ENZOOTIC BOVINE LEUKOSIS: A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506300905
Daniele Dos Santos Rodrigues; Eduarda Dos Santos Mendonça; Thais De Azevedo Marques Da Silva; Lívia Souza Da Conceição; Anna Carolina De Mello Reis Souza; Frances Junior Alves Matos; Maria Clara Souza Martins; Prof. Orientadora: Drª Alana Camargo Poncio.
Resumo: A Leucose Enzoótica Bovina (LEB) é uma enfermidade viral crônica causada pelo Bovine Leukemia Virus (BLV), que afeta principalmente linfócitos B e se caracteriza por evolução silenciosa e assintomática na maioria dos casos. Sua transmissão ocorre predominantemente por via horizontal, através do contato com sangue contaminado durante práticas de manejo inadequadas, e, menos frequentemente, por via vertical. O vírus se integra ao DNA do hospedeiro, favorecendo infecções persistentes e possíveis evoluções para linfocitose ou linfossarcoma. O diagnóstico é baseado em exames laboratoriais, como ELISA, PCR e exames histopatológicos. Embora não haja tratamento específico ou vacina eficaz, estratégias de biossegurança, testagem periódica e controle do colostro são fundamentais para prevenir a disseminação. De notificação obrigatória, a LEB representa um desafio sanitário significativo para a bovinocultura brasileira.
Palavra-chave: Leucose Enzoótica Bovina; Vírus; Biossegurança; Linfocitose
ABSTRACT: Enzootic Bovine Leukosis (EBL) is a chronic viral disease caused by the Bovine Leukemia Virus (BLV), which primarily affects B lymphocytes and is characterized by a silent and asymptomatic progression in most cases. Transmission occurs predominantly through horizontal means, mainly via contact with contaminated blood during improper handling practices, and less frequently through vertical transmission. The virus integrates into the host’s DNA, leading to persistent infections and potential progression to lymphocytosis or lymphosarcoma. Diagnosis is based on laboratory tests such as ELISA, PCR, and histopathological analysis. Although there is no specific treatment or effective vaccine, biosafety measures, regular testing, and colostrum management are essential to prevent the spread of the disease. As a notifiable disease, EBL poses a significant health challenge for cattle farming in Brazil.
Keywords: Enzootic Bovine Leukosis; Virus; Biosafety; Lymphocytosis
1 INTRODUÇÃO
A Leucose Enzoótica Bovina (LEB) é uma enfermidade infectocontagiosa de etiologia viral, causada pelo Vírus da Leucose Bovina (VLB), pertencente à família Retroviridae. Trata-se de uma doença de notificação obrigatória, conforme estabelecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), devido ao seu impacto econômico e sanitário nos rebanhos bovinos leiteiros e de corte (JIMENEZ FILHO; VALLE, 2013).
A infecção é caracterizada por um longo período de latência, em que a maioria dos animais permanece assintomática. Contudo, uma parcela significativa dos indivíduos infectados desenvolve linfocitose persistente (LP) e, em casos mais graves, linfossarcoma – uma neoplasia maligna do tecido linfóide (AGOTTANI et al., s.d.).
A disseminação do VLB ocorre principalmente por via horizontal, sendo facilitada por práticas de manejo inadequadas, como o uso compartilhado de agulhas, palpação retal com luvas contaminadas e procedimentos cirúrgicos sem a devida higienização. A transmissão vertical também é possível, embora menos frequente (AGOTTANI et al., s.d.). A ausência de tratamento específico ou vacina eficaz reforça a importância das medidas profiláticas e do diagnóstico precoce como estratégias fundamentais no controle da doença.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 ETIOLOGIA
A Leucose Enzoótica Bovina (LEB) é causada pelo Bovine Leukemia Virus (BLV), um retrovírus envelopado de RNA de fita simples, pertencente ao gênero Deltaretrovirus e à família Retroviridae (LV et al., 2024). O vírus infecta principalmente linfócitos B, integrando seu material genético ao DNA do hospedeiro na forma de provírus, o que permite uma infecção crônica e silenciosa (Petersen et al., 2025).
Estudos transcriptômicos demonstraram que em animais com alta carga proviral, há supressão de genes relacionados à resposta imune e superexpressão de genes ligados à proliferação celular, favorecendo a persistência viral e o desenvolvimento de linfossarcomas (Petersen et al., 2025). Em bovinos no período de transição, o BLV está associado ao aumento de marcadores imunossupressores como PD-1 e CTLA-4, o que prolonga o estado de imunossupressão fisiológica e aumenta a vulnerabilidade a infecções secundárias (Nascimento et al., 2023). O vírus é envelopado e apresenta tropismo predominante por linfócitos B, embora também possa infectar linfócitos T em menor proporção (RAJÃO et al., 2012).
Após a infecção, o vírus integra seu material genético ao DNA da célula hospedeira, estabelecendo-se na forma de provírus, o que permite uma infecção duradoura e geralmente assintomática por anos (AGOTTANI et al., 2012). Esse comportamento contribui para a dificuldade no diagnóstico clínico precoce da enfermidade (RAJÃO et al., 2012).
A ação viral compromete o sistema imunológico do animal, levando à imunossupressão progressiva e possibilitando o surgimento de linfocitose persistente ou de linfossarcomas (JIMENEZ FILHO; VALLE, 2013). A evolução da doença é lenta e silenciosa, sendo mais frequentemente observada em vacas leiteiras, que permanecem por mais tempo nos rebanhos, possibilitando maior exposição e desenvolvimento da infecção (RAJÃO et al., 2012).
2.2 CICLO E REPLICAÇÃO
O Bovine Leukemia Virus (BLV) inicia seu ciclo infeccioso pela ligação da glicoproteína de superfície (SU) aos receptores da célula hospedeira, promovendo a fusão mediada pela proteína transmembrana ™ e permitindo a entrada do capsídeo viral no citoplasma (VIRALZONE, 2025). Após a penetração, ocorre o desnudamento do RNA viral e a transcrição reversa, convertendo o RNA de fita simples em DNA de fita dupla, por meio da ação da transcriptase reversa (PLOS PATHOGENS, 2014).
Esse DNA viral é transportado até o núcleo da célula, onde se integra ao genoma do hospedeiro com auxílio da enzima integrase, formando o provírus, que é capaz de permanecer latente por longos períodos (JOURNAL OF VIROLOGY, 2007). A partir dessa integração, a célula hospedeira passa a transcrever genes virais utilizando sua própria RNA polimerase II, produzindo RNAs mensageiros e genomas virais que darão origem a novas partículas (VIRALZONE, 2025). A replicação do BLV pode ocorrer de duas formas: pela infecção de novas células susceptíveis (replicação infecciosa) ou pela divisão mitótica das células já infectadas (replicação clonal), sendo esta última a principal forma de manutenção do vírus no organismo durante a infecção crônica (PLOS PATHOGENS, 2014). Durante as fases iniciais da infecção, a replicação infecciosa é predominante, enquanto na fase de latência a replicação clonal se torna mais relevante (MSD VETERINARY MANUAL, 2025
2.2.1 REPLICAÇÃO INFECCIOSA
A replicação infecciosa ocorre quando o vírus entra em uma nova célula susceptível, geralmente um linfócito B, por meio da ligação entre a glicoproteína viral de superfície (gp51) e receptores celulares específicos, seguida pela fusão da membrana viral com a membrana celular (VIRALZONE, 2025). Após essa entrada, o RNA viral é convertido em DNA de fita dupla pela transcriptase reversa e integrado ao genoma do hospedeiro na forma de provírus, possibilitando a produção ativa de novas partículas virais (JOURNAL OF VIROLOGY, 2007).
2.2.2 REPLICAÇÃO CLONAL
A replicação clonal ocorre quando uma célula já infectada se divide, transmitindo o provírus integrado diretamente para as células-filhas, sem necessidade de infecção de novas células (PLOS PATHOGENS, 2014). Essa forma de replicação é predominante nas fases crônicas da infecção e representa uma estratégia eficaz do vírus para persistir no organismo, já que permite a sua manutenção mesmo quando a produção de partículas virais é suprimida pela resposta imune (MSD VETERINARY MANUAL, 2025).
Durante o início da infecção, a replicação infecciosa é mais ativa, pois o vírus precisa disseminar-se entre os linfócitos ainda não infectados (PLOS PATHOGENS, 2014). No entanto, à medida que o sistema imune se adapta e a infecção se torna crônica, o BLV reduz sua atividade replicativa ativa e passa a depender majoritariamente da proliferação mitótica de linfócitos infectados para manter e expandir a carga proviral (PLOS PATHOGENS, 2014).
2.3 EPIDEMIOLOGIA
A Leucose Enzoótica Bovina (LEB) é uma enfermidade viral crônica de distribuição mundial que afeta, principalmente, bovinos adultos e tem sido identificada em diversos países de diferentes continentes, com prevalência variável conforme as condições sanitárias, práticas de manejo e políticas públicas de controle de cada região (Lv et al., 2024).
Em países com programas eficazes de controle, como Dinamarca, Finlândia, Suécia e Japão, a infecção foi drasticamente reduzida ou mesmo erradicada, por meio de estratégias como testes sorológicos periódicos, eliminação de animais positivos e restrição de movimentação (Bartlett et al., 2020). Já em regiões da América Latina, Ásia e África, a prevalência permanece alta, refletindo a ausência de programas oficiais de erradicação e práticas de manejo inadequadas (Lv et al., 2024).
No Brasil, diversos estudos indicam prevalência significativa da infecção em rebanhos leiteiros e de corte, com valores que variam de acordo com o estado, o sistema produtivo e o tipo de teste diagnóstico utilizado. Em um levantamento realizado em Alagoas, 27,8% das amostras de bovinos foram soropositivas para o vírus da LEB, com focos identificados em 70,6% das propriedades avaliadas e em 100% dos municípios estudados, demonstrando ampla disseminação do vírus na região (Pinheiro Júnior et al., 2013).
Estudos no estado do Paraná revelaram prevalência de 56,3% em rebanhos leiteiros da região metropolitana de Curitiba, enquanto em Pernambuco foram encontrados 23,1% de animais positivos (Barros Filho et al., 2010; Mendes et al., 2011). No Maranhão, 9,1% das vacas leiteiras testadas foram positivas para o BLV por PCR, com predomínio do genótipo 6 entre os isolados (Pereira et al., 2023). Essas variações regionais podem ser atribuídas a fatores como densidade animal, tipo de ordenha, nível de tecnificação e controle sanitário (Nekouei et al., 2021). Fatores de risco associados à infecção incluem a introdução de animais sem controle sanitário, práticas como ordenha manual, compartilhamento de agulhas e equipamentos de manejo reprodutivo, além do uso inadequado de colostro e a presença de piquetes maternidade mal manejados (Pinheiro Júnior et al., 2013). Um estudo identificou que propriedades com assistência técnica veterinária regular e com aquisição recente de animais apresentaram maior prevalência de infecção, sugerindo que a movimentação de bovinos e o contato frequente com equipamentos podem favorecer a transmissão do vírus (Fernandes et al., 2009).
A epidemiologia da LEB é também influenciada pela forma silenciosa da infecção: a maioria dos animais infectados permanece assintomática, o que dificulta o diagnóstico clínico e favorece a manutenção da infecção no rebanho por longos períodos (Pereira et al., 2023). A transmissão ocorre principalmente por via horizontal, através do contato com sangue ou secreções corporais contaminadas, mas também pode ocorrer por via vertical, por meio do colostro ou transmissão transplacentária (Leuzzi Júnior et al., 2001).
A presença do vírus em rebanhos sem a manifestação de sinais clínicos aparentes torna essencial a realização de programas de vigilância sorológica, que possibilitem o monitoramento da prevalência e a implementação de medidas preventivas baseadas em biossegurança, segregação de animais positivos e educação sanitária (Bartlett et al., 2020).
2.4 TRANSMISSÃO
A Leucose Enzoótica Bovina (LEB) é uma enfermidade infectocontagiosa cuja transmissão ocorre predominantemente por via horizontal, sendo o sangue a principal fonte de infecção, especialmente por conter elevada carga viral em linfócitos infectados (JIMENEZ FILHO; VALLE, 2013).
A forma mais comum de transmissão horizontal se dá através do uso compartilhado de instrumentos veterinários como agulhas, seringas, tatuadores, bisturis, luvas de palpação, equipamentos de castração e descornadores, especialmente quando há reutilização sem desinfecção adequada (AGOTTANI et al., 2021). Pequenas quantidades de sangue, como 0,1 µL, são suficientes para transmitir o vírus entre animais (ANDREWS et al., 2004 apud JIMENEZ FILHO; VALLE, 2013). Essa via iatrogênica está diretamente relacionada ao manejo inadequado e à ausência de boas práticas sanitárias nas propriedades.
2.4.1 CONTATO DIRETO ENTRE ANIMAIS
O contato direto entre animais, como ocorre em sistemas de produção intensivos e semiintensivos, também favorece a disseminação do vírus, uma vez que secreções como saliva, secreções nasais e vaginais, urina e fezes podem conter o vírus ou células infectadas (RAJÃO et al., 2012). Dessa forma, a movimentação de animais entre propriedades, sem testes diagnósticos prévios, configura-se como um importante fator de risco (PINHEIRO JÚNIOR et al., 2013). Além disso, a transmissão pode ocorrer durante procedimentos de reprodução assistida, como inseminação artificial, quando o material genético ou os instrumentos utilizados estão contaminados com sangue de animais infectados (AGOTTANI et al., 2021).
2.4.2 TRANSMISSÃO VERTICAL
Pode ocorrer de forma transplacentária ou pela ingestão de colostro contaminado, especialmente quando oriundo de vacas soropositivas (JIMENEZ FILHO; VALLE, 2013).
Recomenda-se, como medida profilática, a pasteurização do colostro a 56 °C por 30 minutos, ou o uso de bancos de colostro de vacas negativas, a fim de evitar a infecção dos bezerros neonatos (AGOTTANI et al., 2021).
A transmissão pela monta natural também foi descrita como possível, devido à presença de linfócitos infectados no trato reprodutivo dos touros, mesmo que o vírus não esteja presente nos espermatozoides (FLORES, 2007 apud JIMENEZ FILHO; VALLE, 2013).
É evidente que a principal via de transmissão do BLV é horizontal, especialmente pela manipulação humana e práticas de manejo inadequadas. A prevenção da disseminação da LEB depende, portanto, do uso rigoroso de medidas de biossegurança, como a não reutilização de materiais, segregação de animais positivos e o controle da origem do colostro administrado aos neonatos (AGOTTANI et al., 2021; PINHEIRO JÚNIOR et al., 2013).
2.5 CARACTERÍSTICAS IMUNOLÓGICAS
A resposta imunológica à infecção pelo Bovine Leukemia Virus (BLV), agente etiológico da Leucose Enzoótica Bovina (LEB), é complexa e multifásica, variando conforme o estágio da doença, o status imunológico do animal e a carga viral (JIMENEZ FILHO; VALLE, 2013).
Após a infecção inicial, o sistema imune do bovino responde com a produção de anticorpos específicos contra os antígenos virais, como a glicoproteína gp51 da superfície do envelope do BLV, que pode ser detectada por testes sorológicos como ELISA ou imunodifusão em ágar gel (AGOTTANI et al., 2021). Essa resposta humoral é fundamental para o diagnóstico, mas não é suficiente para eliminar o vírus do organismo, pois o BLV integra seu DNA ao genoma do hospedeiro, estabelecendo-se como um provírus latente nos linfócitos B (RAJÃO et al., 2021). A maioria dos animais infectados permanece clinicamente assintomática, mas cerca de 30% desenvolvem linfocitose persistente, caracterizada por um aumento crônico e não neoplásico da população de linfócitos B circulantes, o que representa uma resposta desregulada à infecção viral (JIMENEZ FILHO; VALLE, 2013). Em até 10% dos casos, ocorre progressão para linfossarcoma multicêntrico, uma forma neoplásica maligna associada à transformação celular induzida pela expressão viral (AGOTTANI et al., 2021).
2.6 SINAIS CLÍNICOS
A Leucose Enzoótica Bovina (LEB) apresenta manifestações clínicas variadas, que dependem da forma de evolução da doença no animal. A infecção pelo Bovine Leukemia Virus (BLV) pode evoluir de forma assintomática, benigna ou maligna, sendo que a maioria dos bovinos infectados permanece clinicamente normal ao longo da vida, o que dificulta o diagnóstico baseado apenas em observações clínicas (JIMENEZ FILHO; VALLE, 2013).
2.6.1 FORMA BENIGNA
A forma benigna da doença é caracterizada pela linfocitose persistente (LP), presente em aproximadamente 30% dos bovinos soropositivos. Ela consiste no aumento duradouro da população de linfócitos no sangue periférico, sem sinais clínicos aparentes e sem progressão tumoral visível (AGOTTANI et al., 2021). A LP é frequentemente diagnosticada apenas por meio de exames hematológicos, sendo considerada uma fase subclínica da doença (RAJÃO et al., 2021).
2.6.2 FORMA MALIGNA
A forma maligna da LEB manifesta-se por meio do desenvolvimento de linfossarcomas multicêntricos, que ocorrem em cerca de 5 a 10% dos animais infectados (AGOTTANI et al., 2021). Esses tumores afetam linfonodos periféricos e internos, bem como órgãos como coração, abomaso, útero, rins, fígado, medula espinhal e região retrobulbar (JIMENEZ FILHO; VALLE, 2013).
2.7 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da Leucose Enzoótica Bovina (LEB) é fundamental para a detecção precoce e o controle da disseminação do Bovine Leukemia Virus (BLV) nos rebanhos. Como a maioria dos animais infectados permanece clinicamente assintomática, os métodos laboratoriais são indispensáveis para a identificação de animais portadores (AGOTTANI et al., 2021).
2.7.1 DIAGNÓSTICO CLÍNICO
O diagnóstico clínico baseia-se na observação de sinais sugestivos da forma tumoral da doença, como aumento visível de linfonodos periféricos, exoftalmia, perda de peso e paresia dos membros posteriores (JIMENEZ FILHO; VALLE, 2013). No entanto, tais sinais só estão presentes em fases avançadas da doença, o que limita a eficácia do diagnóstico exclusivamente clínico (AGOTTANI et al., 2021).
2.7.2 DIAGNÓSTICO HEMATOLÓGICO
A avaliação hematológica pode revelar linfocitose persistente (LP), que está presente em cerca de 30% dos animais infectados. A LP é caracterizada por aumento sustentado do número de linfócitos por, pelo menos, três exames consecutivos com intervalo de 30 dias entre eles (RAJÃO et al., 2021). Embora útil, esse método não permite identificar todos os animais infectados, já que muitos não desenvolvem L
2.7.3 DIAGNÓSTICO HISTOPATOLÓGICO
Em casos suspeitos de linfossarcoma, especialmente quando há tumores visíveis ou aumento de linfonodos, podem ser realizadas biópsias para exame histopatológico. As amostras podem revelar infiltração linfocitária neoplásica, confirmando a forma tumoral da LEB (AGOTTANI et al., 2021). Esse método é especialmente importante quando os sinais clínicos são ambíguos ou quando se deseja confirmar o diagnóstico.
2.7.4 DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO
As provas sorológicas são as mais utilizadas para o diagnóstico de rotina da LEB, por permitirem a detecção de anticorpos contra o BLV. As principais técnicas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) são a Imunodifusão em Ágar Gel (IDGA) e o ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay) (AGOTTANI et al., 2021). O ELISA é mais sensível e pode ser utilizado em amostras de soro ou leite, o que facilita o monitoramento em larga escala.
2.8 TRATAMENTO E CONTROLE
Não existe tratamento antiviral específico ou vacina comercialmente eficaz disponível para a Leucose Enzoótica Bovina (LEB); por se tratar de uma doença viral com forma crônica e latente, as intervenções são majoritariamente de suporte e voltadas à prevenção e manejo sanitário (Wikipedia, 2025)
2.8.1 TERAPIA DE SUPORTE
Em casos com manifestações clínicas de linfossarcoma, o tratamento é sintomático, incluindo corticosteroides para aliviar sintomas – apesar de seu efeito imunossupressor, de risco no contexto viral – além de cuidados gerais de suporte, como hidratação, nutrição adequada e manejo humanizado, visando melhorar o bem-estar dos animais enquanto vivem com a doença (SciELO DF, 2025)
2.8.2 ESTRATÉGIAS DE MANFJO E BOAS PRÁTICAS
O controle da Leucose Enzoótica Bovina baseia-se principalmente na adoção de boas práticas de manejo, como o uso de agulhas e luvas descartáveis, desinfecção de instrumentos, pasteurização do colostro, controle de vetores hematófagos e segregação de animais positivos, medidas que reduzem significativamente a transmissão do vírus no rebanho (Lv et al., 2024).
2.9 PROFILAXIA
A profilaxia da Leucose Enzoótica Bovina baseia-se em medidas de biossegurança e testagem periódica, já que não há vacina ou tratamento eficaz. As principais ações incluem o uso de materiais descartáveis, desinfecção rigorosa de instrumentos, fornecimento de colostro pasteurizado, controle de vetores hematófagos e segregação ou manejo específico de animais positivos, o que permite reduzir a prevalência da infecção nos rebanhos sem necessidade de descarte em massa (IFAS‑UF, 2024).
2.10 NOTIFICAÇÃO
A Leucose Enzoótica Bovina (LEB) é uma doença de notificação obrigatória internacional, conforme estabelecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA, antiga OIE), devido ao seu impacto sanitário e econômico na bovinocultura (MAPA, 2023). No Brasil, a notificação é compulsória de acordo com a Instrução Normativa n.º 50/2013 do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), que inclui a LEB na lista oficial de doenças de interesse nacional, exigindo comunicação imediata à autoridade veterinária local, estadual ou federal sempre que houver confirmação da infecção (MAPA, 2023).
A obrigatoriedade da notificação visa garantir o monitoramento da circulação do vírus em rebanhos e permitir a adoção de medidas de contenção e controle, além de viabilizar o comércio seguro de animais e produtos de origem bovina no mercado interno e internacional (MAPA, 2023).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Leucose Enzoótica Bovina é uma doença viral crônica de ampla distribuição, com impacto econômico relevante, principalmente em rebanhos leiteiros. Sua evolução geralmente assintomática dificulta o diagnóstico precoce e favorece a disseminação do vírus, que se transmite principalmente por manejo inadequado e, em menor grau, por via vertical. A alta prevalência da infecção em várias regiões brasileiras evidencia a necessidade de medidas efetivas de controle. O diagnóstico laboratorial, especialmente por ELISA e PCR, associado a boas práticas de biossegurança, como o uso de materiais descartáveis e controle de colostro, são fundamentais para prevenir a propagação do BLV. Embora não exista vacina ou tratamento curativo, é possível reduzir a infecção nos rebanhos por meio de testagem, segregação e manejo adequado. A notificação obrigatória e a educação sanitária são pilares importantes para o controle da LEB no país.
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AGOTTANI, J. V. B. Et al. Leucose enzoótica bovina: diagnóstico, prevenção e controle. Curitiba: VP – Laboratório de Análises LTDA – Veterinária Preventiva, 2021.
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