A BASE GENÉTICA DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA.  

THE GENETIC BASIS OF AUTISM SPECTRUM DISORDER. 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202506041054


Brenda de Oliveira Corrêa1
Julia Cabral Cordeiro Mattos1
Maria Helena Durães Alves Monteiro2


RESUMO

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta áreas como a comunicação, a interação social  e o comportamento. Sua etiologia é multifatorial, envolvendo fatores ambientais  e genéticos, sendo estes últimos cada vez mais reconhecidos como  determinantes na predisposição ao transtorno. Avanços na genômica têm  permitido a identificação de variantes genéticas associadas ao TEA, incluindo  mutações de novo e alterações em genes ligados ao desenvolvimento  neuronal. A incorporação desses marcadores genéticos ao processo  diagnóstico tem sido explorada como uma abordagem complementar à  avaliação clínica, possibilitando maior precisão na detecção precoce. Para  investigar essa relação, foi realizada uma revisão integrativa da literatura na  base Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), considerando artigos publicados entre  os anos de 2020 e 2025. Os achados demonstram que variantes genéticas  raras e comuns desempenham um papel significativo na etiologia do TEA, com  destaque para genes envolvidos na formação e manutenção sináptica, como  SHANK3, NRXN1 e as neuroliginas. A análise também evidenciou a relevância  de mutações de novos polimorfismos específicos e alterações epigenéticas  como fatores contribuintes para a manifestação fenotípica do transtorno. Além  disso, mais de 900 biomarcadores foram associados ao TEA, incluindo  variantes genéticas relacionadas a distúrbios do neurodesenvolvimento e à  modulação de neurotransmissores. Embora o uso clínico de biomarcadores genéticos ainda enfrente desafios éticos, técnicos e de acessibilidade, os  resultados indicam um potencial promissor para sua incorporação no  diagnóstico precoce e na personalização de intervenções. Conclui-se que o  aprofundamento da compreensão genética do TEA pode contribuir  significativamente para o desenvolvimento de estratégias diagnósticas mais  sensíveis, específicas e individualizadas, impactando positivamente o cuidado  e a qualidade de vida das pessoas com o transtorno.  

Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista, Marcadores Genéticos. 

ABSTRACT

Autism spectrum disorder (ASD) is a neurodevelopmental condition that affects  areas such as communication, social interaction, and behavior. Its etiology is  multifactorial, involving both environmental and genetic factors, with the latter  increasingly recognized as determinants in the predisposition to the disorder.  Advances in genomics have enabled the identification of genetic variants  associated with ASD, including de novo mutations and alterations in genes  linked to neuronal development. The incorporation of these genetic markers into  the diagnostic process has been explored as a complementary approach to  clinical evaluation, allowing for greater accuracy in early detection. To  investigate this relationship, an integrative literature review was conducted in  the Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) database, considering articles published  between the years 2020 and 2025. The findings demonstrate that both rare and  common genetic variants play a significant role in the etiology of ASD, with  emphasis on genes involved in synapse formation and maintenance, such as  SHANK3, NRXN1, and neuroligins. The analysis also highlighted the relevance  of de novo mutations, specific polymorphisms, and epigenetic changes as  contributing factors to the phenotypic expression of the disorder. Moreover, over  900 biomarkers have been associated with ASD, including genetic variants  linked to neurodevelopmental disorders and neurotransmitter modulation.  Although the clinical use of genetic biomarkers still faces ethical, technical, and  accessibility challenges, the results indicate a promising potential for their  incorporation into early diagnosis and personalized interventions. It is concluded  that a deeper understanding of the genetic basis of ASD may significantly  contribute to the development of more sensitive, specific, and individualized  diagnostic strategies, with a positive impact on the care and quality of life of  individuals with the disorder. 

Keywords: “Autism Spectrum Disorder”, “Genetic Markers”. 

1. INTRODUÇÃO

 O transtorno do espectro autista (TEA) foi descrito pela primeira vez na  década de 1940, quando os psiquiatras Leo Kanner e Hans Asperger  identificaram padrões comportamentais peculiares em crianças, incluindo  dificuldades na interação social, comunicação limitada e comportamentos repetitivos. Inicialmente considerado uma condição rara e homogênea, o TEA  passou a ser compreendido como um espectro amplo, com diferentes níveis de  comprometimento e manifestações clínicas variadas ao longo da vida (ROSEN,  LORD e VOLKMAR, 2021). 

Atualmente, o TEA é classificado como um transtorno do  neurodesenvolvimento, caracterizado por déficits na comunicação social e  padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos (American  Psychiatric Association, 2013). Os sintomas geralmente se manifestam nos  primeiros anos de vida e têm impacto significativo na funcionalidade do  indivíduo. Portanto, o diagnóstico precoce é fundamental para viabilizar  intervenções que promovam o desenvolvimento da criança e melhorem sua  qualidade de vida (Lord et al., 2018). 

Tradicionalmente, o diagnóstico do TEA é baseado exclusivamente em critérios  clínicos observacionais, que incluem a aplicação de escalas padronizadas de  avaliação do comportamento e entrevistas com os cuidadores. Embora esses  instrumentos sejam validados e amplamente utilizados, sua aplicabilidade pode  ser limitada, especialmente em apresentações atípicas ou na presença de sintomas leves. Tais limitações podem atrasar a identificação precoce e  comprometer a oportunidade de intervenções mais efetivas (LORD et al.,  2018). 

Nesse contexto, cresce o interesse pela investigação de marcadores  biológicos, especialmente genéticos, que possam complementar o diagnóstico  clínico e permitir intervenções mais direcionadas e eficazes. A genética vem se  destacando como um dos campos mais promissores na busca por explicações  etiológicas para o TEA, diante da evidência de que o transtorno possui alta  herdabilidade, estimada entre 64% e 91% (TICK et al., 2016). 

Embora o avanço nas tecnologias de sequenciamento genético tenha  proporcionado importantes descobertas acerca das bases biológicas do TEA,  ainda persistem desafios para a aplicação clínica desses achados. A  heterogeneidade genética e fenotípica do transtorno demanda a ampliação e o  aprofundamento das investigações, de modo a identificar os principais genes  implicados e avaliar a viabilidade do uso clínico de biomarcadores genéticos  como ferramentas auxiliares no diagnóstico precoce e na personalização das  intervenções terapêuticas. 

Desse modo, compreender a base genética do TEA não se resume ao  aprofundamento do conhecimento sobre sua origem, mas representa uma  estratégia fundamental para transformar os paradigmas diagnósticos e  terapêuticos relacionados ao transtorno.

Diante desse panorama, este estudo tem como objetivo identificar os genes  com maior evidência científica associados ao TEA, bem como avaliar o  potencial de aplicação clínica dos biomarcadores genéticos no diagnóstico  precoce. A partir da análise da literatura atual, busca-se compreender as  implicações genéticas mais relevantes e discutir como tais achados podem  contribuir para uma abordagem diagnóstica mais eficaz, precoce e  individualizada. 

2. METODOLOGIA 

O estudo consiste em uma revisão integrativa da literatura, realizada na  base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando os descritores  “Transtorno do Espectro Autista” e “Marcadores Genéticos”, combinados pelo  operador booleano “AND”. Foram incluídas revisões de literatura publicadas  nos últimos cinco anos (2020-2025), disponíveis nos idiomas espanhol, inglês e português, e excluídos estudos duplicados ou que não se enquadravam no  tema. A seleção dos artigos foi baseada na análise de títulos, resumos e textos  na íntegra, seguida da extração e síntese descritiva dos dados, com o objetivo  de identificar os marcadores genéticos mais associados ao Transtorno do  Espectro Autista. 

3. RESULTADOS  

A busca realizada na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) resultou em um total  de 35 artigos. Após a aplicação dos critérios de inclusão — publicações dos  últimos cinco anos — o número de artigos elegíveis reduziu-se para 13. Em  seguida, foram excluídos os artigos que não se enquadravam na temática  proposta. Ao final do processo, foram selecionados nove artigos que  compuseram a amostra desta revisão integrativa, conforme apresentado na  igura 1: 

Figura 1: Sistematização dos resultados obtidos na revisão de referências  bibliográficas na base de dados BVS.

Fonte: Julia Cabral C. Mattos (2025).

Como mencionado na tabela acima, a presente revisão integrativa analisou  nove estudos científicos que investigaram a base genética do Transtorno do  Espectro Autista (TEA), com ênfase na identificação de genes de risco,  variantes genéticas associadas e o potencial uso clínico de biomarcadores no  diagnóstico precoce. 

Inicialmente, destaca-se que causas genéticas podem ser identificadas em  aproximadamente 20% a 25% dos casos de TEA, especialmente envolvendo  mutações de novo, variantes estruturais e alterações epigenéticas. Essas  alterações frequentemente envolvem genes associados à homeostase e à  plasticidade sináptica, como os genes SHANK2/3, NRXN1 e as neuroliginas  NLGN2 e NLGN4X. Esses genes participam de vias críticas relacionadas à  síntese e degradação de proteínas, remodelação da cromatina e função  sináptica. Além disso, a elevada herdabilidade do TEA é amplamente  reconhecida, com taxas de concordância em gêmeos monozigóticos que  podem alcançar até 98% e variam de 40% a 60% em gêmeos dizigóticos,  evidenciando a expressiva contribuição genética na etiologia do transtorno  (GAONA, 2024).

Diversos genes associados ao desenvolvimento sináptico e à comunicação  neuronal foram implicados na fisiopatologia do transtorno do espectro autista  (TEA). Mutações nos genes SHANK3, NRXN1, NLGN3, entre outros,  demonstraram impacto funcional direto na formação e manutenção de sinapses  excitatórias, resultando em alterações na conectividade neural e prejuízos nos  comportamentos sociais e comunicativos típicos do transtorno. Tais variantes  genéticas, especialmente quando ocorrem como mutações de novo ou afetam  os reguladores da expressão gênica, reforçam a hipótese de que disfunções  sinápticas estão entre os principais mecanismos biológicos subjacentes ao TEA  (Brueggeman et al., 2020). 

Adicionalmente, foram identificados mais de 940 biomarcadores relacionados  ao TEA. Como afirmam MADDALON; MINISSI; ALCAÑIZ (2025), “a  combinação de mutações raras de alto impacto com variantes comuns de  pequeno efeito contribui significativamente para o risco genético do TEA”. Além  das alterações genéticas, destaca-se o papel de biomarcadores moleculares  relacionados a sistemas de neurotransmissores, como serotonina, dopamina e  ácido gama-aminobutírico (GABA), bem como a presença de anormalidades  hormonais, incluindo níveis atípicos de melatonina e alterações no fator  neurotrófico derivado do cérebro (BDNF). 

Ademais, em um estudo de ampla análise genômica, foram examinados mais  de 650 mil marcadores genéticos, identificando-se 72 variantes comuns  associadas ao TEA. Essas variantes estavam localizadas em diversas regiões  do genoma, como regiões regulatórias, untranslated regions (UTRs) e  intergênicas, ilustrando a complexidade da arquitetura genética do transtorno.  Além disso, foram destacadas as Copy Number Variants (CNVs) e as mutações  de novo como mecanismos relevantes. A integração dos genes identificados  em redes de interação proteína-proteína (PPI) evidenciou que as variantes  influenciam o risco por meio de vias específicas de sinalização, reforçando a  multifatorialidade da etiologia do TEA (PERFILYEVA et al., 2022). 

No contexto das manifestações fenotípicas específicas, foi investigada a  associação entre o polimorfismo rs2710102 do gene CNTNAP2 e a capacidade  de linguagem receptiva em crianças com TEA. O estudo demonstrou que  portadores do alelo A apresentaram capacidade significativamente reduzida de  linguagem receptiva, mesmo na ausência de atraso global no desenvolvimento  da linguagem. Esse achado sugere que o rs2710102 pode atuar como  biomarcador genético para déficits específicos de linguagem em indivíduos  com TEA. Além disso, destacou-se que esse polimorfismo pode exercer seu  efeito em combinação com outros genes relacionados ao autismo, o que  reforça a ideia da interação entre múltiplos fatores genéticos na determinação  do fenótipo do TEA (SHIOTA et al., 2022). 

A investigação da base genética do TEA também tem demonstrado um  envolvimento significativo de variantes patogênicas em genes associados a  distúrbios do neurodesenvolvimento, especialmente em casos de autismo com  regressão. Em um estudo que avaliou 134 crianças com TEA regressivo, o  sequenciamento de próxima geração identificou variantes relevantes em genes como GRIN2A, MECP2, CDKL5, SCN1A, PCDH19, UBE3A e SLC9A6. Esses  genes, muitos dos quais ligados a síndromes como Rett, Landau-Kleffner e  Christianson, apresentaram variantes classificadas como patogênicas ou de  significado incerto conforme os critérios da ACMG. Além disso, genes como  MFSD8 e CLN5 foram associados a lipofuscinose ceróide neuronal em  pacientes com fenótipo compatível com autismo regressivo (NAUMOVA et al.,  2020). 

Outro estudo analisou pacientes com mutações germinativas heterozigóticas  no gene PTEN, considerado um gene de risco para o TEA. As mutações no  PTEN foram associadas a macrocefalia, alterações na substância branca  cerebral e déficits cognitivos e comportamentais. O estudo destacou que  diferentes níveis de proteínas das vias de sinalização PTEN, como PI3K/AKT MAPK/ERK, podem estar relacionados ao funcionamento neurocomportamental dos indivíduos afetados. Dessa forma, foi sugerido que  ensaios para quantificar as proteínas dessa via poderiam servir como  biomarcadores preditivos de desfechos cognitivos e comportamentais em  pacientes portadores de mutações nesse gene, fornecendo uma base potencial  para intervenções personalizadas (FRAZIER et al., 2021). 

Por fim, ferramentas de bioinformática foram aplicadas para identificar  alterações gênicas associadas à Síndrome do X Frágil (SXF), reconhecida  como a principal causa monogênica de TEA. Foram identificados cerca de 32  genes diferencialmente expressos, com funções relacionadas a vias de  spliceossomo, apoptose, transcrição e processos neurológicos  comportamentais. Dentre esses, destacaram-se os genes CAPNS1, HNRNPK e HNRNPM, identificados como hipoexpressos em indivíduos com SXF. Esses  genes possuem funções moduladoras importantes nas respostas de potencial  de longo prazo (LTP), plasticidade neural e na modulação de transportadores  de serotonina (SERT), influenciando diretamente aspectos como humor,  cognição e comportamento. Ademais, a ausência da proteína FMRP, codificada  pelo gene FMR1, foi associada à disfunção sináptica e a alterações na  transmissão inibitória via GABA, contribuindo para a manifestação fenotípica do  TEA nesses casos (SANTOS et al., 2020). 

Dessa forma, os achados reunidos nesta revisão integrativa não apenas  ampliam o entendimento sobre a complexa arquitetura genética subjacente ao  TEA, mas também suscitam importantes reflexões acerca das possibilidades e  limites do uso clínico dos biomarcadores genéticos. Embora os avanços nas  técnicas de sequenciamento e análise molecular representem uma  oportunidade inédita para o aprimoramento do diagnóstico precoce e a  personalização das intervenções, permanecem desafios éticos, metodológicos  e sociais que demandam atenção. Assim, a consolidação desses  biomarcadores como ferramentas diagnósticas efetivas dependerá não apenas  de evidências científicas adicionais, mas também da construção de políticas e  práticas que garantam sua aplicação segura, ética e equitativa.

4. DISCUSSÃO  

Compreender a base genética do Transtorno do Espectro Autista (TEA)  representa um dos principais avanços na busca por intervenções mais  precoces, personalizadas e eficazes. Os achados desta revisão reforçam que o  TEA é uma condição multifatorial e heterogênea, em que variantes genéticas  raras de alto impacto interagem com múltiplos polimorfismos comuns e fatores  ambientais, compondo um risco cumulativo e dinâmico. 

A identificação de genes relacionados à formação e manutenção sináptica,  como SHANK3, NRXN1 e as neuroliginas (NLGN2, NLGN3, NLGN4X),  confirma o modelo de disfunção sináptica como central na fisiopatologia do  TEA. Esses achados ampliam a compreensão sobre como alterações  moleculares podem resultar em padrões específicos de conectividade neural e,  consequentemente, manifestações comportamentais características. Tais  evidências reforçam a necessidade de considerar a genética não apenas como  fator de predisposição, mas como elemento determinante na expressão  fenotípica e na trajetória clínica de cada indivíduo. 

A crescente identificação de biomarcadores moleculares, como demonstrado  pelos mais de 940 relacionados ao TEA, sinaliza um futuro promissor para o  diagnóstico precoce e a estratificação de risco. Contudo, a translação desses achados para a prática clínica ainda enfrenta desafios significativos,  especialmente no que tange à validação desses biomarcadores em populações  diversas e ao desenvolvimento de protocolos éticos para o seu uso. 

Nesse sentido, a aplicação de testes genéticos em crianças pequenas, embora  potencialmente benéficas para o diagnóstico precoce, levanta questões éticas  importantes relacionadas ao consentimento informado, ao risco de  estigmatização e à proteção da privacidade genética. A regulamentação de  políticas públicas que orientem o uso responsável dessas informações torna-se, portanto, imprescindível. 

Adicionalmente, a heterogeneidade genética do TEA e sua expressividade  variável entre indivíduos impõem limitações ao desenvolvimento de painéis  genéticos universais para diagnóstico. A necessidade de integração entre  dados genéticos, clínicos, comportamentais e ambientais aponta para a  relevância de abordagens interdisciplinares e do uso de tecnologias como a  inteligência artificial, capazes de analisar grandes volumes de dados e  identificar padrões complexos associados ao risco e à expressão fenotípica. 

Outro aspecto relevante diz respeito à equidade no acesso às tecnologias  genéticas. Países com recursos limitados enfrentam barreiras para a  implementação de sequenciamento genético de nova geração e para a  incorporação de biomarcadores moleculares na rotina clínica. Essa disparidade  pode ampliar ainda mais as desigualdades no diagnóstico e tratamento do  TEA, exigindo estratégias políticas e econômicas que garantam o acesso  equitativo aos avanços científicos.

Do ponto de vista científico, os achados desta revisão reforçam a necessidade  de ampliação dos estudos genéticos em populações sub-representadas, visto  que a maioria das evidências atualmente disponíveis provêm de amostras  europeias e norte-americanas, o que pode limitar a generalização dos  resultados. 

Por fim, a perspectiva futura aponta para o desenvolvimento de intervenções  cada vez mais personalizadas, baseadas no perfil genético individual, com  potencial para otimizar a eficácia terapêutica e minimizar efeitos adversos. A  genética, nesse contexto, deixa de ser apenas um instrumento diagnóstico e  passa a integrar o escopo da medicina personalizada, com impacto direto na  qualidade de vida das pessoas com TEA e de suas famílias. 

Assim, esta revisão contribui para consolidar o entendimento atual sobre a  base genética do TEA, destacando tanto os avanços quanto os desafios éticos,  clínicos e sociais relacionados ao uso de biomarcadores genéticos. Futuras  pesquisas devem investir na validação clínica dos biomarcadores, no  desenvolvimento de tecnologias acessíveis e na formulação de políticas que  promovam o uso seguro, ético e equitativo das informações genéticas. 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS  

Por fim, esta revisão reforça que a compreensão da base genética do TEA é  imprescindível para a consolidação de modelos diagnósticos e terapêuticos  mais precisos e personalizados, capazes de contemplar a heterogeneidade e a  complexidade inerentes ao espectro. A identificação de variantes genéticas  raras e comuns, como as que envolvem os genes SHANK3, NRXN1,  neuroliginas e polimorfismos específicos como o rs2710102, amplia o  entendimento sobre os mecanismos neurobiológicos envolvidos no transtorno e  fortalece o modelo de disfunção sináptica como eixo central da fisiopatologia do  TEA. A integração de informações genéticas, clínicas e ambientais, articulada  com políticas públicas que garantam equidade no acesso aos avanços  científicos, constitui um caminho essencial para a efetivação de uma  abordagem personalizada, orientada para as necessidades singulares de cada  indivíduo com TEA. 

O contínuo aprimoramento das pesquisas genéticas e sua incorporação a  estratégias clínicas inovadoras representam não apenas uma oportunidade  científica, mas um compromisso ético com a melhoria da qualidade de vida das  pessoas com TEA e de suas famílias. Assim, transformar os paradigmas atuais  do diagnóstico e tratamento do TEA, promovendo intervenções mais eficazes,  humanizadas e baseadas em evidências, configura-se como um dos principais  desafios e, ao mesmo tempo, uma das mais promissoras perspectivas para a  neurociência contemporânea.

6. REFERÊNCIAS

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1Acadêmico(a). Universidade do Grande Rio Afya – Duque de Caxias, RJ,  Brasil. 

2Docente. Universidade do Grande Rio Afya – Duque de Caxias, RJ, Brasil. Instituição. Universidade do Grande Rio Afya – Duque de Caxias, RJ, Brasil