ADVANCES IN UNDERSTANDING CROHN’S DISEASE: FIBROSIS MECHANISMS, BIOMARKERS AND THERAPEUTIC PERSPECTIVES
AVANCES EN LA ENTENSIÓN DE LA ENFERMEDAD DE CROHN: MECANISMOS DE FIBROSIS, BIOMARCADORES Y PERSPECTIVAS TERAPÉUTICAS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202510110606
Bruna Gonzatti Batista1
Carollayne Mendonça Rocha2
Luíza Oliveira Borges3
RESUMO: A Doença de Crohn (DC) é uma enfermidade inflamatória intestinal crônica caracterizada por inflamação transmural e comprometimento imunológico. Este estudo revisa a desregulação do sistema imunológico como fator central na patogênese da DC e analisa intervenções imunomoduladoras, como imunossupressores e terapias biológicas, em comparação com tratamentos convencionais ou placebo. A pesquisa utilizou a metodologia de revisão integrativa, orientada pela estratégia PICO. Foram incluídos estudos publicados entre 2019 e 2024, identificados na base de dados PubMed. Os critérios de inclusão abrangeram estudos sobre DC com foco na desregulação imunológica e intervenções terapêuticas, enquanto os de exclusão desconsideraram artigos que não apresentassem dados originais ou relevantes ao tema. Os resultados indicaram que a resposta imunológica na DC é mediada por citocinas pró-inflamatórias (como TNF-α, IL-17 e IL-21), que perpetuam a inflamação intestinal e contribuem para complicações como fibrose e estenoses. As terapias biológicas e imunossupressoras demonstraram eficácia na redução de surtos inflamatórios, melhora na qualidade de vida e diminuição das taxas de complicações, quando comparadas a tratamentos convencionais. Conclui-se que o entendimento detalhado dos mecanismos imunológicos da DC permite o desenvolvimento de terapias mais direcionadas e eficazes. Apesar dos avanços, desafios permanecem, como o manejo de resistência terapêutica e a identificação de biomarcadores que permitam o diagnóstico precoce e o acompanhamento preciso da doença. Esses achados reforçam a importância da abordagem imunológica no tratamento e manejo clínico da Doença de Crohn.
PALAVRAS-CHAVE: doença inflamatória intestinal, miofibroblastos, necrose.
ABSTRACT: Crohn’s disease (CD) is a chronic inflammatory bowel disease characterized by transmural inflammation and immunological impairment. This study reviews immune dysregulation as a central factor in the pathogenesis of CD and analyzes immunomodulatory interventions, such as immunosuppressants and biological therapies, in comparison with conventional treatments or placebo. The research used the integrative review methodology, guided by the PICO strategy. Studies published between 2019 and 2024, identified in the PubMed database, were included. The inclusion criteria covered studies on CD focusing on immune dysregulation and therapeutic interventions, while the exclusion criteria disregarded articles that did not present original or relevant data on the topic. The results indicated that the immune response in CD is mediated by pro-inflammatory cytokines (such as TNF-α, IL-17 and IL-21), which perpetuate intestinal inflammation and contribute to complications such as fibrosis and strictures. Biological and immunosuppressive therapies have demonstrated efficacy in reducing inflammatory outbreaks, improving quality of life, and decreasing complication rates when compared to conventional treatments. It is concluded that a detailed understanding of the immunological mechanisms of CD allows the development of more targeted and effective therapies. Despite advances, challenges remain, such as the management of therapeutic resistance and the identification of biomarkers that allow early diagnosis and accurate monitoring of the disease. These findings reinforce the importance of the immunological approach in the treatment and clinical management of Crohn’s disease.
KEYWORDS: inflammatory bowel disease, myofibroblasts, necrosis.
RESUMEN
La enfermedad de Crohn (EC) es una enfermedad inflamatoria intestinal crónica caracterizada por inflamación transmural y deterioro inmunológico. Este estudio revisa la desregulación del sistema inmunológico como factor central en la patogénesis de la EC y analiza intervenciones inmunomoduladoras, como inmunosupresores y terapias biológicas, en comparación con tratamientos convencionales o placebo. La investigación utilizó la metodología de revisión integradora, guiada por la estrategia PICO. Se incluyeron estudios publicados entre 2019 y 2024, identificados en la base de datos PubMed. Los criterios de inclusión cubrieron estudios sobre EC centrados en la desregulación inmune y las intervenciones terapéuticas, mientras que los criterios de exclusión descartaron artículos que no presentaran datos originales o relevantes para el tema. Los resultados indicaron que la respuesta inmune en la EC está mediada por citoquinas proinflamatorias (como TNF-α, IL-17 e IL-21), que perpetúan la inflamación intestinal y contribuyen a complicaciones como fibrosis y estenosis. Las terapias biológicas e inmunosupresoras han demostrado eficacia para reducir los brotes inflamatorios, mejorar la calidad de vida y reducir las tasas de complicaciones, en comparación con los tratamientos convencionales. Se concluye que una comprensión detallada de los mecanismos inmunológicos de la EC permite el desarrollo de terapias más dirigidas y efectivas. A pesar de los avances, persisten desafíos, como gestionar la resistencia terapéutica e identificar biomarcadores que permitan un diagnóstico temprano y un seguimiento preciso de la enfermedad. Estos hallazgos refuerzan la importancia del enfoque inmunológico en el tratamiento y manejo clínico de la enfermedad de Crohn.
PALABRAS CLAVE: enfermedad inflamatoria intestinal, miofibroblastos, necrosis.
INTRODUÇÃO
A Doença de Crohn (DC) é uma condição inflamatória intestinal (DII) crônica, marcada por inflamação transmural que pode afetar qualquer segmento do trato gastrointestinal, desde a cavidade oral até o ânus. Sua etiologia é multifatorial, resultante de uma interação complexa entre predisposição genética, fatores ambientais e desregulação imunológica. Embora avanços significativos tenham sido feitos no entendimento da genética e dos gatilhos ambientais, os mecanismos imunológicos e fibrogênicos subjacentes à progressão da doença têm ganhado destaque por seu papel central na patogênese e nas complicações, como a fibrose intestinal. (FEUERSTEIN, Joseph D; CHEIFETZ, Adam S, 2017.)
A resposta imune desordenada na DC envolve uma ativação anormal de células imunológicas, incluindo linfócitos T-helper e macrófagos, resultando na produção exacerbada de citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), IL-17 e IL-21. Esses mediadores não apenas perpetuam a inflamação, mas também promovem alterações estruturais, como a transição epitelialmesenquimal, hiperplasia de miofibroblastos e deposição de matriz extracelular, contribuindo para complicações fibróticas e estenóticas. Além disso, a disbiose microbiana e a disfunção da barreira intestinal agravam a perpetuação da inflamação e da remodelação tecidual. (LU, Quan et al., 2022.)
Nos últimos anos, estudos têm elucidado vias moleculares específicas e biomarcadores potenciais envolvidos no processo de fibrose, como o TGF-β, o receptor ativador do proliferador de peroxissoma gama (PPARγ) e proteínas de choque térmico, destacando novas oportunidades para intervenções terapêuticas. Apesar do avanço na utilização de terapias biológicas para controle inflamatório, a fibrose intestinal continua sendo um desafio, muitas vezes culminando em intervenções cirúrgicas devido à falha no manejo clínico convencional. (LI, Aohan et al., 2024; XIN, Shuzi et al., 2024.)
Este artigo busca explorar os avanços recentes no entendimento dos mecanismos imunológicos e fibróticos da DC, com ênfase nos fatores que impulsionam a fibrose intestinal e na identificação de biomarcadores que podem auxiliar no diagnóstico precoce, prognóstico e tratamento. Por meio de uma análise integrada da literatura atual, esperamos oferecer uma visão abrangente sobre os desafios e perspectivas no manejo dessa complexa doença inflamatória.
MATERIAL E MÉTODOS
Refere-se a uma revisão integrativa da literatura com abordagem qualitativa sobre mecanismos de fibrose, biomarcadores e perspectivas terapêuticas na Doença de Crohn. A revisão integrativa de literatura é um metodologia que tem como objetivo sumarizar resultados adquiridos em consultas sobre um tema, de maneira abrangente, organizada e sistemática. É designada integrativa porque concede informações mais ampliadas sobre um assunto/problema, estabelecendo, assim, um corpo de conhecimento. Deste modo, o revisor/pesquisador pode formular uma revisão integrativa com diversas finalidades, podendo ser norteada para a designação de conceitos, revisão de teorias ou investigação metodológica dos estudos incluídos de um assunto particular. Esse esquema comporta a inclusão síncrona de pesquisa quase-experimental e experimental, combinando dados de bibliografia teórica e empírica, viabilizando compreensão mais integral do tema de interesse. A variedade na composição da amostra da revisão integrativa em soma com a diversidade de destinações desse método promove como resultado um panorama global de conceitos relevantes, de teorias ou dilemas relativos ao cuidado na saúde, relevantes para a medicina. (ERCOLE, Flávia Falci; MELO, Laís Samara de; ALCOFORADO, Carla Lúcia Goulart Constant, 2014)
Para a construção da revisão integrativa foram seguidos os seis passos preconizados por Mendes, Silveira e Galvão: 1) identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa; 2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos/amostragem ou busca na literatura; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) avaliação dos artigos incluídos; 5) interpretação dos resultados; e 6) apresentação da revisão/síntese do conhecimento. (MENDES, Karina Dal Sasso; SILVEIRA, Renata Cristina de Campos Pereira; GALVÃO, Cristina Maria, 2008)
A estratégia PICO foi adotada para nortear a formulação da questão principal do estudo, conforme descrito por Sousa, Marques Vieira et al. (2017). Essa abordagem, amplamente utilizada em revisões científicas, é composta pelos seguintes elementos: P (Patient/Population) referente à população ou problema em estudo, I (Intervention) relacionada à intervenção proposta, C (Comparison) envolvendo o comparador ou grupo controle, e O (Outcomes), que se refere aos resultados esperados. (DE SOUSA, Luís Manuel Mota et al., 2017)
No presente estudo, os elementos PICO foram definidos da seguinte maneira: População (P): Pacientes diagnosticados com Doença de Crohn (DC) associada à desregulação imunológica. Intervenção (I): Uso de imunossupressores ou terapias biológicas visando à modulação da resposta imunológica. Comparação (C): Terapias convencionais, incluindo corticosteroides ou medicamentos anti-inflamatórios não esteroides, ou placebo. Desfecho (O): Avaliação da redução dos sintomas da doença, melhora na qualidade de vida dos pacientes e diminuição da frequência de surtos inflamatórios. Com base nesses elementos, a questão norteadora foi formulada da seguinte maneira: “Em pacientes com Doença de Crohn associada à desregulação imunológica (P), como o uso de imunossupressores ou terapias biológicas (I) se compara com terapias convencionais ou placebo (C) em relação à redução dos sintomas, melhora da qualidade de vida e diminuição da frequência de surtos (O)?” Essa estruturação guiou o planejamento da busca e seleção dos artigos, garantindo foco e rigor metodológico para responder à questão proposta de maneira precisa e abrangente.
Com a finalidade de responder a pergunta definida, a coleta de dados ocorreu no mês de dezembro de 2023 por dois juízes independentes, sendo as discordâncias resolvidas por um terceiro autor, na base de dados PubMed. Para a busca dos artigos utilizaram-se os descritores “Crohn’s”, “dysregulation”, “immune system” e “fibrosis”. Combinados entre si pelos operadores booleanos AND e OR. A delimitação do recorte temporal da pesquisa teve início no ano de 2019. Por se tratar de um estudo com limite temporal definido, optou-se por restringir a busca até dezembro de 2024. Como critérios de inclusão para o estudo delimitaram-se apenas estudos que respondam à questão norteadora, textos disponíveis na íntegra nos idiomas português e inglês. Para critérios de exclusão definiram-se: estudos sem desfecho clínico ou incompletos, artigos de opinião, editoriais, documentos ministeriais, monografias, relatos técnicos, capítulos de livro, teses, dissertações e artigos duplicados. Foram eliminados artigos que se relacionavam à retocolite ulcerativa. Eliminados estudos com resultados inconclusivos e também aqueles feitos in vitro ou em camundongos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A identificação dos artigos aconteceu inicialmente por ordem cronológica, iniciando a partir das publicações feitas em janeiro de 2019 e finalizadas em dezembro de 2024. Havendo identificação por autores, base de dados, objetivo do estudo, características metodológicas, autores, ano, título do estudo, número de pacientes e conclusão. Aplicados todos os critérios, foram incluídos oito artigos para compor a revisão integrativa da literatura.
Tabela 1. Estudos incluídos na síntese da revisão integrativa de literatura.
| Autor | Ano | Título |
| KONG, Lingjia et al. | 2023 | The landscape of immune dysregulation in Crohn’s disease revealed through single-cell transcriptomic profiling in the ileum and colon. |
| HAYASHI, Yuki; NAKASE, Hiroshi. | 2022 | The molecular mechanisms of intestinal inflammationand fibrosis in Crohn’s disease. |
| BUSHARA, Omar et al. | 2022 | The possible pathogenic role of IgG4producing plasmablasts in stricturing Crohn’s disease. |
| ZIDAR, Nina et al. | 2020 | Pathology of fibrosis in Crohn’s disease— contribution to understanding its pathogenesis. |
| KIM, Seung Won et al. | 2023 | Downregulation of Heat Shock Protein 72 Contributes to Fibrostenosis in Crohn’s Disease. |
| ANDOH, Akira; NISHIDA, Atsushi. | 2022 | Molecular basis of intestinal fibrosis in inflammatory bowel disease. |
| LI, Chao et al. | 2020 | Endoplasmic reticulum stress in subepithelial myofibroblasts increases the TGF-β1 activity that regulates fibrosis in Crohn’s disease. |
| CORSI, Fabio et al. | 2021 | Circulating fibroblast activation protein as potential biomarker in patients with inflammatory bowel disease. |
FONTE: ELABORADO PELOS AUTORES.
Especificamente na DC, nossos resultados estendem descobertas anteriores mostrando que os perfis de composição do tipo celular discriminam mal entre CD5 inativo e ativo. Compreender os caminhos envolvidos na manutenção dessa rede transcricional “inflamada” em tecido endoscopicamente normal pode descobrir alvos-chave para terapias modificadoras de doenças e, finalmente, abordagens curativas. Os conjuntos de dados integrados revelaram respostas específicas de órgãos e compartimentos à inflamação aguda e crônica; a maioria das alterações imunológicas estava na composição celular, enquanto as alterações transcricionais dominavam entre as células epiteliais e estromais. Essas mudanças se correlacionaram com a inflamação endoscópica, mas os intestinos delgado e grosso exibiram respostas distintas, particularmente aparentes quando se concentram nos genes de risco da DII. Além disso, foram mapeados marcadores de ativação de miofibroblastos associado à doença e identificados CHMP1A, TBX3 e RNF168 como reguladores de complicações fibróticas. Segundo o estudo de KONG, ocorre uma complexa desregulação da resposta imune gastrointestinal na DC, que deve ser mais profundamente estudada para buscar tratamentos eficazes da doença. (KONG, Lingjia et al., 2023.)
A doença de Crohn (CD) é uma doença inflamatória intestinal (DII) com remissões e recaídas repetidas. À medida que a doença progride, ocorre fibrose e estreitamento do intestino, levando a complicações graves, como obstrução intestinal. Com a inflamação intestinal progressiva, citocinas e fatores de crescimento, incluindo o fator de crescimento transformador (TGF-β), estimulam os miofibroblastos intestinais, contribuindo para a fibrose do intestino, a hipertrofia do músculo liso e a hipertrofia da gordura mesentérica. Portanto, a inflamação cronicamente sustentada tem sido considerada uma causa de fibrose intestinal e estenose. Ainda assim, mesmo após o advento de produtos biológicos e o controle mais rígido da inflamação, a taxa cirúrgica da fibrose intestinal não diminuiu necessariamente. Recentemente, várias moléculas-chave de fibrose intestinal foram melhor descritas, sendo elas: gama do receptor ativador do proliferador de peroxissoma (PPARγ), receptor 4 semelhante ao toll (TLR4), Escherichia coli aderente-invasivo (AIEC), resposta imune Th17 e inibidor do ativador de plasminogênio 1 (PAI-1). (HAYASHI, Yuki; NAKASE, Hiroshi., 2022.)
A inflamação intestinal inicial recruta células imunes inatas, como neutrófilos, que secretam IL-1β e IL-23, o que induz uma resposta imune imune adaptativa mediada por células T-helper T CD4+ tipo 17 (Th17). Essas células T CD4+ Th17 também contribuem para a inflamação, secretando citocinas pró-inflamatórias, como IL-17 e IL21. A IL-21 recruta e estimula as células auxiliares foliculares T CD4+ (Tfh), que secretam mais IL-21. Isso causa a formação do centro germinativo ectópico, recrutando e estimulando células B ingênuas. O IL-17 e o IL-21 produzidos pelas células Th17 e pelas células Tfh também induzem a diferenciação do plasma IgG4. Finalmente, esses plasmablastos produtores de IgG4 secretam fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), que ativa o receptor PDGF local que expressa fibroblastos e miofibroblastos, resultando em fibroplasia descontrolada. (BUSHARA, Omar et al., 2022.)
No intestino normal, fibroblastos/perícitos positivos para CD34 foram detectados na submucosa e na subserosa, particularmente ao redor dos vasos sanguíneos. Na DC, a fibrose prevaleceu na submucosa e na subserosa, juntamente com a proliferação de miofibroblastos e o desaparecimento de fibroblastos/perócitos positivos para CD34. O TGFβ1 estava presente na lâmina própria no intestino normal e CD, e em partes mais profundas da parede intestinal em CD. Os MicroRNAs miR29c, miR-155 miR-150 e miR-155, que demonstraram contribuir para a fibrose em vários órgãos, mostraram desregulação significativa na DC. A patogênese da fibrose na DC é, portanto, comparável à fibrose em outros órgãos, nos quais os miofibroblastos são as principais células efetoras, e os pericitos surgiram como a principal origem dos miofibroblastos. A fibrose na DC deve ser considerada como resultado da (super)resposta da parede intestinal à presença de inflamação em estruturas profundas da parede intestinal, apresentando outro exemplo de uma via patogênica comum do desenvolvimento da fibrose. (ZIDAR, Nina et al., 2020.)
No estudo de KIM, foram identificadas cinco das 30 proteínas analisadas (HSP72, HSPA5, KRT8, PEPCK-M e FABP6) diferencialmente expressas em CD fibrostenótico. Entre essas proteínas, o knockdown da proteína de choque térmico 72 (HSP72) promoveu a ativação e a cicatrização de feridas dos miofibroblastos. Além disso, o knockdown do HSP72 induziu a transição epitelial-mesenquimal das células epiteliais intestinais, reduzindo a E-caderina e induzindo a fibronectina e a actina muscular α-suave, que contribuem para a fibrose. (KIM, Seung Won et al., 2023.) O estresse do retículo endoplasmático está presente nos miofibroblastos subepiteliais de pacientes suscetíveis à doença de Crohn fibrostenótica e pode contribuir para o desenvolvimento da fibrose. (LI, Chao et al., 2020.)
A fibrose intestinal é tipicamente associada à hiperplasia celular mesenquimal, desorganização tecidual e deposição de matriz extracelular. O aparecimento transitório das células mesenquimais é uma característica da cicatrização normal da ferida, mas a persistência dessas células está associada à deposição e fibrose de deposição de matriz extracelular, levando à perda da arquitetura e função normais. Quando o controle homeostático do processo de reparo se torna desregulado, a ativação perpétua das respostas pró-fibros e o acúmulo sustentado de deposição de matriz extracelular são induzidos. No processo de fibrose intestinal, os miofibroblastos são considerados as principais células efetoras, sendo responsáveis pela síntese das proteínas deposição de matriz extracelular. A ativação e o acúmulo de miofibroblastos nas lesões de estruturação de pacientes com DC são mediados por vários fatores, como fatores de crescimento, citocinas, transição epitelial para mesenquimal ou endotelial para mesenquimal. (ANDOH, Akira; NISHIDA, Atsushi., 2022.)
Uma grande preocupação no manejo da Doença Inflamatória Intestinal (DII) é a ausência de biomarcadores precisos e específicos para conduzir o diagnóstico e monitorar o status da doença de forma oportuna e não invasiva. A proteína de ativação de fibroblastos representa uma marca registrada das estenoses intestinais de DII, sendo superexpressa em miofibroblastos intestinais estenóticos. Os resultados mostraram que a concentração de fibroblastos circulantes foi reduzida em pacientes com DII quando comparada aos controles.
Idade, sexo, tabagismo, localização e comportamento da doença, duração da doença e terapia não foram associados à fibroblastos circulantes. Uma análise de subgrupos foi realizada em pacientes com doença de Crohn submetidos a cirurgia e revelou que os fibroblastos circulantes se correlacionam com a cicatrização da mucosa endoscópica. Em conclusão, os fibroblastos circulantes merecem atenção como um biomarcador sanguíneo promissor para triagem de pacientes com suspeita de DII. Além disso, pode funcionar como um biomarcador de remissão pós-operatória em pacientes com doença de Crohn. (CORSI, Fabio et al., 2021.)
A Doença de Crohn é uma condição inflamatória intestinal crônica caracterizada por períodos de atividade e remissão, muitas vezes associada a complicações como fibrose e estenoses intestinais.
Estudos recentes expandem a compreensão dos mecanismos subjacentes à progressão da DC, com destaque para as respostas inflamatórias e os processos fibrogênicos. Os resultados mostram que a inflamação crônica recruta células imunes inatas e adaptativas, ativando vias complexas que levam à disfunção tecidual e alterações celulares. Um achado significativo é a contribuição dos miofibroblastos como principais efetores na fibrose intestinal, mediada por citocinas pró-inflamatórias, fatores de crescimento e transições epiteliais e mesenquimais. Além disso, alterações moleculares, como a desregulação de microRNAs e proteínas específicas, como HSP72, desempenham papéis críticos no desenvolvimento e progressão das complicações fibróticas. Essa ativação sustentada resulta em remodelamento tecidual desordenado, depósito de matriz extracelular e perda da arquitetura intestinal normal. (PASTERNAK, Grzegorz et al., 2023.)
A compreensão das diferenças entre os compartimentos afetados, como intestino delgado e grosso, destaca a heterogeneidade da DC, particularmente em relação às respostas imunológicas e transcricionais. Esses achados reforçam a necessidade de abordagens terapêuticas personalizadas. Por exemplo, marcadores como proteína de ativação de fibroblastos e fibroblastos circulantes emergem como potenciais biomarcadores para diagnóstico, monitoramento da atividade da doença e remissão pós-operatória. (LIN, Yun Hsuan et al., 2023.)
Do ponto de vista terapêutico, embora o controle da inflamação com agentes biológicos tenha avançado, ainda é insuficiente para prevenir completamente as complicações fibróticas. Estudos apontam para alvos promissores, como PPARγ, TLR4 e IL-17, que podem oferecer novas perspectivas para terapias anti-fibrose. A identificação de reguladores moleculares, como CHMP1A, TBX3 e RNF168, também oferece oportunidades para intervenções que possam mitigar a progressão da fibrose intestinal. (SISTO, Margherita; LISI, Sabrina., 2023.)
A integração de abordagens moleculares e clínicas é essencial para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes na DC. Pesquisas futuras devem focar na validação de biomarcadores e no desenvolvimento de terapias que interrompam as cascatas inflamatórias e fibrogênicas, buscando não apenas controlar os sintomas, mas também prevenir a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. (CLINTON, Joseph William; CROSS, Raymond Keith., 2023.)
CONCLUSÃO
A compreensão dos mecanismos subjacentes à Doença de Crohn (DC) tem avançado significativamente, revelando a complexidade das interações entre inflamação crônica, respostas imunes e fibrose intestinal. Os achados mais recentes destacam o papel central dos miofibroblastos e das vias inflamatórias na remodelação tecidual e na progressão das complicações, especialmente nas estenoses intestinais. Embora terapias biológicas tenham proporcionado avanços importantes no controle da inflamação, a persistência da fibrose e de suas consequências clínicas reforça a necessidade de estratégias terapêuticas mais direcionadas.
A identificação de marcadores específicos, como a proteína de ativação de fibroblastos (FAP) e fibroblastos circulantes, emerge como uma oportunidade promissora para melhorar o diagnóstico e monitoramento da doença, permitindo intervenções precoces e mais eficazes. Além disso, alvos moleculares como HSP72, PPARγ e IL-17 oferecem novas possibilidades para o desenvolvimento de terapias anti-fibrose.
Em resumo, o manejo da DC exige uma abordagem integrada que combine avanços moleculares e clínicos para não apenas controlar a inflamação, mas também prevenir ou tratar as complicações fibróticas. A continuidade das pesquisas nessa área é essencial para transformar o cenário terapêutico, visando melhorar o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes.
REFERÊNCIAS
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ERCOLE, Flávia Falci; MELO, Laís Samara de; ALCOFORADO, Carla Lúcia Goulart Constant. Revisão integrativa versus revisão sistemática. Reme: Revista Mineira de Enfermagem, v. 18, n. 1, p. 09-11, 2014.
MENDES, Karina Dal Sasso; SILVEIRA, Renata Cristina de Campos Pereira; GALVÃO, Cristina Maria. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & contexto-enfermagem, v. 17, p. 758-764, 2008.
KONG, Lingjia et al. The landscape of immune dysregulation in Crohn’s disease revealed through single-cell transcriptomic profiling in the ileum and colon. Immunity, v. 56, n. 2, p. 444-458. e5, 2023.
HAYASHI, Yuki; NAKASE, Hiroshi. The molecular mechanisms of intestinal inflammation and fibrosis in Crohn’s disease. Frontiers in physiology, v. 13, p. 845078, 2022.
BUSHARA, Omar et al. The possible pathogenic role of IgG4 producing plasmablasts in stricturing Crohn’s disease. Pathobiology, v. 89, n. 4, p. 187-197, 2022.
ZIDAR, Nina et al. Pathology of fibrosis in Crohn’s disease contribution to understanding its pathogenesis. Frontiers in medicine, v. 7, p. 167, 2020.
KIM, Seung Won et al. Downregulation of Heat Shock Protein 72 Contributes to Fibrostenosis in Crohn’s Disease. Gut and liver, v. 17, n. 6, p. 905, 2023.
ANDOH, Akira; NISHIDA, Atsushi. Molecular basis of intestinal fibrosis in inflammatory bowel disease. Inflammatory Intestinal Diseases, v. 7, n. 3-4, p. 119-127, 2022.
LI, Chao et al. Endoplasmic reticulum stress in subepithelial myofibroblasts increases the TGF-β1 activity that regulates fibrosis in Crohn’s disease. Inflammatory bowel diseases, v. 26, n. 6, p. 809-819, 2020.
CORSI, Fabio et al. Circulating fibroblast activation protein as potential biomarker in patients with inflammatory bowel disease. Frontiers in Medicine, v. 8, p. 725726, 2021.
FEUERSTEIN, Joseph D.; CHEIFETZ, Adam S. Crohn disease: epidemiology, diagnosis, and management. In: Mayo Clinic Proceedings. Elsevier, 2017. p. 1088-1103.
LU, Quan et al. Immunology of inflammatory bowel disease: molecular mechanisms and therapeutics. Journal of inflammation research, p. 1825-1844, 2022.
LI, Aohan et al. Elucidating the Molecular Pathways and Therapeutic Interventions of Gaseous Mediators in the Context of Fibrosis. Antioxidants, v. 13, n. 5, p. 515, 2024.
XIN, Shuzi et al. Inflammation accelerating intestinal fibrosis: from mechanism to clinic. European Journal of Medical Research, v. 29, n. 1, p. 335, 2024.
PASTERNAK, Grzegorz et al. Crohn’s disease: basic characteristics of the disease, diagnostic methods, the role of biomarkers, and analysis of metalloproteinases: A review. Life, v. 13, n. 10, p. 2062, 2023.
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SISTO, Margherita; LISI, Sabrina. Targeting Interleukin-17 as a Novel Treatment Option for Fibrotic Diseases. Journal of Clinical Medicine, v. 13, n. 1, p. 164, 2023.
CLINTON, Joseph William; CROSS, Raymond Keith. Personalized treatment for Crohn’s disease: current approaches and future directions. Clinical and Experimental Gastroenterology, p. 249276, 2023.
1Discente de Medicina.
Universidade Professor Edson Antônio Velano
Alfenas, Minas Gerais Brasil.
gb.brunagonzattibatista@hotmail.com
2Médica Universidade Professor Edson Antônio Velano
Alfenas, Minas Gerais Brasil
carollaynemr@hotmail.com
3Médica Universidade José do Rosário Vellano MG
Alfenas, Minas Gerais, Brasil.
luizaoliveiraborges@gmail.com
