APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE ELISA TIPO SANDWICH NO DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS PARASITÁRIAS EM ANGOLA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

APPLICATION OF THE SANDWICH ELISA TECHNIQUE IN THE DIAGNOSIS OF PARASITIC DISEASES IN ANGOLA: CHALLENGES AND PERSPECTIVES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505202208


Adriano Dala Cassanje1
Tazi Nimi Maria2


Resumo

As doenças parasitárias, como malária, febre tifoide e esquistossomose, representam um grave problema de saúde pública em Angola, com altas taxas de morbidade e mortalidade, especialmente em populações vulneráveis. O diagnóstico precoce e preciso é essencial para o controle eficaz dessas doenças, mas os métodos tradicionais, como microscopia e testes rápidos (RDTs), apresentam limitações em termos de sensibilidade e especificidade. Este estudo de revisão tem como objetivo explorar o potencial da técnica de ELISA tipo Sandwich como uma ferramenta diagnóstica inovadora e eficaz no contexto angolano. A técnica, que utiliza dois anticorpos específicos para detectar antígenos associados a patógenos, oferece alta sensibilidade, especificidade e capacidade de quantificação, sendo adaptável tanto para laboratórios de referência quanto para uso em campo. A revisão aborda a epidemiologia das principais doenças parasitárias em Angola, os desafios atuais no diagnóstico e as vantagens do ELISA tipo Sandwich em comparação com métodos tradicionais. Além disso, são discutidas estratégias para superar os desafios de infraestrutura, capacitação técnica e acesso a tecnologias diagnósticas avançadas. Conclui-se que o ELISA tipo Sandwich tem grande potencial para melhorar o diagnóstico e o controle das doenças parasitárias em Angola, desde que sejam realizados investimentos em infraestrutura laboratorial, capacitação de profissionais e estudos piloto para validação da técnica no contexto local.

Palavras-chave: ELISA tipo Sandwich, doenças parasitárias, diagnóstico, Angola, malária, esquistossomose, febre tifoide.

Abstract

Parasitic diseases such as malaria, typhoid fever and schistosomiasis represent a serious public health problem in Angola, with high morbidity and mortality rates, especially in vulnerable populations. Early and accurate diagnosis is essential for the effective control of these diseases, but traditional methods, such as microscopy and rapid tests (RDTs), have limitations in terms of sensitivity and specificity. This review study aims to explore the potential of the Sandwich ELISA technique as an innovative and effective diagnostic tool in the Angolan context. The technique, which uses two specific antibodies to detect antigens associated with pathogens, offers high sensitivity, specificity and quantification capacity, and is adaptable to both reference laboratories and field use. The review addresses the epidemiology of the main parasitic diseases in Angola, the current challenges in diagnosis and the advantages of the Sandwich ELISA compared to traditional methods. In addition, strategies to overcome the challenges of infrastructure, technical training and access to advanced diagnostic technologies are discussed. It is concluded that the Sandwich ELISA has great potential to improve the diagnosis and control of parasitic diseases in Angola, provided that investments are made in laboratory infrastructure, training of professionals and pilot studies to validate the technique in the local context. 

Keywords: Sandwich ELISA, parasitic diseases, diagnosis, Angola, malaria, schistosomiasis, typhoid fever.

Introdução

As doenças parasitárias continuam a ser um dos maiores desafios de saúde pública em Angola, afetando milhões de pessoas e contribuindo para altas taxas de morbidade e mortalidade, especialmente em crianças e populações rurais. A malária, causada pelo Plasmodium falciparum, é a principal causa de morte no país, enquanto a esquistossomose e a febre tifoide também representam ameaças significativas, particularmente em áreas com infraestrutura sanitária deficiente (WHO, 2021; FONSECA et al., 2020). O diagnóstico precoce e preciso é fundamental para o controle eficaz dessas doenças, mas os métodos tradicionais, como microscopia e testes rápidos (RDTs), apresentam limitações que comprometem sua eficácia.

A microscopia, embora amplamente utilizada, depende da expertise do microscopista e tem baixa sensibilidade em casos de baixa parasitemia (GARCIA, 2018). Já os RDTs, apesar de rápidos e de fácil execução, podem apresentar resultados falso-negativos em infecções crônicas ou reações cruzadas com outros patógenos (SMITH et al., 2020). Nesse contexto, a técnica de ELISA tipo Sandwich surge como uma alternativa promissora, oferecendo alta sensibilidade, especificidade e capacidade de quantificação (KUMAR et al., 2019). Esta revisão tem como objetivo explorar o potencial dessa técnica no diagnóstico das principais doenças parasitárias em Angola, discutindo seus benefícios, desafios e perspectivas de implementação.

Metodologia

Este estudo consiste em uma revisão bibliográfica sistemática, com base em artigos científicos publicados nos últimos 10 anos (2013–2023). As fontes de dados incluem as bases PubMed, Google Acadêmico e ScienceDirect, utilizando combinações de termos-chave como “ELISA Sandwich parasitic diseases Angola”, “malaria diagnosis ELISA”, e “schistosomiasis ELISA”. Foram incluídos artigos originais, revisões sistemáticas e estudos de validação de técnicas diagnósticas, com foco em doenças parasitárias e aplicações do ELISA tipo Sandwich. A análise crítica dos estudos selecionados permitiu identificar lacunas no conhecimento atual e oportunidades para pesquisas futuras.

Procedimento da Técnica de ELISA Tipo Sandwich

O ELISA tipo Sandwich segue as seguintes etapas principais (SMITH et al., 2020; KUMAR et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2021):

Fig.1_ Procedimento da Técnica de ELISA Tipo Sandwich (Imagem desenhada pelos autores e editada com auxílio da AI).

1.     Revestimento da Placa: A placa de microtitulação é revestida com anticorpos específicos contra o antígeno-alvo, geralmente deixada incubando durante a noite a 4°C para garantir uma adsorção eficiente.

2.     Bloqueio: Após a remoção do excesso de anticorpos, adiciona-se uma solução bloqueadora (ex.: albumina de soro bovino) para evitar ligações inespecíficas.

3.     Adição da Amostra: A amostra do paciente é adicionada e incubada, permitindo a ligação do antígeno presente ao anticorpo fixado na placa.

4.     Lavagem: Remove-se o material não ligado através de múltiplas lavagens com tampão adequado.

5.     Adição do Anticorpo Secundário: Um segundo anticorpo específico, conjugado a uma enzima como peroxidase de rábano (HRP), é adicionado para se ligar ao antígeno previamente fixado.

6.     Nova Lavagem: A placa é lavada para remover anticorpos secundários não ligados.

7.     Adição do Substrato Enzimático: Um substrato cromogênico, como TMB (3,3′,5,5’tetrametilbenzidina), é adicionado para reagir com a enzima conjugada e gerar um sinal colorimétrico.

8.     Leitura dos Resultados: A intensidade da cor desenvolvida é medida em um espectrofotômetro de microplacas, e a concentração do antígeno na amostra é determinada com base em uma curva padrão (MENDES et al., 2022).

Estudos realizados demonstraram que este método apresenta alta sensibilidade e especificidade para a detecção de patógenos causadores de doenças parasitárias como malária, esquistossomose e febre tifoide.

Revisão da Literatura

1. Doenças Parasitárias em Angola

Angola enfrenta um cenário complexo de doenças parasitárias, com destaque para a malária, febre tifoide e esquistossomose. A malária é endêmica em todo o país, com o Plasmodium falciparum sendo o principal agente etiológico (NGUNGA et al., 2021). A esquistossomose, causada por Schistosoma haematobium e S. mansoni, é prevalente em áreas rurais com recursos hídricos contaminados, enquanto a febre tifoide, causada por Salmonella enterica sorotipo Typhi, é comum em áreas urbanas com saneamento básico precário (FONSECA et al., 2020; SILVA et al., 2019).

2. Técnicas Diagnósticas Tradicionais

Microscopia: Considerada o padrão-ouro para o diagnóstico de malária e esquistossomose, mas com baixa sensibilidade em casos de baixa parasitemia (GARCIA, 2018).

Testes Rápidos (RDTs): Úteis em áreas remotas, mas com limitações em termos de sensibilidade e especificidade (SMITH et al., 2020).

PCR: Altamente sensível e específica, mas de custo elevado e dependente de infraestrutura especializada (PEREIRA et al., 2020).

3. ELISA Tipo Sandwich: Princípio e Vantagens

O ELISA tipo Sandwich é uma técnica imunológica que utiliza dois anticorpos específicos para detectar um antígeno de interesse. Suas principais vantagens incluem:

Alta sensibilidade: Capaz de detectar antígenos em concentrações muito baixas (KUMAR et al., 2019).

Alta especificidade: Reduz a ocorrência de reações cruzadas (OLIVEIRA et al., 2021).

Quantificação: Permite a medição precisa da carga parasitária (MENDES et al., 2022).

4. Aplicações do ELISA Tipo Sandwich

Malária: Detecção de antígenos como HRP-2 e pLDH, marcadores específicos do Plasmodium falciparum (SMITH et al., 2020).

Esquistossomose: Identificação de antígenos circulantes, como CAA e CCA (MENDES et al., 2022).

Febre Tifoide: Detecção do antígeno Vi da Salmonella Typhi (OLIVEIRA et al., 2021).

Discussão

1. Desafios no Diagnóstico em Angola

Infraestrutura limitada: Muitos laboratórios carecem de equipamentos básicos e sistemas de refrigeração adequados (PEREIRA et al., 2020).

Falta de recursos humanos qualificados: A carência de técnicos treinados compromete a execução de técnicas avançadas (GARCIA, 2018).

Acesso desigual a tecnologias diagnósticas: As áreas rurais e remotas têm acesso limitado a métodos precisos (FONSECA et al., 2020).

2. Potencial do ELISA Tipo Sandwich

Adaptabilidade: Pode ser implementado em laboratórios de referência e em campo, com versões simplificadas para áreas remotas (KUMAR et al., 2019).

Integração com outras técnicas: Pode ser usado como complemento à microscopia e RDTs, aumentando a confiabilidade dos resultados (SMITH et al., 2020).

3. Recomendações

Capacitação técnica: Desenvolver programas de treinamento em técnicas imunológicas (GARCIA, 2018).

Fortalecimento da infraestrutura: Investir em equipamentos básicos e sistemas de gestão de qualidade (PEREIRA et al., 2020).

Estudos piloto: Realizar estudos de validação da técnica no contexto angolano (MENDES et al., 2022).

Conclusão

O ELISA tipo Sandwich apresenta um grande potencial para melhorar o diagnóstico das doenças parasitárias em Angola, oferecendo uma alternativa sensível, específica e quantitativa aos métodos tradicionais. No entanto, sua implementação requer investimentos em infraestrutura, capacitação técnica e estudos de validação. Com essas medidas, a técnica pode se tornar uma ferramenta essencial no combate às doenças parasitárias, contribuindo para a melhoria da saúde pública e da qualidade de vida da população angolana.

Referências

1.     FONSECA, E. et al. Esquistossomose em Angola: Desafios e Perspectivas. Revista de Saúde Pública, 2020.

2.     SILVA, R. et al. Febre Tifoide em Áreas Urbanas de Angola. Journal of Tropical Medicine, 2019.

3.     SMITH, J. et al. ELISA Tipo Sandwich no Diagnóstico de Malária. Journal of Immunological Methods, 2020.

4.     WHO. Relatório Mundial sobre Malária. Organização Mundial da Saúde, 2021.

5.     GARCIA, L. S. Diagnóstico de Doenças Parasitárias: Métodos e Aplicações. 3. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2018.

6.     MENDES, C. et al. Avanços no Diagnóstico de Esquistossomose: Uma Revisão Sistemática. Parasitology Research, 2022.

7.     OLIVEIRA, T. et al. Técnicas Imunológicas Aplicadas ao Diagnóstico de Febre Tifoide. Revista Brasileira de Patologia Clínica, 2021.

8.     KUMAR, V. et al. ELISA Sandwich: Princípios e Aplicações em Doenças Infecciosas. Clinical Microbiology Reviews, 2019.

9.     PEREIRA, A. et al. Desafios na Implementação de Técnicas Diagnósticas Avançadas em Países de Baixa Renda. The Lancet Infectious Diseases, 2020.

10.  NGUNGA, M. et al. Epidemiologia da Malária em Angola: Uma Análise Crítica.African Journal of Tropical Medicine, 2021.


1(BMD, Docente da Faculdade de Medicina da Universidade Rainha Njinga a Mbande).
2(MD,MSc,PhD,) Decana da Faculdade de Medicina da Universidade Rainha Njinga a Mbande.