REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202511301336
Ana Carolina Nunes da Silva
RESUMO
As tecnologias digitais têm cumprido papel estratégico na reconfiguração das práticas comunicacionais contemporâneas, especialmente no campo do uso e da aprendizagem da língua inglesa. Ao integrarem interfaces multimodais, plataformas interativas e redes de circulação global, esses recursos instauram ecologias híbridas que ampliam a exposição ao idioma, diversificam estímulos cognitivos e possibilitam trajetórias formativas mais personalizadas. À luz de autores como Lévy (1999), Santaella (2007) e Kenski (2012), compreende-se que a mediação tecnológica não apenas introduz novas ferramentas, mas redefine modos de interação, instaurando ritmos comunicacionais que favorecem a construção de sentidos em múltiplos formatos. Este artigo analisa como tais ambientes digitais contribuem para o engajamento linguístico, destacando o papel de vídeos, jogos, podcasts, hipermídias e comunidades virtuais na expansão do repertório expressivo em inglês. A discussão dialoga ainda com perspectivas de Bacich e Moran (2018) e Rojo e Barbosa (2015), que observam que a interação com conteúdos multimodais potencializa a autonomia, promove protagonismo e amplia oportunidades de imersão em contextos comunicativos mais autênticos. A pesquisa adota abordagem qualitativa e baseia-se na reorganização analítica de um projeto técnico, produzindo uma reflexão original sobre os desafios e possibilidades das tecnologias digitais no fortalecimento das práticas linguísticas. Os resultados indicam que a integração consciente desses recursos pode enriquecer a experiência comunicacional, permitindo que sujeitos desenvolvam competências mais diversificadas, sensíveis e alinhadas às demandas globais da contemporaneidade.
Palavras-chave: Tecnologias digitais; Multimodalidade; Língua inglesa; Mediação tecnológica; Ecologias comunicacionais; Engajamento linguístico; Ambientes digitais; Autonomia comunicacional.
RESUMEN
Las tecnologías digitales han desempeñado un papel estratégico en la reconfiguración de las prácticas comunicacionales contemporáneas, especialmente en el ámbito del uso y del aprendizaje de la lengua inglesa. Al integrar interfaces multimodales, plataformas interactivas y redes de circulación global, estos recursos instauran ecologías híbridas que amplían la exposición al idioma, diversifican los estímulos cognitivos y posibilitan trayectorias formativas más personalizadas. A la luz de autores como Lévy (1999), Santaella (2007) y Kenski (2012), se comprende que la mediación tecnológica no solo introduce nuevas herramientas, sino que redefine los modos de interacción, instaurando ritmos comunicacionales que favorecen la construcción de significados en múltiples formatos. Este artículo analiza cómo dichos entornos digitales contribuyen al compromiso lingüístico, destacando el papel de videos, juegos, pódcasts, hipermedios y comunidades virtuales en la expansión del repertorio expresivo en inglés. La discusión dialoga también con las perspectivas de Bacich y Moran (2018) y Rojo y Barbosa (2015), quienes observan que la interacción con contenidos multimodales potencia la autonomía, promueve el protagonismo y amplía las oportunidades de inmersión en contextos comunicativos más auténticos. La investigación adopta un enfoque cualitativo y se basa en la reorganización analítica de un proyecto técnico, produciendo una reflexión original sobre los desafíos y posibilidades de las tecnologías digitales en el fortalecimiento de las prácticas lingüísticas. Los resultados indican que la integración consciente de estos recursos puede enriquecer la experiencia comunicacional, permitiendo que los sujetos desarrollen competencias más diversificadas, sensibles y alineadas con las demandas globales de la contemporaneidad.
Palabras clave: Tecnologías digitales; Multimodalidad; Lengua inglesa; Mediación tecnológica; Ecologías comunicacionales; Compromiso lingüístico; Entornos digitales; Autonomía comunicativa.
1 INTRODUÇÃO
A expansão das tecnologias digitais tem remodelado de maneira expressiva e irreversível as formas pelas quais diferentes grupos sociais constroem sentidos, acessam informações e interagem com o mundo, instaurando um novo regime comunicacional marcado pela fluidez, pela conectividade permanente e pela presença constante de interfaces multimodais. Esse processo, intensificado pelas redes globais e pela lógica da convergência, transforma de modo significativo a relação dos sujeitos com a língua inglesa, que passa a ocupar papel central em ecossistemas digitais diversos desde plataformas de streaming e ambientes colaborativos até redes sociais, jogos on-line e sistemas inteligentes de recomendação. O contato contínuo com tais recursos não apenas facilita o acesso ao idioma, mas cria campos de experiência nos quais o inglês é vivido, manipulado, interpretado e ressignificado de maneira orgânica e dinâmica.
Vídeos, podcasts, hipermídias, aplicativos móveis, comunidades internacionais de gamers, fóruns multilíngues e plataformas de conteúdo gerado pelo usuário estabelecem ambientes de imersão linguística que ampliam exponencialmente as oportunidades de prática e reflexão. Nesses espaços, a língua inglesa surge como mediadora de encontros entre culturas, repertórios e identidades, permitindo que sujeitos transitem por universos discursivos antes inacessíveis. Além disso, a diversidade de registros que inclui desde variedades formais até expressões coloquiais, gírias urbanas, marcadores culturais e sotaques regionais, proporciona uma experiência linguística mais rica, plural e contextualizada, reforçando a dimensão sociocultural descrita por autores como Crystal (2019) e Pennycook (2018) ao discutir o inglês global.
Essa dinâmica torna-se ainda mais proeminente quando se observa a crescente presença do inglês como idioma estruturante da arquitetura digital contemporânea. Sites, plataformas internacionais, repositórios científicos, tutoriais, cursos abertos, sistemas de buscas e interfaces de inteligência artificial utilizam o inglês como padrão de comunicação, tornando-o o idioma predominante na construção de sentido em escala global. Em ambientes colaborativos, redes criativas e plataformas de produção cultural, o inglês funciona como elo simbólico entre indivíduos de trajetórias distintas, desempenhando papel fundamental na circulação de ideias, na construção de redes de pertencimento e na participação em comunidades que ultrapassam fronteiras físicas. Lévy (1999) e Santaella (2007) apontam que tais processos configuram novas formas de interação, marcadas pela velocidade, pela hipertextualidade e pela contínua mistura de linguagens, inaugurando experiências comunicacionais mais complexas e multissensoriais.
Compreender como as tecnologias da informação e comunicação favorecem trajetórias mais ricas de engajamento na língua inglesa torna-se, portanto, uma tarefa central para analisar as ecologias híbridas que emergem da cultura digital. Ambientes digitais estruturados com intencionalidade criam condições para a combinação de linguagens, texto, imagem, áudio, vídeo, animações, narrativas interativas e sistemas responsivos, gerando cenários que estimulam tanto a percepção quanto a expressão. Essa multiplicidade é enfatizada por Rojo e Barbosa (2015), que defendem a multimodalidade como condição constitutiva das práticas contemporâneas de linguagem. Do mesmo modo, Kenski (2012) destaca que a mediação tecnológica reorganiza o tempo, o espaço e as relações comunicacionais, instaurando novas formas de engajamento e aprendizagem. Já Bacich e Moran (2018) ressaltam que ambientes digitais ampliam a possibilidade de protagonismo, autonomia e personalização, permitindo que sujeitos construam percursos comunicacionais alinhados às suas necessidades e interesses singulares.
Nesse panorama, o objetivo geral deste artigo consiste em analisar as mediações tecnológicas que influenciam a experiência comunicacional na língua inglesa, observando como diferentes recursos digitais moldam significados, ampliam repertórios expressivos e reconfiguram práticas comunicacionais em escala global. Os objetivos específicos incluem: discutir fundamentos teóricos referentes às tecnologias digitais; examinar características multimodais que estruturam ambientes conectados; e identificar as potencialidades e os desafios que emergem do contato com conteúdos digitais em inglês. Ao desenvolver essa análise, busca-se compreender de que forma sujeitos constroem caminhos comunicacionais mais amplos, sensíveis e multiformes em um cenário marcado pela convergência tecnológica, pela diversidade cultural e pela circulação planetária do idioma.
Lévy (1999) argumenta que as tecnologias digitais modificam de modo decisivo a comunicação e as formas de produção de conhecimento, configurando novos modos de construção coletiva de significados.
2 MARCO TEÓRICO
As inovações tecnológicas digitais vêm consolidando-se como estruturas centrais de mediação nas práticas comunicacionais contemporâneas, expandindo de modo contínuo e multifacetado as possibilidades de interação, produção simbólica e circulação de sentidos. Em um cenário no qual fluxos informacionais se intensificam e se distribuem em redes globalizadas, o acesso à língua inglesa passa a ocorrer em ambientes de alta complexidade, marcados pela convergência de mídias, pela instantaneidade comunicativa e pela criação de ecologias expressivas extremamente dinâmicas. Plataformas interativas, redes sociais, aplicativos dedicados ao aprendizado de idiomas e sistemas de streaming não apenas funcionam como ferramentas de acesso ao inglês, mas constituem ambientes vivos, nos quais o idioma é experienciado, ressignificado e reinterpretado a partir de múltiplas práticas culturais, estéticas e discursivas. Esses ambientes propiciam imersões profundas, nas quais a língua é percebida em seus usos cotidianos, em suas variações sociolinguísticas, em suas nuances expressivas e em seus desdobramentos culturais.
Nesse contexto, a multimodalidade se torna um elemento estruturante. A integração de textos, imagens, sons, vídeos, gestos, animações, interfaces responsivas e camadas hipertextuais cria composições comunicacionais híbridas que demandam novas sensibilidades interpretativas e ampliam a capacidade de significação dos sujeitos. Em experiências com jogos digitais, narrativas interativas, plataformas colaborativas e mídias sociais visualmente orientadas, diferentes modos semióticos se combinam para gerar ambientes de aprendizagem mais envolventes, estimulando atenção, memória, afetividade e percepção. Essa diversidade de linguagens reforça a compreensão do inglês não apenas como um código verbal, mas como um fenômeno comunicacional imerso em práticas culturais que se manifestam simultaneamente em múltiplos formatos expressivos.
A intensificação dos fluxos informacionais amplia ainda mais esse panorama. A circulação constante de conteúdos em inglês presentes em tendências globais, discursos midiáticos, tutoriais, transmissões ao vivo, produções culturais independentes e ambientes gamificados — expande as oportunidades de contato com repertórios discursivos autênticos. Tal circulação ocorre em velocidades elevadas e de maneira descentralizada, permitindo que sujeitos se conectem diretamente a comunidades internacionais e participem de processos comunicacionais que ultrapassam fronteiras geográficas e culturais. Assim, o inglês se transforma em um idioma que articula pertencimentos, que integra redes de colaboração e que possibilita o trânsito entre diferentes universos simbólicos.
Esses ambientes digitais também promovem formas sofisticadas de autonomia e agência comunicacional. Ao explorar interfaces desenhadas para personalização, recomendação de conteúdos e interação adaptativa, os sujeitos constroem trajetórias formativas próprias, escolhendo temas, estilos comunicativos, níveis de complexidade e formatos expressivos que dialogam com seus interesses individuais.
O contato com comunidades virtuais, redes de prática, espaços de criação colaborativa e grupos temáticos amplia a sensação de pertencimento e fortalece processos de autoexpressão. O engajamento comunicacional, nesse sentido, é marcado por escolhas conscientes, caminhos personalizados e experiências significativas que refletem motivações, identidades e curiosidades específicas.
A tecnologia digital, por sua vez, não atua apenas como instrumento, mas como ambiente cultural que influencia diretamente a construção de identidades linguísticas. Ambientes interativos permitem que sujeitos experimentem estilos comunicativos, assumam diferentes vozes discursivas, explorem papéis sociais variados e testem repertórios próprios da língua inglesa em situações reais ou simuladas.
Esse movimento favorece uma relação mais criativa, espontânea e personalizada com o idioma, aproximando seus usos do cotidiano e ampliando sua função para além dos espaços formais de aprendizagem. Assim, comunidades de fãs, redes de criação multimídia, grupos de jogos on-line, espaços de debate e plataformas narrativas colaborativas tornam-se ecossistemas férteis para a formação linguística.
Diante desse conjunto de transformações, torna-se evidente que compreender a língua inglesa em ambientes digitais requer um olhar atento à multiplicidade de linguagens, aos estímulos sensoriais, às dinâmicas culturais e às práticas comunicacionais que emergem nesse cenário. Ambientes mediados digitalmente ampliam as possibilidades de contato com o idioma, enriquecem o repertório expressivo, diversificam estímulos cognitivos e favorecem formas de interação mais participativas, fluidas e alinhadas às exigências do mundo contemporâneo. Ao integrar diferentes modos de expressão e promover vivências comunicacionais mais imersivas, essas ecologias digitais constroem novas maneiras de experimentar, interpretar e vivenciar a língua inglesa, transformando profundamente a experiência comunicacional dos sujeitos.
3 METODOLOGIA
Este A presente investigação adota uma abordagem qualitativa de caráter interpretativo, orientada pela compreensão profunda dos fenômenos comunicacionais que emergem da relação entre tecnologias digitais e o uso da língua inglesa em ambientes conectados.
De acordo com Denzin e Lincoln (2018), estudos qualitativos permitem examinar práticas sociais em sua complexidade, levando em consideração elementos culturais, interacionais e simbólicos envolvidos nos processos de significação. Assim, a natureza desse estudo justifica-se pela necessidade de interpretar como sujeitos se relacionam com recursos multimodais e ecologias digitais, e de que modo tais interações influenciam a construção de repertórios linguísticos.
O trabalho de pesquisa foi desenvolvido a partir da reorganização reflexiva de um projeto técnico previamente disponibilizado, cujo conteúdo serviu como ponto de partida para a análise, sem ser reproduzido integralmente.
Os procedimentos metodológicos compreenderam leitura sistemática, identificação de conceitos-chave, mapeamento dos eixos teóricos e reestruturação do material, com o intuito de produzir um texto acadêmico original que dialogasse com a literatura contemporânea sobre tecnologias digitais e práticas comunicacionais em inglês. Em consonância com Bardin (2016), a análise de conteúdo foi utilizada para organizar categorias emergentes, permitindo a interpretação rigorosa das ideias presentes no documento-base.
A categorização temática ocorreu em três etapas principais:
(a) exploração do corpus, na qual foram identificados tópicos centrais relacionados à mediação tecnológica, multimodalidade e práticas de linguagem;
(b) codificação e agrupamento conceitual, integrando elementos recorrentes do material analisado; e
(c) síntese interpretativa, que resultou na produção de descrições e inferências alinhadas aos objetivos deste artigo. Esse processo possibilitou ressignificar o conteúdo original e gerar novas articulações teóricas sustentadas por autores clássicos e contemporâneos da área.
Além disso, a elaboração do estudo incorporou princípios da análise documental, conforme discutem Cellard (2008) e Flick (2019), compreendendo que documentos técnicos podem funcionar como artefatos informacionais capazes de revelar concepções, contextos e estruturas teóricas relevantes para a investigação.
A reescrita integral do texto, portanto, não se limitou a uma adaptação linguística, mas envolveu um processo de reconstrução crítica que preservou apenas o eixo temático geral do material original, garantindo a originalidade exigida em trabalhos acadêmicos.
Finalmente, a metodologia adotada reconhece que pesquisas sobre tecnologias digitais e língua inglesa exigem olhar transdisciplinar, envolvendo perspectivas comunicacionais, educacionais e sociotécnicas. Assim, as etapas analíticas foram realizadas considerando a natureza híbrida das mídias e o papel das práticas multimodais descritas por autores como Kress (2010), Jenkins (2009) e Rojo & Barbosa (2015), assegurando que os resultados interpretativos apresentassem consistência conceitual e relevância para o campo de investigação.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da análise evidenciam que as plataformas digitais têm desempenhado papel estruturante na forma como a língua inglesa é incorporada às práticas comunicacionais contemporâneas. O contato contínuo com conteúdos multimodais como vídeos, músicas, filmes, podcasts, transmissões ao vivo, jogos interativos e publicações em redes sociais, amplia significativamente o repertório linguístico e diversifica as possibilidades de interação com o idioma. Esse cenário confirma argumentos de Rojo e Barbosa (2015), que apontam a multimodalidade como eixo catalisador das experiências comunicacionais em ambientes digitais.
Um dos achados centrais da pesquisa refere-se à ampliação da exposição a diferentes variedades linguísticas do inglês, possibilitando que os sujeitos tenham contato com acentos, pronúncias e expressões idiomáticas de diferentes regiões do mundo.
Esse aspecto contribui não apenas para a compreensão auditiva, mas também para a construção de um repertório comunicacional mais autêntico e contextualizado. Conforme argumenta Crystal (2019), a diversidade linguística do inglês global, manifestada em suas múltiplas formas de uso é reforçada justamente pelas redes digitais, que aproximam falantes de diferentes culturas e ampliam as dimensões sociolinguísticas da aprendizagem.
Além disso, a análise demonstra que a autonomia no processo de engajamento com a língua inglesa é significativamente ampliada pelo uso de plataformas digitais.
A possibilidade de selecionar conteúdos conforme interesses pessoais, ritmo de estudo e preferências multimodais cria percursos formativos mais personalizados, em sintonia com o que propõem Bacich e Moran (2018) ao discutirem ambientes colaborativos e centrados no protagonismo dos sujeitos. Recursos como playlists temáticas, tutoriais, comunidades virtuais, jogos de simulação e fóruns internacionais permitem que os indivíduos consolidem práticas comunicacionais mais dinâmicas, capazes de estimular curiosidade, persistência e envolvimento afetivo com o idioma.
Outro resultado relevante diz respeito à dimensão sociocultural da aprendizagem digital. Ambientes interativos, especialmente redes sociais, criam espaços de circulação discursiva nos quais o inglês funciona como língua de conexão global. Essa constatação dialoga com as ideias de Jenkins (2009), que enfatiza a cultura da convergência e a participação ativa de sujeitos em comunidades digitais que produzem, remixam e compartilham conteúdos. Em tais ambientes, o inglês não é apenas objeto de estudo, mas ferramenta de interação social, de construção identitária e de participação em redes internacionais. Essa perspectiva é reforçada por Pennycook (2018), que compreende o inglês como prática social em constante reconstrução, influenciada por fluxos culturais e tecnológicos que se entrelaçam na esfera digital.
Os resultados também revelam que o uso da língua inglesa em ambientes digitais promove maior sensibilidade multimodal, conforme defendido por Kress (2010). A interpretação de significados em vídeos, memes, jogos, fanfictions, postagens visuais e interfaces colaborativas exige habilidades que ultrapassam o código verbal, incorporando elementos gestuais, visuais, sonoros e hipertextuais.
Essa integração multimodal favorece a construção de sentidos mais complexos e contribui para o desenvolvimento de competências comunicacionais mais amplas e alinhadas ao contexto sociotécnico contemporâneo.
Entretanto, a análise identificou igualmente alguns desafios que permeiam o uso da língua inglesa em ambientes digitais. Entre eles estão o excesso de informação disponível, a dispersão causada pela multiplicidade de estímulos, e as desigualdades de acesso que ainda limitam a participação plena em ecossistemas digitais.
Tais aspectos refletem questões apontadas por Santaella (2007), que discute as tensões entre mobilidade, velocidade e atenção na cultura digital. Além disso, Selwyn (2016), destaca que a tecnologia, embora promissora, não elimina condicionantes sociais que influenciam a qualidade da aprendizagem.
Apesar desses desafios, a convergência tecnológica se apresenta como oportunidade para o fortalecimento de experiências comunicacionais mais densas, diversificadas e significativas. A capacidade de interagir com múltiplas linguagens, atravessar fronteiras geográficas e participar de comunidades virtuais globais reforça o potencial das plataformas digitais como espaços de construção expressiva na língua inglesa. Assim, os resultados deste estudo corroboram a visão de Lévy (1999) de que ambientes digitais ampliam possibilidades de participação, colaboração e reconhecimento mútuo em ecologias comunicacionais complexas.
5 CONCLUSÃO
Os resultados apresentados ao longo deste estudo permitem afirmar que as tecnologias digitais desempenham papel estruturante na reconfiguração das práticas comunicacionais associadas à língua inglesa, instaurando novas formas de contato, circulação e produção de sentidos em ambientes conectados. As ecologias digitais analisadas demonstram que o inglês se integra a fluxos multimodais que combinam linguagem verbal, imagens, sons, hipertextos e interfaces dinâmicas, favorecendo experiências comunicacionais mais ricas, sensíveis e contextualizadas. Tais achados dialogam com perspectivas teóricas que compreendem a comunicação contemporânea como espaço híbrido, convergente e profundamente marcado por interações globais.
A incorporação da multimodalidade presente em vídeos, jogos, redes sociais e plataformas interativas, expandiu significativamente o repertório expressivo dos sujeitos, permitindo contato direto com diferentes acentos, registros discursivos e práticas socioculturais que compõem a diversidade do inglês global.
Esse processo confirma o argumento de autores como Kress (2010) e Jenkins (2009), ao evidenciarem que ambientes digitais deslocam o idioma de uma posição meramente instrumental para uma condição de prática social, cultural e identitária. A própria circulação do inglês nesses espaços reforça sua função de língua de conexão global, conceito amplamente discutido por Graddol (2006) ao abordar o impacto das redes digitais na expansão do inglês contemporâneo.
Outro ponto relevante diz respeito à ampliação da autonomia comunicacional. Os resultados mostram que sujeitos tendem a construir trajetórias formativas mais personalizadas, selecionando conteúdos alinhados aos próprios interesses, ritmos e estilos cognitivos.
Esse movimento de personalização, característico da cultura digital, estimula engajamento afetivo e cria condições para aprendizagens mais significativas, em consonância com as perspectivas de Bacich e Moran (2018). Assim, a autonomia emerge como elemento-chave na construção de repertórios comunicacionais que refletem interesses reais e contextos de uso autênticos.
Entretanto, esta pesquisa também evidencia que o uso da língua inglesa em ecossistemas digitais não ocorre sem desafios. A sobrecarga informacional, a dispersão atencional e as desigualdades de acesso continuam a moldar experiências de forma diferenciada, limitando a participação plena em ambientes globalizados.
Nesse sentido, a crítica sociotécnica de Warschaeur (2010) reforça a necessidade de compreender que o acesso à tecnologia envolve aspectos culturais, econômicos e políticos que atravessam diretamente o modo como sujeitos se apropriam da língua inglesa em espaços digitais.
Apesar dos desafios inerentes ao uso das tecnologias digitais como a sobrecarga informacional, a dispersão atencional e as desigualdades de acesso é possível afirmar que esses ambientes configuram espaços extremamente fecundos para a criação de experiências comunicacionais mais amplas, diversificadas e colaborativas. A natureza dinâmica, interativa e expansiva das plataformas digitais permite que sujeitos transitem por uma multiplicidade de contextos discursivos, ampliando sua capacidade de perceber, interpretar e produzir sentidos em diferentes escalas culturais.
Ao favorecerem contato contínuo com expressões culturais globais, as tecnologias digitais rompem barreiras geográficas e aproximam sujeitos de repertórios linguísticos e estéticos variados. Vídeos, fóruns de discussão, transmissões ao vivo, fan communities, ambientes gamificados e plataformas de criação colaborativa promovem a circulação ativa de significados, possibilitando a participação em redes de troca simbólica que se estendem para além do espaço local. Dessa maneira, as TICs ampliam horizontes comunicacionais e possibilitam o engajamento em práticas discursivas plurais, que refletem a diversidade e a complexidade do inglês em sua circulação global.
Nesse sentido, as tecnologias digitais se mostram particularmente relevantes para o uso contemporâneo da língua inglesa, pois não apenas ampliam a exposição ao idioma, mas criam condições para sua vivência em contextos autênticos, permeados por usos reais, interações espontâneas e manifestações culturais emergentes. Ao potencializarem a interação em comunidades transnacionais, esses ambientes contribuem para a construção de uma sensibilidade linguística mais refinada, que incorpora nuances culturais, variações regionais e formas de expressão derivadas de múltiplos cenários sociocomunicativos.
Assim, as TICs consolidam-se como mediadoras cruciais para o fortalecimento de práticas comunicacionais em língua inglesa, oferecendo ecossistemas que estimulam experimentação, colaboração, criatividade e aprendizagem contínua. Essa constatação reforça a visão de que os ambientes digitais não apenas reorganizam mecanismos de acesso ao conhecimento, mas também transformam modos de perceber, interagir e produzir sentidos, em consonância com perspectivas que entendem a cultura digital como espaço de construção coletiva, reorganização perceptiva e ampliação cognitiva.
Considerando esses aspectos, recomenda-se que pesquisas futuras explorem metodologias específicas de engajamento digital, analisem plataformas emergentes como ambientes imersivos, realidades híbridas e inteligência artificial generativa e investiguem impactos socioculturais mais profundos do uso da língua inglesa em ecologias tecnológicas. Sugere-se, ainda, o desenvolvimento de estudos comparativos que examinem como diferentes grupos sociais se relacionam com o inglês em redes digitais, bem como pesquisas que abordem as implicações éticas, identitárias e econômicas dessa participação.
Dessa forma, será possível ampliar a compreensão sobre os modos pelos quais tecnologias digitais e práticas comunicacionais globais se entrelaçam para constituir novas formas de presença, expressão e interação no mundo conectado.
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