos, físicos e conceitos fisiológicos para promover a saúde ou prevenir doenças, a fim de melhorar ou manter a QV e a prática de atividades físicas.
As crianças e adolescentes são mais susceptíveis a alterações posturais, como a hiperlordose lombar e joelhos valgos, presença de quadros álgicos musculoesqueléticos que acometem sobretudo a coluna vertebral e os membros inferiores (Brandalize; Leite, 2010; Castro et al., 2017). Para tanto, esse estudo buscou elucidar o questionamento de quais fatores podem estar atrelados ao nível de atividade física e sedentarismo de crianças com sobrepeso e ou obesidade infantil, e se elas enfrentam problemas osteomusculares, e como está a qualidade de vida dessas crianças.
Dessa forma, o estudo teve por objetivo compreender os fatores que influenciam no nível de atividade física de crianças com sobrepeso e obesidade infantil, bem como, a existência de problemas osteoarticulares e a qualidade de vida dessas crianças.
2 METODOLOGIA
O estudo tratou-se de uma pesquisa de cunho transversal, quantitativo e exploratório, que investigou a prevalência de uma determinada condição na população durante um tempo determinado, e visou compreender a dimensão estatística por meios de questionários aplicados. Essa pesquisa foi realizada de forma remota/online com pais e crianças com sobrepeso e/ou obesidade com idades entre 4 a 12 anos, no período de março e abril do ano de 2025.
O estudo contou com uma amostra por conveniência de indivíduos, constituída de forma intencional de acordo com o convite e a aceitação para participar de pais e de crianças. Foram aceitos para compor essa amostra as crianças entre 4 e 12 anos que aceitaram participar perante a autorização de seus pais e/ou responsáveis, para tanto, os mesmos concordaram com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e as crianças que responderam ao questionário de QV que apresentavam idade acima de 7 anos concordaram com o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). Foram excluídos os indivíduos participantes que não possuíam capacidade e condições neurológicas e ou emocionais para preencher ou responder os questionários via formulário online, como também, as crianças que responderam ao formulário, mas não apresentavam sobrepeso ou obesidade infantil de acordo com os dados fornecidos e o Índice de Massa Corpórea (IMC) calculado.
A pesquisa foi divulgada por meio da rede social e grupos de pais, e os pesquisadores estavam disponíveis para esclarecimentos e dúvidas em relação à pesquisa com a disponibilização de seus contatos telefônicos e e-mail nos grupos juntamente com o link da pesquisa. A aplicação da pesquisa foi realizada por meio da ferramenta Google Forms®, em que a primeira página disponibilizava o preenchimento dos critérios de inclusão e depois o aceite de participação da pesquisa aos envolvidos primeiramente aos pais e posteriormente a criança.
Este estudo teve por proposta a coleta dos dados com a aplicação de um formulário e questionário de forma remota/online, sendo o primeiro de elaboração própria dos autores para informações necessárias para caracterização da amostra, e sobre os fatores que influenciam no nível de atividade física de crianças com sobrepeso e obesidade infantil, e também, sobre a existência de problemas osteoarticulares, o qual foi respondido pelos pais das crianças.
E outro questionário que foi respondido pelas crianças com auxílio dos pais e/ou responsável sobre QV, o Autoquestionário Qualidade de Vida Infantil Imaged (AUQEI) que é um instrumento desenvolvido por Manificat e Dazord (1997), validado para a língua portuguesa e cultura brasileira por Assumpção Jr. et al. (2000) para o Brasil, o qual é utilizado para verificar sentimentos da criança em relação ao seu estado atual de bem-estar (satisfação e insatisfação). No total o questionário conta com 26 questões, utilizando imagens de faces que expressam diferentes estados emocionais (muito infeliz; infeliz; feliz; muito feliz), cada escore emocional corresponde a uma pontuação que vai de zero a três, sendo a pontuação máxima do questionário de 78 pontos e a nota de corte 48 pontos (Assumpção Júnior et al., 2000).
O questionário AUQEI foi aplicado com crianças entre 4 e 12 anos, e apresentava os seguintes domínios: família (questões quanto às figuras parentais e delas quanto a si mesmo, 3, 6, 10, 13, 16 e 18), função (questões quanto a escola, refeições, ir ao médico e dormir, 1, 2, 4, 5, 8, 12, 14 e 20), lazer (questões com relação às férias, aniversário, avós, 7, 9, 11, 21, 25 e 26), e por fim, autonomia (questões sobre a independência, relação com os companheiros e avaliação, 15, 17, 19, 22, 23 e 24) (Assumpção et al., 2000).
Os dados da caracterização das crianças participantes e do questionário AUQEI foram apresentados na forma descritiva pela estatística. A análise dos dados foi realizada, sendo as variáveis qualitativas dispostas em frequências relativas (%) e absolutas (N), e as quantitativas por meio de médias, medianas e desvio padrão. Os dados foram digitados em uma planilha do Microsoft Office Excel® 2010 e processados pelo Software IBM SPSS®, versão 22.0.
3 RESULTADOS
O estudo contou com a participação de 30 crianças juntamente com seus pais/responsáveis, sendo que destas oito crianças foram excluídas por seus dados fornecidos não lhes conferirem sobrepeso ou obesidade. Entretanto, 22 dessas fizeram parte da amostra final, em que o perfil das crianças participantes da pesquisa contou com a idade média de 7,91 (D.P.= ± 2,61) anos, para o gênero houve a participação de 11 (50%) das crianças para o feminino e 11 (50%) masculino, com etnia prevalente para 13 (59,1%) a branca, e religião católica para 16 (72,7%). A escolaridade prevalente entre as crianças foi o 2º Ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais para 7 (31,8%). Tabela 1.
Tabela 1. Perfil das crianças com sobrepeso e obesidade participantes da pesquisa. (n=22).


O perfil para os pais das 22 crianças participantes contou com a descrição de uma média de idade paterna de 40,9 (D.P.= ±7,11) anos, e média para idade materna de 38,41 (D.P.= ±7,26) anos, com renda familiar média de $5.043,18 (D.P.= ±3.054,20) reais. A escolaridade paterna prevalente foi o Ensino Médio completo com 9 (40,9%) dos pais, e quanto, a escolaridade materna prevaleceu o Ensino Superior completo com 8 (36,4%).
Tabela 2.
Tabela 2. Perfil dos pais das crianças com sobrepeso e obesidade participantes da pesquisa.


Em relação as condições de saúde, o peso médio das crianças foi de 44,93 Kg (D.P.= ±16,40) e a estatura obteve média de 133,45 cm (D.P.= ±20,02). Dentre as crianças participantes, 18 (81,8%) tinham obesidade e 4 (18,2%) sobrepeso de acordo com o IMC. Quanto as condições de saúde associadas 13 (59,1%) não faziam uso de medicamentos ou vitaminas de forma contínua. E 18 (81,8%) das crianças nunca fizeram qualquer tipo de tratamento de fisioterapia, como também, 13 (59,1%) não tinham dor, e 9 (40,9%) tinham conhecimento de condições osteoarticulares pré-existentes prevalecendo o pé plano para 8 (36,4%) das crianças.
Quanto à atividade física 12 (54,5%) das crianças praticavam alguma atividade física, sendo a frequência semanal entre as crianças em uma média de 1,45 (D.P.= ±1,59) vezes, e o tempo de execução da atividade obteve média de 43,64 (D.P.= ±58,02) minutos. Sobre brincar ao ar livre 7 (31,8%) relataram que faziam isso três vezes ou mais na semana, e outras 7 (31,8%) relataram que sim por duas vezes na semana. Diante do tempo de permanência nas telas 10 (45,5%) relataram ser mais de duas horas diárias, e outras 10 (45,5%) entre uma hora a duas horas. O consumo de alimentos industrializados estava entre o hábito de 11 (50%) das crianças, segundo o relato dos pais. Tabela 3.
Tabela 3. Condições de saúde e hábitos das crianças participantes da pesquisa. (n=22).


Na avaliação da QV pelo questionário AUQEI a pontuação individual obtida pelas as crianças revelou que 17 (77,27%) dos indivíduos conseguiram nota acima do corte que era de 48 pontos, indicando uma qualidade de vida satisfatória para a maioria das crianças com obesidade ou sobrepeso participantes. No entanto, 5 (22,73%) das crianças ficaram abaixo dessa nota. A média do escore total obtido no questionário ficou em 52,09 (D.P.= ±9,82) pontos, sendo que a menor somatória dos questionários foi 20 pontos e a maior ficou em 66 pontos.
Em relação aos domínios do questionário AUQEI de QV das crianças, verificou-se que a maior média de escore total da pontuação ficou com o domínio Função 15,09 (D.P.= ±3,14), seguido do domínio Lazer com 14,64 (D.P.= ±3,48), depois domínio Família 12,77 (D.P.= ±2,81), e por fim, domínio Autonomia 9,59 (D.P.= ±2,3). Tabela 4.
Tabela 4. Distribuição da pontuação geral e por domínio de acordo com o AUQEI. (n=22).

4 DISCUSSÃO
Este estudo retrata a complexidade dos fatores que influenciam a atividade física e QV das crianças com sobrepeso ou obesidade, na faixa etária de 4 a 12 anos. A amostra do estudo foi composta por 30 crianças que responderam ao questionário online, sendo que 22 dessas crianças participaram efetivamente da pesquisa conforme os critérios de inclusão. Observouse que das 22 crianças, 18 delas estavam com IMC condizente a quadro de obesidade infantil e quatro estavam com sobrepeso.
Em relação aos problemas osteoarticulares das crianças (40,9%) tinham dor e os pais referiram o conhecimento de condições osteoarticulares pré-existentes, prevalecendo o pé plano para (36,4%) das crianças. O aumento do peso das crianças devido a hábitos não saudáveis, ou mesmo por condições associadas como desordens, que afetam a saúde em geral, podem resultar em consequências significativas na vida das crianças, que envolvem desde o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, alterações ortopédicas e distúrbios psicológicos, podendo esses estarem associados a baixa autoestima e a exclusão social da criança (Pereira; Xavier, 2024; Borelli et al., 2024).
As alterações posturais, ortopédicas e dores muscular, são comuns nas crianças que enfrentam a condição de obesidade e sobrepeso. Os joelhos valgos se explicam pelo excesso de gordura na região das coxas e o aumento da anteversão pélvica causando rotação interna nos quadris, provocando assim, o desabamento do pé (Brandalize; Leite, 2010; Martins et al., 2021). Dessa forma, essas crianças podem ter aumento da dor musculoesquelética devido a desvios biomecânicos, percepção alterada da dor ou inflamação leve associada à obesidade, como também, diminuição da força muscular dos membros inferiores, com evidências de alterações do equilíbrio, fadiga e déficits somatossensoriais (O’Malley et al., 2021; Calcaterra et al., 2022).
Em um estudo desenvolvido com 79 crianças em idades entre 7 a 10 anos, comparando 37 obesas em relação a 42 crianças eutróficas, foi encontrado diferenças significativas para as crianças obesas em variáveis como o ângulo Q, ângulo do tornozelo e no índice do arco longitudinal medial do pé, com uma incidência considerável de joelhos valgos e arco plantar longitudinal rebaixado. Concluindo, portanto, que a obesidade infantil pode levar a alterações no padrão postural das crianças levando o centro de gravidade à frente, e o corpo a obter ajustes posturais para o peso corporal (Cicca; João; Sacco, 2007).
Em outro estudo transversal realizado com 25 meninos e 24 meninas com idade média de 10,8 anos e IMC acima do percentil 95, que foram comparados com outros 28 meninos e 19 meninas do grupo controle, com idade média de 10,4 anos e IMC abaixo do percentil 80. Os achados revelaram presença significativa nas crianças obesas (55%) em comparação com o grupo controle (23%) de pelo menos uma manifestação osteoarticular, com associação significativa entre obesidade e lombalgia, joelho valgo, joelho recurvatum e tensão sobre o quadríceps, evidenciando que o ganho de peso tem impacto negativo na condição osteoarticular (De Sá Pinto et al., 2006).
Assim, os profissionais de saúde que trabalham com crianças obesas precisam identificar as deficiências neuromusculoesqueléticas, e individualizar as intervenções com exercícios específicos para esse público (O’Malley et al., 2021). O exercício físico regular é fundamental para promover o crescimento e desenvolvimento adequados, diante de um estilo de vida saudável levado da infância para a vida adulta, permitindo minimizar e evitar problemas posturais e musculoesqueléticos, possibilitando ao sistema somatossensorial aperfeiçoar a propriocepção e a noção do corpo no espaço (Calcaterra et al., 2022).
Quanto a prática de atividade física, no presente estudo (54,5%) das crianças realizavam alguma atividade, sendo a frequência semanal em média 1,45 vezes, e o tempo de execução da atividade obteve média de 43,64 minutos. Crianças com obesidade podem apresentar uma baixa capacidade para as tarefas funcionais e habilidades motoras grossas como andar, correr, pular, subir escadas e levantar-se de uma cadeira. Elas refletem perceber um condicionamento físico e saúde prejudicados, que limitam a realização de atividades, e também, dificilmente atingem os níveis de atividade física moderada a vigorosa, recomendados por órgãos de Saúde Pública (O’Malley et al., 2021).
Um estudo realizado com 24 crianças com idade entre 3 e 8 anos de um ambulatório de endocrinologia pediátrica, a fim de analisar o desempenho das habilidades motoras em crianças obesas e a QV, encontrou alteração no desenvolvimento motor de quase (100%) dos participantes, com nível motor inferior para (42,85%) dos obesos e (41,17%) dos obesos graves. E diante da QV houve baixa média de escores, indicando a interferência da obesidade na satisfação com a vida, além dos aspectos físicos, sociais e escolares (Martins et al., 2021).
A QV é um indicador de saúde importante para verificar a interferência de uma condição como a obesidade infantil com causas multifatoriais na satisfação com a vida das crianças. Para as crianças, a qualidade da saúde tem influência direta sobre seu crescimento e desenvolvimento, portanto, os hábitos e estilos de vida moderna, podem resultar em adversidades negativas perante a saúde das mesmas (Pereira; Xavier, 2024; Müller; Guimarães; Canella, 2023).
Referente aos hábitos e estilos de vida das crianças do presente estudo, estas revelaram que (31,8%) tinham o hábito de brincar ao ar livre, e faziam isso três vezes ou mais na semana, e outras (31,8%) relataram que brincavam ao ar livre ao menos duas vezes na semana. Diante do tempo de permanência nas telas (45,5%) relataram ser mais de duas horas diárias, e outras (45,5%) entre uma hora a duas horas diárias. O consumo de alimentos industrializados estava entre o hábito de 11 (50%) das crianças, segundo o relato dos pais.
Em uma revisão de literatura com 34 artigos, sendo 97% desses estudos com amostras populacionais internacionais de adolescentes, os resultados indicaram que o aumento do peso teve relação com a diminuição da QV no que se refere aos domínios físicos e psicossocial (De Souza et al., 2022). Para o tratamento da obesidade em crianças e adolescentes é essencial uma abordagem multidisciplinar dos profissionais de saúde, em que a família deve receber a educação parental para mudanças no estilo de vida e comportamentais, visando uma alimentação com equilíbrio e o incentivo à prática de atividades físicas (Calcaterra et al., 2022; Borelli et al., 2024; Paiva et al., 2018).
O ambiente familiar atual propicia o consumo desproporcional de alimentos inadequados e industrializados que são mais calóricos e pobres diante da qualidade nutricional, visto que, esses alimentos possuem um alto teor de açúcar, gordura saturada, sódio, corantes e conservantes (Pereira; Xavier, 2024). Também não há por parte das famílias um estimulo a prática de atividade física (Pereira; Xavier, 2024; Menegon; Silva; Sousa, 2022). E a obesidade pode gerar influências negativas no desenvolvimento físico e na aprendizagem motora da criança, pois menor nível de atividade física está relacionado a uma redução da força muscular levando às incapacidades (Martins et al., 2021; Calcaterra et al., 2022).
A QV dessas crianças com sobrepeso vai muito além da aparência física, envolvendo negativamente os aspectos emocionais e sociais, afetando a autoestima, criando dificuldades de socialização com outras crianças e gerando sentimentos de vergonha de si. Essas questões podem prejudicar também o desempenho escolar, portanto, é fundamental que essas crianças tenham uma boa QV permitindo boa saúde física, emocional e social, adotando a pratica de atividades físicas e recebendo suporte psicológico quando necessário (Muller et al., 2023).
No presente estudo a maioria das crianças (77,27%) obteram na avaliação da QV pelo questionário AUQEI uma QV satisfatória. A média do escore total obtido no AUQEI ficou em 52,09 pontos, e em relação aos domínios do questionário verificou-se que as crianças com obesidade tinham mais satisfação perante as tarefas e aspectos relacionados aos domínios de “Lazer” e “Função”, enquanto as situações menos satisfatórias e que apresentaram as menores médias para os escores foram obtidas pelos domínios “Família” 12,77 (D.P.= ±2,81) e pelo domínio “Autonomia” 9,59 (D.P.= ±2,3).
Os domínios “Família” e “Autonomia” do AUQEI, que receberam as menores médias de escores, podem ter relação com interferências da obesidade infantil sobre aspectos da vida social, escolar, e podendo estar associados a comportamentos de baixa autoestima das crianças. Indicando interferências da obesidade infantil sobre aspectos quanto a questões parentais como “ter irmãos”, “ver uma fotografia sua”, “pensar nos pais”, “quando os pais falam de você” e “quando tem que mostrar algo que sabe fazer”, como também, referentes a autonomia quanto à independência, amigos e autoavaliação, como: “quando brinca sozinho”, “quando dorme fora de casa”, “quando os amigos falam de você”, “quando pensa quando estiver crescido”, “quando longe da família”, e “quando recebe as notas da escola”.
Em um estudo realizado com o objetivo de avaliar a postura e a QV de 19 adolescentes obesos de ambos os sexos e com idade entre 11 e 14 anos. Foi encontrada com a aplicação do questionário de QV AUQEI pontuações médias totais de 48,2 (D.P.= ±6,27) e 49,22 (D.P.= ± 4,6), para o sexo feminino e masculino respectivamente, e os domínios com valores mais baixos em ambos os sexos foram o da “Autonomia” 6,21 (D.P.= ±1,58) e “Lazer” 7,26 (D.P.= ±1,45). Com os achados indicando que a obesidade pode interferir na QV dos adolescentes (Viana et al., 2020).
Outro estudo que analisou a QV de 33 crianças, sendo 19 delas obesas ou com sobrepeso com idade entre 7 e 10 anos, por meio do questionário AUQEI, observou para 39% uma pontuação abaixo da nota de corte de 48 pontos, indicando uma insatisfação com a vida, sendo os domínios com menor pontuação média o “Lazer” 6,9 (D.P.= ±1) e o da “Autonomia” com 7,78 (D.P.= ±0,5) (Müller; Guimarães; Canella, 2023).
Um estudo observacional transversal que avaliou a QV de 44 crianças obesas de um ambulatório médico de saúde da Universidade do Sul de Santa Catarina, com idades entre 4 e 12 anos, utilizando o AUQEI, encontrou um escore médio de 48,7 pontos, representando que a satisfação de vida não estava prejudicada, com destaque para o domínio “Família” com os maiores valores demonstrando a importância desse meio para a vida das crianças, enquanto os domínios “Autonomia” e “Lazer” apresentaram escores mais baixos (Castilhos et al., 2022).
Diante do exposto, o presente estudo apresenta relevância ao aprofundar a compreensão dos determinantes associados aos níveis de atividade física em crianças com sobrepeso e obesidade, bem como na avaliação da QV e no levantamento das alterações osteoarticulares nessa população. Os dados obtidos poderão subsidiar o desenvolvimento de estratégias de intervenção multidisciplinares, com foco na promoção de comportamentos saudáveis desde a infância, contribuindo para a prevenção de comorbidades e para a melhoria das intervenções de saúde e bem-estar infantil.
Por outro lado, o estudo apresenta limitações inerentes ao delineamento transversal e à utilização de uma amostra por conveniência, o que pode comprometer a generalização dos resultados para a população geral de crianças com sobrepeso ou obesidade. Ademais, a coleta de dados por meio de instrumentos online pode ter introduzido vieses de resposta, especialmente em virtude de possíveis dificuldades de compreensão de itens mais complexos do questionário, comprometendo, assim, a fidedignidade das informações autorreferidas.
5 CONCLUSÃO
Os fatores que influenciam no nível de atividade física de crianças com sobrepeso e obesidade infantil, partem da existência de alterações ortopédicas, como o pé plano, o joelho valgo e a presença da dor musculoesquelética, que podem acarretar desequilíbrios biomecânicos, repercutindo em uma baixa capacidade para as tarefas funcionais e habilidades motoras grossas. Como também, os hábitos e estilos de vida das crianças em relação ao brincar ao ar livre, tempo excessivo de permanência em telas, e o consumo de alimentos industrializados, podem resultar em adversidades negativas perante a saúde, e demandam da família receber a educação parental para mudanças no estilo de vida e comportamentais necessárias.
A QV medida pelo instrumento do AUQEI foi satisfatória para as crianças com obesidade e sobrepeso deste estudo, mas identificou-se que as situações menos satisfatórias estavam atreladas aos domínios “Família” e “Autonomia” do AUQEI, que receberam as menores médias de escores, e podem ter relação com interferências da obesidade infantil sobre aspectos da vida social, escolar, e estar associados a comportamentos de baixa autoestima das crianças.
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1Discente do Curso Bacharelado de Fisioterapia do Centro Universitário Univel. E-mail: brunaedulaitart21@hotmail.com
2Docente do Curso Bacharelado de Fisioterapia do Centro Universitário Univel. Mestre em Biociência e Saúde (PPGBCS/UNIOESTE). E-mail: kaliska_fisio@hotmail.comaixa