REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505182016
José Ribamar Bogéa Cerqueira Filho
Orientador (a): Ilana Míriam Almeida Felipe
RESUMO
No município de Cantanhede-MA, em 2011, foram realizadas 149 coletas de material para exame colpocitológico ( ou Papanicolau ), abrangendo a faixa etária de 25 a 59 anos idade, conforme dados obtidos no site do DATASUS. A população feminina residente estimada neste mesmo ano foi de 3.277 . O Ministério da Saúde estipulou uma Meta Brasil para o biênio 2010-2011 de 0,20 ( 2010 ) e 0,23 ( 2011 ) exames/mulher/ano para a faixa etária entre 25 a 59 anos, no entanto a razão para esta localidade ficou em 0,045 exames/mulher/ano 2011, ou seja muito abaixo da meta nacional. A realização periódica do exame colpocitológico ou de papanicolau constitui etapa fundamental na detecção precoce das lesões precursoras do câncer do colo do útero. Grande parte dos municípios brasileiros, principalmente nas Regiões Norte e Nordeste, não apresentam cobertura populacional satisfatória das mulheres aptas à realização do exame, e como consequência, o diagnóstico e tratamento precoce torna-se prejudicado, não ocorrendo redução das taxas de morbimortalidade provocada pela doença. Diante do exposto, este trabalho visa a criação de um plano de ação a ser desenvolvido no município para mobilizar as mulheres na faixa etária dos 25 aos 59, ou mais a realizar o exame para prevenção do colo uterino.
Palavras-chave: Saúde da mulher. Diagnóstico. Estratégias.
ABSTRACT
In the city of Cantanhede-MA, in 2011, there were 149 collections of material for exam cervical cytology (or Papanicolau), covering the age range from 25 to 59 years old, according to data obtained from the website of DATASUS. The estimated resident female population in the same year was 3.277. The Ministry of Health has stipulated a Meta Brazil for the biennium 2010-2011 of 0.20 (2010) and 0.23 (2011) exams / female / year for the age group between 25 to 59 years, however the reason for this location stood at 0.045 tests / female / year 2011, or well below the national target. The periodic achievement exam papanicolau is an important stage in the early detection of precursor lesions of the cancer cervix. Much of Brazilian municipalities, mainly in the North and Northeast, have no satisfactory population coverage of women able to perform the test, and as a result, the early diagnosis and treatment becomes impaired, not occurring reducing rates of morbidity and mortality caused by the disease . Given the above, this work aims to create an action plan to be developed in the city to mobilize women aged 25 to 59, or more, to take the examination for cervical cancer prevention.
Keywords: Women’s Health. Diagnosis. strategies
1 IDENTIFICAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO
1.1 TÍTULO
Plano de Ação para Aumento da Cobertura do Exame Citopatológico do Colo Uterino no Município de Cantanhede-MA
1.2 EQUIPE EXECUTORA
- José Ribamar Bogéa Cerqueira Filho-Médico Ginecologista/PSF;
- Ilana Míriam Almeida Felipe-Enfermeira-Orientadora.
1.3 PARCERIAS INSTITUCIONAIS
- Secretaria Municipal de Saúde do Município de Cantanhede-MA
2 INTRODUÇÃO
O câncer do colo uterino representa a terceira neoplasia mais comum no mundo, sendo diagnosticados cerca de 500 mil novos casos/ano, dos quais cerca de 80% ocorrendo nos países em desenvolvimento. Em algumas regiões, como o sul e leste da África e na América Central, é o câncer mais frequente em mulheres (INCA, 2012).
No Brasil o câncer do colo do útero ocupa o segundo lugar no número de neoplasias que acometem a população feminina, com estimativa do INCA para o ano de 2012 de 17.540 novos casos ( 9,3 % ), com risco estimado de 17 casos/ 100 mil mulheres. A taxa de mortalidade em 2009 chegou a 5,18 óbitos/100 mil mulheres ( 5.063 óbitos ). As regiões Norte e Nordeste do Brasil são as que apresentam as maiores taxas de acometimento (BRASIL, 2011).
A doença acomete mulheres na faixa etária reprodutiva, concentrando-se na idade acima de 35 anos, raramente abaixo de 30 anos, com pico máximo de incidência entre 45 e 49 anos. No entanto, tem sido observado um aumento da ocorrência em mulheres mais jovens. Com o passar das décadas, os estudos epidemiológicos mostraram que o câncer de colo do útero apresenta aspectos bem característicos, tais como: mais freqüente em mulheres de populações urbanas, de classe social e escolaridade mais baixas, residentes em países em desenvolvimento, negras, não virgens, multíparas, com início precoce de relações sexuais, primeira gestação em idade jovem, múltiplos parceiros e fumantes. A infecção pelo papilomavírus humanos (HPV) é a causa primária na gênese do câncer do colo do útero. Sua prevalência na lesão do colo é superior a 98% e dois subtipos do vírus (16 e 18) estão presentes em mais de 80% dos casos de câncer invasor. Também são relacionados como co-fatores outras doenças sexualmente transmissíveis, especialmente a presença do vírus da imunodeficiênciahumana (HIV), o uso de tratamento imunossupressivo e história de transplante de órgãos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Há duas principais categorias de carcinomas invasores do colo do útero, dependendo da origem do epitélio comprometido: o carcinoma epidermoide, tipo mais incidente e que acomete o epitélio escamoso (representa cerca de 80% dos casos), e o adenocarcinoma, tipo mais raro e que acomete o epitélio glandular (10% dos casos). Nas duas modalidades ocorre uma replicação desordenada do epitélio de revestimento do órgão, comprometendo o tecido subjacente (estroma) e podendo invadir estruturas e órgãos contíguos ou à distância. Diferentemente dos outros cânceres humanos, o câncer cervical é, em princípio, doença evitável, já que apresenta evolução lenta, com longo período desde o desenvolvimento das lesões precursoras (NICS) ao aparecimento do carcinoma is situ. A sua prevenção é potencialmente eficaz, pois existem diversas formas de intervenção no combate às múltiplas manifestações da doença. Quando diagnosticado e tratado precocemente, constitui uma causa de morte evitável, pois, a doença apresenta etapas bem definidas, longo período para a evolução das lesões precursoras e facilidade de detecção das alterações na fase inicial, o que lhe confere um dos mais altos potenciais de prevenção e cura entre todos os tipos de câncer (BRASIL,2006).
Em 1998, foi instituído pelo Ministério da Saúde , o Programa Nacional de Combate ao Câncer do Colo do Útero ( PNCC), com a publicação da Portaria GM/MS nº 3.040/98, de 21 de junho de 1998, elegendo o exame colpocitológico (Papanicolaou) como método único de rastreamento dessas anormalidades. A efetividade deste exame, associada ao tratamento da lesão intra-epitelial, tem resultado em uma redução da incidência do câncer invasor do colo do útero de 90%, produzindo um impacto significativo nas taxas de morbimortalidade. Mas, segundo recomendação da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), um padrão de qualidade e uma cobertura de rastreamento de 80 a 85% da população feminina são necessários para se conseguir este efeito (FONSECA, RAMACCIOTTI & ELUF ,2004).
O público alvo para início do rastreamento deve ser a partir dos 24 anos, pois a incidência do câncer do colo do útero em mulheres até esta idade é muito baixa, e a maioria dos casos é diagnosticada no estádio I e o rastreamento é menos eficiente para detectá-los. Para isso, é necessária infra-estrutura complexa e organizada para obtenção de resultados satisfatórios das quais: unidades de saúde e profissionais bem treinados para coletar e preparar o material de forma adequada, laboratórios para corar as lâminas e profissionais especializados para lê-las e emitir laudo e, finalmente, médicos treinados para lidar com as anormalidades detectadas e encaminhamento para as unidades de atenção secundária ou terciária na presença de lesões precursoras ou do carcinoma in situ (BRASIL,2004).
A redução de mortalidade por câncer do colo do útero, ocorrida em países desenvolvidos, é resultado da realização periódica do exame citopatológico. Face aos dados obtidos referentes à cobertura populacional, das mulheres que deveriam estar realizando a prevenção do colo do útero nesse município e em muitos outros pelo país, propomos a realização deste trabalho para adoção de medidas que tragam resultado a médio prazo para melhoria desses indicadores.
3 JUSTIFICATIVA
Na minha prática diária como Médico Ginecologista, principalmente no interior do estado, pude constatar que na maioria dos municípios os programas de rastreio do câncer do colo do útero não dispõem de estrutura adequada para o efetivo diagnóstico e conduta frente aos casos que necessitem de atenção especializada. Muitas mulheres ainda morrem em decorrência do câncer do colo do útero em razão do diagnóstico tardio. Esta realidade é passível de se evitar com a adoção de programas de rastreamento organizados e tratamento das lesões precursoras. Mesmo com avanços nas últimas décadas, é necessário a realização de trabalhos nesta área com a oportunidade de aplicação prática de seus resultados.
4 OBJETIVOS
Geral
Elaborar um plano de ação com a finalidade de aumentar a cobertura da população feminina, no município de Cantanhede-MA, que não realiza exame de Papanicolau em intervalo regular conforme preconiza o Ministério da Saúde.
5 METAS
Proporcionar aumento da cobertura populacional do exame de rastreio para câncer do colo uterino aos níveis recomendados pela OMS.
6 METODOLOGIA
Etapas a realizar no Plano de Ação proposto;
Capacitação dos profissionais das equipes do Programa de Saúde da Família-Esta etapa é fundamental para qualificar os médicos e enfermeiros quanto as diretrizes mais recentes publicadas pelo Ministério da Saúde. O Médico Ginecologista do NASF, elaborador deste plano, será o encarregado.
Recrutamento da população alvo – Visitação dos domicílios com mulheres entre 24 e 59 anos pelos agentes comunitários de saúde para informar sobre a importância da realização do exame preventivo do colo do útero, e facilitar o agendamento do mesmo para o profissional responsável. Também poderá ser utilizado as mídias de informação existentes nos municípios.
Início do atendimento e coleta dos exames-Será fornecido após o atendimento o Cartão da Mulher constando os dados pessoais, data da realização do exame, dados clínicos.
7 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
ATIVIDADES | Mês 01/2013 | Mês 02/2013 | Mês 03 a 12/2013 |
Capacitação dos profissionais | X | ||
Recrutamento da população | X | ||
Início dos atendimentos | X |
8 IMPACTOS GERADOS
O benefício social que se espera do trabalho é a disponibilização contínua, por parte da rede de saúde do município, do exame preventivo para as mulheres a qualquer momento, além da consolidação da informação, não somente em relação às doenças do colo uterino, mas em relação às doenças da mama.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A estrutura para se conseguir taxas elevadas de cobertura do exame colpocitólgico, bem como implantar níveis de atenção secundária e terciária é complexa. A dificuldade reside no aporte financeiro necessário para criar essa rede de atenção; o compromisso técnico e político dos gestores também é um fator limitante. No Brasil, poucas regiões têm conseguido reduzir consistentemente suas taxas de prevalência e incidência de câncer do colo por meio de programas organizados de prevenção.
Países em desenvolvimento apresentam altos coeficientes de mortalidade, com óbitos em plena idade produtiva, o que penaliza a mulher e o grupo que lhe é próximo, além de privar a sociedade do seu potencial econômico e intelectual. Aos anos de vida improdutivos e perdidos decorrentes das mortes precoces por câncer do colo do útero, associam-se, também, o tempo gasto com a própria doença e o sofrimento físico e emocional das mulheres.
REFERÊNCIAS
DEROSSI SA, PAIM JS, AQUINO E, SILVA LMV. Evolução da mortalidade e anos potenciais de vida perdidos por câncer cérvico-uterino em Salvador (BA), 1979-1997. Rev Bras Cancerol, v..47, n. 2, p. 163-70, 2001.
FONSECA LAM, RAMACCIOTTI AS, ELUF NETO J. Tendência da mortalidade por câncer do útero no Município de São Paulo entre 1980 e 1999. Cad Saúde Pública.; v.20, n.1,p.136-42, 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Periodicidade de realização do exame preventivo do câncer do colo do útero: normas recomendações do INCA. Rev Bras Cancerol.; v. 48, n. 1, p.13-5, 2002.
BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Nomenclatura brasileira para laudos cervicais e condutas preconizadas – recomendações para profissionais de saúde. 2a ed. Rio de Janeiro: INCA; 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Diretrizes brasileiras para rastreamento do câncer do colo do útero. Rio de Janeiro: INCA; 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Departamento de Apoio à Gestão Descentralizada. Orientações acerca dos indicadores de monitoramento avaliação do pacto pela saúde biênio 2010-2011. Brasília ; 2011.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Departamento de Informática do SUS. Brasília, 2012. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php. Acesso em: 01 dez. 2012.
INCA. Câncer do colo do útero. Rio de Janeiro, 2012. Disponível em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/colo_utero. Acesso em: 20 out. 2012.