REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA NA AMAZÔNIA OCIDENTAL: ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA NO NORTE DO BRASIL ENTRE 2018-2022

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202510291158


Guilherme Bichara Martins1
Paulo Victor Santos Silva1
Manoela Macedo Zamora1
Juilia Bichara Martins1
Mayara Simone Bichara da Silva1


RESUMO 

Introdução: A cirurgia de revascularização miocárdica (CRVM) representa uma intervenção cirúrgica fundamental no tratamento da doença arterial coronariana (DAC) em estágios avançados, visando restabelecer o fluxo sanguíneo adequado para o miocárdio. Na região Norte do Brasil, sua relevância é ainda maior devido à elevada incidência de fatores de risco cardiovasculares e às limitações de acesso a serviços especializados em saúde. Objetivo: O presente estudo tem como propósito descrever e examinar o perfil epidemiológico e cirúrgico dos pacientes submetidos à CRVM na região Norte do Brasil, entre os anos de 2018 e 2022, realizando comparações entre as unidades federativas e avaliando os custos hospitalares envolvidos. Métodos: Trata-se de um estudo observacional, retrospectivo e descritivo, baseado em informações obtidas do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), referentes ao período de 2018 a 2022. Foram analisadas variáveis sociodemográficas, características das internações e dos procedimentos realizados, desfechos clínicos, custos hospitalares e etiologia principal. A análise estatística foi conduzida com o auxílio do software SPSS. Resultados: No intervalo de 2018 a 2022, foram registradas 3.754 cirurgias de revascularização miocárdica na região Norte do país, com maior concentração no ano de 2022, que correspondeu a 23,6% do total. A média de idade dos pacientes foi de 62 anos (±9), predominando indivíduos do sexo masculino (73,6%) e autodeclarados pardos (62,4%). Internações de caráter eletivo corresponderam a 55,2% dos casos. O tipo de procedimento mais frequente envolveu o uso de circulação extracorpórea (CEC) com dois ou mais enxertos (84,8%), enquanto no estado do Acre observou-se o predomínio de cirurgias sem CEC (94,9%).A mortalidade global foi de 8,1%, variando entre os estados — com os menores índices registrados no Acre (6,9%) e no Pará (7%). Os custos hospitalares apresentaram discrepâncias significativas, sendo mais elevados em Rondônia e no Pará. O tempo médio de internação foi de 13 dias, com valores menores observados no Acre e Amazonas, e maiores em Rondônia. O uso de unidades de terapia intensiva (UTI) também variou amplamente, sendo mais frequente no Pará. Conclusão: Os achados demonstram um crescimento progressivo no número de CRVMs realizadas na região Norte do Brasil entre 2018 e 2022, após uma redução notável em 2020, associada aos impactos da pandemia de Covid-19. O aumento observado em 2021 e 2022 reflete tanto a retomada de cirurgias eletivas quanto a resposta a agravos cardíacos agudos.As variações regionais em mortalidade, custos e utilização de recursos hospitalares evidenciam desigualdades estruturais no acesso e na qualidade da assistência cardiovascular. Assim, torna-se imprescindível o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à equidade e à eficiência do cuidado, considerando as especificidades locais para aprimorar os desfechos clínicos e o uso dos recursos de saúde. 

Palavras-chave: Perfil epidemiológico; Cirurgia de revascularização miocárdica; Desigualdades em saúde. 

INTRODUÇÃO 

A doença arterial coronária (DAC) continua sendo uma das principais causas de morbimortalidade no mundo, demandando intervenções como revascularização miocárdica para reduzir eventos adversos e melhorar qualidade de vida (LAWTON, 2021). 

Diretrizes internacionais recentes recomendam que, em pacientes com DAC estável ou síndrome coronariana aguda, a escolha entre tratamento clínico otimizado, angioplastia (PCI) ou cirurgia de revascularização miocárdica (CRVM) deve considerar fatores anatômicos, gravidade da isquemia, comorbidades e preferências do paciente (ESC, 2024), (OZASA, 2025). 

A evidência de estudos multicêntricos indica que a revascularização precoce em pacientes com isquemia moderada a grave demonstrada por imagem está associada a menor risco de infarto ou morte cardiovascular, especialmente se a extensão isquêmica ultrapassar determinado limiar (GERODIAS, 2025). 

No Brasil, particularmente na região amazônica, existem poucos estudos que avaliem os resultados de revascularização miocárdica, apesar de registros apontarem mortalidades que variam bastante entre centros, além de desafios logísticos, estruturais e de acesso (LOBATO, 2019). 

Considerando que as populações amazônicas possuem características epidemiológicas, condições pré-operatórias e realidades de cuidado distintas, é importante verificar se os achados das grandes diretrizes e estudos internacionais se aplicam localmente, bem como identificar fatores específicos que influenciam o prognóstico nessa região (LOBATO, 2019), (HOSSNE, 2024). 

OBJETIVOS 

Identificar e analisar o perfil epidemiológico e cirúrgico dos pacientes submetidos à CRVM na região Norte do Brasil entre 2018 e 2022, comparando entre unidades federativas, e avaliando os custos associados. 

METODOLOGIA 

Este estudo adotou uma abordagem seccional, retrospectiva e descritiva, explorando dados sobre os pacientes submetidos a cirurgias de revascularização miocárdica (CRVM) no Norte do  Brasil. As informações coletadas foram referentes ao período de 2018 a 2022, provenientes do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), acessados por meio do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). As informações contidas na internações hospitalares foram analisadas, abrangendo variáveis como ano, sexo, raça, idade, UF de ocorrência da cirurgia, carater da internação (eletiva ou urgencia) procedimento cirurgico realizado, desfechos (altas, transferências e óbitos), etiologia principal de acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – 10ª Revisão (CID-10), tempo de internação e uso de leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e informações quanto aos custos do cuidado prestado e natureza juridica e financiamento das instituições. 

O processo de coleta e análise de dados foi realizado utilizando o software RStudio (versão 2023.09.1 Build 494) com os pacotes DescTools e MicroDatasus. As CRVMs foram selecionadas e identificadas por meio dos códigos de procedimentos encontrados no Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS (SIGTAP), do DATASUS, pertencentes ao grupo de procedimentos cirúrgicos, no subgrupo das do aparelho circulatório, na organização das cirurgias cardiovasculares, filtrados pelos procedimentos unicamente de revascularização miocárdica (independente do número de enxertos ou uso de circulação extracorpórea. 

Para a análise estatística, empregamos o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) da IBM™, versão 26. Os dados foram apresentados em tabelas, com frequências absolutas e relativas para variáveis categóricas e médias com desvio padrão para as variáveis qualitativas. 

Considerando a natureza dos dados públicos e anonimizados do SIH, este estudo foi isento de avaliação por um Comitê de Ética em Pesquisa. 

DISCUSSÃO 

A análise das cirurgias de revascularização miocárdica realizadas no norte do Brasil revelou padrões interessantes para discussão. Primeiramente, destacou-se um aumento progressivo no número de procedimentos em dois biênios distintos: de 2018 a 2019 e de 2021 a 2022, notavelmente, essa tendência ascendente foi interrompida em 2020. Essa queda pode ser atribuída principalmente à pandemia de Covid-19, durante a qual as cirurgias cardíacas foram adiadas devido ao alto risco de contaminação hospitalar e externa pelo vírus. Especialmente no pós-operatório, a infecção viral estava associada a uma alta taxa de mortalidade, aumentando de 5,5% em pacientes sem infecção para 44% naqueles acometidos(YATES et al., 2020). Ainda nesse contexto, pacientes submetidos ao uso de Circulação Extracorpórea (CEC) durante o procedimento de revascularização miocárdica e que testaram positivo para Covid-19 antes da cirurgia apresentaram maiores complicações em comparação aos que testaram negativo. Essas incluíram períodos mais prolongados de internação e uma taxa de mortalidade mais elevada (STAMMERS et al., 2021). Além disso, o período pandêmico também está ligado de outra forma ao aumento na realização de cirurgias em 2021 e 2022. Isso se deve, em parte, à associação menos comum da progressão da infeção respiratória para lesões miocárdicas, que cursam com miocardite, cardiomiopatia e Insuficiência Cardíaca, as quais  podem requerer a intervenção cirúrgica discutida (BABAPOOR-FARROKHRAN et al., 2020). 

Em relação à distribuição sociodemográfica dos pacientes submetidos à cirurgia, foi observada uma predominância do sexo masculino, pardos e com uma idade média de 62 anos, resultados que estão em consonância com a tendência geral (Toledo et al., 2023). Na região Norte, destacou-se uma concentração de procedimentos no estado do Pará, o que pode ser explicado pela sua posição como o estado mais populoso da região Norte e o nono mais populoso do Brasil, conforme indicado pelo último censo realizado pelo IBGE. 

O caráter predominante das internações foi de procedimentos eletivos, sendo as etiologias mais comuns a Angina Instável e o Infarto Agudo do Miocárdio. Para a discussão, a associação desses dados com o desfecho de óbito torna-se interessante. Ao examinar os resultados dos cruzamentos, percebe-se um equilíbrio de óbitos independente do caráter da internação e manutenção das etiologias mencionadas. Essa constatação sugere que fatores além da urgência da intervenção ou da etiologia da doença subjacente podem estar influenciando os desfechos de mortalidade nesses pacientes. O estudo de Head et al. (2017) associou os seguintes fatores preditores a mortalidade antes da realização da CRV, em ordem: Classe de Angina, disfunção de VE ou IC, sexo masculino e tempo de espera para realização da cirurgia.  

Outro ponto de interesse é a análise dos custos hospitalares, onde foi examinada a relação entre os gastos, os desfechos de óbito e o tempo de permanência na UTI. Os estados que mais despenderam nesse aspecto foram o Pará e Rondônia. Enquanto o Pará apresentou a segunda menor taxa de óbito entre os estados da região Norte, Rondônia registrou a mais alta taxa de mortalidade. Esses dados sugerem a inexistência de uma relação direta entre gastos e sobrevida dado acesso e recursos necessários para prestação do cuidado. No que diz respeito ao tempo de permanência na UTI, ambos os estados estão entre os que mais utilizam esse serviço, com períodos prolongados de uso. O Pará demonstrou uma permanência predominantemente entre uma e duas semanas, enquanto Rondônia teve um tempo de permanência dominante superior a 22 dias. Adicionalmente, o Pará se destacou por ser o estado com a maior porcentagem de utilização de UTI coronariana, aproximadamente 50%. Esse fator contribui para compreender por que esse estado registrou os maiores gastos nesse contexto. 

Já na avaliação dos procedimentos realizados, notou-se a predominância da cirurgia com uso da Circulação Extracorpórea (CEC) e dois ou mais enxertos nos estados do Amazonas, Amapá, Pará e Tocantins. No Acre, o procedimento mais realizado foi sem o uso de CEC, enquanto em Rondônia, também houve uso de CEC, porém com menos de dois enxertos. Ao comparar esses dados com os óbitos, notou-se que a Cirurgia de Revascularização do Miocárdio sem o uso da CEC apresentou a menor taxa de mortalidade. Em contraste, o uso de CEC com dois ou mais enxertos demonstrou uma taxa de óbitos superior a 80%. Entretanto, é importante considerar a disparidade das amostras populacionais para os procedimentos realizados; nenhum outro estado, além do Acre, teve mais de 6,2% de seus pacientes submetidos ao procedimento sem CEC. Apesar disso, evidencia-se que a não utilização da CEC consolida-se como uma alternativa viável e eficaz para a revascularização, especialmente em pacientes com complicações mais graves, como Doença Arterial Coronariana Multiarterial (RAJA, 2016). 

Na mesma linha de raciocínio, a comparação dos desfechos entre os grupos que utilizaram e não utilizaram CEC é desafiadora, principalmente devido à disparidade na composição da amostra, como mencionado anteriormente, e à concentração da população que não fez uso de CEC nos estados do Acre e Rondônia. Além disso, a elevada discrepância nas taxas de não utilização de CEC entre os 2 estados, 95,3% no Acre e 8% em Rondônia, influencia diretamente na avaliação dos resultados, como o tempo de permanência e tempo de internação, dificultando ainda mais a inferência de uma relação direta entre o uso de CEC e essas variáveis.  No que diz respeito ao cruzamento da ocorrência de óbitos e não uso da CEC, destaca-se positivamente o estado do Acre, que apresenta a menor taxa de mortalidade entre os estados da região norte. No entanto, ainda não é possível atribuir diretamente esse resultado ao não uso da CEC. Estudos, como o de VAN DIJK et al. (2001), afirmam que a curto prazo os desfechos entre pacientes com ou sem CEC são semelhantes. Entretanto, pesquisas mais recentes sugerem  o contrário, ou seja, que pacientes que não utilizaram CEC têm uma tendência maior de óbito a longo prazo (SMART; DIEBERG; KING, 2018).  

Este estudo focou exclusivamente nos desfechos e duração da internação durante a qual foi realizado o procedimento de revascularização. Portanto, não é possível extrapolar os resultados obtidos para avaliar a mortalidade a longo prazo entre as técnicas on com ou sem CEC, como discutido em estudos anteriores. Esta limitação deve ser considerada especialmente em aplicações para a região do Acre ou localidades semelhantes, onde fatores específicos podem influenciar os desfechos. 

RESULTADOSAnálise Geral da Cirurgia de Revascularização Miocárdica no Norte do Brasil  

Ao total foram realizadas 3.754 cirurgias de revascularização miocárdica no Norte do Brasil entre 2018 e 2022. A realização das cirurgias apresentou uma distribuição anual que variou de 18,0% a 23,6% ao longo do período de 2018 a 2022, com um aumento significativo em 2022, representando 23,6% das cirurgias do período estudado (Tabela 1).  

Tabela 1: Distribuição das CRVM no Norte do Brasil entre os anos de 2018 e 2022

Distribuição Sociodemográfica dos Pacientes 

A idade média dos pacientes submetidos à cirurgia foi de 62 anos, com um desvio padrão de ± 9, variando de 26 a 104 anos, e com predominância na faixa etária de 60 a 69 anos, que representa 40,4% dos casos. Observa-se uma predominância masculina (73,6%) e de pessoas pardas (62,4%). A distribuição dos pacientes por estados mostra uma proporção maior no estado do Pará, que representou 49,5% dos casos. Não há dados quanto a cirurgias no estado de Roraima. (Tabela 2) 

Tabela 2: Distribuição Sociodemográfica dos Pacientes Submetidos a Cirurgia de Revascularização Miocárdica no Norte do Brasil entre 2018 e 2022

Comparação por Unidades Federativas 

A distribuição etária dos pacientes submetidos a cirurgia de revascularização miocárdica apresentou poucas variações entre os estados. A faixa etária de 60 a 69 anos predominou em todos os estados. Observa-se também uma menor representatividade de pacientes jovens (20 a 29 anos) em todos os estados, com apenas o Amazonas e o Pará reportando casos isolados, em contrapartida o estado do Tocantins apresenta a maior proporção de pacientes com 80 anos ou mais (3,1%) (Tabela 3)

Em relação ao gênero, a maior proporção de pacientes do sexo masculino foi notada em Rondônia (79,6%), enquanto a maior proporção de pacientes femininos foi encontrada no Acre (32,5%). Quanto à distribuição racial, há uma predominância de pacientes pardos, especialmente no Amazonas (87,7%) e no Tocantins (87,1%). Acre e Rondônia apresentaram uma alta porcentagem de dados não informados (100% e 87,6% respectivamente). (Tabela 3). 

Tabela 3: Comparação Sociodemográfica entre as UFs dos Pacientes Submetidos a CRVM.

Análise dos Óbitos 

A proporção de óbito aumentou ligeiramente após 2020 de em torno de 19% para pré 2021 para em torno de 22% para 2021 e 2022. 

Tabela 4: Distribuição dos Óbitos em Decorrência da Cirurgia de Revascularização Miocárdica no Norte do Brasil entre os anos de 2018 e 2022

Quanto aos dados sociodemográficos, a maioria dos pacientes que foram a óbito estava nas faixas etárias mais altas, com uma concentração maior entre 40 a 69 anos (39,9%) e 70 e 79 anos (36,3%). Além disso, evidenciou-se um notável aumento na proporção de indivíduos com 80 anos ou mais (1,7% na população geral e 6,5% entre os que foram a óbito). Após avaliação, tal dado nos revela que 31,7% (N=20) dos pacientes com 80 anos ou mais que foram submetidos a cirurgia foram a óbito. Por fim, a média de idade entre os pacientes que foram a óbito também foi maior do que a da população geral analisada anteriormente (67 anos, comparado com 62 anos na população geral).  (Tabelas 2 e 5). 

A proporção racial e entre sexos sofre pouca variação quando comparadas com a população em geral (Tabelas 2 e 5) 

Tabela 5: Distribuição Sociodemográfica dos Pacientes que foram a Óbito em Decorrência da Cirurgia de Revascularização Miocárdica no Norte do Brasil entre 2018 e 2022

CONCLUSÃO 

O presente estudo realizou uma análise abrangente das cirurgias de revascularização miocárdica na região Norte do Brasil, abordando aspectos epidemiológicos, operacionais e de desfechos entre 2018 e 2022. Os dados demonstram que, apesar dos avanços no tratamento da doença arterial coronariana (DAC), ainda existem desafios significativos em termos de acesso, qualidade do cuidado e desfechos clínicos, especialmente em regiões com restrições socioeconômicas e de infraestrutura de saúde. 

O aumento observado nas taxas de procedimentos de CRVM ao longo do período estudado, especialmente em 2022, sugere uma recuperação das cirurgias postergadas devido à pandemia de Covid-19, além de refletir possivelmente um aumento na prevalência de condições cardíacas agudas, como angina instável e infarto agudo do miocárdio. Este fenômeno ressalta a importância de uma gestão eficaz dos serviços de saúde cardiovascular, particularmente em tempos de crise sanitária. 

Os resultados apontam uma relação complexa entre as condições cardiovasculares e infecções, como a Covid-19, aumentando as complicações em pacientes positivos para o vírus. Isso sublinha a importância de avaliações cuidadosas durante crises sanitárias. 

A predominância de pacientes do sexo masculino e da raça parda, com uma média de idade de 62 anos, corrobora com a literatura que identifica estes grupos como mais suscetíveis às doenças coronarianas. A variabilidade nos desfechos dos procedimentos, que incluem uma taxa de mortalidade de 8,1% e a predominância de internações de caráter eletivo, sugere que fatores adicionais, incluindo comorbidades e condições de acesso aos cuidados de saúde, influenciam significativamente os resultados da CRVM. Esses dados refletem o panorama geral do perfil dos pacientes submetidos a CRVM no Norte, sendo o crescimento das CRVM, por sua vez, um indício de uma demanda aumentada do procedimento. 

Outra questão avaliada são os custos associados à CRVM, em que houve uma oposição entre Rondônia e Pará, estados que apresentam valores elevados de custo hospitalar, porém exibem taxas de óbitos contrastantes, com Rondônia apresentando a maior taxa (15,9%) e o Pará a menor (7%), revelando que não há correlação direta entre gastos e a sobrevida dos pacientes dada uma condição mínima de atendimento, sugerindo que fatores adicionais influenciam os resultados clínicos. Além disso, a análise da CRVM apontou predominância da Circulação Extracorpórea (CEC) com dois ou mais enxertos, especialmente nos estados do Amazonas, Amapá e Pará. No entanto, os óbitos associados à CEC com múltiplos enxertos foram notavelmente mais altos, ultrapassando 80%. Esses resultados dão indícios para a importância de se considerar alternativas terapêuticas, como a cirurgia sem CEC, no entanto ainda não há evidências científicas suficientes de que o uso sem CEC levaria a uma redução da mortalidade e o número de pacientes submetidos a procedimentos off pump nesse estudo, além de sua concentração em apenas duas UFs torna difícil traçar qualquer real comparativo com forte evidência. 

Esta análise, portanto, não apenas proporciona um panorama atualizado e específico da situação da CRVM no Norte do Brasil, mas também serve como base para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de intervenção e de políticas de saúde pública ajustadas às necessidades locais, visando a sustentabilidade e a equidade no tratamento da DAC. 

REFERENCIAL TEÓRICO 

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1Acadêmico de Medicina. Centro Universitário Uninorte. Rio Branco, AC, Brasil.