REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202507131206
Ana Beatriz Carlos Veras
Orientador: Prof. Esp. Jorge Alberto Carrazana Moya
RESUMO
Introdução: O sucesso do pós-operatório em exodontias depende do conhecimento adequado dos pacientes acerca dos cuidados imediatos. Objetivo: Este estudo objetivou avaliar o nível de conhecimento dos pacientes sobre essas orientações em um consultório particular em Manaus, Amazonas, Brasil. Métodos: Pesquisa de campo, exploratória e descritiva, realizada com 50 pacientes submetidos a exodontias. A coleta de dados foi realizada por meio de questionário aplicado imediatamente antes da alta pós-operatória, avaliando conhecimentos sobre higiene bucal, sinais de alerta, alimentação, repouso e uso de medicamentos. Foram analisadas associações entre conhecimento e variáveis sociodemográficas, histórico de exodontia e tipo de orientação recebida. Resultados: A pontuação média no questionário foi de 9,32 acertos em 15 possíveis (62,1%). Apenas 12% dos pacientes apresentaram alto nível de conhecimento (acima de 85% de acertos). As maiores lacunas foram observadas nos cuidados com higiene bucal (36% de acerto) e no reconhecimento dos sinais clínicos da alveolite seca (22%). Por outro lado, aspectos relacionados à alimentação (78%) e repouso físico (82%) apresentaram maiores índices de acerto. Houve associação estatisticamente significativa entre o grau de escolaridade, o histórico prévio de exodontia, o tipo de orientação recebida e o desempenho no questionário. Conclusão: O conhecimento dos pacientes sobre cuidados pós exodontia mostrou-se moderado, com importantes lacunas que podem comprometer a recuperação. Estratégias educativas mais eficazes e combinadas, que considerem o nível educacional e experiências anteriores dos pacientes, são recomendadas para otimizar a comunicação e adesão às orientações pós-operatórias.
Palavras-chave: Cuidados pós-operatórios; Exodontia; Conhecimento do paciente; Educação em saúde; Comunicação em odontologia.
ABSTRACT
Introduction: The success of the postoperative period in tooth extractions depends on the patients’ adequate knowledge about immediate care. Objective: This study aimed to evaluate the level of knowledge of patients about these guidelines in a private practice in Manaus, Amazonas State, Brazil. Methods: Exploratory and descriptive field research conducted with 50 patients who underwent tooth extractions. Data collection was carried out using a questionnaire applied immediately before postoperative discharge, assessing knowledge about oral hygiene, warning signs, feeding, rest, and medication use. Associations between knowledge and sociodemographic variables, history of tooth extraction, and type of guidance received were analyzed. Results: The mean score on the questionnaire was 9.32 out of a possible 15 (62.1%). Only 12% of the patients had a high level of knowledge (above 85% of correct answers). The greatest gaps were observed in oral hygiene care (36% of correct answers) and in the recognition of clinical signs of dry socket (22%). On the other hand, aspects related to food (78%) and physical rest (82%) had higher rates of correct answers. There was a statistically significant association between the level of education, previous history of tooth extraction, the type of guidance received and performance in the questionnaire. Conclusion: The patients’ knowledge about post-tooth extraction care was moderate, with important gaps that may compromise recovery. More effective and combined educational strategies, which consider the educational level and previous experiences of the patients, are recommended to optimize communication and adherence to postoperative guidelines.
Keywords: Postoperative care; Tooth extraction; Patient knowledge; Health education; Communication in dentistry.
1 INTRODUÇÃO
As exodontias, também conhecidas como extrações dentárias, representam um dos procedimentos cirúrgicos mais realizados na prática odontológica contemporânea, especialmente no contexto de clínicas gerais e consultórios especializados. Tais intervenções consistem na remoção total de um elemento dentário da cavidade bucal e podem ser indicadas por razões diversas, como destruição coronária extensa, mobilidade patológica, impacção, infecção crônica, fratura radicular ou necessidade ortodôntica. Embora sejam consideradas rotineiras, as exodontias envolvem etapas cirúrgicas que demandam não apenas perícia técnica por parte do cirurgião-dentista, mas também a adesão criteriosa do paciente a protocolos pós operatórios fundamentais para o sucesso da terapêutica instaurada.1,2
As complicações associadas ao pós-operatório de exodontias são amplamente descritas na literatura, destacando-se entre as mais frequentes o edema, o hematoma, a infecção do alvéolo e, notadamente, a alveolite seca, condição inflamatória dolorosa resultante da desintegração precoce do coágulo sanguíneo no alvéolo dentário, podendo afetar diretamente a cicatrização e o bem-estar do paciente. A ocorrência dessas complicações está, em grande parte, associada ao não cumprimento das orientações clínicas oferecidas ao paciente, sobretudo nas primeiras 24 horas subsequentes à intervenção cirúrgica, período considerado crítico para a estabilização do quadro cicatricial inicial.3,4
Nesse contexto, a adesão aos cuidados pós-operatórios é reconhecida como um fator determinante na prevenção de intercorrências e na promoção de uma recuperação eficiente e confortável. As recomendações comumente prescritas são: evitar bochechos nas primeiras horas, abster-se de cuspir ou fazer esforço físico, aplicar compressas frias extraorais, manter repouso relativo e seguir corretamente a prescrição medicamentosa. No entanto, essa efetivação depende de múltiplos fatores, incluindo o nível de escolaridade, o perfil socioeconômico, o estado emocional no momento da orientação, bem como a clareza, o formato e o momento da comunicação realizada pelo profissional de saúde.5,6
Apesar da centralidade do papel do paciente no êxito pós-operatório, ainda são escassas as investigações que buscam mensurar objetivamente o grau de entendimento e a retenção das informações repassadas durante o atendimento odontológico, especialmente no momento imediato à alta clínica. A maioria dos estudos concentra-se na avaliação da frequência de complicações pós-exodônticas ou na eficácia de diferentes protocolos anestésicos e cirúrgicos, negligenciando o componente educativo da relação profissional-paciente como variável independente e passível de avaliação sistemática.6,7
A lacuna torna-se ainda mais evidente quando se considera o cenário de consultórios odontológicos privados, nos quais há uma menor padronização dos fluxos informacionais e um distanciamento das práticas acadêmicas regidas por protocolos assistenciais e educativos estruturados. Além disso, na realidade brasileira, observa-se uma escassez de dados regionais específicos, particularmente em localidades como Manaus-AM, cuja diversidade sociocultural e disparidades de acesso aos serviços de saúde bucal podem influenciar diretamente a dinâmica da adesão às orientações clínicas.8,9
Diante da escassez de estudos nacionais voltados à avaliação do conhecimento dos pacientes sobre os cuidados pós-operatórios imediatos após exodontias, sobretudo em contextos particulares fora do sistema público, torna-se essencial compreender se a comunicação odontológica tem sido eficaz e se os pacientes de fato retêm as informações recebidas. Avaliar esse aspecto permite não apenas identificar falhas no processo educativo, como também propor intervenções voltadas à melhoria da experiência do paciente, à prevenção de complicações e à humanização do cuidado.12,13
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral:
Avaliar o nível de conhecimento dos pacientes sobre os cuidados pós-operatórios imediatos após exodontias realizadas em um consultório odontológico particular em Manaus AM.
2.2 Objetivos Específicos:
• Mapear as principais lacunas no conhecimento dos pacientes sobre cuidados pós exodontia.
• Verificar a associação entre grau de escolaridade, experiência prévia com exodontias e nível de conhecimento.
• Investigar se o tipo de orientação fornecida pelos profissionais (verbal, escrita ou combinada) impacta significativamente no desempenho e no nível de conhecimento demonstrado pelos pacientes.
3 JUSTIFICATIVA
As exodontias, também conhecidas como extrações dentárias, são procedimentos amplamente realizados na prática odontológica diária, tanto em clínicas particulares quanto em serviços públicos de saúde. Embora sejam consideradas intervenções rotineiras, o sucesso do pós-operatório depende não apenas da técnica cirúrgica, mas também da correta adesão dos pacientes às orientações clínicas. No entanto, observa-se, na prática profissional, que muitos pacientes não assimilam de forma adequada as informações recebidas sobre os cuidados domiciliares, o que pode aumentar o risco de complicações como a alveolite seca, infecções e sangramentos persistentes. Diante dessa realidade, surge a necessidade de investigar o real nível de conhecimento dos pacientes acerca desses cuidados, identificando falhas na comunicação entre profissionais e usuários.
O tema proposto é relevante tanto do ponto de vista teórico quanto prático, pois envolve não apenas aspectos clínicos da odontologia, mas também questões relacionadas à educação em saúde, comunicação interpessoal e humanização do atendimento. A correta orientação pós operatória pode reduzir complicações, melhorar a recuperação e promover maior segurança ao paciente. Do ponto de vista acadêmico, o estudo contribui para a ampliação do conhecimento sobre a importância da transmissão clara e efetiva de informações em contextos odontológicos, além de fornecer subsídios para novas pesquisas na área de saúde bucal. Sob uma perspectiva prática, seus resultados podem auxiliar na construção de protocolos e estratégias educativas que facilitem a compreensão por parte dos pacientes.
A principal contribuição esperada deste trabalho reside na possibilidade de oferecer dados concretos sobre o grau de entendimento dos pacientes em relação aos cuidados pós exodontia, fornecendo informações que possam embasar a adoção de abordagens mais eficazes e personalizadas durante o atendimento odontológico. Além disso, o estudo poderá auxiliar na elaboração de materiais educativos acessíveis e didáticos, contribuindo não apenas para a prática clínica, mas também para políticas de promoção à saúde bucal. Ao abordar uma questão frequentemente negligenciada, esta pesquisa poderá colaborar com a formação acadêmica de cirurgiões-dentistas e sensibilizar os profissionais sobre a importância de um atendimento mais atento e comunicativo.
A escolha deste tema surgiu da vivência pessoal em ambiente clínico, onde foi possível observar, de forma recorrente, que muitos pacientes demonstram dúvidas e inseguranças logo após a realização de extrações dentárias, mesmo após receberem orientações. Essa constatação motivou o interesse em compreender melhor como se dá o processo de comunicação e retenção de informações no contexto odontológico, especialmente em um consultório particular, onde o tempo e os recursos educativos podem ser mais limitados. Além disso, a revisão da literatura evidenciou que há uma lacuna importante nesse campo de estudo, com poucos trabalhos focados especificamente na avaliação do conhecimento dos pacientes sobre cuidados pós operatórios em exodontias em contextos não hospitalares. Assim, este trabalho pretende contribuir para preencher essa lacuna, fornecendo dados inéditos e relevantes para a área.
4 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa de campo, de natureza exploratória e descritiva, com abordagem quantitativa, realizada em um consultório odontológico particular situado na cidade de Manaus, estado do Amazonas, Brasil. O estudo foi conduzido com o objetivo de avaliar o conhecimento dos pacientes sobre os cuidados pós-operatórios imediatos após a realização de exodontias, considerando-se as orientações essenciais às primeiras 24 horas subsequentes ao procedimento cirúrgico. O delineamento transversal da pesquisa permitiu a obtenção de dados no momento específico da alta do paciente, logo após a intervenção, garantindo a padronização temporal da coleta.
A coleta de dados foi realizada no segundo semestre de 2024 e envolveu a aplicação de um questionário estruturado a uma amostra composta por 50 pacientes atendidos no referido consultório. Os critérios de inclusão adotados foram: indivíduos maiores de 18 anos, submetidos à exodontia simples ou complexa no próprio consultório, e que apresentavam capacidade cognitiva e linguística suficiente para compreender o conteúdo do instrumento de coleta. Foram excluídos da amostra pacientes menores de idade, aqueles com limitações na compreensão da língua portuguesa e os que se recusaram a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em conformidade com os preceitos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos.
O instrumento utilizado foi elaborado com base em conhecimento técnico-científico consolidado na literatura por Ghadia e Pepper14 sobre cuidados pós-operatórios em exodontias. Contendo 15 questões objetivas sobre cuidados pós-operatórios nas primeiras 24 horas após a exodontia. As perguntas abordavam aspectos fundamentais como controle de sangramento, uso de medicamentos prescritos, higiene bucal, alimentação, repouso físico e sinais clínicos de alerta que demandariam retorno ao atendimento. O questionário foi aplicado de forma individual, em ambiente reservado e silencioso, com o auxílio do cirurgião-dentista responsável ou de um assistente previamente treinado. A aplicação ocorreu logo após a finalização do atendimento clínico, antes da liberação do paciente, com o intuito de captar o conhecimento retido ainda no momento da instrução.
As respostas foram classificadas como corretas ou incorretas, conforme critérios previamente estabelecidos com base nas recomendações da literatura odontológica. Com isso, foi possível calcular o índice de acertos individuais e o percentual de conhecimento para cada item avaliado. Paralelamente, foram coletadas informações sociodemográficas e clínicas dos participantes, incluindo gênero, idade, grau de escolaridade, histórico prévio de extrações dentárias e tipo de orientação recebida (verbal, escrita ou ambas). Essas variáveis foram consideradas relevantes por sua potencial influência na compreensão dos cuidados pós operatórios.
A tabulação inicial dos dados foi realizada em planilha eletrônica Microsoft Excel®, e a análise estatística foi conduzida com o auxílio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS®), versão 26.0. Foram utilizadas técnicas de estatística descritiva para a caracterização da amostra, incluindo frequências absolutas e relativas, médias aritméticas e desvios-padrão. Para a análise inferencial, a fim de verificar associações entre variáveis categóricas, foram aplicados o teste do qui-quadrado de Pearson ou, quando necessário, o teste exato de Fisher, adotando-se um nível de significância de 5% (p < 0,05).
Com vistas à minimização de vieses, buscou-se manter uniformidade na aplicação do questionário e nos critérios de interpretação das respostas. Todos os dados coletados foram tratados de forma confidencial, assegurando-se o anonimato dos participantes. O preenchimento dos questionários ocorreu sem a presença de acompanhantes, com orientação apenas técnica e sem indução de respostas.
A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa pela Plataforma Brasil, estando de acordo com os preceitos éticos previstos na Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (Anexo C). Todos os participantes foram previamente esclarecidos quanto aos objetivos do estudo e à sua natureza voluntária, tendo assinado o TCLE antes da participação. Ressaltou-se ainda o direito à desistência a qualquer momento, sem prejuízo à continuidade do atendimento odontológico. Dessa forma, foram garantidas as condições éticas e metodológicas necessárias para a validade e a fidedignidade dos dados obtidos.
5 RESULTADOS
A amostra deste estudo foi composta por 50 pacientes submetidos a procedimentos de exodontia simples ou complexa em um consultório odontológico particular localizado na cidade de Manaus, Amazonas, Brasil. A caracterização sociodemográfica revelou que 60% dos participantes eram do gênero feminino (n=30) e 40% do gênero masculino (n=20). A faixa etária mais prevalente foi de 31 a 45 anos, representando 38% da amostra (n=19), seguida por indivíduos entre 18 e 30 anos (32%, n=16), 46 a 60 anos (22%, n=11) e acima de 60 anos (8%, n=4).
Gráfico 1 – Distribuição dos participantes por gênero

Fonte: Dados da Pesquisa (2024)
Tabela 1: Distribuição dos participantes por faixa etária

Fonte: Dados da Pesquisa (2024)
Em relação ao grau de escolaridade, verificou-se que 40% dos pacientes (n=20) possuíam ensino médio completo, enquanto 28% (n=14) haviam concluído o ensino superior. Outros 22% (n=11) relataram ter ensino fundamental completo e 10% (n=5) apresentaram apenas o ensino fundamental incompleto. Quanto ao histórico prévio de exodontia, 64% dos participantes (n=32) já haviam se submetido a extrações dentárias anteriormente, enquanto os demais 36% (n=18) estavam vivenciando o procedimento pela primeira vez.
Gráfico 2 – Grau de escolaridade dos participantes

Tabela 2 – Histórico prévio de exodontia

Fonte: Dados da Pesquisa (2024)
No que se refere ao tipo de orientação pós-operatória recebida no momento da alta, 56% dos pacientes (n=28) relataram ter recebido orientações exclusivamente verbais, 30% (n=15) afirmaram ter recebido instruções por escrito, e apenas 14% (n=7) informaram ter recebido ambas as formas de orientação.
O questionário aplicado, composto por 15 questões objetivas, permitiu avaliar o conhecimento dos pacientes sobre os cuidados pós-operatórios imediatos. A pontuação obtida pelos participantes variou entre 5 e 14 acertos, com média geral de 9,32 (±2,18), o que corresponde a um índice médio de acerto de 62,1%. Apenas 12% dos pacientes (n=6) atingiram pontuação igual ou superior a 13 acertos (acima de 85% de acerto), enquanto 26% (n=13) apresentaram menos de 8 acertos (abaixo de 53% de acerto). A maioria dos participantes (62%, n=31) situou-se na faixa intermediária, entre 8 e 12 respostas corretas.
Tabela 3 – Tipo de orientação pós-operatória recebida e desempenho no questionário de conhecimentos (n = 50)

Fonte: Dados da Pesquisa (2024)
Na análise individual das questões, observou-se que os itens relacionados ao controle do sangramento imediato apresentaram maior taxa de acerto, com 90% dos participantes (n=45) identificando corretamente a necessidade de compressão com gaze por pelo menos 30 minutos. De modo semelhante, 86% (n=43) responderam adequadamente à questão sobre a contraindicação de bochechos nas primeiras 24 horas. Por outro lado, as questões sobre higiene bucal no pós-operatório revelaram maior índice de erros. Apenas 36% dos participantes (n=18) souberam informar que a escovação deve ser retomada com cuidado no dia seguinte ao procedimento, respeitando a área operada.
Outro aspecto com elevado percentual de respostas incorretas foi a identificação dos sinais de alerta que requerem retorno imediato ao cirurgião-dentista, como sangramento persistente, dor intensa após 48 horas ou presença de odor fétido. Apenas 40% dos entrevistados (n=20) foram capazes de reconhecer esses sinais como indicativos de complicações, e somente 22% (n=11) associaram corretamente tais sintomas à alveolite seca. Em relação à alimentação, 78% dos pacientes (n=39) demonstraram conhecimento sobre a importância de evitar alimentos quentes e duros, e 82% (n=41) souberam informar que o repouso físico nas primeiras horas é fundamental para evitar intercorrências.
Tabela 4 – Desempenho por item do questionário de conhecimento sobre cuidados pós-exodontia (n=50)

Fonte: Dados da Pesquisa (2024)
A análise comparativa revelou uma associação estatisticamente significativa entre o grau de escolaridade e o nível de acertos no questionário (p=0,014). Pacientes com ensino superior apresentaram desempenho médio de 11,2 acertos, enquanto aqueles com ensino fundamental incompleto obtiveram média de 7,1. Também se observou associação entre o histórico prévio de exodontias e maior índice de conhecimento (p=0,036), com média de 10,1 acertos entre os que já haviam passado por extrações anteriores, em comparação a 8,2 entre os que estavam em sua primeira experiência.
Tabela 5 – Comparação entre grau de escolaridade e média de acertos no questionário

Nota: Associação estatisticamente significativa (p=0,014).
Fonte: Dados da Pesquisa (2024)
Quanto ao tipo de orientação recebida, os participantes que relataram ter recebido informações tanto verbais quanto por escrito obtiveram as maiores médias de acertos (11,6), seguidos por aqueles com instrução apenas por escrito (9,5) e, por fim, os que receberam apenas orientações verbais (8,4), diferença que também se mostrou estatisticamente significativa (p=0,021).
Gráfico 3 – Tipo de orientação recebida × média de acertos no questionário

Nota: Associação estatisticamente significativa (p = 0,021).
Fonte: Dados da Pesquisa (2024)
Dentre as lacunas mais frequentes de conhecimento, destacaram-se os cuidados com a higiene bucal imediata, com apenas 36% dos participantes (n=18) respondendo corretamente, e a falta de compreensão sobre os sintomas clínicos associados à alveolite seca, que apresentou apenas 22% de acertos (n=11). A despeito da recorrência dessas orientações na prática clínica, a baixa taxa de acertos indica que a comunicação entre profissional e paciente pode não estar sendo suficientemente clara ou eficiente nesses tópicos específicos. Esses achados sugerem a necessidade de reforço na forma, conteúdo e momento das orientações fornecidas no pós operatório.
Por outro lado, chamou a atenção a alta taxa de conhecimento entre os participantes quanto a aspectos como o repouso físico, com 82% de acertos (n=41), e a alimentação adequada, com 78% (n=39) respondendo corretamente, além do uso de medicamentos, cuja compreensão mostrou-se satisfatória de modo geral. Parte desse entendimento pode estar associada à experiência prévia de alguns pacientes com procedimentos semelhantes. Além disso, a variação significativa entre diferentes grupos educacionais, evidenciada pela associação entre nível de escolaridade e desempenho no questionário (p=0,014), reforça o impacto do background educacional na assimilação das orientações recebidas, ressaltando a importância de uma abordagem personalizada, acessível e adaptada ao perfil de cada paciente por parte do cirurgião dentista.
Tabela 6 – Distribuição da amostra segundo o tipo de orientação pós-operatória recebida no momento da alta e desempenho no questionário de conhecimentos sobre cuidados pós operatórios imediatos em pacientes submetidos a exodontia (n=50).

Fonte: Dados da Pesquisa (2024)
6 DISCUSSÃO
Estudos realizados em países de renda média e baixa, cujos sistemas de saúde compartilham desafios semelhantes aos do Brasil, têm revelado resultados preocupantes quanto ao baixo nível de compreensão dos pacientes em relação aos cuidados pós-operatórios, mesmo após o fornecimento verbal das instruções pelos cirurgiões-dentistas1. Esse achado sugere que a forma e o momento da orientação são aspectos críticos e, muitas vezes, subestimados na prática clínica diária. Além disso, evidências recentes indicam que o fornecimento de informações escritas ou o uso de recursos audiovisuais pode melhorar significativamente a retenção do conteúdo, especialmente entre pacientes com menor escolaridade.10,11
A presente pesquisa avaliou o nível de conhecimento dos pacientes sobre os cuidados pós-operatórios imediatos após exodontias, revelando um panorama de conhecimento moderado, com média geral de acertos de 62,1%. Essa constatação se alinha a estudos internacionais que apontam níveis semelhantes de entendimento em populações submetidas a procedimentos odontológicos similares. Pereira et al.15, em estudo realizado na Jordânia, observaram que pacientes frequentemente apresentam conhecimento insuficiente sobre orientações pós-exodontia, especialmente no que tange à higiene bucal e sinais de complicações, corroborando as lacunas identificadas em nosso trabalho. Analogamente, Maria, Gomes e Rosetti16 ressaltaram que a baixa alfabetização em saúde é um importante fator que dificulta a assimilação adequada das informações fornecidas pelos profissionais de saúde bucal.
No presente estudo, as maiores deficiências identificadas foram relativas aos cuidados com a higiene bucal imediata (36% de acerto) e à identificação dos sinais de alerta clínico indicativos de complicações, como a alveolite seca (22% de acerto). Isso reflete uma fragilidade na comunicação entre o cirurgião-dentista e o paciente, especialmente no que se refere à clareza e ao conteúdo das orientações, fenômeno também descrito por Meneses et al.17 em uma amostra europeia, que destacaram a necessidade de estratégias mais eficazes para garantir a compreensão adequada dos cuidados pós-operatórios. A relevância clínica dessas lacunas é evidente, pois o desconhecimento acerca da higiene bucal e dos sintomas de complicações pode retardar a recuperação e aumentar o risco de morbidades, como a alveolite seca, condição associada a dor intensa e prejuízo funcional. Necchi e Martens18 reforçam esse entendimento ao demonstrar que a falta de adesão a cuidados pós-operatórios adequados contribui significativamente para o aumento de intercorrências clínicas.
A associação estatisticamente significativa entre grau de escolaridade e desempenho no questionário (p=0,014) indica que o background educacional influencia diretamente a assimilação das orientações, um achado consistente com dados reportados por diversos autores. Por exemplo, Meneses et al.17 evidenciaram que pacientes com níveis educacionais superiores apresentam maior capacidade de compreensão e retenção de informações médicas. Similarmente, a experiência prévia com exodontias mostrou-se relacionada a um conhecimento mais elevado (p=0,036), sugerindo que vivências anteriores podem facilitar o entendimento, provavelmente por meio da familiarização com procedimentos e cuidados recomendados, como apontado por Sahafi et al.12.
Outro aspecto importante refere-se ao tipo de orientação pós-operatória recebida, que influenciou significativamente o desempenho dos pacientes (p=0,021). Participantes que receberam orientação combinada, verbal e escrita, obtiveram médias superiores em acertos (11,6), comparados àqueles que receberam apenas instruções verbais (8,4) ou apenas por escrito (9,5). É destacado, nisso, a importância de abordagens educativas multimodais, reforçada por Leite et al.9, que demonstrou a eficácia de métodos integrados, incluindo material impresso, explicações orais e recursos audiovisuais, para melhorar a compreensão e a adesão dos pacientes aos cuidados pós-operatórios. Estudo de Galvao et al.8indicam que a simples entrega de folhetos informativos, sem explicação verbal adequada, pode ser insuficiente para garantir o entendimento completo, especialmente em populações com variabilidade na alfabetização em saúde.
A moderação geral no índice de conhecimento observado pode ser atribuída a diversos fatores apontados na literatura internacional, dentre eles a complexidade das informações transmitidas e a capacidade individual de assimilação. A comunicação profissional-paciente, sobretudo em contextos de procedimentos cirúrgicos odontológicos, demanda estratégias que considerem não apenas o conteúdo, mas também o formato, o momento da instrução e a adequação à realidade sociocultural do paciente17. Ressalte-se ainda que a comunicação verbal isolada, embora seja a mais frequente neste estudo (56% dos casos), pode apresentar limitações em termos de retenção e compreensão, sobretudo em situações de ansiedade e desconforto pós cirúrgico, cenário corroborado por Necchi e Martens18.
As limitações deste estudo incluem o tamanho reduzido da amostra e o caráter regional, realizado em um único consultório particular em Manaus, o que pode restringir a generalização dos achados para outras populações e contextos. Tais limitações são comuns em pesquisas exploratórias e foram reconhecidas em estudos semelhantes no exterior, como em Galvao et al.8 e Sahafi et al.12, que sugerem a ampliação das amostras e a inclusão de múltiplos centros para fortalecer a validade externa das conclusões.
Diante dos resultados, recomenda-se o aprimoramento das estratégias educativas, privilegiando a utilização combinada de recursos verbais e escritos, além da adoção de tecnologias audiovisuais, conforme proposto por Necchi e Martens18 e Meneses et al.17 Essas medidas podem facilitar a compreensão e aumentar a adesão aos cuidados recomendados, impactando positivamente na recuperação e redução das complicações pós-exodontia. Ainda, a personalização da comunicação de acordo com o nível educacional do paciente deve ser considerada, para que as informações sejam acessíveis e efetivamente assimiladas, conforme destacado por Sahafi et al.12.
Contudo, este estudo contribui para a compreensão dos desafios enfrentados na comunicação do cuidado pós-operatório em odontologia, evidenciando a necessidade de abordagens educacionais mais eficientes e adaptadas, capazes de superar barreiras cognitivas e garantir melhores desfechos clínicos. Futuras pesquisas devem explorar intervenções educativas validadas em diferentes contextos populacionais para consolidar estratégias de ensino e fortalecer a relação profissional-paciente.
7 CONCLUSÃO
O presente estudo revelou um nível moderado de conhecimento dos pacientes sobre os cuidados pós-operatórios imediatos após exodontias, com pontuação média de 62,1% no questionário aplicado. Destacaram-se lacunas importantes relacionadas à higiene bucal e ao reconhecimento dos sinais clínicos de alveolite seca, enquanto aspectos como repouso físico e alimentação apresentaram maior índice de acerto. Futuras pesquisas devem explorar intervenções educativas inovadoras e personalizadas, visando otimizar a comunicação e a adesão dos pacientes às recomendações clínicas, especialmente em contextos semelhantes aos encontrados nesta pesquisa.
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