THE IMPORTANCE OF THE PEDAGOGICAL COORDINATOR IN THE DEVELOPMENT AND APPLICATION OF THE PEDAGOGICAL POLITICAL PROJECT IN THE SCHOOL UNIT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202506221639
Ilizete Milani1
Mílvio da Silva Ribeiro2
Resumo
O artigo trata da importância do coordenador pedagógico na construção, aplicação e avaliação do Projeto Político-Pedagógico (PPP) nas escolas. Com base em estudos da área, aponta-se a atuação desse profissional como mediador entre professores, equipe gestora e comunidade, a promover o diálogo entre teoria e prática no cotidiano escolar. É uma função que enfrenta, no entanto, desafios como resistência a mudanças, acúmulo de funções e falta de estrutura. Destaca-se, ainda, o papel do coordenador no incentivo à formação continuada dos docentes e na criação de espaços coletivos de reflexão sobre a prática pedagógica. Considera-se que sua atuação é essencial para a efetivação do PPP, contribuindo para uma gestão democrática e para a melhoria da qualidade da educação oferecida pela escola.
Palavras-chave: coordenador pedagógico; Projeto Político Pedagógico; gestão democrática; formação docente; cultura escolar reflexiva.
Abstract
The article deals with the importance of the pedagogical coordinator in the construction, application, and evaluation of the Political-Pedagogical Project (PPP) in schools. Based on studies in the area, the role of this professional as a mediator between teachers, the management team and the community is pointed out, promoting the dialogue between theory and practice in the school routine. It is a function that faces, however, challenges such as resistance to change, accumulation of functions and lack of structure. The role of the coordinator in encouraging the continuing education of teachers and in creating collective spaces for reflection on pedagogical practice is also highlighted. It is considered that its performance is essential for the effectiveness of the PPP, contributing to democratic management and to improving the quality of education offered by the school.
Keywords: pedagogical coordinator; Pedagogical Political Project; democratic management; teacher training; reflective school culture.
INTRODUÇÃO
A importância do coordenador pedagógico na elaboração, implementação e avaliação do Projeto Político Pedagógico (PPP) nas unidades escolares constitui um aspecto fundamental para a garantia de uma educação de qualidade, democrática e inclusiva. Este estudo busca compreender de que maneira o coordenador atua como mediador entre professores, gestores, comunidade escolar e as diretrizes institucionais, contribuindo para o fortalecimento de uma cultura escolar reflexiva e participativa.
O problema central que orienta esta pesquisa refere-se aos desafios enfrentados pelos coordenadores pedagógicos na operacionalização do PPP, considerando fatores como resistência às mudanças, escassez de recursos, sobrecarga de tarefas e dificuldades de gestão. A hipótese adotada sugere que a efetiva atuação do coordenador pedagógico, aliada à sua formação continuada e ao envolvimento colaborativo da comunidade escolar, pode superar tais obstáculos, promovendo melhorias na cultura escolar e na qualidade do ensino.
O objetivo geral do artigo é analisar o papel do coordenador pedagógico na articulação, desenvolvimento e avaliação do PPP, ressaltando suas contribuições para a gestão democrática e para a formação docente. Como objetivos específicos, busca-se identificar os desafios enfrentados por esses profissionais e refletir sobre as estratégias adotadas para promover práticas pedagógicas inovadoras e inclusivas.
A justificativa desta pesquisa reside na necessidade de evidenciar a importância do coordenador pedagógico como elemento central na elaboração de uma escola que promova autonomia, participação e reflexão contínua, elementos essenciais para uma educação de qualidade. Fundamentam-se nesta discussão autores como Libâneo (2001); Vasconcellos (2006); Veiga (2013) e Paro (2010), que colaboram para compreendermos os aspectos teóricos relacionados à gestão democrática, à cultura escolar reflexiva e à implementação de políticas pedagógicas participativas.
Nesse sentido, o Projeto Político-Pedagógico (PPP) constitui o eixo identitário da escola e orienta todas as suas decisões didático-organizativas; por isso, deve resultar de um processo dialógico que envolva docentes, gestores, estudantes e famílias, contemplando as necessidades e potencialidades concretas da comunidade escolar (Veiga, 2013; Stürmer, 2018).
Nisso, o coordenador pedagógico torna-se o elo entre teoria e prática: ao articular formações continuadas, estimular o trabalho colaborativo e alinhar o planejamento docente às diretrizes do PPP, esse profissional viabiliza a concretização dos princípios democráticos e a busca de uma aprendizagem significativa para todos (Lück, 2009; Libâneo, 2013).
Além disso, a efetividade do PPP depende de uma gestão participativa que reconheça o papel dos diferentes sujeitos, incorporando mecanismos de escuta, planejamento colegiado e avaliação constante — elementos indispensáveis a uma escola comprometida com a democracia e a qualidade social da educação (Paro, 2010; Sacristán, 2012).
A metodologia adotada envolve uma revisão bibliográfica de autores nacionais e internacionais especializados em gestão escolar, pedagogia e políticas educativas. A análise concentra-se na articulação entre teoria e prática, ressaltando a importância do papel do coordenador na construção de uma cultura escolar voltada à melhoria contínua e ao desenvolvimento de uma educação democrática.
O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: CONCEITOS E IMPORTÂNCIA
O Projeto Político-Pedagógico (PPP) é uma ferramenta essencial e importante para organizar e orientar a prática pedagógica em uma escola. Ele orienta a prática educativa, definindo as metas e referências que guiarão a prática pedagógica na escola, de acordo com a situação e as demandas da comunidade escolar. Segundo Veiga (2003), o PPP deve ser construído em conjunto, representando a identidade e os valores da escola e buscando coincidir com as necessidades e os desejos de alunos, professores, diretores e outros elementos da comunidade escolar.
A entrega de seu projeto político-pedagógico e a necessidade de estar alinhado às diretrizes educacionais públicas e às políticas públicas é um requisito, assim como a fidelidade à democracia e aos métodos de organização e criação de condições de um espaço educacional autônomo (suas próprias soluções, dentro de suas competências), participação e compartilhamento (tomada de decisões compartilhadas e obtenção de resultados) e autocontrole (monitoramento e avaliação com feedback) (Lück, 2019, p. 24).
O PPP não é apenas a construção de metas e objetivos educacionais, mas também o estabelecimento de um ambiente propício para os alunos na aprendizagem e desenvolvimento. Libâneo (2004) considera o PPP como um processo dinâmico que deve ser revisitado e revisado em vista de sua efetiva implementação. Por esta razão, o PPP deve ser entendido como um instrumento de mudança da realidade na educação, pois, a partir deste, se desenham os princípios, valores e metas que orientam o processo educativo. Nas palavras de Vasconcellos (2019), o valor do PPP não está no fato de ser um documento que excede o caráter de instrumento administrativo, mas sim um guia pedagógico, tendo em vista a garantia da qualidade do ensino, inclusão e o respeito às diversidades presentes no espaço escolar.
Um projeto será tanto melhor quanto mais estiver articulado à realidade dos educandos, à essência significativa da área de saber, aos outros educadores (trabalho interdisciplinar) e à realidade social mais geral (Vasconcellos. 2022. p. 103).
O envolvimento da comunidade educativa na elaboração e avaliação do PPP deve também ser considerado. Para Sampaio e Lopes (2023), o PPP deve ser útil, de modo que seja o resultado de um processo democrático em que todos os atores da escola participem. Nesse processo, o coordenador pedagógico deve exercer o papel de mediador, estimulando ações de diálogo e reflexão entre alunos, professores, pais e a gestão, para que todos compreendam e se apropriem das propostas e objetivos estabelecidos pelo PPP.
O PPP não deve ser confiado em nenhum caso, pois se torna uma tática política, sendo empregado muitas vezes por gestores como, por exemplo, os diretores e coordenadores conservadores, com a intenção de manter o poder de forma autoritária, atendendo apenas às normas legais obrigatoriamente exigidas. É uma maneira de desconsiderar os pais, alunos e a comunidade no desenvolvimento do projeto. Isso é uma afronta à democracia, pois se opõe ao propósito principal do Projeto Político Pedagógico, cujo processo de construção ocorre a partir de uma perspectiva coletiva e democrática. Simultaneamente, vai contra a garantia da LDB (9393/96) […] e da gestão democrática, porque os professores são eventualmente desvalorizados, transformados, e os alunos e a comunidade também, em meros executores de tarefas pensadas por terceiros (Sampaio, Lopes. 2023, p. 29).
Assim, o Projeto Político-Pedagógico não deve ser considerado como se fosse um papel burocrático, mas sim como uma “hierarquia de prática pedagógica” na gestão escolar. A forma como é construído e utilizado depende do trabalho conjunto de toda a comunidade escolar, destacando-se o papel especificamente confiado ao coordenador pedagógico, que indica que o PPP realmente é um instrumento que guia a ação pedagógica, buscando qualidade e colabora para o desenvolvimento integral dos estudantes.
O Coordenador pedagógico na implementação do Projeto Político Pedagógico
O coordenador é um dos principais agentes da administração e gestão da unidade escolar, especialmente na divulgação e controle do Projeto Político-Pedagógico (PPP) da unidade escolar. Suas funções não são apenas monitorar as práticas de ensino, mas também mediar entre os diferentes aspectos da escola e promover a integração das ações educacionais com os princípios e metas do PPP. Como diz Vasconcellos (2006, p. 84), coordenador tem a função de “mediador”, tornando-se um elemento de intermédio da articulação entre a política educacional e as práticas pedagógicas diárias. Tal mediação consiste em auxiliar a equipe docente na elaboração, com base e suplementarmente ao PPP, das estratégias de ensino para buscar uma gestão participativa e democrática. De fato, o coordenador educacional ocupa um lugar estratégico na gestão educacional e suas ações influenciarão o sucesso da implementação do PPP.
[…] mediar o saber, o saber fazer, o saber ser e o saber agir do professor. Essa atividade mediadora se dá na direção da transformação quando o coordenador considera o saber, nas experiências, os interesses e o modo de trabalhar do professor, bem como criar condições para questionar essa prática e disponibiliza recursos para modificá-lo com a introdução de uma proposta curricular inovadora e a formação continuada voltada para o desenvolvimento de suas múltiplas dimensões (Almeida. 2011, p. 75).
O papel mediador dos líderes pedagógicos e do coordenador educacional, da mesma forma, deve promover a participação ativa dos professores no desenvolvimento e execução das práticas pedagógicas, nas quais a equipe se torna responsável pela implementação do PPP. Para isso, o coordenador deve estimular ambientes de formação continuada e reflexão, para que os professores possam avaliar as práticas e organizar-se para convergir seus objetivos com as condicionalidades impostas pelo PPP. Nesse sentido, o coordenador educacional também assume o papel de acompanhar, supervisionar e avaliar as ações pedagógicas, observando os objetivos definidos pelo PPP. Veiga (2003) argumenta que é importante assegurar a supervisão contínua da implementação do PPP para apoiar a eficácia desta ferramenta e realizar alterações e ajustes quando necessário, enquanto a rotina escolar está em andamento. É o coordenador educacional quem deve estruturar e sistematizar a coleta de informações em relação aos níveis de conquista dos alunos e à eficácia das experiências pedagógicas realizadas, além da atuação da comunidade escolar nessas ações, fruto do que foi captado, promovendo a verificação e melhoria.
Flexibilidade e adaptabilidade são competências-chave para este papel, pois o coordenador educacional está exposto a uma variedade de contextos e situações, tanto administrativas quanto educacionais. Sampaio e Lopes (2023) pondera que o coordenador educacional deve propiciar a gestão democrática e participativa, buscando a participação da comunidade educacional. Isso significa ouvir as demandas de professores e alunos e levar em consideração suas opiniões e experiências na implementação do PPP. Essa abordagem compartilhada constrói a coesão da equipe escolar e um ambiente de aprendizado eficaz dedicado ao PPP.
Para haver essa construção é de fundamental importância o trabalho coletivo de todos que fazem parte da comunidade escolar, inclusive do coordenador pedagógico que se torna uma figura importantíssima no processo de sensibilização, construção e acompanhamento do PPP da escola (Sampaio e Lopes. 2023. p. 28)
Consequentemente, o coordenador desempenha um papel fundamental na criação de um sentimento positivo em uma escola onde todos os membros da comunidade escolar possam participar. Schön (1983) sugere que a práxis reflexiva e a gestão participativa são necessárias para o desenvolvimento de uma escola que se torna um ambiente de aprendizagem de qualidade. Mantendo seu dever de líder dotado de liderança instrucional e gestor de relações humanas, para aprender, o coordenador educacional poderia realizar a efetivação do PPP do organismo e a adição da qualidade da educação.
DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NA IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
O PPP em uma unidade escolar é um processo dinâmico que é difícil e está sujeito a vários desafios, o que exige a participação conjunta de todos os membros da comunidade escolar. Todos esses determinantes, já que o coordenador pedagógico é principalmente o condutor também dessa implementação, representam vários desafios para que o projeto seja concretizado de forma eficaz e sua proposta pedagógica atinja as metas propostas.
As dificuldades enfrentadas pelo Coordenador pedagógico para implementar o PPP (Projeto Político-Pedagógico) são muitas e variam de estruturais e organizacionais a pedagógicas. Uma das principais barreiras é a oposição de parte da equipe escolar às mudanças e aos novos esforços educacionais, que podem ser vistos como determinações ou distantes da realidade da escola. A aversão às mudanças é uma consequência da ausência de uma cultura de reflexão crítica e da dificuldade de readequar práticas estabelecidas (Libâneo, 2004). Para o coordenador pedagógico, o desafio dessa resistência exige liderança e a capacidade de envolver a equipe em um processo aberto de formação e reflexão.
Além disso, o PPP pode ser complicado por problemas relacionados à infraestrutura da escola, como a falta de recursos (materiais e humanos) para desenvolver as ações delineadas. A oferta de equipamentos e infraestruturas pode visar ao desenvolvimento dos objetivos pedagógicos e melhorar o ambiente de aprendizagem, pois equipamentos e recursos são necessários para a implementação de novos métodos e para estimular ambientes de aulas ativas (Veiga, 2003). Assim, o coordenador escolar deve ser capaz de negociar com a gestão para que as condições materiais sejam estabelecidas conforme necessário para a execução do PPP e buscar alternativas de ajustamento das atividades a partir da realidade da comunidade escolar.
Uma outra questão é o alinhamento do PPP com a política educacional, seja estadual ou federal. É muito comum que o coordenador pedagógico tenha dificuldade em sincronizar as diretrizes do PPP com as demandas externas ao projeto pedagógico, que podem estar desconectadas da realidade escolar. Lück (2009) destaca que é necessário ter um coordenador pedagógico com uma visão crítica e estratégica da área de educação para que o PPP atenda efetivamente à política pública e, ao mesmo tempo, não renuncie a sua identidade e flexibilidade diante das demandas locais.
O coordenador pedagógico tem uma importância decisiva para possibilitar a superação dessas dificuldades e para a implementação do PPP. Isto se refere ao processo de mediação e coordenação de todas os indivíduos que participam da comunidade escolar, para que as ações pedagógicas sejam realizadas com coordenação e alcancem os objetivos do previstos no PPP. De modo que o coordenador pedagógico se apresenta como um agente importante no estímulo à integração da proposta pedagógica com a realidade escolar, de modo que o que é praticado se baseie na proposta do PPP, mas adaptado às exigências e características dos alunos e da comunidade escolar (Vasconcellos, 2019).
Outra contribuição é a promoção da gestão democrática pelo coordenador pedagógico. Conforme Colombini e Rivas (2024), para que o PPP funcione, é importante que, na construção da proposta (projeto) e na sua escolha para implementação, toda a comunidade esteja ativamente envolvida, incluindo todos os membros que trabalham na escola.
O coordenador pedagógico ou professor coordenador supervisiona, acompanha, assessora, avalia as atividades pedagógico-curriculares. Sua atribuição prioritária é prestar assistência pedagógico-didática aos professores em suas respectivas disciplinas, no que diz respeito ao trabalho interativo com os alunos. […]. Outra atribuição que cabe ao coordenador pedagógico é o relacionamento com os pais e a comunidade, especialmente no que se refere ao funcionamento pedagógico-curricular e didático da escola e comunicação e interpretação da avaliação dos alunos (Libâneo, 2001, p. 42).
Nesse sentido, cabe ao coordenador pedagógico promover um diálogo aberto entre professores, alunos, pais e gestores para que possam expor suas ideias ou opiniões. Este papel ativo de participação reforça o compromisso da equipe escolar com os objetivos do PPP e concebe um contexto cooperativo de aprendizagem. Somado a isso, a formação continuada dos professores é uma das atribuições fundamentais do coordenador pedagógico na execução do PPP. Fullan (2014) sugere que a formação docente deve ser considerada como um processo de aprendizagem ao longo da vida que possibilita aos professores refletirem e melhorarem seu trabalho pedagógico e buscarem inovações para que possam satisfazer as expectativas dos alunos.
O coordenador pedagógico deve planejar e motivar os professores a participarem de eventos de formação, encontros pedagógicos, oficinas e palestras para atualizar e desenvolver a metodologia de ensino baseada nos princípios do PPP.
Outra contribuição significativa do coordenador pedagógico é a avaliação contínua da implementação do PPP, que para Libâneo (2004), o monitoramento e a avaliação são contínuos e são definidos para verificar se as ações pedagógicas estão sendo implementadas de acordo com o planejamento definido no PPP. Devendo ainda, buscar articular o papel de todos os agentes da escola na avaliação, para que possam realizar ajustes no trabalho pedagógico. Permitindo identificar progressos e impedimentos no processo da prática escolar e promovendo ajustes nas estratégias pedagógicas para enfrentar os desafios da escola.
A contribuição do coordenador pedagógico na construção de uma cultura escolar de reflexão e melhoria contínua
O estabelecimento da cultura escolar em torno da reflexão e da melhoria contínua é uma das partes do trabalho do coordenador pedagógico na implementação do PPP. Segundo Schön (1983), a ponderação sobre a prática pedagógica é uma das colunas tanto do desenvolvimento profissional do professor quanto do aprimoramento da qualidade na educação.
Nesse tipo de trabalho, a comunidade escolar deve incentivar os professores a refletirem sobre sua prática, compartilharem suas experiências e buscarem soluções criativas para as dificuldades encontradas na sala de aula. Esse movimento periódico de reflexão deve estar relacionado aos princípios do PPP e antever que as práticas pedagógicas permaneçam sempre em conformidade com a proposta educacional da escola. Basilar no processo de reflexão está a competência dos professores de examinarem o impacto de seu exercício na aprendizagem dos estudantes, conduzindo a uma cultura de melhoria contínua e à busca pela excelência educacional.
DESAFIOS NA ATUAÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO
Partindo do princípio da importância do coordenador pedagógico no papel de articulador no Projeto Político Pedagógico da unidade do conselho escolar de ensino fundamental, pondera-se que esse cargo enfrenta um conjunto de desafios que podem eventualmente comprometer a qualidade da educação e o sucesso do PPP. Os desafios enfrentados pelo coordenador pedagógico na realidade escolar, os problemas estruturais e as demandas do corpo docente e da gestão escolar serão o foco da discussão neste capítulo.
O coordenador pedagógico, como uma função de mediação entre professores, alunos e entre alunos e gestão escolar para o bom desempenho das atividades pedagógicas, está constantemente em situação de conflitos interpessoais que precisam ser resolvidos. Tais conflitos podem acarretar divergências nos métodos de ensino, entre o relacionamento do corpo docente, e entre este último e a administração. De acordo com Libâneo (2004), a gestão dos conflitos escolares exige o uso da comunicação e da liderança na busca de soluções que beneficiem os interesses de todos os participantes. O coordenador pedagógico deve ser capaz de lidar com essas questões de forma compassiva, buscar uma solução pacífica que não prejudique o ambiente escolar e a equipe. Isso requer uma abordagem conciliatória e um ambiente de confiança e cooperação onde diferentes opiniões sejam respeitadas.
As políticas estaduais e federais relacionadas à educação são fluidas e dinâmicas. Essas mudanças exigem que o coordenador pedagógico se mantenha atualizado e seja capaz de revisar o PPP da escola diante dos novos indicadores e das novas exigências para a educação. Mas a adaptação pode ser abstrusa, especialmente quando as mudanças políticas não se alinham com a experiência da escola, ou quando as diretrizes são pouco claras. Deve prevalecer a flexibilidade do coordenador pedagógico nesse processo, pois incorpora a proposta pedagógica da escola de acordo com as necessidades dos grupos, dos alunos e dos professores sem perder de vista os princípios e valores do PPP (Vasconcellos, 2019). Além disso, o coordenador deve ter a maturidade para olhar criticamente para as políticas educacionais dominantes e ser capaz de defender ajustes que respeitem a vocação da escola e as verdadeiras demandas dos alunos.
A resistência às mudanças propostas pelo PPP ou a novas metodologias pedagógicas também surge como um problema contínuo para o trabalho do coordenador pedagógico. Tal resistência pode ter uma diversidade de causas, desde a falta de fé nas propostas até a quantidade de trabalho para implementá-las, passando pela necessidade de se acostumar a ensinar e aprender de novas maneiras. De acordo com Lück (2009), a resistência à mudança é realmente uma ocorrência natural no processo de inovação e transformação, e que tende a ser mais intensa em climas escolares com tradições enraizadas.
Nesse sentido, o coordenador pedagógico deve adotar o papel de agente de mudança, incentivando a preparação contínua dos professores e oferecendo o suporte necessário para que eles se sintam não apenas inclinados, mas também preparados para adotar novas práticas de ensino. A resistência dos professores pode ser gerida através do engajamento no processo de construção e implementação de mudanças por meio de trabalho colaborativo, sentindo-se assim parte da mudança e percebendo como essas ações contribuem para o desenvolvimento do aprendizado dos alunos.
Além das dimensões pedagógicas, o coordenador pedagógico tem tarefas administrativas que sobrecarregam sua prática. Muitas escolas obrigam os coordenadores a desempenharem funções administrativas, como redigir relatórios, gerenciar documentos escolares e organizar eventos. Esse descomedimento de tarefas pode levar a menos tempo e energia para o trabalho pedagógico significativo, como discutido acima, e restringir a possibilidade de trazer o PPP para a prática docente. Um dos desafios para os coordenadores pedagógicos é, de acordo com Alarcão (2011), precisamente a separação do tempo entre o trabalho administrativo e pedagógico. A gestão escolar é importante; no entanto, o coordenador deve organizar seu papel, tentando delegar atividades não pedagógicas, para que o PPP e a supervisão se tornem uma prioridade e sigam o acompanhamento pedagógico da equipe docente. Para tanto, estratégias são necessárias.
Figura 1 – Estratégias de Coordenação Pedagógica
Fonte: Elaboração dos autores (2025)
A Figura 1 apresenta uma matriz que organiza diferentes estratégias de atuação do coordenador pedagógico a partir de dois eixos analíticos: o da aplicabilidade e o da concretude. No eixo horizontal, identifica-se a variação entre baixa e alta aplicabilidade, indicando o grau de transferência prática das ações propostas para o cotidiano escolar. Já o eixo vertical expressa a concretude das estratégias, variando de abordagens mais abstratas e conceituais até práticas operacionais bem definidas.
No quadrante superior esquerdo, observam-se os estudos de caso detalhados, caracterizados por alta concretude e baixa aplicabilidade. Esses estudos oferecem uma descrição aprofundada de experiências educativas reais, possibilitando uma rica análise reflexiva. No entanto, exigem grande adaptação para serem implementados em outros contextos, o que limita sua aplicabilidade imediata. Ainda que forneçam insights valiosos, seu uso demanda mediação crítica por parte do coordenador pedagógico.
No quadrante superior direito, destacam-se as ações de implementação de workshops práticos. Trata-se de estratégias com elevada concretude e alta aplicabilidade, pois envolvem atividades com roteiros claros, materiais definidos e metodologias voltadas à prática docente. Essa categoria representa o ponto de maior impacto direto na formação de professores, por promover experiências de aprendizagem significativas e transferíveis para o ambiente escolar.
Já no quadrante inferior esquerdo localizam-se as discussões teóricas, que apresentam baixa concretude e baixa aplicabilidade. Essas discussões são fundamentais para o embasamento conceitual das ações pedagógicas, proporcionando fundamentos sobre currículo, gestão democrática, processos de ensino e aprendizagem, entre outros. Apesar de não oferecerem soluções imediatas, são indispensáveis para a construção de uma visão crítica e reflexiva sobre a prática educativa.
No quadrante inferior direito, encontram-se as estratégias de enfrentamento, marcadas por baixa concretude e alta aplicabilidade. Esses procedimentos envolvem ações generalistas voltadas à resolução de conflitos escolares, ao apoio socioemocional e à mediação de situações cotidianas. Embora não detalhem procedimentos técnicos, apresentam-se como soluções de fácil adoção diante de desafios frequentes no ambiente escolar.
A análise da matriz evidencia a importância de um equilíbrio entre ações teóricas e práticas, bem como entre estratégias abstratas e concretas. Para uma coordenação pedagógica eficaz, recomenda-se a articulação entre os quatro quadrantes, de modo a garantir tanto a fundamentação teórica quanto a operacionalização prática das ações. Dessa forma, o coordenador pedagógico poderá atuar como mediador entre as demandas da escola, o desenvolvimento docente e a efetivação do Projeto Político-Pedagógico.
A estrutura escolar e a existência de recursos são variáveis que influenciam na operacionalização do PPP e na tendência do desempenho do coordenador pedagógico. A indisponibilidade de materiais de ensino e aprendizado suficientes, espaços de aprendizado adequados e tecnologia podem atuar como barreiras à implementação das atividades pedagógicas planejadas, o que, por sua vez, afeta a qualidade da educação fornecida. A carência de recursos materiais e tecnológicos é apontada por Libâneo (2004) como um dos aspectos que frequentemente surge como barreira à inovação pedagógica e à operacionalização apropriada do PPP.
O coordenador, apesar de ter um papel relevante na administração de tais recursos, enfrenta dificuldades em pontuar soluções em situações sem financiamento e apoio institucional. Quando isso acontece, o coordenador trabalhará com a administração escolar para ajudar a encontrar outras opções, como parcerias com a comunidade local ou empresas, para atender às solicitações das escolas.
Além disso tem-se a avaliação da aprendizagem dos alunos e a análise contínua das práticas pedagógicas é uma função direta do coordenador pedagógico. A avaliação do PPP, importante para avaliar corretamente a eficiência do PPP, pode, no entanto, tornar-se delicada devido à sua dependência de instrumentos adequados, coleta coerente de dados e análise objetiva das informações obtidas. Esta é uma tarefa que consome tempo e exige atenção, além de exigir o envolvimento dos professores na reflexão sobre sua própria prática pedagógica.
Como afirma Fullan (2014), o líder pedagógico deve monitorar as práticas em andamento e fornecer direções para o refinamento contínuo do PPP em resposta às necessidades escolares e dos alunos. Mas a avalanche de atividades e a falta de suporte não favorecem a realização de avaliações eficazes, resultando na baixa qualidade da avaliação pedagógica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo reafirma o papel central do coordenador pedagógico como agente articulador no desenvolvimento, implementação e avaliação do Projeto Político-Pedagógico (PPP), destacando sua relevância para a consolidação de uma educação de qualidade, democrática e inclusiva. Ao retomar a problemática que orientou a investigação — os desafios enfrentados pelos coordenadores na operacionalização do PPP — evidenciou-se que obstáculos como a resistência às mudanças, a sobrecarga de atribuições, as limitações estruturais e a escassez de recursos materiais e humanos comprometem significativamente a atuação desse profissional e, por consequência, a efetividade do próprio projeto pedagógico institucional.
A análise das seções que compõem este trabalho permite compreender com maior profundidade a amplitude e a complexidade da função do coordenador pedagógico. A fundamentação teórica inicial posiciona esse sujeito como elo entre a teoria e a prática, assumindo um papel estratégico na mediação entre os diversos atores da escola. Ressalta-se, nesse contexto, a importância da gestão democrática e da construção de uma cultura escolar reflexiva como elementos constitutivos de sua prática. Esse embasamento cumpre o objetivo de valorizar a atuação do coordenador como figura chave na condução dos processos educativos e organizacionais.
A seção dedicada aos desafios enfrentados pela coordenação pedagógica revela um panorama abrangente das barreiras cotidianas, que incluem desde os conflitos interpessoais e tensões nas relações de trabalho até os entraves administrativos e operacionais. Essa realidade multifacetada aponta para a necessidade urgente de reequilibrar as dimensões pedagógicas e burocráticas da função, de modo que o coordenador possa exercer sua liderança com maior autonomia e foco nas ações formativas.
Além disso, a discussão em torno da contribuição do coordenador para a consolidação de uma cultura de reflexão permanente evidencia sua responsabilidade no fomento à autoavaliação docente e à busca coletiva por qualidade educacional. Essa atuação está em sintonia com os princípios norteadores do PPP, reforçando a importância do trabalho colaborativo e da corresponsabilidade entre os sujeitos que compõem a comunidade escolar. A avaliação crítica dos recursos disponíveis e das condições de infraestrutura também se apresenta como ponto sensível, demonstrando que, sem meios adequados, a concretização das ações planejadas torna-se limitada, exigindo criatividade, articulação de parcerias e iniciativas inovadoras para a superação de tais dificuldades.
Diante dos achados, vislumbra-se a possibilidade de ampliação do debate por meio de novas investigações, que poderão abordar temas como: práticas exitosas de coordenação pedagógica em diferentes realidades escolares; impactos da formação continuada na qualidade do PPP; níveis de participação da comunidade na construção e reformulação do projeto pedagógico; e o uso de tecnologias digitais como ferramentas de apoio à gestão e ao acompanhamento pedagógico em contextos marcados pela precariedade de recursos.
Conclui-se, portanto, que o coordenador pedagógico constitui um pilar indispensável para a integração, efetivação e avaliação do PPP. Sua atuação, ao articular saberes, pessoas e processos, contribui de maneira decisiva para a construção de uma escola mais justa, participativa e comprometida com a formação integral dos estudantes. Nesse sentido, é imperativo que seu trabalho seja reconhecido, valorizado e apoiado pelas políticas institucionais, garantindo as condições necessárias para o pleno exercício de sua função formadora e transformadora no espaço escolar.
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1Mestre em Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales – FICS. Pedagoga e Psicopedagoga pela Universidade Paranaense – UNIPAR
Doutoranda pela FICS.
E-mail: ilizetemilani2016@gmail.com,
lattes: https://lattes.cnpq.br/4875292116462382
2Doutor em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará – PPGEO/UFPA. Professor na Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel – FATEFIG, e da Facultad Interamericana de Ciencias Sociales – FICS. Pedagogo; Geógrafo, E-mail: milvio.geo@gmail.com, Lattes: https://lattes.cnpq.br/9542173320344070; Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1118-7152
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1118-7152.