PROMOÇÃO DA SAÚDE BUCAL ATRAVÉS DE AÇÕES SOCIAIS ODONTOLÓGICAS EM COMUNIDADES VULNERÁVEIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202506110944


PEDRA, Vitor Gabriel1
ALMEIDA, Zilanda Martins de2


RESUMO

É essencial promover atividades de saúde dental em áreas remotas e carentes, onde o acesso a cuidados preventivos, tratamentos restauradores e reabilitação é escasso. Este trabalho descreve as ações em locais onde o atendimento odontológico normalmente causa mutilações em decorrência das dificuldades econômicas, da distância em relação aos centros de saúde e da ausência de educação sobre prevenção. A promoção da Saúde Bucal foi desenvolvida na comunidade Boa Vista do Pacarana, distrito de Espigão D´Oeste , Rondônia. Em 2024 por 34 voluntários e em 2025 por 41, dentre os voluntários destaca-se: odontólogos e acadêmicos do 1º ao 10º período do curso de Odontologia do Centro Universitário Mauricio de Nassau Cacoal-RO. Trabalho autorizado pelo CEP sob parecer 7.624.484. No decorrer do período de 2024 a 2025, houve a participação de um total de 277 pacientes voluntários da referida comunidade. Foram executadas 160 restaurações no ano de 2024 e 124 em 2025, totalizando 284. Realizou-se 80 exodontias no ano de 2024 e 2025 foram feitas 135, total de 215 intervenções. Executou-se, 24 raspagens no ano de 2025 e 13 em 2025, com total de 37 casos. O uso da Medicação Intra Canal (MIC), ocorreu apenas 04 casos no ano de 2025. No ano de 2024 não foi realizada a orientação em saúde bucal, mas, em 2025 foram feitas 343. Além disso, no ano de 2024 não foi feita a entrega de kits com escova e creme dental, no ano de 2025, foram entregues 350. Concluiu-se, que os gestores públicos precisam priorizar as demandas básicas em saúde bucal. Fomentar a saúde bucal em áreas remotas e em situação de vulnerabilidade social requer a colaboração entre profissionais de saúde, administradores públicos e entidades da sociedade civil. A prática de atividades conforme prevê os programas de educação e prevenção preconizadas no atual modelo de atenção odontológica, segue sendo marcado por práticas que provocam mutilações, para uma abordagem fundamentada na conservação e na promoção da saúde bucal em todas as fases, isto é, desde a infância até a fase adulta. 

Palavras-chave: Assistência Odontológica. Comunidades Vulneráveis. Vulnerabilidade Social.

INTRODUÇÃO

A falta de cuidados odontológicos regulares nas comunidades distantes e condições de vulnerabilidade contribui para o agravamento de problemas bucais, como cáries, periodontite e perda dentária, além de afetar negativamente a nutrição, a autoestima e a saúde mental dos indivíduos (Brasil, 2022; Carreiro et al., 2019), ressalta, que estas destacam-se entre as infecções bacterianas mais frequentemente encontradas em seres humanos (Silva et al., 2018).

Mesmo com o aumento da oferta de serviços e oferta do cuidado odontológico, a cárie dentária continua sendo considerada um problema de saúde pública de relevância em âmbito nacional, principalmente em populações socialmente vulneráveis. Ressalta-se, que as patologias bucais e a deficiência de equidade em saúde bucal estão diretamente ligadas a determinantes sociais peculiares às populações com maiores dificuldades de saúde (Brasil, 2022).

Para Cascaes et al. (2014), os hábitos e a compreensão em relação à saúde bucal, assim como, o acesso aos tratamentos odontológicos, influenciam de maneira benéfica na promoção da saúde e a prevenção de doenças que afetam a boca, independentemente da idade. Em relação a cavidade bucal, Silva et al. (2018), mencionam que as doenças orais, a posição, a função e a estrutura desse órgão a tornam a região do corpo mais vulnerável a infecções e lesões, principalmente, em decorrência da existência de uma multiplicidade de microrganismos nas várias superfícies bucais, que formam a placa bacteriana ou biofilme, as quais contribuem para a predisposição da cavidade oral a doenças.

O conceito de promoção da saúde pode, de fato, representar um progresso na forma como os profissionais e gestores dessa área estruturam suas ações, serviços e estabelecem suas práticas diárias. Isso também implica uma reorientação das relações internas e externas desses espaços e passam a necessitar de outros indicadores que se destacam sobre os resultados dessas iniciativas e serviços (Giovanella et al., 2012). Nesse aspecto, é fundamental abordar questões ligadas à saúde bucal, enfatizando a promoção e o cuidado com a saúde, bem como, a prevenção de patologias e complicações relacionadas a falta de atendimento odontológico.

É fundamental a destinação de recursos públicos voltados à educação em saúde e favorecer o acesso ao conhecimento sobre as formas de buscar atendimento nos serviços, sobretudo, em relação aos cuidados odontológicos como um direito essencial, independentemente da idade e do socioeconômicos (Carreiro et al., 2019). Contudo, a mudança do modelo de atenção se estabelece como um processo complexo, especialmente, em uma região onde grande parte dos indivíduos depende somente do serviço público. Desse modo, o aumento da oferta do serviço público odontológico pode ter impacto relevante na saúde bucal da comunidade. A expansão dos serviços de odontologia, aliada a estímulos para a utilização regular, levar a um melhor entendimento sobre o processo saúde-doença, facilitar o diagnóstico precoce de doenças bucais e reduzir as perdas dentárias (Machado et al., 2024).

Estudo aponta que em relação às ações de promoção da saúde bucal a orientação para melhoria da qualidade de vida é uma ferramenta fundamental para prevenção em saúde bucal, visto, que desse modo é possível desenvolver práticas que reduzem os riscos de doenças bucais, especialmente a cárie dentária, que é uma condição que atinge uma grande parte da população mais carente e que vive em situação de vulnerabilidade (Silva; Peres; Carcereri, 2020). Nesse aspecto, torna-se imprescindível a ampliação e fortalecimento das ações focadas na promoção da saúde bucal que visem atuar nas comunidades mais longínquas e necessitadas, conforme fundamenta o atendimento equânime no âmbito do cuidado e da atenção em relação aos agravos. 

Diante desse contexto, o presente trabalho teve como objetivo delinear os procedimentos odontológicos assistenciais, relacionados aos tratamentos atinentes à saúde bucal, em uma comunidade em situação de vulnerabilidade no interior do Estado de Rondônia.

MATERIAL E MÉTODOS

A presente pesquisa integra-se em um trabalho de caráter quantitativo, transversal e descritiva, desse modo, as amostras estão disponíveis e correspondem aos dados listados através das ações do Projeto Comunidades Vulneráveis no Estado de Rondônia no período de 2024 e 2025. Estas ações foram realizadas na Escola E.M.E.I.E.F Tancredo de Almeida Neves, na comunidade Boa Vista do Pacarana, distrito de Espigão D´Oeste a 173 km de Cacoal, Rondônia.

Para a realização dos atendimentos, foram coletadas informações sociodemográficas dos pacientes por meio de formulários, os quais incluíam dados sobre sexo, faixa etária, histórico de visitas ao dentista, recebimento prévio de orientações em saúde bucal, práticas preventivas e hábitos relacionados ao tabagismo. Em seguida, os participantes foram submetidos à avaliação clínica oral (Anexo 1). 

Os pacientes passaram por uma avaliação clínica detalhada sob luz natural e auxilio de espátula de madeira, para identificar suas necessidades específicas e observar qualquer experiência prévia com cáries. Os pacientes foram submetidos a orientação de saúde bucal. Com base nestas avaliações os pacientes eram encaminhados para procedimentos cirúrgicos, restauradores e/ou reabilitadores, conforme as necessidades identificadas em cada caso.

Para a realização procedimentos restauradores e cirúrgicos foram montados equipos e macas dentro de uma sala de aula da Escola E.M.E.I.E.F. Tancredo de Almeida Neves. Os pacientes também eram atendidos em cadeiras escolares sob luz natural e com auxílio de lanternas de cabeça. 

As necessidades protéticas eram atendidas no local onde próteses totais ou parciais em acrílico eram moldadas e confeccionadas por um laboratório de próteses instalado. As informações coletadas foram posteriormente analisadas por meio de estatísticas descritivas, com auxílio de software Microsoft® Office Excel.

RESULTADOS

Após as visitas realizadas no decorrer dos anos de 2024 a 2025 a comunidades Boa Vista do Pacarana, distrito de Espigão D´Oeste Rondônia, assim, os dados a seguir (Tabela 1) referem-se aos atendimentos realizados pelo projeto “Ação em Saúde Bucal”, a amostra da pesquisa foi composta por de 277 pacientes voluntários da referida comunidade. Os pacientes foram orientados quanto à pesquisa, e, após assinaram o termo de compromisso livre e esclarecido e o termo de assentimento. Trabalho autorizado pelo CEP sob parecer 7.624.484.  

A organização e tabulação dos dados elencados foi realizada conforme os padrões delineados pela Estatística Descritiva, que tem como principal objetivo o agrupamento dos dados, para posteriormente identificar e apresentar as peculiaridades e características dos indivíduos da área pesquisada. Consequentemente, foi empregado o programa Microsoft® Office Excel 2013 para o tratamento das informações. 

Em 2025 houve um volume maior de orientação em higiene bucal porque a escola que recebeu o projeto estava em dias letivos, e conseguimos orientar também os estudantes.

Procedimentos restauradores, cirúrgicos e protéticos foram executados durante as ações nos anos de 2024 e 2025. Aprovado pelo CEP sob parecer 7.624.484 conforme a tabela 1.

Tabela 1 – Atendimentos realizados no período de 2024 a 2025 na comunidade Boa Vista do Pacarana.

Fonte: Autoria própria (2024).

As visitas a comunidade Boa Vista do Pacarana, foram executadas no período de 30 de maio a 01 de junho de 2024, prestando atendimento a 104 pacientes, dos quais 16 receberam próteses dentárias e, durante os dias 01 a 04 maio de 2025, foram entregues 27 próteses aos indivíduos atendidos, foram empregados 02 selantes e, a restauração ionômero vidro foi feita em 04 indivíduos, consequentemente, foi realizado atendimento a 173 pacientes. A Imagem 01 consiste na produção de uma das próteses dentária que foi entregue aos pacientes atendidos na comunidade:

Imagem 01: Produção de prótese dentária.

Fonte: Arquivo Pessoal (2025).

A Imagem 02 demonstra a sala da Escola E.M.E.I.E.F Tancredo de Almeida Neves, disponibilizada para as práticas profissionais realizadas no transcurso das ações relacionadas à promoção da Saúde Bucal na comunidade Boa Vista do Pacarana, ocorridas no ano de 2024, onde participaram 34 voluntários, sendo: odontólogos e acadêmicos do 1º ao 10º período do curso de Odontologia da UNINASSAU de Cacoal-RO.

Imagem 02: Atendimento dos pacientes na Escola E.M.E.I.E.F Tancredo de Almeida Neves.

Fonte: Arquivo Pessoal (2024).

A Imagem 03 demonstra a sala que foi disponibilizada para a realização das ações concernentes a promoção da Saúde Bucal na comunidade Boa Vista do Pacarana, que ocorreram no ano de 2025, na ocasião participaram 41 voluntários, dentre os quais destacam-se: odontólogos e acadêmicos do 1º ao 10º período do curso de Odontologia da UNINASSAU Cacoal-RO.

Imagem 03:  Atendimento dos pacientes na Escola E.M.E.I.E.F Tancredo de Almeida Neves.

Fonte: Arquivo Pessoal (2025).

DISCUSSÃO

Assim como outros órgãos do ser humano, a cavidade bucal requer atenção constante, pois desempenha funções essenciais que afetam a saúde geral. Ela é fundamental para a articulação da fala, o processo de mastigação e a respiração. Ademais, a boca é a maior cavidade do corpo exposta diretamente ao ambiente externo, tornando-se uma via significativa para a entrada de micro-organismos que podem prejudicar a saúde. Para reduzir as chances de desenvolver doenças bucais e dentárias, é importante manter uma higiene oral adequada, além de evitar o tabaco, limitar o consumo de bebidas alcoólicas e adotar uma alimentação saudável, visto que existe uma conexão direta entre a saúde bucal e a saúde do corpo como um todo. O Brasil se destaca como um dos poucos países que disponibiliza cuidados odontológicos como parte de um conjunto de iniciativas universais e gratuitas, através da Atenção Básica integrada aos Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) e aos Laboratórios Regionais de Prótese Dentária (Soares; Girondoli, 2021).

As sociedades de consumo têm gerado grandes disparidades sociais, resultando em uma parte da população enfrentando inúmeras necessidades, com questões de saúde bucal figurando entre as mais comuns. As opções de serviços odontológicos oferecem, em sua maioria, tratamentos corretivos, mas é necessário atender de forma integral às demandas dessas comunidades (Couto et al., 2021).  

A partir do presente estudo foram realizadas intervenções de promoção da saúde bucal em comunidades vulneráveis, desse modo, optou-se, pela comunidade Boa Vista do Pacarana. Acredita-se, que as dificuldades decorrentes do processo de extensão permitem que o conhecimento fosse criado através de uma troca entre os profissionais voluntários e a comunidade. Isso não apenas favoreceu a promoção de saúde e a prevenção de doenças odontológicas na comunidade, a fim de cooperar com determinantes sociais da saúde, mas também ofereceu à comunidade experiências enriquecedoras que estimulam uma reflexão crítica sobre seu papel como agentes de transformação em um contexto de significativas desigualdades e exclusão social (Santos et al., 2015).

Nesse contexto, verificou-se que as transferências de afetos, experiências e saberes, ocorridos a partir da realização do projeto, especialmente, a educação em saúde, atendimentos odontológicos e práticas preventivas, a interação entre comunidade acadêmica, os voluntários e os pacientes gerou uma conexão de autonomia e fortalecimento da comunidade, respeitando a conservação dos saberes dos pacientes atendidos. Além de sanar as necessidades de terapias odontológicas da população assistida, construiu-se um atendimento acolhedor e peculiar conforme a necessidade das participantes do projeto (Santos et al., 2023).

Em uma análise realizada por Barros e Bertoldi (2002), que levou em consideração a amostra a conjuntura concernente ao emprego e acesso aos serviços de Odontologia no país, demonstrou um baixo nível de busca por atendimento de serviços odontológicos por grupos mais pobres em relação aos mais ricos. Diante disso, os resultados deste estudo revelam a existência de marcantes iniquidades na utilização e acesso de serviços odontológicos nas cidades brasileiras.

Por um longo período, a Odontologia no Brasil foi preterida devido à falta de políticas públicas, o que resultou em um difícil e acesso limitado aos serviços odontológicos, incluído à demora na busca por tratamento e a escassez de serviços odontológicos ofertados à comunidade. Em consequência disso, era ofertado um tratamento que prevalecia a percepção da odontologia mutiladora e da atuação restrita clínica do cirurgião-dentista (Morais et al., 2020). 

Fundamentalmente, a saúde bucal, é considerada como parte complementar e indissociável da saúde geral, é indispensável para a conservação da qualidade de vida da comunidade, consequentemente, as políticas públicas de saúde bucal passaram de um modelo centralizado na terapia curativa para uma abordagem mais inclusiva e preventiva. Mesmo com os avanços declarados em indicadores epidemiológicos, determinados desafios são recorrentes. Logo, é importante fomentar a conexão entre os profissionais e usuários, agregar as ações com outros membros das equipes de saúde, reconstituir a formação acadêmica e assegurar o acesso igualitário aos serviços de saúde bucal, afiançando a promoção de saúde e prevenção dos agravos bucais equânime (Custodio; Augusto, 2025).

Contudo, a saúde bucal ainda não consegue atender à totalidade das necessidades da população no Brasil. Nos últimos anos, no entanto, o país tem se destacado na oferta de serviços odontológicos como parte de uma estratégia de saúde integral e gratuita, por meio de um atendimento primário bem coordenado. É essencial que os responsáveis pela gestão pública deem prioridade às demandas basilares em saúde bucal, estabelecendo serviços de Odontologia preventiva dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente, direcionados às comunidades mais afastadas. Dessa maneira, torna-se imprescindível implementar ações de prevenção contra a cárie dental, além de promover a conscientização e o cuidado com a saúde bucal (Schram, 2024).

Estudo sobre os fatores associados à falta de acesso aos serviços odontológicos, com 857 participantes, com mais de 18 anos, relacionado a variável dependente ao acesso aos serviços odontológicos, apontou que 10,3% não obtiveram acesso, verificou-se maior chance de deficiência de acesso a cada ano de idade, bem como, entre os usuários com menor renda per capita, e entre os que qualificaram os aspectos dos dentes e as gengivas como “regular/ruim/péssima”. Desse modo, os dados corroboraram que a falta de acesso aos serviços odontológicos é maior dentre aqueles considerados mais vulneráveis socialmente (Carreiro et al., 2019).

O resultado do presente estudo apresentado na (Tabela 1), demonstra uma queda no número de restaurações dentárias realizadas na comunidade Boa Vista do Pacarana de 2024 para 2025. Esses dados comprovam a demanda de serviços odontológicos na região, demonstrando a necessidade da implementação de políticas de saúde bucal que sejam apropriadas e acessíveis para garantir o bem-estar da comunidade local.

Diante dos resultados encontrados nesse estudo, pode-se corroborar, que as doenças orais podem ser evitadas através de medidas preventivas e de promoção e educação em saúde. Assim, promover práticas que possam propor boas lições à comunidade e estimular transformações nos hábitos com a finalidade de prevenir as doenças bucais, por meio da sensibilização dos gestores e dentistas e educação são de suma relevância para que ocorra a redução de todo tipo de patologias dentárias. O que torna possível também detectar a presença de várias maloclusões e de dentes cariados, bem como, o edentulismo de forma precoce. Principalmente, perante uma população que vive em situação de vulnerabilidade social, tais fatores apontam a importância da atuação dos cirurgiões dentistas que devem ser considerados parte integrantes na implementação e na sustentabilidade dos programas públicos de saúde bucal (Oliveira; Feitoza, 2022).

A falta de cuidados adequados com a higiene dos dentes pode levar ao surgimento de patologias bucais, as quais podem tanto originar quanto agravar problemas de saúde, por exemplo, enfermidades como a diabetes e as cardiovasculares, além disso, determinadas condições de saúde e comportamentos também provocam doenças bucais, como a obesidade e o consumo de tabaco, aumentam a probabilidade de surgimento de doenças periodontais, isto é, as afecções gengivais. A periodontite é um segundo estágio da gengivite, visto que o suporte ósseo e as fibras que sustentam os dentes estão permanentemente comprometidos. Em estágios mais críticos, essas estruturas perdem a firmeza, impactando a mordida. A principal razão para a perda de dentes em adultos é atribuída a condições gengivais (Soares; Girondoli, 2021).

A alteração no modelo de atenção representa um processo complicado, que requer a implementação de mudanças nas práticas de trabalho em saúde, incluindo seus objetivos, conteúdos, métodos e, principalmente, nas interações entre os profissionais e a comunidade que utiliza os serviços. Mas, para que essa transformação no modelo tecno assistencial ocorra de maneira eficaz, é essencial que o indivíduo assuma um papel central na elaboração do cuidado, manifestando suas demandas e atuando como protagonista na criação de projetos terapêuticos (Silva et al., 2010) 

A pesquisa desenvolvida na comunidade Boa Vista do Pacarana evidencia um crescimento no número de intervenções de exodontias no decorrer do período avaliado, sendo assim, no ano de 2024, foram realizadas 80 exodontias, já em 2025 a quantidade aumentou para 135 procedimentos. Esses dados podem estar relacionados à falta de cuidados precoces.

Acredita-se, que o elevado quantitativo de extrações está relacionado a falta de desenvolvimento e custeamento de um projeto abrangente de educação constante e contínua em saúde para a formação e a qualificação dos profissionais no atendimento às demandas de saúde bucal da população em situação de vulnerabilidade, conforme preconiza os princípios do SUS. Por conseguinte, os Estados, o Distrito Federal e os municípios precisam agregar e fortalecer a educação continuada em saúde como estratégia para considerar o processo de trabalho, de gestão do cuidado, constituída pela Política Nacional de Educação Permanente do SUS, por meio da Portaria n.º 1996/2007 e outros documentos relacionados a essa política (Brasil, 2024).

Estudo sobre a condição de saúde bucal e motivos para extração dentária entre uma população de adultos (20-64 anos), evidenciou que a dor e a falta de alternativa de outras terapias se estabelecem como os principais motivadores destacados para efetivação das extrações dentárias. Diante disso, verifica-se, que a exodontia é praticada por uma boa parte da população adulta, visto, que a opção de manter o dente, pode inferir na probabilidade de novos desconfortos e ocorrências dolorosas, portanto, a escolha pela extração dental vem da confiança de que está removendo definitivamente a causa, ou seja, pode ser a resolubilidade do problema (Silva-Junior et al., 2017).

Conforme estudo realizado por Schram et al. (2024), através de um estudo longitudinal em Izidolândia, distrito do município de alta floresta D’Oeste em Rondônia, no período de setembro de 2023 e março de 2024. O qual apontou os resultados de diversos procedimentos odontológicos, compreendendo as extrações dentárias, as orientações de higiene bucal, a produção de próteses dentárias, bem como, realização de restaurações em resina composta, inclusive profilaxia, endodontia e raspagem. Segundo a mesma autora a deficiência de acesso aos cuidados odontológicos nessas comunidades vulneráveis colabora para um aumento significativo das cáries e, consequentemente, de extrações dentárias. Esses fatores, abalizam a importância de medidas regulares políticas para alcançar o atendimento odontológico para conservar a saúde bucal dos indivíduos que vivem nas comunidades distantes e em condições de vulnerabilidades. 

Através da Portaria 1.444 de 2000, foi estabelecida a inclusão das equipes de saúde bucal no Programa Saúde da Família (PSF), denominada atualmente como Estratégia Saúde da Família (ESF). As comunidades em situação de vulnerabilidade, que antes tinham pouco ou nenhum acesso aos consultórios odontológicos, passaram a ser atendidas de maneira contínua e precocemente. Destaca-se, que a inclusão da Equipe de Saúde Bucal (ESB) fortaleceu a assistência no âmbito da atenção primária em saúde, ofertando educação em saúde, prevenção de patologias bucais e terapia básica (Brasil, 2000).

No ano de 2004, as publicações das Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) demonstraram a relevância da saúde bucal em todo o país. A PNSB, cognominada como “Brasil Sorridente”, se estabelece como uma ação do governo brasileiro que tem o papel de promover a saúde bucal de maneira ampla e inclusiva. É indubitável que essas práticas sirvam de direção para uma ampla visão sobre a realidade pertinente a saúde bucal da comunidade, essa política tem como como desígnio proporcionar o acesso a cuidados odontológicos de excelência para toda a população, principalmente, às comunidades em condições de vulnerabilidade e em áreas de difícil acesso (Silva et al., 2020; Brasil, 2020).

Os dados expostos nesse estudo realizado na comunidade Boa Vista do Pacarana apontam que houve aumento significativo na quantidade de próteses entregues a pacientes, pois no ano de 2024 foram produzidas 16 unidades, enquanto em 2025, aumentou para 27 peças. Esse aumento pode estar relacionado a falta de acesso aos consultórios e clínicas odontológicas, especialmente no tratamento precoce.

A reabilitação protética dentária é essencial e tem papel imprescindível na qualidade de vida dos indivíduos, principalmente em relação a fatores funcionais, que são: estética, autoestima, saúde geral e mastigatória, conforme corroborado por Corrêa (2020), em sua pesquisa apontou que as reabilitações com próteses dentárias podem contribuir na melhora da qualidade de vida relacionada à saúde bucal (QVRSB) dos indivíduos. Contudo, Carvalho et al. (2020), preconizam que as orientações são essenciais para diminuir a incidência de casos de cáries, das patologias periodontais e o edentulismo, principalmente em comunidades que têm pouco acesso a cuidados odontológicos que vivem em situação de vulnerabilidade.

Em relação aos aspectos que podem estar relacionados à elevada incidência de cáries nas populações em condições de vulnerabilidade incluem, por exemplo, obstáculos para acessar serviços odontológicos, ausência de informações sobre cuidados com a higiene bucal e circunstâncias socioeconômicas desfavoráveis, Amaral et al., (2017), realizaram um estudo, que durante o período em que os profissionais de saúde bucal estiveram presentes na comunidade e quando voltavam entre as visitas, para realizar a troca de escovas dentais, que consistia a cada 2 a 3 meses, ou conversas com os líderes comunitários e docentes verificou-se que a higiene bucal havia sido incluída na rotina da comunidade. Portanto, as alterações de costume foram notadas no decorrer das visitas da equipe a comunidade, pois as crianças fazem a higiene bucal durante os banhos no rio que acontecem normalmente duas vezes ao dia, sendo, um de manhã e outro ao final da tarde, outro fator importante, é que não tem mais relatos de casos de ausência nas aulas em decorrência de dor dental.

O presente estudo que foi realizado na comunidade de Boa Vista do Pacarana apontou uma redução nos casos de raspagem, visto que no ano de 2024 foram realizados 24 procedimentos, enquanto que no ano de 2025 diminuiu para 13 casos. Os dados sugerem que podem ter ocorrido uma melhor conscientização quanto aos prejuízos que podem causar a presença dos cálculos dentais, levando indivíduos à procura por tratamentos odontológicos precocemente. 

O tártaro que fica em íntimo contato com a gengiva, se estabelece como uma condição complexa que danifica os dentes, os quais ficam recobertos por uma camada de placa bacteriana e retém toxinas bacterianas, sendo assim, pode cooperar para o surgimento de gengivite e doença periodontal, que consiste na inflamação do osso de suporte dental, no tange a esse aspecto o tártaro traz consequências como: sangramento gengival, processos inflamatórios na gengiva, perda de inserção, que tem que ser tratado pelo dentista, por meio da raspagem e do alisamento radicular ou emprego do aparelho de ultrassom, visto, que quando ocorre a mineralização o indivíduo não consegue eliminá-lo, desse modo é fundamental o tratamento odontológico a cada seis meses para essa retirada do tártaro (Damante, 2022).

Ações de educação em saúde bucal tem um papel fundamental ao instruir sobre as práticas apropriadas de higiene e efetivar a transmissão de conhecimentos à população com a finalidade de promover transformações nos hábitos concernentes à saúde bucal. Assim, os programas educacionais visam motivar a adoção de ações preventivas, como por exemplo, a escovação apropriada, o emprego de fio dental, o consumo de alimentos saudáveis e visitas de rotina ao odontólogo, além de sensibilizar sobre a relevância da higiene bucal para a saúde geral (Carvalho et al., 2020; Silva; Carcereri; Amante, 2017).

Por fim, é importante mencionar, que os princípios de acolhimento e bem-estar são fundamentais e inseparáveis na promoção da saúde bucal, pois implicam em humanização e qualidade, especialmente, no atendimento dos pacientes em condições de vulnerabilidade. Ao atender o paciente, torna-se possível favorecer a interação e a construção de um vínculo entre ele e a equipe de odontologia. As práticas de acolhimento na Odontologia são vitais para aprimorar a qualidade do serviço prestado e os profissionais da comunidade. O bem-estar do indivíduo deve ser visto como mais do que apenas um equilíbrio entre a satisfação das expectativas e a dor, deve servir como base para o plano de tratamento (Rezende et al., 2015).

CONCLUSÃO

Ao examinar os dados obtidos nesta pesquisa, a qual foi realizada na comunidade Boa Vista do Pacarana com enfoque na promoção da saúde bucal através de ações sociais odontológicas em comunidades vulneráveis, é possível afirmar que se faz necessária a atuação governamental e civil para assegurar um atendimento odontológico em áreas rurais de acesso complicado. Tendo em vista, que iniciativas assim, são fundamentais para proporcionar serviços odontológicos em regiões rurais, onde o acesso é muito difícil. Esses aspectos ressaltam a necessidade de criar abordagens flexíveis e abrangentes a fim de assegurar que os cuidados odontológicos estejam disponíveis de forma igualitária nas mais longínquas regiões brasileiras. Iniciativas que cooperem para a disseminação das informações relacionadas a saúde bucal e aprimorar a prática de autocuidado, bem como, àquelas que possam facilitar o acesso aos serviços odontológicos que promovam um atendimento integral aos indivíduos em situações de vulnerabilidade, podem ser decisivas para o encorajamento do uso frequente desses serviços. 

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1Graduando em Odontologia pela UNINASSAU – Centro Universitário. E-mail para contato: pedravitor5@gmail.com.
2Graduação em Odontologia pela UNIVALE, Pós-Graduação em Dentística pela UNIVALE, Mestrado em Ciências da Saúde pela IAMSPE, Docente do curso de Odontologia na UNINASSAU – Centro Universitário. E-mail para contato: zilanda07@hotmail.com.