REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202507131059
José Armando Marques de Brito1
Orientadora: Profª. Dr.:Sandra Karina M. do Vale2
RESUMO
O objetivo deste artigo é mapear as práticas educacionais utilizadas no processo de inclusão de alunos com TDAH visando identificar as lacunas de pesquisa e identificar as ênfases temáticas, teóricas e metodológicas. O presente estudo utilizou-se uma revisão de literatura, com uma abordagem qualitativa, a pesquisa foi estruturada com base nos descritores de inclusão e exclusão, e auxiliados pelos filtros encontrados nas plataformas SCIELO, ANPED e IBICIT/BDTD. Os termos foram conectados utilizando os operadores booleanos “OR” e “AND”. A busca foi realizada com as palavras-chave “práticas educacionais” AND “inclusão” AND “transtorno do déficit de atenção e hiperatividade”. Foram alisados 5 trabalhos que atendiam os critérios propostos. Os resultados destacam que as práticas educacionais mais eficazes para a inclusão de alunos com TDAH envolvem estratégias multifacetadas, como organização visual do ambiente, uso de tecnologia assistiva, gamificação e flexibilização de tarefas. No entanto, a implementação dessas práticas enfrenta desafios significativos, incluindo falta de formação docente especializada, recursos tecnológicos insuficientes e políticas públicas inconsistentes.
Palavras-chaves: inclusão; gestão escolar; alunos com TDAH.
ABSTRACT
The objective of this article is to map the educational practices used in the process of inclusion of students with ADHD, aiming to identify research gaps and identify thematic, theoretical and methodological emphases. This study used a literature review, with a qualitative approach, the research was structured based on the descriptors of inclusion and exclusion, and aided by the filters found in the SCIELO, ANPED and IBICIT/BDTD platforms. The terms were connected using the Boolean operators “OR” and “AND”. The search was carried out with the keywords “educational practices” AND “inclusion” AND “attention deficit hyperactivity disorder”. Five studies that met the proposed criteria were smoothed. The results highlight that the most effective educational practices for the inclusion of students with ADHD involve multifaceted strategies, such as visual organization of the environment, use of assistive technology, gamification and task flexibility. However, the implementation of these practices faces significant challenges, including lack of specialized teacher training, insufficient technological resources and inconsistent public policies.
Keywords: inclusion; school management, students with ADHD.
1 INTRODUÇÃO
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), segundo Thomas et al. (2021), continua sendo um dos distúrbios cognitivos mais comuns entre crianças e adolescentes, com estudos recentes apontando que atinge de 5% a 7,2% das crianças em idade escolar globalmente.
As principais características do transtorno, afirma Coghill et al. (2021) são a desatenção persistente, hiperatividade motora e impulsividade comportamental, geralmente causam danos consideráveis ao rendimento escolar e social. No âmbito educacional, esses danos resultam em problemas de aprendizagem, para DuPaul et al. (2022), afirma que os problemas de interação com colegas e professores, além de um risco elevado de abandono escolar. A inclusão desses estudantes requer práticas pedagógicas adaptadas, fundamentadas em evidências científicas, que promovam equidade e desenvolvimento integral.
A aplicação efetiva da educação inclusiva para alunos com TDAH constitui um desafio complexo para os sistemas de ensino atuais (Ewe, 2019). Cortiella e Horowitz, (2022), acrescentam que apesar de várias nações, incluindo o Brasil, terem progredido na garantia de direitos educacionais para indivíduos com necessidades educativas especiais, a implementação desses direitos ainda se depara com desafios consideráveis. Entre esses desafios, destacam-se a escassez de formação docente especializada, a carência de recursos pedagógicos adaptados e a persistência de práticas educacionais pouco flexíveis (Moore et al., 2022, p. 56).
Conforme Barkley (2022) destaca, os estudantes lidam com três desafios inovadores no ambiente escolar, que afetam tanto o processo de aprendizagem quanto a interação social no ambiente escolar, a primeira diz respeito às funções executivas comprometidas, que englobam problemas com memória de trabalho, controle de impulsos e flexibilidade cognitiva. Essas restrições podem comprometer a habilidade de planejar, organizar e se adaptar a novos cenários, afetando diretamente o rendimento escolar.
Além disso, Sjöwall et al. (2022), destaca que muitos alunos enfrentam dificuldades de autocontrole emocional, exibindo respostas mais fortes a frustrações e um risco elevado de desentendimentos com os colegas, essa dificuldade em controlar emoções pode resultar em atitudes destrutivas, afetando qualidades tanto no contexto escolar quanto na construção de relações interpessoais saudáveis.
Pesquisas recentes afirma Schultz et al. (2022) têm demonstrado que abordagens integradas, que articulam simultaneamente modificações no ambiente educacional, estratégias comportamentais personalizadas, participação familiar e integração com serviços de saúde, apresentam os melhores resultados para o desenvolvimento acadêmico e sócio emocional de estudantes com TDAH.
Dentre as abordagens mais eficientes destaca por Langberg et al. (2018), estão a organização visual do ambiente escolar, por meio do uso de agendas, listas de tarefas e orientações claras, a diminuição de distrações por meio da posição estratégica do estudante e controle de estímulos externos, e a flexibilidade no tempo para a realização de tarefas. Quando bem aplicadas, essas adaptações podem proporcionar condições mais propícias para o aprendizado e envolvimento desses alunos.
Segundo Gaastra et al. (2020) e Harrison et al. (2020), pesquisas de meta-análise demonstram que intervenções que modificam o ambiente de aprendizagem, incluindo organização visual do espaço, utilização de tecnologia assistiva e flexibilização do tempo para tarefas, apresentam efeitos moderados a grandes na melhoria do desempenho acadêmico de estudantes com TDAH.
Em termos de ensino, DuPaul et al. (2022), estratégias que combinam diferenciação pedagógica e apoio comportamental são apresentadas de forma particularmente eficaz. Cortiella e Horowitz, (2022), destacam que a divisão de tarefas complexas em partes menores, a utilização estratégica de tecnologia assistiva, e a implementação sistemática de feedback imediato e estímulo positivo são instrumentos importantes para estimular o envolvimento e a independência dos estudantes.
Neste contexto, o objetivo deste artigo é mapear as práticas educacionais utilizadas no processo de inclusão de alunos com tdah visando identificar as lacunas de pesquisa e identificar as ênfases temáticas, teóricas e metodológicas. Identificar os primeiros estudos sobre o tema e os subtemas mais recorrentes associados a ele, explicitar os locais onde o tema é mais pesquisado, apontar as principais teorias e metodologias utilizadas, identificar as lacunas dentro do tema.
2 METODOLOGIA
Para compreender tal questão o presente estudo utilizou-se uma revisão de literatura, que para Encher (2001), ela se inicia mesmo antes do tema estar bem definido e vai até quando o pesquisador sentir-se familiarizado com os textos, a ponto de simplificá-los, criticá-los e discriminá-los segundo a intenção do seu projeto de pesquisa.
Para que ocorra sucesso e clareza na revisão de literatura é fundamental segundo Trentini e Paim (1999, p.68) “a seleção criteriosa de uma revisão de literatura pertinente ao problema significa familiarizar-se com textos e, por eles, reconhecer os autores e o que eles estudaram anteriormente sobre o problema a ser estudado”.
Este trabalho examinou pesquisas acadêmicas focadas nas práticas educacionais utilizadas no processo de inclusão de alunos com TDAH. Os trabalhos que atendiam aos critérios de inclusão estabelecidos previamente, foram analisados de forma qualitativa. Para Almeida (2021), a pesquisa qualitativa analisa e interpreta os dados com base numa visão psicossocial, admitindo que exista uma relação entre o sujeito e a realidade (mundo real), ou seja, entre a subjetividade e o mundo objetivo que apenas números não conseguem responder as principais questões
A pesquisa foi estruturada com base nos descritores de inclusão e exclusão, e auxiliados pelos filtros encontrados nas plataformas SCIELO, ANPED e IBICIT/BDTD. Os termos foram conectados utilizando os operadores booleanos “OR” e “AND”. A busca foi realizada com as palavras-chave “práticas educacionais” AND “inclusão” AND “transtorno do déficit de atenção e hiperatividade”.
Para a seleção dos artigos, foram aplicados os seguintes critérios de inclusão: disponibilidade integral e gratuita nas plataformas citadas anteriormente, publicação nos últimos cinco anos, idioma português, e relevância para o tema em questão. Trabalhos em línguas estrangeiras, incompletos ou com mais de cinco anos foram excluídos do processo. Isso resultou na criação de uma base de dados preliminar e bruta, que apoiou o desenvolvimento desta pesquisa.
Depois de aplicar os critérios de inclusão foram analisados os títulos e resumos, após essa triagem inicial, foram preferidos 9 trabalhos para uma análise mais aprofundada, resultando em 5 textos que foram lidos de forma integral e atingiram todos os critérios propostos anteriormente. A fase final envolveu a redação deste trabalho, em que os artigos foram organizados em uma tabela contendo informações como título, data e local, subtemas, primeiras investigações sobre o assunto, metodologias utilizadas, resultados e lacunas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os textos selecionados foram dispostos no quadro 1, onde se encontra o título dos 5 artigos escolhidos após a utilização de palavras-chave e filtros de idioma, além de restringir a busca aos últimos cinco anos. Em um primeiro momento foram identificados 16 artigos na base de dados IBICIT/BDTD, 158 na SCIELO e 12 na ANPED, totalizando 186 publicações com ao menos uma das palavras-chave.
Quadro 1 – Textos identificados e selecionados para análise
BDTD | ANPED | SCIELO |
Práticas pedagógicas voltadas para inclusão de alunos com TDAH nos anos iniciais em uma escola municipal de imperatriz–MA | Professores do ensino fundamental e o processo de identificação de alunos com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: fundamento teórico-científico ou evidência comportamental? | TDAH no ambiente escolar: desafios e estratégias para inclusão utilizando a gamificação |
Superdotação e TDAH: práticas educacionais inclusivas de atendimento a estudantes do ensino fundamental e médio | Educação inclusiva: conhecendo os desafios enfrentados por alunos com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) |
Fonte: elaborado pelos(as) autores(as)
Após uma análise cuidadosa dos títulos e resumos, 9 trabalhos foram selecionados para leitura completa, mas apenas 5 foram escolhidos para compor os resultados da
pesquisa, pois apresentavam compatibilidade com o tema proposto e serviram de instrumento para alcançar os objetivos propostos.
3.1 Primeiros estudos, locais onde o tema é mais pesquisado e os subtemas associados O quadro 2 apresenta a primeira parte dos resultados do levantamento, ele aborda os primeiros estudos identificados em cada trabalho sobre o tema proposto, o ano de publicação e o local onde cada trabalho foi pesquisado. Os estudos apresentam subtemas dentro do tema principal, os quais são expostos no quadro a seguir. As pesquisas escolhidas foram realizadas entre 2023 e 2025, abordando a inclusão de alunos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em escolas brasileiras
Quadro 2 – Resultados do levantamento – parte 1
Ano e Locais da pesquisa | Primeiros estudos | Subtemas |
2025, SCIELO | George Still (1902), descreveu crianças com agitação e impulsividade. Posteriormente, Barkley e Murphy (2008) categorizam o transtorno em subtipos clínicos. Estudos recentes, como os de Prensky (2010) e DuPaul e Stoner (2014), destacaram o potencial de tecnologias digitais e gamificação para melhorar o engajamento e desempenho de alunos com TDAH. | Estratégias pedagógicas; inclusão e aprendizagem significativa; discute características do TDAH; práticas educacionais eficazes e a importância da tecnologia na educação. |
2024, BDTD | Kramer e Pollnow na década de 1930 | Práticas pedagógicas observadas em sala de aula e os desafios enfrentados para garantir a efetiva inclusão de alunos com TDAH nos anos iniciais. |
2023, ANDEP | Descrições de “falta de atenção” por Melchior Adam Weikard (1775) e “desatenção patológica” por Alexander Crichton (1798). | Histórico do diagnóstico do TDAH; Critérios clínicos (DSM-V e CID-11); políticas públicas de inclusão educacional; práticas pedagógicas e lacunas na formação docente; além da proposta de um curso de capacitação profissional. |
2024, BDTD | Nas últimas décadas, pesquisadores como Baum et al. (2014), Foley-Nicpon et al. (2017) e Renzulli destacaram a complexidade da dupla excepcionalidade. | Dupla excepcionalidade; políticas públicas educacionais; formação docente; atendimento educacional especializado e desafios socioemocionais. |
2023, SCIELO | Russell Barkley (1980), foi um dos primeiros a relacionar TDAH a déficits em funções executivas, destacando impactos. Carolyn Evertson (1980) estudou sobre gestão de sala de aula para alunos com dificuldades de atenção, sugerindo adaptações como estruturação de rotinas. | Explorando conceitos e histórico da inclusão, legislação pertinente (como a LDB e o PNE), relação entre TDAH e ambiente escolar, obstáculos estruturais |
Fonte: elaborado pelos(as) autores(as)
O quadro apresenta pesquisas realizadas entre 2023 e 2025 em bases de dados como SCIELO, BDTD e ANDEP, abordando o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) no contexto educacional. Os estudos destacam desde as primeiras descrições do TDAH que remontam a George Still (1902), que associou agitação e impulsividade em crianças. No século XVIII, Melchior Adam Weikard (1775) e Alexander Crichton (1798) já discutiam sintomas de desatenção.
Posteriormente, pesquisadores como Russell Barkley (1980) relacionaram o transtorno a disfunções executivas, enquanto Barkley e Murphy (2008) categorizaram critérios clínicos. O que é importante para entendermos o contexto histórico do tema proposto. Nota-se uma evolução na compreensão do TDAH, com enfoque em subtipos clínicos, impactos nas funções executivas e a importância de adaptações em sala de aula, como estruturação de rotinas e uso de tecnologias digitais.
Os subtemas revelam preocupações recorrentes, como a inclusão educacional, a formação docente e as políticas públicas. Pesquisas de Souto (2024) e Fonseca (2023), enfatizam lacunas na capacitação de professores e desafios na implementação de políticas, enquanto que Andrade et al. (2025) exploram soluções inovadoras, como gamificação e ferramentas digitais, para engajar alunos com TDAH. Além disso, a dupla excepcionalidade do TDAH associado a altas habilidades, surge como um tema relevante, destacando a complexidade do diagnóstico e do atendimento educacional especializado.
As tendências indicam um movimento em direção à integração de tecnologia e práticas pedagógicas mais dinâmicas, refletindo a necessidade de abordagens multifacetadas para o TDAH. No entanto, persistem desafios, como a carência de formação docente adequada e a efetividade das políticas de inclusão. Os estudos sugerem que, embora avanços tenham sido feitos, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir equidade e apoio eficaz a alunos com TDAH em ambientes educacionais.
De uma forma geral os estudos abordam estratégias pedagógicas para inclusão de alunos com TDAH, desafios na identificação e diagnóstico do transtorno, políticas públicas educacionais, práticas de gamificação, dupla excepcionalidade (superdotação e TDAH), além de barreiras estruturais como falta de recursos tecnológicos e formação docente insuficiente. A relação entre legislação, gestão escolar e adaptações metodológicas também é destacada.
3.2 Principais teorias, metodologias, resultados e lacunas
A seguir apresenta a segunda parte dos resultados do levantamento, o quadro 3 explicita as teorias e autores que fundamentam os estudos, as metodologias que foram utilizados em cada trabalho, além dos resultados obtidos em cada pesquisas e as lacunas identificadas em cada trabalho. A análise crítica dos resultados revela pontos de convergência com a literatura existente, contradições contextuais e lacunas que demandam atenção.
Quadro 3 – Resultados do levantamento – parte 2
Teorias/autores | Metodologias | Resultados e lacunas |
Os autores fundamentam-se em teorias neurobiológicas do TDAH ABDA (2024), abordagens pedagógicas lúdicas Luckesi, (2014); Huizinga, (2014) e conceitos de gamificação Prensky, (2010); Martins e Giraffa, (2015) | Pesquisa qualitativa com abordagem bibliográfica e de campo. Questionários semiestruturados aplicados a 12 professores de ensino fundamental. Análise de conteúdo de Bardin para interpretação dos dados. | Os resultados indicaram que a gamificação aumenta o engajamento e a motivação de alunos com TDAH, mas a falta de recursos tecnológicos em escolas públicas limita sua aplicação. Lacunas incluem a carece de dados empíricos robustos sobre a eficácia da gamificação, análise de limitações práticas em diferentes contextos escolares e discussão aprofundada sobre fatores externos como apoio familiar e recursos tecnológicos. |
A pesquisa fundamenta se na Teoria Histórico Cultural de Vygotsky, que enfatiza o papel das interações sociais no desenvolvimento cognitivo | Abordagem Qualitativa e exploratória. Com técnicas de observação em sala de aula, entrevistas semiestruturadas com professores, gestores e cuidadores. | Os resultados revelaram que os alunos com TDAH são frequentemente tidos como invisíveis, com práticas pedagógicas inadequadas, falta de formação docente continuada e recursos especializados. As lacunas desta pesquisa incluem a natureza exploratória, que pode limitar a profundidade e a generalização dos resultados, além da dependência de métodos qualitativos que podem envolver certa subjetividade no registro de observações |
As teorias centrais incluem os critérios diagnósticos do DSM-V e CID-11, que definem o TDAH. Fonseca (2014) destaca o comprometimento do córtex pré-frontal, afetando atenção, memória e organização. Políticas de inclusão, como a Lei Brasileira de Inclusão (2015) | Abordagem qualitativa e exploratória. Amostra de 26 professores da rede pública estadual (6º ao 9º ano). Questionário via Google Forms com questões fechadas e abertas. Análise de conteúdo segundo Bardin (1977). | Os professores identificam alunos com TDAH principalmente por hiperatividade e desatenção, com conhecimento superficial do transtorno e pouca familiaridade com a legislação de inclusão. Lacunas revelam formação insuficiente durante a graduação, necessidade de capacitação contínua e riscos de rotulação sem diagnóstico médico, destacando a urgência de políticas de apoio e recursos pedagógicos estruturados. |
Modelo dos Três Anéis de Renzulli. Teoria para o Desenvolvimento do Potencial Humano de Renzulli. | Estudo de caso múltiplo qualitativo. Participaram 6 estudantes, 20 participantes no total (gestores, professores, familiares). Entrevistas semiestruturadas, desenhos livres e análise documental. | A inclusão eficaz requer políticas públicas, suporte acadêmico e sócio emocional, avaliação formativa e envolvimento da comunidade escolar. Salas de recursos favorecem o desenvolvimento de talentos, enquanto estudantes com TDAH apresentam desafios mais persistentes. As lacunas encontradas foram, poucos estudos brasileiros, escassez de pesquisas com adultos, mulheres e minorias étnico-raciais, além da necessidade de mais intervenções práticas e avaliação de políticas públicas específicas. |
Os autores fundamentam-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), na legislação brasileira (Constituição, LDB, PNE) e em estudos como os de Confortin et al. (2015) e Neto et al. (2018). | Pesquisa bibliográfica qualitativa. Fontes em livros, artigos científicos, legislações, sites especializados. | O estudo identificou que a inclusão de alunos com TDH enfrenta barreiras como falta de recursos financeiros, infraestrutura inadequada, escassez de profissionais especializados e políticas pedagógicas pouco eficazes. Como lacunas, destacam-se a necessidade de investimentos em formação docente, ampliação de salas de recursos multifuncionais e políticas públicas mais consistentes para garantir acesso equitativo à educação. |
Fonte: elaborado pelos(as) autores(as)
Quadro 3 apresenta uma análise de diferentes teorias e metodologias aplicadas ao estudo do TDAH no contexto educacional, destacando resultados e lacunas significativas. As pesquisas fundamentam-se em abordagens diversas, como teorias neurobiológicas, a Teoría Histórico-Cultural de Vygotsky e critérios diagnósticos do DSM-V e CID-11, além de políticas de inclusão como a Lei Brasileira da Inclusão (2015). Os resultados indicam que estratégias como gamificação e práticas pedagógicas lúdicas aumentam o engajamento de alunos com TDAH, mas enfrentam limitações devido à falta de recursos tecnológicos e formação docente. Esses achados reforçam a importância de intervenções baseadas em evidências, embora a escassez de dados empíricos robustos e a subjetividade de métodos qualitativos representem desafios.
Nos trabalhos analisados predominam pesquisas qualitativas, com técnicas como questionários semi estruturados, entrevistas, observação em sala de aula, análise de conteúdo tendo Bardin (2011), como base e estudos de caso. As amostras incluem professores, gestores, familiares e alunos, com abordagens bibliográficas e de campo. Ferramentas como Google Forms e desenhos livres foram utilizadas para coleta de dados.
As lacunas identificadas nas pesquisas apontam para problemas estruturais e práticos no atendimento a alunos com TDAH. Embora tenha havido progressos notáveis no entendimento e tratamento do TDAH, a literatura contemporânea ainda apresenta importantes lacunas e desafios que despertam maior atenção da comunidade científica e educacional. Tais restrições, afirma Jones e Chronis (2021). Gomes et al. (2023) ressalta que existem poucos estudos longitudinais que examinam o efeito dessas práticas a longo prazo, particularmente em cenários de renda baixa.
Além disso, a falta de formação continuada, recursos especializados e infraestrutura inadequada nas escolas públicas são obstáculos frequentes. As pesquisas baseadas no Modelo dos Três Anéis de Renzulli destacam a necessidade de políticas públicas mais eficazes, suporte sócio emocional e envolvimento da comunidade escolar, mas também evidenciam a carência de estudos brasileiros focados em grupos específicos, como mulheres e minorias étnico-raciais.
Os resultados ressaltam a urgência de investimentos em capacitação docente, salas de recursos multifuncionais e políticas públicas consistentes para garantir a equidade educacional. Embora algumas pesquisas demonstram avanços, como a identificação de práticas pedagógicas eficazes e a importância da gamificação, as lacunas persistem na generalização dos resultados e na aplicabilidade em diferentes contextos escolares.
A dependência de métodos qualitativos, embora valiosa para compreender nuances, limita a profundidade das conclusões, indicando a necessidade de abordagens mistas e estudos longitudinais. Esses desafios destacam a complexidade da inclusão educacional e a importância de ações integradas entre escolas, famílias e gestores públicos.
A complexidade do TDAH, como um distúrbio heterogêneo, requer estratégias igualmente variadas. Barkley (2021), elucida que pesquisas neuropsicológicas recentes têm enfatizado como os subtipos do TDAH exibem perfis cognitivos e comportamentais variados, exigindo estratégias de ensino específicas. No entanto, conforme indicam Tistarelli et al. (2022), a maior parte das disciplinas ainda é concebida e avaliada considerando o TDAH como uma condição uniforme, desconsiderando essas diferenças individuais.
Além disso, a elevada incidência de comorbidades, afirma Jensen et al. (2022), que pode atingir até 80% dos casos de acordo com uma avaliação recente, constitui outro desafio crucial. Langberg et al. (2023), deixa claro que condições como distúrbios de aprendizagem, ansiedade e transtorno opositivo-desafiador muitas vezes alteram a ocorrência nas intervenções educativas, exigindo estratégias integradas que recentemente são investigadas de forma sistemática.
Os resultados desta revisão literária destacam que as práticas educacionais mais eficazes para a inclusão de alunos com TDAH envolvem estratégias multifacetadas, como organização visual do ambiente, uso de tecnologia assistiva, gamificação e flexibilização de tarefas. No entanto, a implementação dessas práticas enfrenta desafios significativos, incluindo falta de formação docente especializada, recursos tecnológicos insuficientes e políticas públicas inconsistentes. Os estudos apontam que abordagens integradas, que combinam adaptações pedagógicas, apoio comportamental e envolvimento familiar, promovem melhores resultados acadêmicos e socioemocionais.
4 CONCLUSÃO
Este artigo de revisão literária cumpriu seu objetivo de mapear as práticas educacionais utilizadas na inclusão de alunos com TDAH, identificando ênfases temáticas, teóricas e metodológicas. Os principais resultados revelaram que estratégias como organização visual, gamificação e flexibilização de tarefas são eficazes, mas dependem de recursos e formação docente adequada.
Além disso, destacou-se a importância de abordagens integradas, envolvendo adaptações pedagógicas, suporte comportamental e participação familiar. No entanto, persistem lacunas, como a escassez de estudos longitudinais e a necessidade de intervenções personalizadas para diferentes subtipos de TDAH.
As análises demonstraram que a falta de capacitação docente e de infraestrutura escolar são os principais obstáculos para a efetiva inclusão, reforçando a necessidade de políticas públicas mais consistentes. Os estudos revisados também apontaram a carência de pesquisas em contextos socioeconômicos desfavorecidos e com grupos específicos, como mulheres e minorias étnicas. Essas lacunas limitam a generalização dos resultados e indicam áreas prioritárias para futuras investigações. Dentre essas, a necessidade de avaliar a eficácia de práticas inclusivas em longo prazo emerge como uma possível direção para pesquisas futuras.
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1 Discente do Curso de Mestrado em Ciências da Educação, pela Facultad Interamericana de Ciências Sociales interamericana/FICS, Especialista em Gestão Supervisão e Orientação (FADESA 2015/2016), Educação Infantil com Ênfase nas Serie Iniciais (FACIMAB 2018),Educação Especial (FACIMAB 2018/2019),Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica (FAEL 2021), Fundamentos para Alfabetização e Letramento e a Psicopedagogia Institucional ( FAEL2021/2022), Educação Especial e Inclusiva (FAEL 2022), Especialização em Didática e Metodologia do Ensino de Geografia (FAEL 2022/2024). E-mail: armandobritobb2020@gmail.com;
2 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará (2000), Especialista em Educação, Cultura e Organização Social (UFPA, 2004), Mestre em Educação, (UFPA, 2005/2006) e Doutora em Educação pela UFPA (2012). Atualmente é professora adjunta da UFPA, campus de Abaetetuba-Pará. Atuou na formação continuada de professores e gestores na Unidade SEDUC na Escola e na Coordenadoria de Planejamento e Pesquisa da Fundação Escola Bosque. Atual Diretora da Faculdade de Educação e Ciências Sociais do Campus de Abaetetuba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Currículo, Subjetividade e Sexualidade na Educação Básica (Experimentações) e pesquisadora colaboradora do Grupo de Estudo e Pesquisa “Currículo e Formação de Professores na Perspectiva da Inclusão (INCLUDERE). Atua na área de Educação, principalmente nos seguintes temas: Currículo, Cultura, Diversidade e Diferença, Ensino e aprendizagem e Educação Inclusiva.
E-mail: karinamendes2232@gmail.com.